quarta-feira, 31 de julho de 2013

Uma canção de amor: It all depends on you

“It all depends on you” foi cantada centenas de vezes, desde ter sido composta em 1926 por Brown/DeSylva/Henderson.

Redescobri uma linda gravação desta música no filme “Love me or leave me” (MGM 1955) no qual ela foi usada como veículo para enquadrar o início da carreira de Ruth Etting (Doris Day, num ótimo desempenho dramático!).

Quanto mais a ouço, mais aprecio a simplicidade de Doris Day ao cantá-la…


Interpretação daquelas que gosto… e muito: sem floriados, nada rebuscada, suave, simples…

A canção é a verdadeira estrela…

E a voz de Doris só um instrumento, como o piano que a acompanha (maravilhoso pianinho por sinal… ), que transporta a música no seu essencial, com sua dicção perfeita, inigualável…

Meu pai uma vez me chamou à atenção este detalhe : voces já repararam como se compreende perfeitamente toda e qualquer sílaba que Doris canta?

It all depends on you
: mesmo que trate-se duma daquelas “canções de vítima dependente” que abomino (nas quais a mulher é a sofredora, a clássica “vítima” do amor infeliz e “dependente” de um homem!) tiro o chapéu para Doris… Bravo!

Belíssima interpretação!

I can be happy, I can be sad
I can be good or I can be bad
It all depends on you

I can be lonely out in a crowd
I can be humble or I can be proud
It all depends on you




I can save money or spend it
Go right on living or end it
You're to blame, honey, for what I do

I can be beggar, I can be king
I can be almost any old thing
It all depends on you


e, "de lambuja", quem sabe uma gravação na qual não necessitamos nos preocupar com a imagem... só com a voz e o piano... got it?

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Tonight at 8:30

Relendo „Tonight at 8:30“ de Noël Coward, voltei a ficar encantado com o conceito usado e com o árduo exercício teatral que ele compos e impos para Gertrude Lawrence e para si próprio… Incrível!


“Tonight at 8:30” é uma série de dez peças de um só ato (muitas delas com várias cenas) escritas em 1935. Dramas, comédias, até uma comédia musicada etc. que eram apresentadas de tres em tres todas as noites, primeiro no West End, depois em 1936 na Broadway (Na realidade o publico só descobria quais peças iria assistir quando já estava dentro do teatro!). A partir deste momento um fato foi definitivamente constatado: O público queria ver Gertie e Noël juntos no palco...

Hoje em dia seria muito trabalhoso ter-se num teatro dez cenários distintos, dez guarda-roupas completos diferentes, música orquestrada em algumas noites sim, em outras não e acima de tudo: dois atores que “dessem conta” de fio a pavio de dez diferentes personagens variados… dominando a escala de comédias romanticas à musicais, de dramas à peças de caráter mais realista… e tudo isso ao sabor das linhas extremamente ironicas e inteligentes de Coward, que exigem uma precisão milimétrica dos atores…


Noël, genio do teatro e cinema ingleses, rapaz de família de trabalhadores rudes e muito pobres que foi literalmente adotado pela “Upper Crust” Londrina em tenra juventude e que assimilou muito bem a maneira de pensar e agir dela ("I'll go through life either first class or third, but never in second")

E GertieOh, Gertie! (que havia debutado na Broadway em 1924 e que em 1925 conquistou definitivamente o mundo em "Oh, Kay!" cantando "Someone to watch over me" de Gershwin - que épocas!).

Gertie em 1928 uando e abusando do seu (realmente) inimitável "chic".

Muitos contaram que, em seus dias, existiram mulheres muito mais bonitas, melhores atrizes, melhores cantoras, melhores dançarinas do que ela mas a combinação de seus talentos e extremos, fascinante charme foi o que tranformou Gertrude Lawrence no epítome do glamour e do «chic» de seus dias. Muitos dizem que ela simbolizava completamente o termo „Star“.

Gertie & Noël foram amigos de toda uma vida… desde a infancia até sua trágica morte quando foi afastada em 1952 do elenco de “The King and I” (ela descobriu Yul Brinner) na Broadway para morrer sómente dias depois.
Cancer.

Noël escreveu um comovente e emocionado «Obituário» para o Times
Uma época de muito “chic” havia terminado para sempre e o início desde mundo no qual habitamos, mundo desta incansável jornada rumo à vulgaridade, começou… Coincidencia?

Aqui, algumas fotos de algumas das peças de „Tonight at 8:30“.

„Family Album“

Ensaiando „Red Peppers“

„Red Peppers“

„Shadow Play“

mais uma de “Shadow Play” (magnífica, por sinal!)

“Ways and Means”

e, minha predileta, a biruta, aloprada “We were dancing”.

Para finalizar esta Tertúlia seria mais que perfeito colocar aqui a cena inicial de "We were dancing" (na qual ela entra em cena num estado de extase, jurando amor eterno, beijando, acariciando, fazendo amor com um jovem, lindo rapaz... para ser interrompida por um homem que pigarra e a chama pelo nome. Ela se afasta do rapaz e pergunta "Qual é seu nome?" para logo completar bem "as a matter of fact": "Querido, este é meu marido.")

