Recebi do Brasil um livro das peças „precoces“ de Roberto Athayde. Entre elas seu grande sucesso „Apareceu a Margarida“ (que para ele deve representar mais ou menos a „praga“ que „Night and Day“ significou para Cole Porter… por mais que ele escrevesse maravilhosas composições, estas sempre seriam comparadas ao seu primeiro grande sucesso).
Comecei a ler todo entusiamado esta peça que tinha há muitos (muitos mesmo) visto com Marília Pera (num Teatro na Av. Rio Branco… não mais me recordo do nome dele). Minhas lembranças eram super positivas: Eu sabia que tinha adorado a peça na época e estava disposto a me deliciar relendo o livro. Nada disso aconteceu.
“To make a long story short”: achei „Margarida“ um trabalho envelhecido e de uma chatice fora do comum. Muito bem, os tempos mudaram, o tema da peça não é uma coisa nem atual nem que transtorne nossa realidade como nos anos 60, 70. Deste fato estava plenamente consciente. Mas tudo isto, unido à „ aquela fórmula de humor“ que já tanto nos cansou (palavrões, palavrões e mais palavrões…) foi mais do que eu precisava para perder meu bom-humor. Que coisa mais chata! Sente-se a preocupação contínua do autor em querer „chocar“. Que coisa mais fora de moda!
Eu particularmente não entendo como num país onde (infelizmente) as pessoas falam tantos palavrões esta “fórmula“ ainda „choca“ ou causa risos… No final das contas devemos mesmo ser muitos preconceituosos e „pudicos“ – não há outra explicação. Pensem só em peças e até carreiras que foram construídas em cima de „falar palavrões“.
Fiquei pensando porém em uma outra professora que (no cinema) surgiu só poucos anos antes de Margarida e que, acredito, deve ter influenciado muito Athayde na composição de seu personagem Margarida: Miss Jean Brodie de „The Prime of Miss Jean Brodie“ (A primavera de uma Solteirona, 1969) que trouxe à incrível atriz Maggie Smith (sou um grande fã até hoje) um Oscar de melhor Atriz!
Miss Jean Brodie, apesar de defender políticamente o que "Apareceu a Margarida" critica (Ela é fã de „Il Duce“… Mussolini!!!! Uma estudante sua, Mary MacGregor, morre lutando na Guerra Civil Espanhola – mas do lado „errado“, do lado que apoiava Franco!!!), é feita da mesma matéria dura que Margarida: forte, ameaçadora, dominante, alucinada, emocional… mas com os mesmos momentos de fraqueza de Margarida, quando, dentro de sua própria „loucura“ percebe quem é… e como vulnerável é.
„Primavera“, baseado no livro de Muriel Stark, é um „tour-de-force“ para uma grande atriz. Além do Oscar para Maggie Smith o filme causou um grande impacto no Festival de Cannes.
As „concorrentes“ pelo Oscar de 69 foram Jane Fonda („Mas eles não matam cavalo?“ do livro de Horace MacCoy), Geneviéve Bujold („Anna dos mil dias“), Jean Simmons („The happy Ending“) e Liza Minelli ( „The sterile Cuckoo“, só tres anos antes de vencer por „Cabaret“). Que bela companhia, que atrizes…
Muriel Spark revelou que Miss Brodie foi baseada numa professora sua, uma mulher chamada Christina Kay, arrasada e aniquilada pela forma agressiva e descontrolada que tinha em querer „dividir“ seus ideais. Quase um Obsessão. Grande filme!
Nenhum comentário:
Postar um comentário