quinta-feira, 1 de julho de 2010

MAYERLING, o Ballet (Kenneth MacMillan)

"Prólogo":
Dia 18 de junho passado fui apanhado no escritório por uma senhora muito elegante para irmos à Opera de Viena. Esta senhora, que chegou puntualmente ao meu trabalho para apanhar-me, encantou-me com sua discreta elegancia em negro, suas pérolas e seu leve perfume. Apanhamos um taxi e fomos tomar um café e um copo de vinho antes do espetáculo no Café do “Hotel Sacher”, para mim um “must” antes de qualquer acontecimento na Opera. Conversando animadamente fomos depois caminhando para os nossos lugares na “Wiener Staatsoper” (o Hotel Sacher está só alguns passos de distancia). Para quem não sabe: esta senhora é minha mãe! E como orgulhoso estava este filho em companhia de tão bela Dama. Não é todo mundo que tem esta “sorte” na vida, não é?

Tertúlia:
Estávamos muito animados para assistir o Ballet de Sir Kenneth Macmillan “Mayerling” (1978).
Não conhecíamos este trabalho – que tem como tema um dos episódios mais misteriosos e feios da história da Austria. O “suposto” suicídio do arquiduque Rudolph Habsburg-Lothringen (filho do imperador Franz Joseph e da neurótica “princesinha alemã” Elisabeth, conhecida como “Sisi” – mais uma estória de Marketing!) e sua amante, a jovem baronesa Vetsera.

Não esperávamos tamanha decepção.

Sou um grande fã do trabalho de MacMillan. Infelizmente “Mayerling” não pertence para mim de nenhuma forma ao que chamo de “linguagem da dança”. Um Ballet “lotado” de personagens principais e fatos históricos que passam até por nós (conhecedores do “plot” pois conhecemos bem a historia da Austria) de forma tão completamente desapercebida, que, nas duas “pausas”, tem que ser lidos no programa.

É totalmente impossível para qualquer pessoa que não conheça profundamente os fatos deste complexo, político momento da história da Austria, compreender este Ballet.

Eu me pergunto se os próprios bailarinos o compreendem, já que, infelizmente, só conheço pouquíssimos (e estes “pouquíssimos” são amigos queridos, aliás, também frequentadores das “Tertúlias”… ) com outros interesses além do Ballet – o que implica, quando penso nestes jovens bailarinos de hoje em dia, num nível cultural muito baixo.
A vida não consiste só de “Grand-Jetés” e “Entrechats”.
Usando um termo “agrário” mas bastante adequado à cena atual da dança: Que Monocultura…

Sei que não se deve generalizar e estou ciente que este comentário pode ser «mal recebido» pela geração mais nova - mesmo assim arrisco-me a faze-lo pois de certa forma poderia gerar alguma coisa positiva: Ora, se esta geração que está técnicamente tão boa, se desenvolvesse um pouco mais também intelectualmente...
Lembro-me do mestre Zdenek Hampl (vide a tertúlia de 30.05.2009) dizendo-me: “para poder dançar bem um bailarino tem também que entender o que é uma raiz quadrada… “


De volta ao trabalho de Macmillan, tenho que me referir a um típico caso de falha de “leitura”.
Pensem em outros Ballets ou diferentes formas de expressão artística e escolham uma.
Em bons trabalhos – sejam estes Óperas, Ballets, Sinfonias, Concertos, Pinturas, Esculturas – não é necessário “ler-se” a explicação do que se está vendo («ler» significa ser uma outra arte : literatura) pois a própria «língua” da específica forma de arte que o expectador está vivenciando, “conta” o que é para ser contado/sentido. Conta o que o autor quis comunicar/expressar.
Pensem no complexo e magnífico “Die Kameliendame” de John Neumeyer (Vide minha tertúlia de 15.02.2010) – mesmo que alguém não saiba quem são Manon Lescaut e Des-Grieux, compreenderá/sentirá o Ballet.
A linguagem da dança, neste caso, conta-nos o que tem que ser contado.
O mesmo não acontece em “Mayerling” pois sem “auxílio” de leitura seria impossível compreende-lo…

Em "Mayerling", tive a completa sensação de “tradução”. Sim, um trabalho que só tentou TRADUZIR o que foi escrito num livro, contado num filme (houveram vários), numa outra língua, numa outra forma de arte para “Ballet” e que, exatamente por este motivo, falha completamente.

Coreográficamente o Ballet não oferece “altos e baixos” e é de uma regularidade medonhamente cansativa, “boring”.
Regularidade “insossa” que muito me fez lembrar a cozinha inglesa – não existe nem sal nem pimenta neste trabalho.
Ele é “linear”.
Sem altos nem baixos.
Sem nenhum ápice.
Deu-me na realidade um grande sono...

Nada típico de MacMillan que tem trabalhos eternos, maravilhosos...

Vão dizer-me que a cena do suicídio é o ápice.
Pode ser.
Mas ela não é dançada.
É uma cena de teatro.
E esta não é a língua do Ballet.

Tudo isto e certas “liberdades” tomadas em relação à história (como, por exemplo, colocar o ingles George William Middleton como amante da imperatriz Elisabeth… fato não provado históricamente, que coloca muito em questão a “seriedade” de um trabalho que quer ser históricamente tão “exato”) fazem de «Mayerling» uma obra muito questionável…

e muitíssimo chata...

C'est tout!

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