sábado, 29 de novembro de 2014

Jacques Brel: Valse à mille Temps


La Valse à Mille Temps é o quarto disco do maravilhoso, inteligente, bonito belga Jacque Brel.

Também conhecido como "Jacques Brel 4 and American Début", este disco foi feito em 1959 pela Philips.


O mesmo álbum foi relançado em Setembro de 2003 sob o título "La Valse à Mille Temps".

Rever estes videos me fez pensar no quanto o brilhante Brel poderia ainda ter-nos dado,
não fosse o Destino te-lo tratado de forma injusta dando-lhe uma vida tão curta...

Saudades deste grande artista que influenciou com seus textos tantas carreiras: de Joan Baez a Ray Charles, de Chico Buarque a David Bowie, de John Denver a Marlene Dietrich, de Juliette Greco a Leonard Cohen, de Liza Minnelli a Edith Piaf, de Nina Simone a Dionne Warwick e isto só par citar alguns poucos!

Incomparável Brel...




terça-feira, 25 de novembro de 2014

"Get Dancin' ": Disco-Tex and the Sex-O-Lettes


A palavra "Pirei" abria o segundo ato de "É" (Millor Fernandes) com Fernanda Montenegro no "Maison de France" e levava a casa abaixo...

Hoje parece que quem "pirou" fui eu...
Já sabendo que para muitos amigos das "Tertúlias" esta postagem poderá ser até considerada frívola...


Mas “entre nous”, EU SEI que este estilo de música não é exatamente o que fez das «Tertúlias » um espaço acompanhado por tantos…
mas não me permitindo ser preconceituoso decidi colocar este vídeo aqui.
Disco, esta loucura do visual da época, androginismo, glamour de lurex e sandálias de plástico "cor de Coca-Cola"… tudo marcou profundamente um tempo.
Sim, os jovens dos anos 70 devem lembrar.
Tempo depois imitado na novela "Dancin' Days", na qual até eu tive meu momento de "Disco-Tex"...


Para ser muito sincero: Como nos divertimos dançando esta música na época!
Alguém ainda se lembra de "Get dancin' "?

P.S. Adoro este video montado com tantas cenas dos anos 60...
P.S.2 Me divertindo hoje... e agora felicíssimo de haver encontrado esta (erótica) foto de Olga Tschechowa em "Moulin Rouge" (1929), um dos primeiros filmes falado britanicos e óbvia "inspiration" para a capa do disco. Comparem!


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Sufocante e claustrofóbica: A Casa de Bonecas ("A doll's House", Ibsen, Patrick Garland, 1973)



A versão cinematográfica de “A casa de Bonecas” (A doll’s House) de 1973, dirigida por Patrick Garland e com roteiro de Christopher Hampton foi uma de minhas melhores e mais essenciais experiencias de Cinema dos últimos tempos – mesmo que ela tenha me feito alterar minha anterior admiração pela versão de Joseph Losey . Ironicamente também de 1973 essa versão concorreu com a de Garland e a de Losey pela atenção do público e transformou-se na mais conhecida, bem-sucedida das duas… algo que tem muito que ver com o perfil político e contestador de “Hanoi Jane” (Jane Fonda) mas esta é uma outra estória.


Hoje gostaria de tertuliar sobre a versão que assisti há pouco tempo, a versão com a maravilhosa Claire Bloom e um jovem Anthony Hopkins… Este filme teve suas origens na adaptação de Christopher Hampton, que foi dirigida por Patrick Garland e que foi estrelada por Miss Bloom na Broadway em 1971…

Acima: uma rara foto de Miss Bloom na Broadway em 1971 como "Nora".

Com exceção das raras excursões que nos levam para fora da casa dos “Helmer” –por razões únicamente cinematográficas - a produção se mantém fiel à precisão do texto e do timing original da peça.
O foco, o “núcleo” principal do filme se mantém no interior do sufocante e claustrofóbico lar (provávelmente super aquecido) dos Helmer. Dentro da casa de Torvard Helmer na qual ele brinca com sua boneca, Nora, da mesma forma que ela brinca com seus filhos…


Ibsen escreveu “Casa” em 1879. Sua primeira versão em ingles só em 1889. Quando George Bernard Shaw escreveu uma crítica sobre a “revival” de 1897 em Londres, ele inteligentemente chamou atenção à polemica que esta peça havia causado préviamente da seguinte forma: relatando que agora, já que o público havia aprendido a aceitar as idéias, outrora consideradas radicais, de Ibsen, ele se sentia na obrigação de chamar atenção à façanha e ao exito da peça em si, por si mesma, sem a adulada publicidade gratuita da notoriedade… Shaw, que chamava Ibsen de “um melhor dramaturgo que Shakespeare” não queria que o público negligenciasse a peça por não mais ser o “escandalo vergonhoso” que foi nos seus primeiros anos… O escandalo que havia sido tão grande que levou o próprio Ibsen a escrever um final feliz (para suas apresentações na Alemanha); o que contradizia totalmente o que intencionou “comunicar” como mensagem principal em “Casa”!

