domingo, 28 de fevereiro de 2010

Feliz Aniversário, Tertúlias!

Hoje não vou escrever muito. Hoje não quero escrever muito. Quero recordar…



Há exatamente dois anos atrás (e mais de 250 postagens) nasceram as «Tertúlias». Sim, nasceram da simples necessidade que um brasileiro, que vive no estrangeiro há muito tempo, tem: praticar seu próprio idioma. Desde 1981 fora do Brasil, não tenho realmente muitas oportunidades de comunicar-me, expressar-me na minha lingua materna.
Um dia disse à minha mãe ao telefone, comentando um cocktail que dei aqui em casa: “Sabe, em vez de jantar, fiz uma Cocktail-Party e tudo que eu ia trouxendo da cozinha ia formando um Buffet”. Ela disse: “Meu filho, “trouxendo”???? Está na hora de voce voltar a praticar sériamente seu portugues!”.

Uma coisa levou à outra e como diria minha mãe “juntou-se à fome a vontade de comer”: d’um simples exercício idiomático passei para esta plataforma que me ajuda a comunicar algumas coisas que conheço, aprender muitas outras e, o mais importante, dividí-las com tantos. Pessoas queridas, amáveis, gentis e, acima de tudo, generosas… tantos nomes, tantos queridos. Não vou citar nenhum deles, por medo de esquecer alguém. Seria injusto.

Obrigado por mais um ano delicioso. Por todos os momentos que aqueceram meu coração durante o último (e tenebroso) inverno que tivemos aqui. Aqueles momentos em que eu, mesmo muito cansado do trabalho, chegava em casa e abria o computador pessoal… Mensagens que fazem bem – como é bom dividir o que se gosta… « tertuliar » sobre o que se gosta…

Hoje não vou extender-me muito. Não posso. É domingo mas eu estou trabalhando, em casa, num projeto que tenho que apresentar esta semana.

Queria só dizer « Happy Anniversary » para as “Tertúlias” e para todos voces, que contribuem tanto para a existencia deste espaço: Obrigado ! Sem voces as “Tertúlias” não existiriam!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Try to remember...

Recebi há poucos dias um DVD com um show que Julie Andrews fez em 1965 para a TV americana com Gene Kelly.


Amei. Um clássico televisivo com sapateados e danças magníficas... Nas épocas do "microfone ruim" (quando realmente tinha-se que ter uma boa voz), da "camera inflexível" (quando tinha-se mesmo que ser bom e fotogenico ao máximo), da não-existencia de truques e efeitos especiais (quando tinha-se mesmo que SER e ter TALENTO!).

Porém o que mais me chamou a atenção foi um número muito simples e delicado... Nele, a forma - simples e honesta - com que Julie interpreta "Try to remember".

O mundo parece parar ao meu redor e só posso ouví-la... Simples e honesta como só Julie sabe ser. É.

Try to remember the kind of September
When life was slow and oh, so mellow.
Try to remember the kind of September
When grass was green and grain was yellow.
Try to remember the kind of September
When you were a tender and callow fellow.
Try to remember, and if you remember,
Then follow. Follow, follow...

Try to remember when life was so tender
When no one wept except the willow.
Try to remember when life was so tender
That dreams were kept beside your pillow.

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Try to remember when life was so tender
That love was an ember about to billow.
Try to remember, and if you remember,
Then follow.

Deep in December, it's nice to remember,
Although you know the snow will follow.
Deep in December, it's nice to remember,
Without a hurt the heart is hollow.
Deep in December, it's nice to remember,
The fire of September that made us mellow.
Deep in December, our hearts should remember
And follow.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Kathryn Grayson: 1922 - 2010

Zelma Hedrick poderia ter sido um nome passável para quem nasceu em Winston-Salem, North Carolina mas não era o nome que a MGM queria colocar nas marquises dos cinemas para promover seu maior soprano dos anos 40. Então Kathryn Grayson nasceu!

Hoje em dia não se fala mais deste nome – mas ela foi uma das rainhas da Metro e dos seus gloriosos musicais.

