segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

♪ ♫ Querem hoje celebrar comigo? ♪ ♫

Há exatamente tres anos atrás, no dia 28 de fevereiro de 2008 comecei aqui o que se transformaria nas nossas “Tertúlias”. De um simples exercício tímido para que não esquecesse meu portugues (Vivo fora do Brasil desde 1981)…



Muito aconteceu no meio tempo…

Tive fases nas quais não parava de escrever, outras em que me resumi práticamente a mostrar um video… ou uma foto. Fases de teatro, de estorinhas em quadrinhos, de música, de livros, de Ópera, de culinária, de Ballet…
E fases nas quais estava saturado de tanto Ballet… Fases em que a necessidade de comunicar-me foi intensa, fases nas quais estive mais recluso…
Fases nas quais ganhei muitos amigos novos aqui e outras nas quais perdi alguns que na realidade não eram…
Triste presenciar como o ciúme e a inveja são sentimentos destrutivos:
quando essas pessoas notaram que o número de "seguidores” estava começando a se desenvolver ou que alguma postagem estava tendo um certo “sucesso” (como a última), não perderam a oportunidade para me "chatear" mostrando ao mundo todo sua "inveja"... Como se esta atitude pudesse restaurar-lhes o “ego” ferido.

Só o mudo inveja o falador
(Khalil Gibran)

Infelizmente li estes comentários cínicos, que me fizeram mal, tipo “Voce “é” a Arte rsrsrsrs…“ (Isto justamente de uma pessoa que uma vez me escreveu chamando-me de “O guardião das Artes”, expressão que muito me agradou na época…). Infelizmente tenho que confessar que perdi a paciencia... E como alguém tem que me "atazanar" para eu perde-la... Essa pessoa conseguiu. E eu reagi feio. E escrevi o que não queria... Me arrependo de ter deixado ela tirar minha "contenance". Bem, aconteceu... sou humano.

Mas, voces estarão se perguntando:
e qual é a conclusão de tudo isso?

Nenhuma… :-))

Só cheguei à uma única: que estou falando do tema errado...

Deveria sim estar é falando das coisas boas e positivas que acontecem aqui, de seres humanos inteligentes que dividem idéias e pensamentos
– e não perdendo tempo comentando pessoas que nunca foram sinceras comigo. Decepções doem – mas prefiro te-las do que continuar acreditando em mentiras. Até isso pode ser positivo.

De volta ao lado positivo da vida e ao porque desta postagem de “Aniversário”...
Sim, é só abrirem a última postagem sobre “La Bayadère” e verão imediatamente ao que me refiro. O que considero positivo:

Sincero Obrigado Lícia, Marco, Syl, Mauri, Maurette, Jussara, Eliana, Ricardo, Mary, Ida, Pinguim, Claudia-Louise, Angela, Marcos, Mike, Colleen, Suely, Tatiana Leskova, Márcia, Anna, Sandra Barsotti e muitos outros como Danielle, Lorena, Angela Ursa, Fernando Bicudo, Rosangela, Aurea, Clau, João Meneres, Ju, Pena, Antonio, Moysés, Zélia, Martha, Antonio, Clarisse, Efigenia, Stella e tantos outros – desculpem-me se falhei e deixei de mencionar alguns nomes – nao é proposital!

Obrigado pelo prestígio, carinho, apoio, dicas, comentários, papos, força, amizade e pelo fato de participarem desta “roda” tão gostosa, informal, descomplicada e, ao mesmo tempo, rica; sim, das “Tertúlias”.

Feliz tres anos para todos nós!!! Sem voces este espaço não seria o que é!

“Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre”
(Albert Einstein)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"La Bayadère" revisitada: O Reino das Sombras...



Poucas coisas me deixam tão animado, cheio de energia e excitado como pesquisar, aprender…

„Vibro“ literalmente ao encontrar (ou neste atual caso „reencontro“) um tema ao qual queira me dedicar por um (bom) tempo. A “excitacão” de estar aprendendo, conhecendo, toma conta de mim… fico feliz. Lembro com saudades da época à partir dos meus 14, 15 anos de idade… quando o aprendizado era constante, 24 horas por dia, pois os livros, as peças, os filmes, os ballets, os quadros, os poemas, os pensamentos estavam todos ali esperando por serem descobertos. Com o passar do tempo a gente se torna mais seletivo muitas vezes por uma questão de “gosto”, interesses… Mas mesmo assim…

Nunca tive e nunca terei qualquer ambição didática com este Blog (apesar da postagem de hoje poder dar esta impressão): não estou aqui para ensinar nada a ninguém – senão este Blog não chamaria-se “Tertúlias”, nome que implica numa “troca” de opiniões e acima de tudo na aceitação de opiniões alheias, diferentes das suas. Me disseram que não sei aceitar opiniões diferentes das minhas… Discordo. Questionar opiniões e discutí-las não significa “não aceitá-las” porém “querer compreende-las melhor, sentí-las e até aprender com elas” mas para isto temos que chegar a um ponto de aprendizado e compreensão pessoal no qual estamos completamente livres dos nossos próprios egos, orgulhos e do lado "emocional"…

Estou aqui para dividir com todos coisas que me tocam, coisas das quais gosto, coisas que admiro e coisas que talvez até “abomine” e “convido” todos para deixar aqui seus relatos, discutí-los abertamente...