Shaw não precisava ter-se preocupado: “Casa” continua atualíssima no seu tema… até na burguesa e convencional Alemanha de hoje em dia. Penso que hoje em dia até bastante mais do que nos anos 70 do século passado. Quantos exemplos conhecemos de “bonecas” sem opinião que são sómente objetos para seus maridos? (Alguém se lembra do recente filme “Mona Lisa’s Smile” com Julia Roberts?) Quando olho ao meu redor… me assusto com esta "regressão"...



A versão com Claire Bloom é brindada com uma interpretação tão clássica quanto possível, tratando-se de “Cinema”, que “ruge ferozmente” como teatro de melhor qualidade!

Note-se, como mencionado acima, que, ao invés da versão de Losey, esta se mantém completamente fiel ao texto original de Ibsen… Tive que comparar o diálogo final entre Claire Bloom e Anthony Hopkins com o de Jane Fonda e Edward Fox na outra versão de 1973… O segundo dura menos do que a metade do tempo do original… Já era de madrugada mas eu me manti colado nas duas versões… analisando-as, comparando-as e revendo-as várias vezes… como adoro esses momentos de fertilidade intelectual, de análise! (mesmo com a "catástrofe do acordar" no dia seguinte para trabalhar... ).

O que mais me encanta é o fato de Mr. Garland e Mr. Hampton óbviamente pensarem que Ibsen sabia o que fazia. Respeito.
Admiro a forma como fizeram seu “emprego”: sem alterar, atualizar ou rearranjar drásticamente a peça e sim dando a melhor “leitura” possível desta obra que o (pouco) dinheiro da produção tornava possível… Não existem intenções em transformar Nora numa feminista contemporanea. E, entre nós, este é um dos motivos do qual mais suspeito, que levou Jane Fonda a aceitar o papel…


Mesmo com as curtas excursões (também mencionadas acima) que nos levam para fora da casa dos Helmer. Nós, como público “vivenciamos”, ao lado à Nora, um forte confinamento, enclausuramento físico… algo que é muito fácil de atingir numa peça de um só cenário (no palco) mas que é extremamente fácil de se perder quando este cenário é aberto e outros aparecem (na sétima arte) e o que é nosso caso neste filme! Este mesmo confinamento físico é condicio-sine-qua-non para acreditar-mos na progressão teatral, na realidade da avalanche emocional que toma conta de Nora – a esposa brinquedo do sábado que se torna uma mulher liberada ao chegar da segunda-feira.

Claire Bloom domina a cena majestosamente (como a grande atriz que é) e compreende muito bem os motivos, as "entranhas" de Nora. Sua construção do personagem é fascinante em sua sutilidade. Ela começa bastante vagarosa, sómente uma bobinha fútil, nos dando poucas chances de “ver” Nora, seu interior… só para depois alcançar na sua confrontação final com o marido, Torvald (Anthony Hopkins) um desempenho tão completo e forte, repleto de “bravura”, não exitando por um segundo em nos dar mais… e mais …e mais!
Numa espécie de ininterrupto Zenith. Sim, fascinante e impressionante!

Claire já havia na época passado da idade de Nora (Eu “vejo” Nora, que tem dois filhinhos pequenos, como uma jovem matrona de 25, 26 anos. Claire já tinha 42) mas isto não importa. Sua fundamentada e sólida interpretação transcende estas simples perguntas dos mortais sobre idade cronológica...



Impossível olvidar o maravilhoso cast que a „sustenta“: O desonrado chantagista Krogstad (Denholm Elliott), Sir Ralph Richardson (Dr. Rank), amigo íntimo da família, secretamente atraído sexualmente por Nora, que está morrendo de sífilis, Anna Massey (Kristine Linde), simplesmente maravilhosa no quase “impossível e ingrato” papel da confidente de Nora e Dame Edith Evans (Anne-Marie), presenteando esta produção não só com sua presença mas com seu carisma, é da mesma forma um símbolo do teatro ingles como aqui o único símbolo de amor e establidade e carinho na árida vida emocional de Nora.