Como vários outros «da casa» (Lana Turner, Mickey Rooney, Ava Gardner, Judy Garland) ela passou por um longo período de preparação para debutar em «Andy Hardy’s private Secretary» - série com Mickey Rooney que era usada como « escada », ou seja como o lugar para o Debut de várias atrizes (por exemplo também Esther Williams) como uma espécie de “teste”. Logo seguiram outros filmes como “Rio Rita”, “Thousands Cheer” e seu primeiro grande sucesso “Anchors Aweigh” (1945) com Gene Kelly e Frank Sinatra.
O «cliche» do «soprano» (Kathryn tinha uma linda coloratura, por sinal) não lhe poupou terríveis filmes e ela foi muitas vezes uma grande vítima da arrogancia dos chamados “filmes de prestígio” da Metro. Lembro-me de uma terrível “Je suis Titania” de “Mignon” num filme esquecido (e esquecível) ao lado de Mario Lanza e David Niven
Seus tres últimos filmes, respectivamente de 1951, 52 e 53 foram seus melhores:




Como Magnolia em «Show Boat» ao lado de Howard Keel e Ava Gardner (detalhe, a esquecida Miss Grayson era o primeiro nome do elenco !) ela teve a incrível possibilidade de eternizar-se neste “Musical dos Musicais”, com a inolvidável musica de Jerome Kern!

Em «Lovely to look at» (com Red Skelton, Ann Miller, Zsa Zsa Gabor e mais uma vez Howard Keel), um “remake” de “Roberta”, ela teve não só um ótimo papel numa ótima produção mas eternizou uma linda música (Vejam o vídeo abaixo !).

Sua tempestuosa «Lilli Vanessi/Catarina” de “Kiss me Kate” (com Ann Miller, Bob Fosse, Tommy Rall e pela última vez Howard Keel, que provou ter, como Petruchio, um “corpo” neste filme!) acabou com o cliché de soprano, atriz comportada. Kathryn Grayson está simplesmente maravilhosa neste papel. Enfezada, agressiva, "felina"... Outra Kathryn!

Seu “I hate Men” é um dos momentos mais divertidos do cinema musical – e quanta técnica… Uma “megera realmente ainda nada domada”! (vejam minha postagem de 18.02.2009)
Mas a partir de 53 os musicais estavam começando a entrar em declínio, acabar. Seu contrato com a MGM também acabou. Ela ainda fez dois filmes em outros estúdios mas sua carreira havia realmente terminado. Uma pena este "timing" - exatamente quando teve seus melhores papéis!
Há alguns anos revi-a na TV, bem “Senhora” e gorda num episódio the “Murder, she wrote” com Angela Lansbury que sempre primou em trazer “antigas colegas” do cinema de volta às telas!

Kathryn Grayson morreu tranquilamente, dormindo aos 88 anos na noite de 17 de fevereiro passado.
Mais uma estrela para iluminar o céu…

Como disse na ocasião do falecimento de Cyd Charisse – sinto-me meio “viúvo” quando estas lendas do cinema morrem! Obrigado por tudo, Miss Grayson!
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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Hans e Fritz, Juca e Chico: Travessuras e muitas Lembranças boas...

Mais uma "Tertúlia" daquelas... das que começo comigo mesmo e nas quais é tão óbvio como uma coisa leva à outra, um incidente ao outro, uma memória à outra. Que coisa boa poder deixar-se "ir" assim. Não acontece sempre...

Os „Sobrinhos do Capitão“ apareceram pela primeira vez numa tirinha do “New York Journal” em Dezembro de 1897! Há quase 113 anos! E até hoje suas “travessuras” ainda são publicadas em alguns jornais norte-americanos!
A “location” das estorinhas é um pouco peculiar: Hans e Fritz são dois meninos levados, peraltas; duas verdadeiras pestes que vivem numa colonia alemã (???) numa ilha tropical (???!!!)
(meu pai chamava-se Fritz e seu melhor amigo de infancia era o Hans… E no final de sua vida tinha um grande amigo que também chamava-se Hans... Hans Göransson, de Penedo)
Em inglês as estorinhas de Rudolph Kirks são chamadas “The Captain and the Kids” (originalmente tinham um nome mais teutonico: “The Katzenjammer Kids”, o que significa literalmente “As Crianças do Gemido de Gato” e quer dizer "Crianças chatas"... existe coisa mais chata do que um gato miando, gemendo?).
Agora, porque chamam-se no Brasil “Sobrinhos do Capitão”?????