Infelizmente o tempo torna-se cada vez mais curto para todos e sinto demais a tendencia que muitos tem em “se resumir” num vídeo ou curto pensamento (já li coisas do tipo "estou com calor") que é colocado, sem qualquer outro comentário ou opinião adicional, em plataformas à la “Facebook”. Distancio-me cada vez mais deste tipo de comunicação monologar (e vezes monossílabica) e volto a escrever mais longamente aqui e, quem sabe, talvez um dia me vá até daqui e retorne realmente a escrever só para mim… Coisas d’alma… Não quero a restrição da superficialidade da “obrigação de ser rápido e curto” (“senão ninguém vai ler o que escrevi!”).
Se tudo na vida fosse assim para que existiria o verbo “dissertar”?



Limpando umas prateleiras em casa “caiu” literalmente nas minhas mãos um velho VHS – da montagem de 1992 de Nureyev para a Ópera de Paris de "La Bayadère". Como há anos não assistia nenhum VHS resolvi colocá-lo, mas principalmente (não posso mentir!) para testar se o aparelho ainda funcionava… A febre de “La Bayadère” transformou-se numa "mania", numa epidemia dentro das minhas “quatro paredes”. Há poucos dias comecei a tirar livros de estantes, a imprimir toda e qualquer informação sobre este Ballet (só o relato da Wikipedia tem 28 páginas), a rever outras versões que tinha, estudar um pouco a partitura e cheguei até a encomendar do Amazon algumas outras versões que não conheco. Fascinante como de um momento para o outro nossa mente encontra mais um ponto de “interesse”. Amo estes momentos, estas fases… Claro que descobri muitas coisas interessantes, que se adicionaram ao meu humilde conhecimento deste Ballet – este fato transformou esta postagem um longo relato…

Gosto de contar «estórias» :

Em 1839 uma companhia de autenticas bayadères indianas (e hindus) visitou Paris. Théophile Gautier escreveu inspiradas páginas descrevendo a principal dançarina Amani. Muito depois em 1855 Gautier soube da trágica morte da bailarina que se enforcou num acesso de depressão numa nublada Londres por estar com saudades de sua terra natal… Como homenagem à bayadère ele escreveu o libretto para o Ballet “Sacountala”. O Ballet foi montado em Paris pelo irmão de Marius Petipa, Lucien. Este é o trabalho que muitos consideram como a real inspiração para a “La Bayadère” de Marius Petipa

Nas últimas semanas “redescobri” para minha extrema satisfação “La Bayadère”, Ballet com música de Ludwig Minkus (que apesar de ter passado 15 anos como compositor oficial do Ballet Imperial Russo, tendo composto “La Bayadère”, “Don Quixote” e “Le Corsaire” - pelos quais ele foi extremamente identificado com a “alma” do ballet russo - era um Vienense que não só nasceu como também morreu aqui).

A linha da estória é simples porém bem melodramática com todos os elementos “amados” pelas platéias de então (La Bayadère estreiou em 1877, no mesmo ano do original "O Lago dos Cisnes", não da versão de Petipa): lugares “exóticos” (India), espíritos (como em Giselle) capazes de coisas sobrenaturais, amor não realizado, intriga, morte, justiça/vingança (no Ballet época muito confundidas...)

A bailarina de templo (a bayadàre) Nikiya e o soldado Solor juram amor e eterna fidelidade. O sacerdote (o Alto Brahmin) está porém apaixonado por Nikiya. O Rajah Dugmanta seleciona Solor para casar com sua filha, Gamzatti, e pobre Nikiya sem desconfiar disso aceita dançar num “noivado”.
O Sacerdote ciumento quer que Solor seja morto e conta ao Rajah a verdade sobre o amor de Nikiya e Solor mas, “o tiro sai pela culatra” e o Rajah ordena a morte de Nikiya. Gamzatti que estava escutando a conversa dos dois ordena que Nikiya venha ao palácio. Quando esta porém descobre sobre o “noivado” de Gamzatti com Solor pega uma faca, numa reação não pensada, e tenta matar Gamzatti, sendo impedida pela Aya desta



Assim como seu pai Gamzatti decide que Nikiya vai morrer.

