Não é necessário falar muito, não é necessário escrever muito quando escolhemos um tema como “Die Kameliendame” - The Lady of the Camellias - obra concebida em 1978 pelo inteligentíssimo e sensibilíssimo John Neumeier originalmente para o Ballet de Stuttgart.
Haviam-se já passado 15 anos desde a estréia de “Marguerite et Armand” de Sir Frederick Ashton coreografado para Fonteyn e Nureyev. Mesmo assim admiro demais Neumeier: com toda esta « carga » do passado – que provávelmente levou à muitas indesejadas e supérfluas comparações – ele criou aqui (usando só música de Chopin, mais um detalhe genial) um trabalho de altíssimo nivel intelectual. Estimulante. Único. Genial.
Só sua concepção da “relação” entre Marguerite e Armand com Manon (Lescaut) e Chevalier DesGrieux, já merece “capítulos”. Palavras. Eu nao as possuo.
Fantástico o fato de ter transformado os dois personagens, que só pertencem ao «livro»(que Armand presenteia Marguerite), em “personagens” interpretados por atores (ou almas gemeas que "se tocam mais a fundo"?), provocando assim os mais incríveis pas-de-quatre e pas-de-trois (como no especial caso da cena de morte de Marguerite que é incorporada à cena de morte de Manon, na qual DesGrieux a carrega nos bracos, no deserto de New Orleans. Uma simbiose entre personagens da literatura que sao muito distantes uns dos outros... no tempo... Quanta poesia! O cansaço das duas e ao mesmo tempo o cuidado de uma com a outra. Duas mulheres que se “conheceram” como cortesãs e agora estâo morrendo. Duas mulheres normais, iguais, lado a lado, morrendo pelo amor – sim, o amor as leva à morte. Destino bastante similar ao de "muitas" da literatura... por exemplo "Lulu" de Wedenkind... Mas já estou mudando o curso desta estória. Fiquemos aqui com Marguerite... ).
Acho que « Lady » foi o único Ballet que fez-me imediatamente no outro dia comprar e começar a reler o (na época em que foi editado) maldito “Manon Lescaut” de Prévost. Só assim consegui entender os personagens melhor e – até hoje – ainda fico “sem palavras” para descrever minhas emoções sobre este Ballet. "Sem palavras" mas com a "Dança", que me explica cada segundo que vejo na tela.
Aqui uma filmagem – dirigida e supervisionada por Neumeier de 1987 com Ivan Liska como Armand e a magnífica, eterna, incomparável Marcia Haydée como a sofrida Marguerite Gautier. Esta é, na minha opinião, uma das melhores produções para o “cinema” baseadas numa obra que foi feita para o palco. Sem choques. Como se os dois idiomas (celulóide e palco) tivessem sido concebidos paralelamente. A direção é magnífica, os guarda-roupas perfeitos, os efeitos técnicos de uma “timidez” tão suprema que não parecem “óbvios”, o jogo de iluminação, da cenografia…
Incrível como estes momentos magníficos “existem”. Onde TUDO parece entrar em harmonia. Todos os elementos que transformam uma idéia numa obra de arte. Sagrados momentos! Abencoados... Além disso tudo a coreografia de John Neumeier e Marcia Haydée… Márcia... Sim, palavras não lhe fariam justiça.
Está tudo aí. A poesia, a maravilha, a grandeza do Ballet. Não tenho outras palavras.
Está tudo aí. Claro como a luz do dia. Na Dança.
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Eu dedico esta postagem a um amigo que nao vejo desde muitos, muitos anos: Alain Sortais, conselheiro do Embaixador Frances em Viena por muitos, muitos anos!
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