sexta-feira, 25 de abril de 2008

Transições da Broadway para Hollywood: duas heroínas esquecidas de Tenessee Williams.

Pouquíssimos atores tiveram a grande sorte de reviver no cinema um papel que criaram no palco… Julie Andrews perdeu “My fair Lady” para Hepburn, Miriam Hopkins “Jezebel” para Bette Davis, sua “arqui-inimiga”, Tallulah Bankhead “The little foxes” também para Davis, Carol Channing “Hello Dolly” para Streisand, Angela Lansbury “Mame” para Lucille Ball e também Ethel Merman perdeu “Gypsy” para Rosalind Russell... Um sortudo Joel Grey, por exemplo, recebeu um Oscar pelo seu “Emcee” do filme “Cabaret” (1972) que tinha sido uma sensação na Broadway em 1966. A inimitável mestre de comédia Roz Russell recriou sua inolvidável “Auntie Mame” (num filme aliás muito superior ao musical “Mame”) nas telas... mas estas sao raras excessões.
Como o público do teatro nao é tão grande como o público do cinema, muitas vezes assume-se então, por total ignorância, que certos atores ficaram conhecidos ou “foram descobertos” na televisão ou no cinema "mais atual". Uma pena saber-se tão pouco sobre certas carreiras, principalmente sobre duas que fizeram pouco cinema, deixaram porém imagens muito boas nele, mas que são duas quase esquecidas heroínas de Tenessee Williams em produções originais...

Sabiam que Barbara Bel Geddes, para muitos a “Miss Ellie” (daquela tenebrosa série dos anos 80 “Dallas”), foi a primeira “Maggie the cat” de Tenessee Williams em 1955 na Broadway ???? Aqui ela em “Cat on a hot tin roof” (ou “Gata em teto de zinco quente”, Pulitzer prize de 1955). Sua carreira Hollywoodiana, apesar de nao tão bem sucedida como sua carreira no teatro, incluiu filmes como “I remember Mama” de 1948, “Vertigo” de 1958 (um dos meus Hitchcoks preferidos, ligeiramente baseado numa peça de Pirandello!) e “The five pennies” de 1959 com Danny Kaye.
Outra “esquecida” é a criadora de Blanche DuBois de “A streetcar named desire” de 1947 na Broadway (“Um bonde chamado desejo”, Pulitzer prize de 1948 ): Jessica Tandy que, na opinião do grande público, “foi descoberta” na velhice com seu papel em “Driving Miss Daisy” (1989) apesar ter estreiado no cinema em 1932 (!!!), ter feitos filmes como “The birds” de 1963 (Outro Hitchcock incrível), “The bostonians” (1984) e muito – realmente MUITO! – teatro... Reconheceram um jovem Marlon Brando ao fundo com a talentosíssima Kim Hunter ?
Maggie e Blanche – talvez as heroínas mais "Tenesseewillimianas" de toda sua obra – foram imortalizadas em celulóide por Elizabeth Taylor e Vivien Leigh (Oscar de melhor atriz de 1950). Difícil imaginar hoje Bel Geddes e Tandy nestes papéis, nao é verdade?

terça-feira, 22 de abril de 2008

Valentino (1977)

Valentino foi, na época, o filme mais caro de Ken Russell, apesar do fato que os $5 milhoes que custou em 1977 parecem ser absurdamente baratos comparados aos orcamentos dos filmes da atualidade. Um fracasso total na época, este filme causou um grande set-back na carreira de Russell, do qual ele realmente nunca recuperou-se.

Na verdade, NINGUÉM gostou de Valentino quando ele foi lancado em 1977 – bem, acho que “ninguém” é um pouco exagerado... eu gostei muito, vários amigos meus gostaram muito (!!!???). Mas isto é de uma certa forma explicável. Nós tínhamos amado “The boyfriend” (vide minha postagem) e um ou outro filme de Ken como “Tchaikowsky”ou “Women in love”. Ken vinha nos anos 70 desenvolvendo aos poucos uma outra linguagem cinematográfica em filmes como “Mahler”, “Tommy” e “Liztomania”, que nao foram realmente nossos preferidos. Com “Valentino” ele retornou à uma linguagem ligeiramente mais academica (apesar de que Ken Russell e a palavra “academica” jamais vao “rimar”) porém muito ousada. Os fas de Russell citicaram “Valentino” por achá-lo muito pouco experimental e talvez um pouco convencional, a outra metade do mundo achou-o porém demasiadamente experimental, muito inconvencional e “muito louco”. A campanha publicitária nao ajudou nada, especialmente quando foi divulgado que este filme vinha “from the producers who gave you Rocky” !!!!!!! Um filme mais distante do trabalho, da linguagem cinematográfica de Ken Russell nao poderia ser encontrado ou mencionado.