O segundo ato começa com celebração do noivado na qual Nikiya dança tristemente… quando porém recebe uma cesta de flores, pensa que esta vem de Solor e se alegra. Mal sabe que dentro dessa cesta encontra-se uma víbora, colocada ali por ordem do Rajah e de Ganzatti. Ela coloca a cesta tão próxima ao seu rosto que a cobra a ataca mordendo seu pescoço. O Sacerdote lhe oferece um antídoto mas Nikiya prefere a morte que encontra nos braços de Solor…



No terceiro ato Solor fuma opium e numa euforia de sonho-delírio (ou não?) tem a visão do “Reino das Sombras” (espíritos). Ali ele se reúne a Nikiya.

O quarto ato (ao qual nos referiremos mais tarde) se passa no templo no qual o casamento de Solor e Gamzatti acontecerá. O espírito de Nikiya está presente… Quando o Sacerdote une as mãos do casal em casamento os Deuses se vingam pelo assassinato de Nikiya e destruem não só o templo como também todos seus ocupantes.

FIM

Em algum momento da história, o quarto ato foi “perdido” e o final do Ballet passou a ser o final do III ato, ou seja no “sonho” do “Reino das Sombras” – o que tira muito da dramaticidade desta obra.



Alguns historiadores citaram as possíveis causas para esta drástica mudança: alguns acreditam que depois das enchentes de 1924 em Petrograd (St.Petersburg) a maioria dos cenários e guarda-roupa do IV ato, como encenado no Teatro Mariinsky, foi perdido. Outros dizem que numa Rússia « pós-revolução » não haveriam verbas suficientes para o suntuoso IV ato do Ballet. Uma outra explicação é a falta de técnica nesta fase (pois maquinarias estavam quebradas e não havia dinheiro para consertá-las) para produzir a destruição do templo… Uma última “explicação” sugere que o regime soviético da época não aprovava, por questão de princípios, uma apresentação teatral que incluísse temas como Deuses hindús destruíndo um templo.

Seja qual for a verdadeira razão, só em 1980 o mundo voltaria a ver um quarto ato e o ballet práticamente completamente restaurado…



Eu me lembro que em 1980 Natalia Makarova (acima) recuperou todo o “desaparecido” quarto ato tendo porém que mandar “reconstruir” muito da música pois a partitura se julgava perdida. Ironicamente esta partitura estava na íntegra na Rússia e só Nureyev em 1991 teve acesso a ela para sua versão para a Ópera de Paris em 1992 – apesar dele mesmo ter mantido o que chamou na época de “tradição russa” e ter encenado o Ballet SEM o quarto ato… sem sua “tragédia” final. A ironia é que esta chamada “tradição russa” foi imposta em épocas do comunismo – regime que Nureyev tanto abominava… Eu acho porém que a Nureyev talvez lhe faltaram «forças» - explico depois…

Apesar de « La Bayadére » sempre ter sido considerada um clássico na Russia o “Oeste” não conhecia este Ballet. A primeira apresentação do “Reino das Sombras” (que é na realidade a parte mais conhecida do Ballet e algumas vezes, cada vez mais raramente, encenada independente do Ballet) foi no Palais Garnier em Paris, em 1961. Dois anos mais tarde Nureyev remontou a cena para o Royal Ballet com Margot Fonteyn como Nikiya.



No Brasil muitos bailarinos e público, com exceção daqueles poucos privilegiadaos que tiveram a chance de assistir a montagem de Makarova no ABT, viram pela primeira vez «O Reino das Sombras» no cinema ! Sim, na cena de abertura do filme «The turning Point» (Momento de Decisão, 1977). (Correção do autor em 25.02.2011: Eugenia Feodorova havia montado o terceiro ato no Theatro Municipal com Berta Rosanova e Aldo Lotufo e 16 bailarinas no corpo de baile. Quem tiver a informação do ano desta montagem, por favor entre em contato comigo! Obrigado.)