Infelizmente só encontrei cenas destes lindos trabalhos de Coward com Joan Collins (Ave-Maria!!! Of all people!!!!). Seria dar um banho de vulgaridade e maquiagem à memória deste charme de pessoa que se chamou Gertrude Lawrence.

Mas existem ainda gravações de suas músicas... que juntas às imagens que youtube nos proporciona, darão a voces certamente uma idéia do que Gertie simbolizou nos seus dias... como, por exemplo "Someone to watch over me" que ouvimos aqui juntos, há poucas semanas numa Gala para Gershwin. Bem; técnicas e tempos mudaram, mas elegancia ainda é "a state of mind".

Enjoy!

sábado, 13 de julho de 2013

REMEMBERING: Cleo Laine... e Tempos de Emoção IV…


Na Gala do quinquazégimo aniversário da morte de George Gershwin (em 1987) a queridíssima Cleo Laine (cantora de Jazz inglesa, Clementina Dinah Bullock que transformou-se depois em Lady Dankworth), deu uma das melhores interpretaçôes de “Somebody loves me” que conheço, que ouvi…


Cleo, nascida em em 1927, é uma das melhores cantoras de Jazz do nosso mundo… esquecida talvez… Provávelmente o fato de ser inglesa não colaborou muito com o «Marketing» de sua carreira.

Vamos celebrá-la?

Esta postagem é dedicada não só à Cleo mas também à minha mãe – que ama não só esta interpretação mas, como diz, também o “pianinho” maravilhoso (e ele é realmente maravilhoso), à amiga Maurette Brandt, que nunca entendeu como um ex-bailarino pode gostar de Jazz e à querida Regina Ferraz, que ama esta canção!

sábado, 6 de julho de 2013

Tempos de emoção III: Come to the Moon


Um número, uma canção de Gershwin que foi, por anos, práticamente esquecida... Sim, um dos seus primeiros números a serem apresentados no teatro profissional, “Come to the Moon” foi parte da “Capitol Revue” de 1919.

Por razões que só o destino poderia explicar, uma outra composição de Gershwin foi colocada neste mesmo Show (no Teatro Capitol).


Esta canção tinha sido originalmente composta para uma Revue chamada “Demi-Tasse” mas não teve grande impacto.
Gershwin e seu partner, Irving Caesar, alegavam te-la composto em mais ou menos 10 minutos enquanto estavam num onibus em Manhattan, terminando-a no apartamento de George (que na época tinha 20 anos!). Só uma “brincadeira” que parodiava um sucesso da época, chamado “Old folks at Home” (palavras que, por sinal, fazem parte da letra da música).

Na “Capitol Revue” ela foi mais uma vez usada usada, como um “big production number”, com 60 coristas dançando com luzes nas suas sapatilhas num palco escurecido, transformando-se num grande sucesso.
Ah!!! O nome da canção?
“Swanee” – o primeiro grande sucesso de George, que até hoje, é lembrada, tocada… tendo sido eternizada por Al Jolson, que a cantou nu Show seu em 1920 pela primeira vez, depois de ouvir George tocando-a numa festa e depois Judy Garland em "A Star is born", vários discos e Shows.

Não é necessário dizer que “Swanee” ofuscou todos os outros números do Show e que a sensível balada “Come to the Moon” práticamente desapareceu por completo do Mundo do Entertaimment, da memória do público e nunca era mencionada quando se falava do “acervo musical” de Gershwin.

Por este motivo tenho orgulho em reapresenta-lá aqui, neste Show (que como muitos de voces sabem, reencontrei há pouco tempo) em homenagem aos 50 anos do falecimento de Gershwin, para qual ela foi apresentada, sendo práticamente “redescobeta” pelo público. Como o próprio nome do Show diz: “‘s wonderful"


Mas voces estarão se perguntando: Porque um momento de emoção?
Desta vez “Come to the Moon” recebeu o tratamento merecido e transformou-se num (small) “production number” mas com todo trato e carinho merecido. Uma pequena jóia em si, com um “timing” preciso.

Esta “jóia”, à qual acima me refiro, é maravilhosamente interpretada vocalmente pelos tres cantores do (infelizmente desaparecido) “Manhattan Rythim Kings” (que pena, eles eram MARAVILHOSOS!) e por um pequeno corps de ballet que está 100% afinado ao “estilo” e "charme" de então (Sim, aquele maravilhoso momento dos palcos americanos no final da primeira década do século passado, ainda antes do Charleston…).

Gostaria de acrescentar que é um prazer ouvir o som de Gershwin, em sua primeira fase musical (da qual também “Somebody loves me” é originária e que em breve veremos aqui nas "Tertúlias"), na qual ainda usava, adicionalmente aos (novos) ritmos americanos (notem que o número, ao final, tranforma-se quase num “ragtime”), muitas influencias folclóricas judáicas e também o trabalho clássico de Rubinstein…

Ouçam com atenção. Entenderão com certeza o que digo…