Mas o tempo foi amável com “Valentino”, que parece agora ser muito mais experimental do que na época de sua estréia. E ele ainda é “muito louco”, o que é um grande elogio quando se constata que este filme foi feito há 31 anos!

Ken Russell mistura ousadamente fatos, fantasias e lendas de/sobre/com Valentino e sucede com um “cast” maravilhoso, principalmente com os atores coadjuvantes: uma sincera Felicity Kendal aparece como June Mathis, Leslie Caron “dá um banho” com sua egoísta, neurótica, glamourosa (e quase beirando à loucura) Alla Nazimova (a primeira diretora avant-garde de Hollywood que chocou o mundo com sua “all homosexual” producao de “Salomé” em homenagem à Oscar Wilde), a incrível Carol Kane como a primeira mulher de Valentino, uma mistura de “glamour”, oportunismo, “french fries & ketchup” e sotaque texano é uma delícia - principalmente “dancando” com Valentino, Leland Palmer (que anos mais tarde teria um papel bem destacado em “All tha jazz”) como uma dancarina bebada merece mais do que nosso respeito por um grande, patético momento cinematográfico (com muita técnica além de muita emocao), o grande bailarino britanico Anthony Dowell aparece como Nijinsky numa inspirada (porém completamente fictícia) cena, na qual Valentino lhe ensina “how to tango”...
Apesar de Nureyev e Michelle Phillips (como Natascha Rambova) nao estarem perfeitos nos papéis principais, suas performances nao se desgastaram com o tempo.
Visualmente este filme é uma festa, talvez ópticamente o filme mais lindo de Ken Russell, emanando um ar de “riqueza” cinematográfica raramente visto nos anos 70 e desde entao. Como sempre a colaboracao com Shirley Russell é uma coisa fascinante – cada detalhe de vestuário é pura perfeicao!
Como era a música com que o filme acabava? "There's a new star in heaven tonight..." Ah, como tudo é efemero, nao é verdade?

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Mikhail Baryshnikov: transparencia e simplicidade.

Meu amigo Antonio, também ex-bailarino, disse uma vez numa roda de amigos aqui em Viena, na qual falávamos sobre Nureyev: “ Eu sei, voces todos pensam em Nureyev como o supra-sumo do ballet... para nós (ele incluiu-me neste “nós”) existem vários outros bailarinos mas só uma estrela do ballet: Mikhail Baryshnikov”. E ele tem razao absoluta. Nós somos da geracao que ficou boquiaberta quando viu pela primeira vez o fenomeno Baryshnikov.
(Eu, particularmente, nao “venero” a memória de Nureyev também por um outro motivo: um homem que sabia que estava com AIDS e que continuou à infectar outras pessoas – de acordo com uma biografia, calcula-se que mais ou menos 1500 pessoas devem sua contaminacao à ele – nao merece para mim este “pedestal” que as vezes ainda é feito para ele. O que aconteceu aos nossos valores morais?).
Baryshnikov nos mostrou que dancar era outra coisa e elevou o standard do ballet no mundo ocidental da noite para o dia... De um dia para outro nossas “metas” se triplicaram em tamanho. Ele nos abriu novos horizontes. Ele nos mostrou uma nova técnica... Uma vez alguém fez um comentário sobre o tenista Björn Borg, que na minha opinao aplica-se maravilhosamente à Baryshnikov: “Nós jogamos tenis, ele joga outra coisa!!!! ”.