Eu muito prezo várias partes da crítica que a inteligentíssima crítica de Dança Arlene Croce fez quando comentando a versão de Makarova para o American Ballet Theatre. Aqui um curto pedaço, repleto de percepção e sensibilidade:

“A coreografia, criada 17 anos antes do “definitivo” "Lago dos Cisnes”, é considerada como a maior expressão em grande escala do “sinfonismo” na dança. A matéria do “Reino das Sombras” não é realmente a Morte apesar de que todos, com exceção do herói, estão mortos. É felicidade encenada na eternidade. A sequencia de entrada com seus intermináveis “Arabesques” lentos cria a impressão de um grande «Crescendo» que parece aniquilar o tempo. Não há razão que possa impedir as bailarinas de continuar para sempre… Ballets passaram por gerações como lendas, adquiriram a pátina do ritualismo mas La Bayadère é um ritual real, um poema sobre a dança, a memória e o tempo. Cada dança parece adicionar algo à dança prévia, como um idioma sendo aprendido. O Ballet cresce rápidamente com esta constatação, que no início é sómente uma elocução primordial, e que na “Coda” explode com um explendor articulado” (Livre tradução minha)

Por causa do palco relativamente “pequeno” do Met (em relação ao do Mariinsky) Makarova foi forçada a reduzir o número de bailarinas no “Reino das Sombras” a 24 (originalmente eram 32 – e na “revival” de 1900 de Marius Petipa foram até 48!). O seu maior desafio foi porém o último “perdido” ato já que, como préviamente dito, pensava-se que a partitura original estava perdida. Natalia Makarova não tentou recriar o original de Petipas – apesar deste ter sido mudado infinitas vezes ao passar dos anos, até por Vaganova – e coreografou-o ela mesmo.
A première em 1980 foi triste: Makarova que também dançava o papel de Nikiya, machucou-se durante o primeiro ato e foi substituída por seu “second cast”, Marianna Tcherkassky. Solor foi bailado pelo explendido e incomparável Anthony Dowell e Cyntia Harvey deu vida à Gamzatti.



Makarova encenou «La Bayadère» para o Royal Ballet, para o Ballet do La Scala em Milano, para o Australian Ballet, para o Royal Swedish Ballet, para o Royal Dutch Ballet, para o Ballet do Teatro Colón em Buenos Aires e para o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro com Cecília Kerche e Thiago Soares (informação da querida Eliana Caminada, um “dicionário” de Ballet que possuo como querida amiga!). Abaixo Baryshnikov como Solor.



A versão do “Reino das Sombras” que veremos abaixo é da versão de 1992 de Rudolph Nureyev: A administração da Ópera de Paris sabia que esta produção seria o último presente de Nureyev ao mundo, já que sua saúde estava deteriorando-se rápida- e progressivamente pelo seu estado avançado de HIV positivo.



Exatamente por isso, a administração cultural da Ópera deu-lhe uma enorme verba para esta produção com mais fundos vindos de várias doações privadas transformando a produção numa ainda mais suntuosa do que préviamente concebida. Que bonito. Chapeau! Abaixo Sylvie Guillem como Nikiya.



A produção foi um grande sucesso, aclamado pelo público e pela crítica. Apenas tres meses após a estréia Nureyev faleceu.

Aqui o tão comentado “Reino das Sombras”


Mais da próxima vez sobre "O Ídolo de Ouro" (ou como na versão de Makarova "O Ídolo de Bronze").

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Dusek: " ...Eu velejava em Voce"

Sempre adorei Duardo Dusek!

Desde que me lembro fui seu fã de carteirinha... carioquíssimo, copacabanense assumido... Uma vez quase chegamos a trabalhar juntos... O projeto era "Os sete pecados capitais" de Brecht dirigido por e com Louise Cardoso... mas eu vim para cá... Será que este projeto foi a frente? Tenho que perguntar uma vez à Louise...

Eu não o assisti em "Desgraças de uma criança" e acho que foi nos anos 70 que li pela vez seu nome para saber quem era o compositor de „Alô, Alô“ („Quem fala, é do Brasil? Alô, Alô, Alô… é da terra do anil?”) com a qual Marília Pêra parecia se esbaldar no palco do Teatro Casa Grande durante uma apresentação de “Feiticeira”… Depois ouvi mais uma de suas canções no Show “Camarim” de Ronaldo Resedá no Teatro Opinião.



Quem não se lembra dele num daqueles festivais de música cantando de ceroulas e asas de anjo “Nostradamus”?

Seus textos (inteligentíssimos por sinal) são
espirituosos (♫ ♪ “Levanta me traz um café, que o mundo acabou” ♫ ♪ ),
críticos (♪ ♫ “Troque o seu cachorro por uma criança pobre” ♫ ♪ ),
gaiatos (♪ ♫ “...quando cantava todo mundo ria. Só conseguiu emprego numa Churrascaria ♪ ♪),
bem compostos (♫ ♪ “Cachaça, Batida e Blitz, Mercedinho repleto de Vips, Joaninha, academia de Jiu-Jitsu… “♪ ♫ ),
"históricos" (♫ ♪ “foi encontrada na madrugada, fechadona com um tatú, caidona na calçada, recolhida pelo DLU ♫” ou “ ♫ Liguei prum “Toque e Tenha” qualquer e não tinha…”♪)
e muito espirituosos ( ♪“O Mar passa saborosamente (O Que?) a língua (Aonde?) na areia…”♫ ♪). Textos maravilhosamente levados!