Anthony Hopkins, um jovem Anthony Hopkins, já nos mostra porque se transformaria no “monstro-sagrado” no qual se transformou hoje em dia. Seu Torvald não é só um tirano e prisioneiro do seu próprio conservadorismo mas um homem também feito de carne e sangue, que quase nos dá pena quando Norma decide abandoná-lo… e também os filhos… Muitos “Torvalds” são só figuras de um extremo antagonismo.
Seu Torvald é um ser humano, corrompido por valores burgueses e idéias pré-concebidas sobre dinheiro, posição, poder e… sobre os papéis "definidos" do homem e da mulher num caamento... Mas "lemos" que óbviamente esta não é só SUA culpa. Ibsen sabia o quanto a vida pode nos transformar, corromper.



Se uma reserva que muitos tem com o filme é sua forma de ter sido fotografado, gostaria de adicionar aqui que não podemos esquecer por um momento que este filme consiste de um trabalho teatral, de uma peça de teatro fotografada.
Mesmo assim, vezes, a camera se move um pouco “demais” para meu gosto… como na cena final, pulando de um close-up médio de Nora para outro de Torvald constantemente. Numa espécie de ping-pong. Como teria sido o resultado se esta mesma camera tivesse ficado à uma certa distancia nos permitindo olhar para o que decidimos, para o que mais nos atrai ou chama a atenção? Alguém já deu conta de como podemos ler uma peça teatral de várias maneiras diferentes dependendo do nosso estado emocional e físico quando a assistimos várias vezes?

Mas isto é só um pensamento e lá estou eu de novo à „voar“ nele, saíndo do conteúdo, da essencia desta „Tertúlia“.
Vejam, se puderem o diálogo final... abaixo!


Apenas umas últimas palavras antes de finalizar: as tramas de Ibsen são tão maravilhosamente idealizadas, suas cenas tão precisamente construídas e seus personagens tão bem esculpidos que o menor manipulação, interferencia com eles poderia despedaçá-los.

Por isso meu respeito e admiração a Christopher Hampton e Patrick Garland por este magnífico trabalho. Chapeau!

P.S. E nem falamos sobre um dos tabús que existe sobre „Nora“ desde sua premiere 1879: O fato de não só abandonar o marido, o lar e sim também os filhos…

No diálogo final Nora responde a Torvald, quando confrontada sobre “sua obrigação com ele, com os filhos e com a casa“ que sua maior obrigação é com ela mesma… Pano para manga…

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Volksoper Prèmiere: „Mozart à 2 / Don Juan“ (2014, November 16th)


Thierry Malandain’s „Mozart à 2 / Don Juan“ are the two parts this very special ballet evening consists of. In fact both parts are extremely well connected even though they were neither choreographed at the same time nor supposed to fulfill an evening’s programme together.

above: László Benedek & Martin Winter

Mr. Malandain’s language is direct, sometimes even considered “simple”, as Monsieur Legris said yesterday during the prèmiere party (a term I do not like to use) but effective.
Very, very effective.
Guided by his extreme musicality one suddenly realizes that stories are being told, and, as only a balletomane could understand, in the best language possible: dance. Yes, all of a sudden you are facing something that sometimes has been quite forgotten by other choreographers – the fact that ballet is a language by itself and has no need to be supported by a theatrical “script” (like for example in MacMillan’s “Mayerling”, a ballet that I particularly am not fond of due to this very fact) and other supports.

Just after the first moments, while Kiyoka Hashimoto and Masayu Kimoto were still dancing the very first pas de deux (marvellously, by the way), I became completely aware of his (Mr. Mandalain’s) “language”. That was the moment in which I reclined on my chair and relaxed – something that does not occur to me very often during a prèmiere. The moment in which I realized that all the waiting for months and months to “return” and sit among a ballet audience (yes, I had been in quite an imposed ballet distance until yesterday) had payed off. Here I was to enjoy a performance as a regular, average ballet-goer. Yes, the waiting really payed off.

above: Nina tonoli & Davide Dato, Kyioka Hashimoto & Mayasu Kimoto.