Muitas das travessas aventuras dos dois envolviam as deliciosas tortas que eram feitas pela Mama “Chucrutz” (como foi apelidada no Brasil) e roubadas pelos dois (e também pelo Capitão) enquanto esfriavam na janela!

Outras envolviam as “peças” que pregavam em todos, principalmente no Capitão. O “Capitão” era na realidade um hóspede da Pensão da Mama (Na realidade um náufrago que chegou à ilha… e só a partir de 1902) e não era „Tio“ das duas pestinhas. Uma explicação que li uma vez: “Sobrinhos” provávelmente para “moralizar a la brasileira” a não muito bem esclarecida relação entre “Mama” e o “Titio” Capitão.
Hans e Fritz são “descendentes” de duas outras pestinhas da literatura infantil alemã: Max und Moritz, de Wilhelm Busch, que no Brasil foram rebatizados como “Juca e Chico”.
Estes símbolos da infancia sadia, de toda a peraltice e "arte" que se pode fazer, tiveram suas aventuras (em forma de rima) traduzidas em 1915 por ninguém menos do que Olavo Bilac!
A tia dos dois chamava-se em alemão “Witwe Bolte” (em portugues a “Viúva Chaves”, uma boníssima cozinheira) e eles sempre roubavam a comida que ela preparava… ou seja, Rudolph Kirks, realmente pegou emprestadas algumas idéias de Wilhelm Busch para os seus “Katzenjammer Kids”. Vejam abaixo o “roubo das galinhas”.

(Como em épocas em que a comunicação era mais difícil e o mundo bem “maior” (1897) era mais fácil “plagiar”, não é?)

Pausa para uma lembrança:
Lembro-me de uma casinha pobre em Penedo, bem na entrada, que pertenceu à uma alemã, e tinha/ tem não só as carinhas dos dois pintadas sobre o portão como também chamava-se “Casa Juca e Chico”. Os atuais proprietários não devem nem saber quem foram os dois, o que significam, de onde vem, o que inspiraram... mas, pelo menos, deixaram a plaquinha lá. Eu me lembro de ter passado por lá com um amigo austríaco que ficou abismado ao encontrar no interior do Brasil "Max und Moritz". Também personagens queridos de sua infancia.

As estorinhas completas deles foram publicadas, pela última vez, pela Editora Melhoramentos de São Paulo (Juca e Chico. História de Dois Meninos em Sete Travessuras. tradução: Olavo Bilac) e podem ser lidas no Internet. Simpáticas!

As crianças aqui na Austria, lugar onde as crianças são crianças por um período bem mais longo do que no Brasil de hoje em dia, conhecem até hoje muito bem as “artes” e as aventuras de Max e Moritz.

Um dos meus preferidos restaurantes típicos (Gasthaus) em Viena, chama-se justamente “Witwe Bolte” – com uma cozinha apetitosa que faz justiça à reputação da “Viúva Chaves” e com uma decoração engraçada, simpática… só quadrinhos com aquarelas, capas de livros, tirinhas de estorinhas, coisas colecionadas durante décadas sobre “Max e Moritz”.
Gostoso pensar nos verões quentes de Penedo (no Estado do Rio, talvez o único lugar neste planeta onde me sinta realmente em casa) da minha infancia, nas longas caminhadas com meu pai, Fritz Leitner (sobre quem tenho muito que contar... um homem brilhante, com uma cultura fora do comum e que até hoje me inspira nas minhas pesquisas e "buscas"!)
mas também gosto de lembrar das horas depois do almoço (durante as quais estavamos proibidos de nadar) com aquela “moleza” que o calor causa, de cheiro de talco, das sombras generosas de árvores frondosas, d'um copo de limonada e da leitura de estorinhas como as dos “Sobrinhos” ou de “Juca e Chico”. De tempos que nos pareciam ser tranquilos.

Que gostosa, rica lembrança.