Além de tudo (musicalidade, técnica refinadíssima, humor, inventividade – qualidades que Rudolf Nureyev na realidade nunca possuiu) Baryshnikov é um homem inteligente, culto. Um professor meu uma vez disse: “Para se dancar voce tem que saber o que é uma equacao, uma raiz quadrada... “. Um homem equilibrado ele nunca transformou-se em “estrelíssimo” (e nunca parou uma orquestra para corrigir erroneamente o maestro, como Nureyev fez no Brasil... um “faux-pas” até hoje lembrado pelos que assistiram aquele espetáculo. Por sinal, o maestro era Karabitchewsky) .
Misha, nasceu em 1948, e aos 26 anos, depois de ter alcancado fama (também no ocidente devido à tournées etc.) com o Balet Kirov, fugiu em 1974 durante uma tournée no Canadá. À partir deste momento ele tornou-se o maior astro do American Ballet Theatre... Sua partner principal nesta época foi Gelsey Kirkland (Vide minha postagem: A volta da (um pouco mais) velha senhora). Ele “chocou” o mundo da danca em 1978 ao abandonar o ABT e se mudar para o New York City Ballet para ir trabalhar com “Mr.B.” (George Balanchine) que nunca aceitou trabalhar com “guests” (por isto ele nunca trabalhou nem com Natalia Makarova nem Nureyev entre outros). Misha nao tinha realmente as “linhas” necessárias que eram/sao exigidas para os ballets de Balanchine. Mesmo assim “domou” o seu corpo para poder encarar ballets como “Apollo”, “Prodigal Son”, “Rubies” etc. Um processo similar, porém inverso, ou seja, do NYC Ballet para o ABT, tinha acontecido vários anos antes com Gelsey Kirkland – vide minha postagem acima mencionada!
“Mr. B.” nunca fez um ballet para Baryshnikov. Sómente Jerome Robbins (à quem Bea Arthur nao tece nenhum elogio – muito pelo contrário... ) criou “Opus 19: The dreamer” para ele e para a linda Patricia McBride... um ballet realmente nao muito lembrado.

À partir de 1980 ele voltou ao ABT mas também como diretor.
Eu, além de te-lo visto algumas vezes dancando no Rio, em Viena e em N.Y. também tive o prazer de ve-lo numa maravilhosa producao de “Metamorfose” de Kafka na Broadway. Outros trabalhos como ator incluém nao só os filmes “The turning point”, “Dancers” e “White nights” como também uma producao de quatro pecas curtas de Samuel Beckett em 2007 sob direcao da avantgardista JoAnne Akalaitis. Na televisao trabalhou em “Sex and the city” e os amantes do ballet estao até hoje frustrados e nao podem compreender porque Carrie deixou-o por “Mister Big”...

Aqui um dos seus “statements” do qual gosto muito (talvez pela simplicidade deste) :
"It doesn't matter how high you lift your leg. The technique is about transparency, simplicity and making an earnest attempt”.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Roxie Hart (1942) e Chicago (1975)




Roxie Hart (1942) vs. Chicago (1975) -

cada um de sua forma um clássico!

“Roxie Hart” é um filme engracadíssimo da 20th Century Fox de 1942, baseado num filme mudo de 1927 chamado “Chicago” que por sua vez foi baseado numa peca de teatro de Maurine Dallas Watkins; uma repórter que encontrou sua inspiracao “literária” em dois processos “da vida real” que ela cubriu nos anos 20 para o “Chicago Tribune”.
O roteiro de Nunnaly Johnson concentra-se numa frustrada “showgirl” que confessa um assassinato em Chicago, esperando assim receber bastante publicidade para ajudar sua medíocre carreira em “show-business”. No final da estória: uma parábola bem “negra” sobre o sistema de justica americano.
O elenco é liderado por uma vulgarérrima e incrívelmente diferente Ginger Rogers de cabelo escuro, exatamente na melhor fase de sua carreira (tinha-se já separado de Fred Astaire e recebido o Oscar em 1940 por sua “Kitty Foyle”, um filme polemico para a época por tratar da problemática de uma mae-solteira). Sua “Roxie” é realmente fenomenal: vulgar, faladora, safada, mentirosa, sexy... O elenco secundário conta com o chatérrimo Adolphe Menjou, George Montgomery e a simpatissíssima Spring Byington – outra daquelas maravilhosas “supporting actresses” dos anos 40!

Cenas inesquecíveis: Roxie sapateando numa escada de metal (e conseguindo tirar desta sons incríveis de dar inveja à qualquer sapateador), Roxie dancando o “Black bottom” numa entrevista para a imprensa e Roxie (como uma gata) brigando com “Velma”, outra prisioneira que colocou suas esperancas no colo da “promocao” que a imprensa fazia nestes casos (os sons em background nesta cena sao de duas gatas brigando... um efeito inteligente!). “Velma” é um personagem que só foi mais desenvolvido para o musical, 33 anos depois...

