quarta-feira, 2 de abril de 2008

O tempo e os Conways

“TIME AND THE CONWAYS”: uma das minhas pecas favoritas (apesar de te-la assistido numa terrível versao no final dos anos 70 no Rio, em algum teatro no Leblon, acho.. eu só me lembro que todos os atores corriam de parede para parede, jogando-se e batendo nelas sem nenhum porque... bem nenhum que esteja pelo menos associado com a peca... uma daquelas producoes que nao será mencionada na biografia de ninguém e que nao ganhou nenhum premio... e eu nao me lembro mais de quem trabalhou naquela producao... seria até interessante saber... ).
Escrita pelo incrível e inteligentíssimo J.B. Priestley (1894 – 1984) em 1937, ela é considerada como uma das melhores obras do que sao chamadas suas “Time plays”: uma série de pecas que joga com diferentes conceitos sobre o TEMPO.

Superficialmente „O TEMPO E OS CONWAYS“ parece contar a estória de um grupo de jovens, cujas esperancas de felicidade na vida serao completamente frustradas – ou pelos seus próprios erros ou pela interferencia de outros (o chamado “destino”?). Num nível mais profundo, esta peca explora a pergunta se a felicidade é realmente possível e se podemos nós mesmos mudar o curso de nossas vidas.
A estrutura deste maravilhoso trabalho é simplérrima, porém bastante revolucionária para a época em que foi escrito (1937).

“Time and the Conways” usa a simples estrutura de tres atos:
* O primeiro em 1919, na casa dos Conway, na noite da festa de aniversário da filha, Kay.
* O segundo passa-se para a mesma noite (aniversário de Kay), na mesma casa, porém em 1937.
* O terceiro ato volta para 1919 e é, na realidade, a continuacao do primeiro ato.


Ato I
No primeiro ato a atmosfera é de uma celebracao – nao só o aniversário de Kay mas também o final da primeira guerra mundial (1918) e o “início” de um novo mundo, em paz, com grandes perspectivas para o futuro. Mrs. Conway tem quatro filhas (Kay, Hazel, Madge e Carol) e dois filhos (Alan e Robin). Os Conways pertencem à alta burguesia. Além deles mais tres personagens aparecem: Gerald, um advogado, Joan, uma jovem apaixonada por Robin e Ernest, um ambicioso jovem de classe social mais baixa... Durante um momento Kay é deixada só no palco, digo, na sala e tem o que pode parecer ser uma “visao” do futuro.
Ato II
Aqui somos confrontados, quase 20 anos depois, com asdesilusoes que caíram sobre os Conway e vemos como suas vidas fracassaram das mais diversas formas: Carol morreu, Hazel casou-se com o sádico, porém próspero Ernest, Robin tornou-se um caixeiro viajante que odeia sua esposa Joan, Madge nao conseguiu realizar seus sonhos socialistas. Kay, de alguma forma, sucedeu em tornar-se uma mulher independente mas nao com seu sonhos de ser uma novelista. A fortuna dos Conway acabou, a casa tem que ser brevemente vendida e a heranca de todos os filhos nao mais existe. A tensao e o rancor explodem, só para serem dominados por um clima de tristeza e miséria “d’alma”. Sómente Alan possui calma interior. No final do ato II ele e Kay sao deixados à sós no palco e Kay descreve sua angústia. Alan opina que o segredo da vida é compreender sua verdadeira realidade; que nossa percepcao do TEMPO como uma linha reta, uma diretíssima (e que temos que pegar e levar da vida o que for possível antes que morramos) é completamente errada. Se pudéssemos ver o TEMPO como eternamente presente dentro de nós mesmos, poderíamos traspassar a linha de nossos sofrimentos e, deixando esta para trás, compreenderíamos que nao haveria mais necessidade de machucar outros ou entrar em conflito com eles.
Ato III (comeca aonde o primeiro ato acabou)
Este é para mim o ato que mais machuca: Nós já sabemos o que vai acontecer com a vida deles – eles nao! Aqui vemos também como as sementes para a destruicao do futuro dos Conway já estavam sendo plantadas... ali, por eles mesmos (de novo minha pergunta: o chamado “destino”?). Ernest é recusado por Hazel e Mrs. Conway, o amor que Gerald sente por Madge é também destruído pelo esnobismo de Mrs. Conway num outro momento de alta arrogancia social! Alan é rejeitado por Joan e aí por diante... Quando o terceiro ato está para acabar, todos os jovens se reúnem para jogar uma espécie de jogo para “ver o futuro”: nervosa, angustiada e sem saber porque, Kay, a aniversariante, parece ter uma visao do “futuro” que vimos no segundo ato. A peca acaba com Alan prometendo que um dia no futuro será capaz de dizer-lhe algo que a ajudará...

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