Mas quem mais se lembra de um Duardo sério, romantico, apaixonado? Só eu?
“Meu Olhar Brasileiro” foi uma linda demonstração deste seu lado também tão rico…

Minha canção preferida foi e ainda é “Eu velejava em Voce”.
Uma Linda metáfora cheia de poesia…

A descobri num disco de vinil numa ida ao Brasil nos anos 80. E ainda o tenho. Desde então esta música me acompanha. Hoje mesmo ouvi-a no carro, ao caminho do trabalho. Duardo cantando “Velejava”. Bom como se pode aquecer a alma num dia frio de inverno como hoje…

Como ele mesmo diz:
♫ ♪ “Minha’alma cansada não faz cerimonia… Voce pode entrar sem bater!” ♪ ♫

">

e aqui a gravação que conheci através de um disco de vinil... lindo arranjo, principalmente o "Sax" tão usado nos anos 80... Viva Dusek e sua brilhante eloquencia!

">

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Burlesque at its best: Gypsy

Só uma curta reflexão antes de começar…
Muito me admirou quando, há alguns anos, falei com um chamado diretor de musicais que estava encantado pois havia “descoberto” um musical.
Ele estava mais do que excitado e parecia Colombo descobrindo a América.
Já que tenho uma “relação” muito intensa com o “Musical” desde minha tenra infancia (Já contei que esta é também uma “herança” que recebi dos meus pais? Mais uma delas…) fiquei curioso e qual foi minha surpresa quando ele disse, com grave eloquencia, que tinha “descoberto” “Gypsy”!
No primeiro momento não pude acreditar que ele se referia à esta obra-prima do teatro musical, como se fosse uma grande novidade.

Perguntei ingenuamente se ele se referia ao disco da produção original com Ethel Merman ou ao filme com Rosalind "Roz" Russell e Natalie Wood. Seu olhar me revelou que ele não tinha a menor idéia a quem eu me referia…

- Não, não… o filme com Bette Midler!, respondeu




Vou ser muito sincero: se alguém me disser que não conhece e nunca assistiu “Gypsy”, não me importarei muito.
Mas ouvir esta exclamação vinda de um “pretenso diretor” de musicais realmente é uma coisa meio esquisita. Trabalhador, conheça o seu ofício!

Como querer declamar Shakespeare sem ter aprendido o ABC? Como tocar um prelúdio de Chopin sem conhecer as notas? Como querer dar piruetas sem conhecer uma quarta ou a segunda posição - como muitos russos? (Adoro, por sinal estas piruetas saídas de um "seconde"... ).
É como tentar andar sem ter aprendido a engatinhar…
Como uma pessoa relacionada à musicais não conhece um musical que por muitos críticos e escritores é considerado o melhor musical de todos os tempos (e que por “coincidencia” foi dirigido e coreografado originalmente por Jerome Robbins, one of the best) é para mim uma interrogação. Não. Me corrijo: Uma total falta de preparação.

(Infelizmente este não é um fato único. O teatro aqui na Europa está cheio de pessoas assim… qual o resultado? Produções de baixo nível em termos de direção, críticas horrendas, peças que são retiradas de cartaz antes da tempo, atores e bailarinos que perdem seus empregos… Sim, «Trabalhador, conheça o seu ofício”, mesmo que seja na província, e tenha mais responsabilidade com os destinos alheios…).


Bem, o "prólogo" acabou, aqui "Gypsy"

Bette Midler não é e nunca será “Mama Rose” (descrita como “one of the few truly complex characters in the American musical…”). Ela é Bette Midler querendo afastar-se da forte “persona” Bette Midler num filminho feito para a TV.



“Gypsy” foi baseada na auto-biografia da Striper “Gypsy Rose Lee” :



Uma mulher bem inteligente que além de se despir em público ("The Queen of Burlesque") também escreveu, entre outros, um livro chamado “The G-String Murders” (1941). Adoro!



Este livro inspirou o filme “The Lady of Burlesque” (1943): um filme “policial” e interessantíssimo, passado nos bastidores do burlesco, e que deu à seríssima Barbara Stanwick a chance de interpretar um papel bem diferente das suas “neuróticas” personagens. Fabulosa. E faz uns Spagats com uma facilidade louca... Uma coisa que era inesperada em Barbara...