“Chicago”, a peca musical baseada por sua vez em “Roxie Hart” , estreiou em 3 de junho de 1975 com um “cast” que incluía grandes nomes da Broadway: “the one and only” Gwen Verdon (Roxie) assim como Chita Rivera (Velma Kelly) e Jerry Orbach (Billy Flynn, o advogado de defesa). Um grande “tour-de-force” principalmente para Verdon & Rivera, que colocaram a vaidade de lado e apesar de estarem já “nos 50” desfilaram “semi-nuas” com um guarda-roupa que nao foi realmente concebido para deixá-las jovens, esguias e sensuais – Muito pelo contrário (que profissionais!). Aí está um ponto de Chicago que depois foi ou esquecido ou (por questoes finaceiras) ignorado: Roxie e Velma sao coristas já “bem passadas” dos 40... Uma frase da cancao principal de Roxie foi até cortada em versoes posteriores: “I’m gonna tell you the truth, not that the truth really matters but I am gonna tell you anyway... the thing you see, I’m older than I ever pretended to be”. A direcao, o roteiro (com o compositor Fred Ebb) e coreografia foram feitas pelo, para mim genio, Bob Fosse.
Esta “extravanza” musical é bem mais “ousadamente sexy” do que o original – mas esta é uma qualidade “Fosseana” repetida várias vezes (“Cabaret”, ”Pippin”, “Dancin’ ”, “All that jazz”... ) durante sua magnífica carreira de diretor e coreógrafo no teatro e no cinema: ele era exageradamente sexista!

“Chicago”, apesar de ter sido um grande sucesso na temporada de 1975, foi completamente ofuscado por “A chorus line”, que estreiou no mesmo ano: Chicago foi nominado para 11 Tony Awards... e perdeu em TODAS as categorias para “A chorus line”. Quando teve porém sua “revival” em 1997 com coreografia de Ann Reinking “no estilo de Bob Fosse”, este musical virou de novo um grande sucesso e ganhou 6 “Tonys” – o que jamais tinha acontecido com uma “revival”.
O filme para mim nao merece ser mencionado – as duas atrizes principais estavam completamente erradas para os papéis e por isto nao conseguiram dar a dimensao apropriada para Roxie e Velma – duas delícias para serem interpretadas. Além do mais, muito jovens...

Em sua biografia Ginger Rogers conta que conversando com Gwen Verdon, depois de uma apresentacao desta em “Chicago” na Broadway, ela comentou que “infelizmente nao tenho um número de sapateado como o seu nas escadas de metal”. Just for the record.

Gwen e Fosse já se foram há muito tempo, mas continuarao eternos para o mundo do musical!

P.S. Bob Fosse nasceu em Chicago...


terça-feira, 8 de abril de 2008

Mafalda, mas que saudades de voce!


É verdade: saudades de Mafalda e de seus amiguinhos... Manolito, o filho da dono da "venda", a baixinha, ínfima Libertad (tao pequenina quanto o nível de vida), Susanita, que só pensava em casar-se... e vários outros!

Criada pelo argentino Quino Mafalda foi traduzida para vários idiomas...

Como alguém poderia esquecer Mafalda e sua luta diária contra a sopa que que era obrigada à comer? e como sentia-se traída porque seu irmaozinha adorava "sopita, sopita!"
Ou a forma como era "fa", uma verdadeira "macaca de auditório" do "pájaro loco" (que eu até hoje creio ser o "Picapau" - Woody Woodpecker!)?

Mafalda é uma grande heroína para minha geracao... politizada, consciente, engajada e, além de tudo, simpatissíssima e engracada!!! Na Argentina no momento ela foi "redescoberta" e um pouco "industrializada": existem dvds dela, inclusive quadrinhos em cores... será que ela gostaria disso?
"Nascida" em 1964, a querida Mafalda foi a primeira personagem de estórias em quadrinhos que nos falou da guerra do Vietnam, do terceiro mundo, de direitos humanos, dos Beatles, das naves espaciais, do bloqueio norte-americano contra Cuba, do premio Nobel da paz (e o de literatura recusado por Jean-Paul Sartre), das maes solteiras, da pílula anti-concepcional, de Woodstock, da pobreza... Alguém pode esquecer quando Mafalda, depois de ouvir as mais horríveis notícias no rádio colocou um Band-aid num globo mundial???? Um momento eterno para os "comics"...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O tempo e os Conways

“TIME AND THE CONWAYS”: uma das minhas pecas favoritas (apesar de te-la assistido numa terrível versao no final dos anos 70 no Rio, em algum teatro no Leblon, acho.. eu só me lembro que todos os atores corriam de parede para parede, jogando-se e batendo nelas sem nenhum porque... bem nenhum que esteja pelo menos associado com a peca... uma daquelas producoes que nao será mencionada na biografia de ninguém e que nao ganhou nenhum premio... e eu nao me lembro mais de quem trabalhou naquela producao... seria até interessante saber... ).
Escrita pelo incrível e inteligentíssimo J.B. Priestley (1894 – 1984) em 1937, ela é considerada como uma das melhores obras do que sao chamadas suas “Time plays”: uma série de pecas que joga com diferentes conceitos sobre o TEMPO.