P.S. Ter reencontrado no mundo virtual minhas amigas de infancia (e de Penedo!) Marcinha e Mirinha – que estão aqui numa fotozinha que já levo comigo por toda uma vida -

e lembrar-me do maravilhoso baú que tinham com todas as estórias em quadrinhos do mundo (pelo menos parecia-me assim) foi a inspiração desta postagem. Como disse acima: numa boa “Tertúlia”, uma coisa leva a outra e me lembrei até da maravilhosa limonada que Tina (querida amiga, mãe delas) fazia, de um gatinho chamado “Pixuíto”, de aprender a andar de bicicleta, de um girassol (orgulho do pai delas, do querido Walmir), da varanda gostosa cheia de redes, da bomba d'água atrás da cozinha e - muito lindo - da calma, do doce olhar, da voz e do carinho de Dona Nícia (a avó delas e que de certa forma era minha também!). E de tantas outras coisas... Que gostoso este “cheiro aconchegante e familiar” que as boas lembranças trazem consigo… Sou muito grato por te-las. Assim, ainda tão fortes dentro de mim. Ricardo

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Marcia Haydée & John Neumeier: Die Kameliendame

Não é necessário falar muito, não é necessário escrever muito quando escolhemos um tema como “Die Kameliendame” - The Lady of the Camellias - obra concebida em 1978 pelo inteligentíssimo e sensibilíssimo John Neumeier originalmente para o Ballet de Stuttgart.
Haviam-se já passado 15 anos desde a estréia de “Marguerite et Armand” de Sir Frederick Ashton coreografado para Fonteyn e Nureyev. Mesmo assim admiro demais Neumeier: com toda esta « carga » do passado – que provávelmente levou à muitas indesejadas e supérfluas comparações – ele criou aqui (usando só música de Chopin, mais um detalhe genial) um trabalho de altíssimo nivel intelectual. Estimulante. Único. Genial.
Só sua concepção da “relação” entre Marguerite e Armand com Manon (Lescaut) e Chevalier DesGrieux, já merece “capítulos”. Palavras. Eu nao as possuo.

Fantástico o fato de ter transformado os dois personagens, que só pertencem ao «livro»(que Armand presenteia Marguerite), em “personagens” interpretados por atores (ou almas gemeas que "se tocam mais a fundo"?), provocando assim os mais incríveis pas-de-quatre e pas-de-trois (como no especial caso da cena de morte de Marguerite que é incorporada à cena de morte de Manon, na qual DesGrieux a carrega nos bracos, no deserto de New Orleans. Uma simbiose entre personagens da literatura que sao muito distantes uns dos outros... no tempo... Quanta poesia! O cansaço das duas e ao mesmo tempo o cuidado de uma com a outra. Duas mulheres que se “conheceram” como cortesãs e agora estâo morrendo. Duas mulheres normais, iguais, lado a lado, morrendo pelo amor – sim, o amor as leva à morte. Destino bastante similar ao de "muitas" da literatura... por exemplo "Lulu" de Wedenkind... Mas já estou mudando o curso desta estória. Fiquemos aqui com Marguerite... ).

Acho que « Lady » foi o único Ballet que fez-me imediatamente no outro dia comprar e começar a reler o (na época em que foi editado) maldito “Manon Lescaut” de Prévost. Só assim consegui entender os personagens melhor e – até hoje – ainda fico “sem palavras” para descrever minhas emoções sobre este Ballet. "Sem palavras" mas com a "Dança", que me explica cada segundo que vejo na tela.

Aqui uma filmagem – dirigida e supervisionada por Neumeier de 1987 com Ivan Liska como Armand e a magnífica, eterna, incomparável Marcia Haydée como a sofrida Marguerite Gautier. Esta é, na minha opinião, uma das melhores produções para o “cinema” baseadas numa obra que foi feita para o palco. Sem choques. Como se os dois idiomas (celulóide e palco) tivessem sido concebidos paralelamente. A direção é magnífica, os guarda-roupas perfeitos, os efeitos técnicos de uma “timidez” tão suprema que não parecem “óbvios”, o jogo de iluminação, da cenografia…
Incrível como estes momentos magníficos “existem”. Onde TUDO parece entrar em harmonia. Todos os elementos que transformam uma idéia numa obra de arte. Sagrados momentos! Abencoados... Além disso tudo a coreografia de John Neumeier e Marcia Haydée… Márcia... Sim, palavras não lhe fariam justiça.