Em “Gypsy” o personagem principal não é nem “Louise” nem sua irmã “Baby June” (que realmente fugiu das garras da mãe aos quinze anos para se casar com um rapazinho… Baby June, na realidade, transformou-se depois na atriz de razoável sucesso de musicais da 20th Century Fox nos anos 40 : June Harver). Toda a peça gira a redor de “Mama Rose”, a maior Show-Business-Mama da história, que não exita por um segundo, quando ve a chance de “estrelato”, mesmo que seja no Burlesco, em colocar a própria filha para fazer Stripteases na frente de uma platéia de homens nojentos, que mais parecem lobos famintos, babando… Aquele tipo de homem que tem que ver «shows» pois certas coisas lhes são negadas debaixo do próprio teto. Repito. “Mama Rose is one of the few truly complex characters in the American musical…”. Pano para muita manga. Motivo para “se descascar muitos abacaxis”.

Como eu gostaria de ter visto Ethel Merman neste papel… Sim, Merman, a primeira Mama Rose de uma longa linha de maravilhosas atrizes:







Rosalind Russell (fabulosa) na primeira versão cinematográfica, que no Brasil chamou-se “Em busca de um Sonho” (Mervin LeRoy, 1962) com Karl Malden e Natalie Wood (que corpinho!).






Angela Lansbury






Patti LuPone





E quebrando a tradição que Mama Rose só poderia ser encarnada por uma “belter”, aqui a minha querida Bernadette Peters na última produção que a Broadway viu de “Gypsy” há alguns anos atrás…







Liza sempre quiz interpretar Mama Rose

Para finalizar desta vez DOIS vídeos do Youtube:
O primeiro mostrando a “ascenção ao estrelato” de Louise/Gypsy Rose Lee (ou, como outros também justamente interpretam, o “declínio de sua moral”) do filme de 1962.


">

…e o segundo de um espetáculo de Gala em Londres mostrando o número das tres “Stripers” de Burlesco que mostram à Louise o que é necessário para um bom Striptease (You gotta have a Gimmick). Entre elas a própria Bernadette Peters como uma das Stripers (as outras duas as fabulosas Julia McKenzie e Ruthie Henschall nas pontas!!!!). Bernadette simplesmente "arrasa". Fabulosa!!!! "Once I was a "schleppa", now I'm Miss Mazeppa"... Que texto...
Este é definitivamente meu número preferido de toda a peça: grande trabalho de Jules Styne (que depois seria responsável por "Funny Girl" e pelo "carro-chefe" de Streisand: "People") – e pela primeira vez um trabalho de um jovem compositor… Stephen Sondheim, que admiro demais. Um genio!

">

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Saudades de Gelsey Kirkland...



Saudades imensas de Gelsey e de todo este imenso talento para o qual as palavras nao bastam...



Saudades... E, admito, sou egoísta: gostaria tanto que, para ela, o tempo tivesse parado para ainda poder nos dar tantos momentos mágicos como estes aqui com Baryshnikov... momentos simplesmente inesquecíveis! Como faz bem reve-los...

">

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Nossa Cidade...

Nunca assisti „Nossa Cidade“ (Our Town) no teatro e só há poucas semanas tive a oportunidade de ver esta maravilhosa peça, pela primeira vez, como um filme de 1940…

Considero “Nossa Cidade”that kind of stuff” do qual são feitas obras de arte. Já a li e reli tantas vezes desde 2006 que a tenho toda "encenada" dentro da minha cabeça... Quem sabe um dia?????



Minha relação com “Nossa Cidade” (Our Town) é meio oblíqua. Li esta peça pela primeira vez há muitos, muitos anos no Brasil quando ainda era adolescente. Não devo te-la realmente entendido pois nunca dei-lhe o devido valor… Coisas da idade?



Muito, muitos anos depois (para ser preciso 2006) eu estava passando uma longa temporada de 12 semanas no hospital e pedi para minha mãe levar-me a versão original em ingles que tinha comprado numa loja de livros usados algumas semanas antes de me internar. Eu sabia que este livro estava no meio de uma pilha que mantenho na minha mesa de cabeceira: os ainda “não lidos”.

