terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Burlesque at its best: Gypsy

Só uma curta reflexão antes de começar…
Muito me admirou quando, há alguns anos, falei com um chamado diretor de musicais que estava encantado pois havia “descoberto” um musical.
Ele estava mais do que excitado e parecia Colombo descobrindo a América.
Já que tenho uma “relação” muito intensa com o “Musical” desde minha tenra infancia (Já contei que esta é também uma “herança” que recebi dos meus pais? Mais uma delas…) fiquei curioso e qual foi minha surpresa quando ele disse, com grave eloquencia, que tinha “descoberto” “Gypsy”!
No primeiro momento não pude acreditar que ele se referia à esta obra-prima do teatro musical, como se fosse uma grande novidade.

Perguntei ingenuamente se ele se referia ao disco da produção original com Ethel Merman ou ao filme com Rosalind "Roz" Russell e Natalie Wood. Seu olhar me revelou que ele não tinha a menor idéia a quem eu me referia…

- Não, não… o filme com Bette Midler!, respondeu




Vou ser muito sincero: se alguém me disser que não conhece e nunca assistiu “Gypsy”, não me importarei muito.
Mas ouvir esta exclamação vinda de um “pretenso diretor” de musicais realmente é uma coisa meio esquisita. Trabalhador, conheça o seu ofício!

Como querer declamar Shakespeare sem ter aprendido o ABC? Como tocar um prelúdio de Chopin sem conhecer as notas? Como querer dar piruetas sem conhecer uma quarta ou a segunda posição - como muitos russos? (Adoro, por sinal estas piruetas saídas de um "seconde"... ).
É como tentar andar sem ter aprendido a engatinhar…
Como uma pessoa relacionada à musicais não conhece um musical que por muitos críticos e escritores é considerado o melhor musical de todos os tempos (e que por “coincidencia” foi dirigido e coreografado originalmente por Jerome Robbins, one of the best) é para mim uma interrogação. Não. Me corrijo: Uma total falta de preparação.

(Infelizmente este não é um fato único. O teatro aqui na Europa está cheio de pessoas assim… qual o resultado? Produções de baixo nível em termos de direção, críticas horrendas, peças que são retiradas de cartaz antes da tempo, atores e bailarinos que perdem seus empregos… Sim, «Trabalhador, conheça o seu ofício”, mesmo que seja na província, e tenha mais responsabilidade com os destinos alheios…).


Bem, o "prólogo" acabou, aqui "Gypsy"

Bette Midler não é e nunca será “Mama Rose” (descrita como “one of the few truly complex characters in the American musical…”). Ela é Bette Midler querendo afastar-se da forte “persona” Bette Midler num filminho feito para a TV.



“Gypsy” foi baseada na auto-biografia da Striper “Gypsy Rose Lee” :



Uma mulher bem inteligente que além de se despir em público ("The Queen of Burlesque") também escreveu, entre outros, um livro chamado “The G-String Murders” (1941). Adoro!



Este livro inspirou o filme “The Lady of Burlesque” (1943): um filme “policial” e interessantíssimo, passado nos bastidores do burlesco, e que deu à seríssima Barbara Stanwick a chance de interpretar um papel bem diferente das suas “neuróticas” personagens. Fabulosa. E faz uns Spagats com uma facilidade louca... Uma coisa que era inesperada em Barbara...



Em “Gypsy” o personagem principal não é nem “Louise” nem sua irmã “Baby June” (que realmente fugiu das garras da mãe aos quinze anos para se casar com um rapazinho… Baby June, na realidade, transformou-se depois na atriz de razoável sucesso de musicais da 20th Century Fox nos anos 40 : June Harver). Toda a peça gira a redor de “Mama Rose”, a maior Show-Business-Mama da história, que não exita por um segundo, quando ve a chance de “estrelato”, mesmo que seja no Burlesco, em colocar a própria filha para fazer Stripteases na frente de uma platéia de homens nojentos, que mais parecem lobos famintos, babando… Aquele tipo de homem que tem que ver «shows» pois certas coisas lhes são negadas debaixo do próprio teto. Repito. “Mama Rose is one of the few truly complex characters in the American musical…”. Pano para muita manga. Motivo para “se descascar muitos abacaxis”.

Como eu gostaria de ter visto Ethel Merman neste papel… Sim, Merman, a primeira Mama Rose de uma longa linha de maravilhosas atrizes:







Rosalind Russell (fabulosa) na primeira versão cinematográfica, que no Brasil chamou-se “Em busca de um Sonho” (Mervin LeRoy, 1962) com Karl Malden e Natalie Wood (que corpinho!).






Angela Lansbury






Patti LuPone





E quebrando a tradição que Mama Rose só poderia ser encarnada por uma “belter”, aqui a minha querida Bernadette Peters na última produção que a Broadway viu de “Gypsy” há alguns anos atrás…







Liza sempre quiz interpretar Mama Rose

Para finalizar desta vez DOIS vídeos do Youtube:
O primeiro mostrando a “ascenção ao estrelato” de Louise/Gypsy Rose Lee (ou, como outros também justamente interpretam, o “declínio de sua moral”) do filme de 1962.


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…e o segundo de um espetáculo de Gala em Londres mostrando o número das tres “Stripers” de Burlesco que mostram à Louise o que é necessário para um bom Striptease (You gotta have a Gimmick). Entre elas a própria Bernadette Peters como uma das Stripers (as outras duas as fabulosas Julia McKenzie e Ruthie Henschall nas pontas!!!!). Bernadette simplesmente "arrasa". Fabulosa!!!! "Once I was a "schleppa", now I'm Miss Mazeppa"... Que texto...
Este é definitivamente meu número preferido de toda a peça: grande trabalho de Jules Styne (que depois seria responsável por "Funny Girl" e pelo "carro-chefe" de Streisand: "People") – e pela primeira vez um trabalho de um jovem compositor… Stephen Sondheim, que admiro demais. Um genio!

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