Mozart à 2: As the title says Mozart (and some of his middle movements from different Concerts) in some (five in fact) pas de deux…
Four of them told us a lot about the consistency of feelings and human relations that seem to be as vulnerable as a complicated embroidery that might be easily and quickly “undone” within some moments. Fascinating.

above: Alice Firenze & Eno Peçi

I have already mentioned the first pas de deux. The second (performed by lovely Alice Firenze and "actor" Eno Peçi), the fourth (by young Nina Tonoli and audience’s darling Davide Dato) and especially the fifth (by Ketevan Papava – to my taste a dancer with a great personality, stamina and appeal – and Mihail Sosnovschi, at the top of his career; a great, very serious professional that seems to be adding day by day more sensibility to his persona - even when dancing to this dreadful and most "schmalzy" piece by Mozart - the middle piece of the Concert # 21) were a joy.
In those four I could feel Mr. Mandalain’s language, message. The third pas de deux was in fact the weakest one, in terms of “expression”, choreographically speaking, even though one of my favourite dancers, Mr. Alexis Forabosco, a strong, very expressive, intelligent dancer (as I always put it) was in it. A question of inspiration, I guess. This may happen!

above: Nina Polakova & Alexis Forabosco, Ketevan Papava & Mihail Sosnovschi

One should point that this season’s “Mélange” of repertoire seems to be very friendly to the dancers. To their bodies. Everyone on that stage yesterday seemed to be on top of form.

Don Juan: a few minutes after the curtain rose, the audience had been “caught”. The staging is extremely clever and effective – even though simple and plain in its language. Yes, that is what I call clever staging!
Particularly challenging: the use of the whole corps-de-ballet (including the boys) as Elvira, the furies and les Maitresses of Don Juan.


Some moments caught my attention extremely… as, for example, the moment I which some girls were turning under the tables with the tables on her backs. "Entre nous": really a very difficult and strenous thing to do! I could not take my eyes of enchanting Tainá Ferreira, center stage, and strong Rebecca Horner, just behind her.

above: Tainá Ferreira/ Rebecca Horner

Gleb Shilov, Oleksandr Maslyannikov but especially Martin Winter were the three “faces” of Don Juan. The three of them and also Mr. Lázlo Benedek gave us performances to take home with us and think about.


But after leaving the theatre I felt a sort of emptiness, even while having a good time during the première party, which I could not describe, understand. Now, while writing this article I realized what had bothered me (once) again. This “separation” of the State Opera’s from the Volksopera’s ensemble:
When will the Volksopera’s dancers be given the chance of performing the whole programmes? For example also the pas de deux…
And when will the State Opera’s dancers be part of the corps de ballet in such performances?
Thoughts… just thoughts… which are not considering rehearsal schedules and logistic…
But… why not?
Has not G.B. Shaw once said
“Some men see things as they are and say “why?”, I dream things that never were and say “why not?"

Think about that...

Ricardo Leitner

copyrights: all pictures Wiener Staatsoper/ Ashley Taylor as well as programme reproductions.

http://vimeo.com/112167470

domingo, 9 de novembro de 2014

Nunca é realmente tarde para se realizar um sonho (ou "Le Spectre de la rose")


Lillian Gish ( 1893 – 1993), lenda do cinema e teatro americano a quem eu já deveria ter dedicado 20 “tertúlias”, trabalhou de 1912 a 1987 sendo uma das poucas pioneiras do Cinema mudo que fez uma real carreira no cinema sonoro…


Spectre de la Rose
foi assitido pela primeira vez nos U.S.A. (e também por Lillian Gish) em 1916, bailado por Vaslav Nijinsky e Tamara Karsavina… o primeiro Ballet a ser dançado no “Met”. Trabalho que juntou, além dos grandes bailarinos, os talentos do compositor Weber, de Leon Bakst nos cenários e figurinos, do coreógrafo Michel Fokine




(acima filme "fake" feito de fotos de Nijinsky e Karsavina, bonito trabalho mas não verdadeiro - infelizmente não existe nenhum material filmado de Nijinsky)

Patrick Dupond
, que no filme “She dances alone” foi Nijinsky ao lado de Kyra Nijinsky (na vida real filha de Vaslav), teve uma grande época na Ópera de Paris e no Ballet internacional nos anos 70 e 80… Eu tive a grande felicidade de assistí-lo com "Les Etoíles" da Ópera de Paris ainda no Rio...