Logo nas primeiras páginas dei-me conta que começava a reler algo importante, algo maravilhosamente bem composto…

Thorton Wilder mais uma vez me fascinou completamente: considero “The Skin of our Teeth” (A Pele dos nossos Dentes) uma das grandes obras do teatro Americano (um dia, com certeza, tertuliaremos sobre “Skin”) mas senti-me mais próximo, mais identificado com o questionamento de “Our Town”. Não é à toa que “Nossa Cidade” recebeu o Pulitzer Prize de 1938; não é à toa…



O “narrador” de “Town” é o “Stage Manager” (o "diretor de Cena"). A particularidade dele é que ele é o único no palco que está ciente da não existencia da “quarta parede” e fala com a platéia diretamente. Em 1969 Henry Fonda fez o "Diretor de Cena"... Junto à Mrs. Gibby da talentosíssima Joan van Fleet)



A peça nos mostra a rotina diária de uma pequena cidade e das casas de duas famílias nos princípios do século XX. Na “Nossa Cidade” a vida ainda é perfeita apesar de tudo estar mudando rápidamente (Em 1938 grande parte da platéia ainda lembrava-se de como a vida tinha sido diferente “só” trinta anos antes), a grama é verde, ninguém tranca suas portas à noite, o leiteiro (que aparece nos tres atos) é tratado como se fosse parte das famílias.

Wilder, sempre inovador, colocou atores na platéia… em certa parte o Diretor de Cena até traz personalidades da “ciencia” para descrever “científicamente” a cidade. Seu uso de cenários foi bem escasso - quase espartanico. Em uma cena onde os dois atores principais, ainda adolescentes, conversam das janelas de seus respectivos quartos enquanto fazem seus "deveres" para a escola, só existe uma única indicação: duas escadas altas e os dois no alto delas.



O plot central se estabelece no primeiro ato entre o filho, George Gibbs, de uma casa e a filha, Emily Webb, da casa ao lado.



No segundo ato eles se casam.



O terceiro ato começa no cemitério da cidade. Ao lado esquerdo do palco um grupo de pessoas assiste um enterro. Do lado direito várias cadeiras, muitas delas vazias. Reconhecemos logo Mrs. Gibbs, mãe de George. Túmulos (Aqui a única foto que encontrei da produção original de 1938. O preciso momento em que George se joga sobre o túmulo de Emily... Em primeiro plano o "Stage Manager").



Do grupo do enterro aparece Emily e se dirige às cadeiras. Ela está morta. Este é o seu espírito que, como todos os que ali estão sentados, ainda não se liberou da vida terrestre.

Os mortos lhe contam que estão ali sómente esperando… esperando esquecer a vida anterior… mas Emily se recusa a aceitar isso. Como poder esquecer? Logo descobre que é possível “re-viver” partes do passado. Apesar de várias advertencias Emily decide “voltar”. Concorda porém voltar num dia “normal” (não de grandes festas!) e escolhe o seu aniversário de 12 anos! Vendo seus pais, seu irmão e George ela se dá conta que as pessoas não “vivem” os momentos, não os prezam, não dão o devido valor à cada situação. Pois cada momento na vida é especial. Tudo nos parece ser “comum e óbvio” – só quando perdemos estes momentos para sempre nos damos conta do quão preciosos eram.
Ela perde sua compostura e começa até a gritar com ela mesma (com a menina de doze anos) e com os outros (que não a vem nem ouvem) dizendo: “Olhem-se, Olhem-se nos olhos! Voces não se dão conta da importancia deste momento?”. Muito angustiante sua impotencia neste momento.

De volta “às cadeiras” ela pergunta ao Narrador se alguém compreende e valoriza a vida enquanto está vivo… ele responde “Não. Talvez os Santos e os poetas. Talvez”. Ela volta para o seu túmulo. O Narrador termina a peça com um curto monólogo e deseja uma boa-Noite ao público.

Wilder nos ilustra a importancia para o Universo das vidas simples, porém significativas como as dos Gibbs e dos Webb, para demonstrar o real valor da apreciação à vida… e como túmulos são na realidade vazios pois as almas já estão em outro lugar depois de "esquecer" a “vida”. Wilder alcança em seus diálogos um nível alto de espiritualidade que em nenhum momento transforma-se em barato esoterismo. Muito pelo contrário. De sua forma também nos mostra como devemos deixar os espíritos "irem", "desprenderem-se" daqui. Deixemos-los em paz.



Há algumas semanas atrás recebi o DVD de “Our Town”, filme de Sam Wood de 1940 com Martha Scott como Emily, Fay Bainter como Mrs. Gibbs e um jovem, bonito e talentoso rapaz de 21 anos chamado William Holden (como voces já devem ter percebido nas fotos acima), de quem muito iríamos ainda ouvir...
Decepcionante é o fato do “Happy-End”. Emily não morreu dando luz à uma criança… Tudo foi “só um sonho”. Infelizmente não foi isso o que Wilder escreveu.

Mesmo assim – com exceção da cena final – tive uma experiencia maravilhosa ao assistir esta peça que tanto me impressionou numa época em que me recuperava de uma grave operação e sentia ter recebido “mais uma chance” para viver. Foi uma coisa muito positiva que vicenciei. Assistir este filme foi para mim como rever antigos amigos. Obrigado por este presente, Mr.Wilder!.