Superficialmente „O TEMPO E OS CONWAYS“ parece contar a estória de um grupo de jovens, cujas esperancas de felicidade na vida serao completamente frustradas – ou pelos seus próprios erros ou pela interferencia de outros (o chamado “destino”?). Num nível mais profundo, esta peca explora a pergunta se a felicidade é realmente possível e se podemos nós mesmos mudar o curso de nossas vidas.
A estrutura deste maravilhoso trabalho é simplérrima, porém bastante revolucionária para a época em que foi escrito (1937).

“Time and the Conways” usa a simples estrutura de tres atos:
* O primeiro em 1919, na casa dos Conway, na noite da festa de aniversário da filha, Kay.
* O segundo passa-se para a mesma noite (aniversário de Kay), na mesma casa, porém em 1937.
* O terceiro ato volta para 1919 e é, na realidade, a continuacao do primeiro ato.


Ato I
No primeiro ato a atmosfera é de uma celebracao – nao só o aniversário de Kay mas também o final da primeira guerra mundial (1918) e o “início” de um novo mundo, em paz, com grandes perspectivas para o futuro. Mrs. Conway tem quatro filhas (Kay, Hazel, Madge e Carol) e dois filhos (Alan e Robin). Os Conways pertencem à alta burguesia. Além deles mais tres personagens aparecem: Gerald, um advogado, Joan, uma jovem apaixonada por Robin e Ernest, um ambicioso jovem de classe social mais baixa... Durante um momento Kay é deixada só no palco, digo, na sala e tem o que pode parecer ser uma “visao” do futuro.
Ato II
Aqui somos confrontados, quase 20 anos depois, com asdesilusoes que caíram sobre os Conway e vemos como suas vidas fracassaram das mais diversas formas: Carol morreu, Hazel casou-se com o sádico, porém próspero Ernest, Robin tornou-se um caixeiro viajante que odeia sua esposa Joan, Madge nao conseguiu realizar seus sonhos socialistas. Kay, de alguma forma, sucedeu em tornar-se uma mulher independente mas nao com seu sonhos de ser uma novelista. A fortuna dos Conway acabou, a casa tem que ser brevemente vendida e a heranca de todos os filhos nao mais existe. A tensao e o rancor explodem, só para serem dominados por um clima de tristeza e miséria “d’alma”. Sómente Alan possui calma interior. No final do ato II ele e Kay sao deixados à sós no palco e Kay descreve sua angústia. Alan opina que o segredo da vida é compreender sua verdadeira realidade; que nossa percepcao do TEMPO como uma linha reta, uma diretíssima (e que temos que pegar e levar da vida o que for possível antes que morramos) é completamente errada. Se pudéssemos ver o TEMPO como eternamente presente dentro de nós mesmos, poderíamos traspassar a linha de nossos sofrimentos e, deixando esta para trás, compreenderíamos que nao haveria mais necessidade de machucar outros ou entrar em conflito com eles.
Ato III (comeca aonde o primeiro ato acabou)
Este é para mim o ato que mais machuca: Nós já sabemos o que vai acontecer com a vida deles – eles nao! Aqui vemos também como as sementes para a destruicao do futuro dos Conway já estavam sendo plantadas... ali, por eles mesmos (de novo minha pergunta: o chamado “destino”?). Ernest é recusado por Hazel e Mrs. Conway, o amor que Gerald sente por Madge é também destruído pelo esnobismo de Mrs. Conway num outro momento de alta arrogancia social! Alan é rejeitado por Joan e aí por diante... Quando o terceiro ato está para acabar, todos os jovens se reúnem para jogar uma espécie de jogo para “ver o futuro”: nervosa, angustiada e sem saber porque, Kay, a aniversariante, parece ter uma visao do “futuro” que vimos no segundo ato. A peca acaba com Alan prometendo que um dia no futuro será capaz de dizer-lhe algo que a ajudará...