Mas o que uma coisa tem que ver com a outra? Temos que viajar à Metropolitan Opera House, N.Y. (ou o „Met“ como é chamado íntimamente por seus fãs e frequentadores) que abriu suas portas em 22 de Outubro 1883 na Broadway entre a 39th e a 40th Street… (O prédio atual, no Lincoln Center, só foi inaugurado em 1966!).


Aos 100 anos de sua abertura foi organizado no Met um espetáculo que reuniu um “Who’s who” da Ópera Internacional: nomes, na época, atuais como Domingo, Sutherland, Pavarotti, Ludwig mas também nomes que já não mais estavam ativos nos palcos, como a húngara Martha Eggerth, como a brasileira (e no Brasil ignorada) Bidú Saião

Mas nesta “Gala” uma atriz “roubou” o espetáculo… e realizou um sonho de toda uma vida… Lillian Gish. Para o “Spectre de la Rose” de Patrick Dupond, ela foi “A debutante” que adormece numa cadeira depois do seu primeiro baile... Ela, que era só 10 anos mais jovem que o Met, estava aqui com 9o anos. Linda no palco, elegante, classuda, digna, sendo amada, aplaudida e respeitada por não sei quantas gerações de fãs.


Lillian, a lenda que ainda viveria quase 10 anos e que faleceria só em 1993 – pouco tempo antes de cumprir o seu centésimo aniversário. Mulher culta, bela na sua idade, em qualquer idade e cheia de dignidade – sem aquelas deformações que as plásticas, silicones e botoxes “da vida” fizeram em tantas outras que hoje em dia andam por aí com 90 anos parecendo bruxas… não, parecendo não, como perfeitas bruxas… Não deveriam deixar pessoas assim sair à rua : assustam as crianças… :-)

Como ela mesmo diz na introdução do vídeo, depois de ter assistido Les Ballets Russes e Nijinsky, este virou o seu grande sonho… fez aulas de dança com Ruth St.Dennis mas nem o tempo, nem sua carreira no Cinema (e depois no Teatro) e nem já sua idade na época lhe permitiram fazer este “dream come true” . Para esta curta aparição ela foi ensaiada nor ninguém menos que Natalia Makarova, que aprendeu este papel diretamente de sua criadora, Karsavina. Que Début para Lillian Gish aos 90 anos!
Ela realmente esperou muito mas quando finalmente estreiou, a produção foi perfeita! (Abaixo Karsavina ensaiando o papel da Debutante com Fonteyn).


Como me deixou feliz assistir este video. E, principalmente, este outro “enfoque”, esta outra leitura do ballet que automáticamente “aconteceu” na minha cabeça: porque uma Senhora de 90 anos não pode estar a sonhar (ou a relembrar?) com o amor, com o Espectro da Rosa? Coisa linda. Plena.

Ao assistir e reassistir, fiquei com saudades dela e daquele rostinho para sempre “moço” que assisti pela última vez em “The Whales of August”, filme magnífico e humano, ao lado de Bette Davis (1987).

Como esta homenagem me emocionou...

Amei mais uma vez , e de outra forma, este Ballet que vem da magnífica tradição e época única na história dos “Les Ballets Russes” e de Fokine, Bakst, Nijinsky, Diaghilev, Karsavina…. Nao é mera coincidência que tantos talentos se reunam assim, numa época, num devido lugar… coincidências assim definitivamente não existem!


Minha alma se encheu de melancolia ao ver um jovem Patrick Dupond antes do terrível desastre que em 2000, aos 40 anos (somos da mesma idade) deixou-o impossibiltado de recuperar-se físicamente para o Ballet e prosseguir com sua brilhante carreira.


Sobre Gish só me resta dizer, melhor, repetir uma expressão inglesa que acho muito adequada, apropriada à ela:

“There are people who get old and people that age” (Existem pessoas que ficam velhas e pessoas que ficam com idade).


Sim... pessoas que ficam velhas e outras que ficam com idade! Voces "vem" ao que me refiro?

Esta é a real essencia desta Tertúlia… este “querer realizar um sonho”, mesmo que com idade, é o que faz a diferença. Toda a diferença. É o que nos mantém vivos, jovens… Só quando deixamos de sonhar é que nos tornamos velhos... E este é também o tema central de “The Whales of August”, filme que profundamente recomendo.


Dedicando esta tertúlia à todas as dignas Senhoras de idade, digo só:

Obrigado Lillian por esta sábia licão de vida: Nunca é realmente tarde para se realizar um Sonho…