Uma curiosidade: já por outro lado o governo soviético proibiu uma produção de Our Town em 1946, no setor ocupado pelos russos em Berlin por considerar o “drama muito deprimente e capaz de poder inspirar uma onda de suicídios entre os alemães na época pós-guerra”.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Isabella (1931 - 2011)



Faleceu na quarta-feira passada (2.2.2011) a atriz Isabella depois de uma longa luta com um cancer de mama.
Isabella trabalhou intensamente no Cinema Brasileiro nos anos 60 deixando sua marca “especial” em filmes como “O Desafio” e “Capitú”.

Sua luta foi muito forte, ela agora descansou.

Isa viveu muitos anos com meu primo, o cineasta Carlos Frederico e apesar de não te-la visto nos últimos 10 anos, guardo muitas memórias dela.

Que Deus a tenha em toda sua graça.

Citando Hildergard Angel: “Nos anos 60, Isabella deixou sua marca definitiva ao interpretar a mais enigmática personagem feminina brasileira, a Capitu de Machado de Assis, no filme de Paulo Cezar Saraceni. Até hoje, ela é reverenciada por seus colegas atores, diretores e críticos pela soberba interpretação da personagem... “

Parte de sua Filmografia:

- Cinco Vezes Favela(1962), episódio de Marcos Farias;
- Os Apavorados (1962), de Ismar Porto;
- O Desafio (1965), de Paulo César Saraceni;
- Proezas de Satanás na Vila do Leva e Traz (1967), Paulo Gil Soares;
- Capitu (1968), de Paulo César Saraceni;
- Pedro Diabo ama Rosa Meia-Noite (1969), de Miguel Faria Jr.;
- O Bravo Guerreiro (1969), de Gustavo Dahl;
- A Cama ao Alcance de Todos (1969), de Daniel Filho e Alberto Salvá;
- Barão Olavo, O Horrível (1970), de Júlio Bressane;
- Lúcia McCartney, Uma Garota de Programa (1971), de David Neves;
- A Possuída dos Mil Demônios (1971), de Carlos Frederico;
- As Quatro Chaves Mágicas (1971), de Alberto Salvá (pelo qual recebeu o premio "Coruja de Ouro");
- A Lira do Delírio (1978), de Walter Lima Jr.;
- Lerfá Mú (1979), de Carlos Frederico Rodrigues;
- Parceiros da Aventura (1980), de José Medeiros;
- O Mundo a Seus Pés (1987), curta de Carlos Frederico.

Ela contou-me o seguinte "episódio" que gostaria de relembrar aqui com voces: Quando "O Desafio" foi para o Festival de Cannes em 1966, vários atores (e Sarraceni) compareceram e Isa, como atriz principal do filme, óbviamente também. Estava porém, em suas próprias palavras, completamente "dura" e nao tinha como comprar um guarda-roupa novo.
Criativa como sempre teve a seguinte idéia: mandou cortar de chitas e rendas vários "Tops" (de barriguinha de fora), saias, encheu-se de balangandas e fez o genero "Bahiana estilizada" (detalhe, ela era baiana de "Mundo Novo").
Sensacional! Causou furor! Senao me engano acho que saiu até em "Elle".
Como a emergencia faz o mestre, nao? E como o brasileiro é mestre nisso...

Acho nesta mesma "leva" de atores brasileiros em Cannes estava também Maria Lucia Dahl. Vi uma vez uma foto...
Abaixo duas fotos de Cannes que considero charmosíssimas.





Aqui acabo minha pequena homenagem - ela uma vez me parabenizou pelos meus "escritos" (suas palavras) aqui. Acho que "Isans" vai gostar de ser parte das "Tertúlias" e de estar em tão boa companhia.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

(un) Lucky Lady: Liza



Alguém se lembra desse fracasso de bilheteria e desastre de filme de 1975? O esquecido Lucky Lady? (No mesmo ano Streisand trabalhou num outro desastre chamado "Funny Lady". Lucky ou funny este não era definitivamente um ano para "Ladies").



Liza
só tres anos após "Cabaret" acompanhada de Gene Hackman e Burt Reynolds e dirigida pelo grande mestre Stanley Donen (Singin' in the rain, Charade etc.)

Nada funcionou.

E a crítica acabou com o filme.
O público ficou longe dos cinemas.
(No Cinema Leblon ele ficou uma semana... lá o assisti... a sala sempre vazia)




E eu o assisti umas tres vezes só para prestigiar pobre Liza e por causa desta cena: A única coisa boa do filme, com uma maravilhosa música da dupla Kander & Ebb, responsável por "Cabaret" e tantas outras jóias que enfeitaram a carreira de Liza!

">