Está tudo aí. A poesia, a maravilha, a grandeza do Ballet. Não tenho outras palavras.
Está tudo aí. Claro como a luz do dia. Na Dança.
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Eu dedico esta postagem a um amigo que nao vejo desde muitos, muitos anos: Alain Sortais, conselheiro do Embaixador Frances em Viena por muitos, muitos anos!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

It's nicer in Nice...

Estou indo para Nice e Monte Carlo na sexta-feira de manha para passar o fim-de-semana... em vez de pensar nos passeios, sopas-de-peixe, cheiros da Provence (mesmo no inverno), no teatro em Monte e no mercado de antiguidades de Nice no que penso? No "The Boyfriend" de Ken Russell (Para saber mais sobre este musical, vejam minha postagem de 20.03.2008. É fácil: só clicar ao lado direito no arquivo e no mes!).
Bem, "entre nous", à parte de que devo estar ficando louco, constatei que é infelizmente impossível encontrar-se um vídeo do "O Namoradinho" (filme que muito deleitou minha "roda" de amigos sapateadores, atores, pintores - sim! - , bailarinos, cenógrafos, futuros diretores, cineastas da época) no Youtube...

Isto significa nao poder-se ver a deliciosa e talentosa Barbara Windsor (saudades dela e daquele talento "cockney de music-hall"!) dando um "show" em "It's nicer in Nice" como "Hortense" no filme de Ken ("Nicer in Nice" nao é esta cena das fotos mas até fotos de "The Boyfriend" sao difíceis de se conseguir). Barbara Windsor, ma cockney interpretando outra que interpreta (com um sotaque terrível) uma francesa (Hortense). Simplesmente deliciosa!!!!

Aqui uma outra cena, mais "comportada" porém muito gostosa, da gala londrina em homenagem a Sir Cameron MacKintosh: "Mr.Producer":

They say it's lovely when a
young lady's in Vienna
but it's nicer, much nicer in nice
in Amsterdam or Brussels
the men have great big muscles
but they're nicer, much nicer in nice

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I've heard that the italians
are very fond of dalliance
and they're also keen on it in Greece
But whatever they may say
this is where I want to stay
For it's so much nicer in nice

domingo, 7 de fevereiro de 2010

REMEMBERING: Grand Hotel (1932) and Grand Hotel - the Musical (1989)

Grand Hotel: „Always the same. People come, people go. Nothing ever happens“

Vicki Baum, a escritora vienense, nunca alcançou um sucesso tão grande como no seu livro „Menschen im Hotel“ (1929), apesar de, hoje em dia, ser considerada uma das primeiras bem-sucedidas autoras da ficção moderna, dos abominados "best-sellers".
Seu trabalho de „pesquisa“ para esta obra foi, ao meu ver, muito nao muito „acadêmico“, até peculiar: ela pegou um emprego como arrumadeira, por seis semanas, num hotel para colher informações e idéias. A própria Baum dramatizou sua „Novella“ para o palco em Berlin (Direção de Max Reinhardt). Em 1930 a tradução americana fez um sucesso tão grande na Broadway que Irving Thalberg comprou os direitos para a MGM como um veículo para Garbo (ironicamente não para sua esposa, Norma Shearer, outra „rainha de MGM“).


Material destinado a muito sucesso, o filme „Grand Hotel“ estreiou em 1932, a primeira produção da história do cinema com um „all-star cast“ - "fórmula", aliás, que provou-se muito eficaz e até hoje é imitada... pensem nos filmes de "Agatha Christie":
Para Vicki Baum o „Hotel“, símbolo da sociedade moderna, é o centro de todos os acontecimentos e o lugar onde diferentes tipos, personalidades de distintas classes sociais e grupos se encontram, se misturam, vivem emoções, se agridem e então se despedem.
Cada personagem é em si um arquétipo. Grusinskaya (Garbo), a bailarina de „certa idade“ num período de profunda depressão; Barão Felix von Geygern (John Barrymore), um nobre e um ladrão;
o diretor-geral Preysing (Wallace Beery), um homem de negócios, primitivo, sem escrúpulos e moral; Frida Flamm („Flaemmchen“, Joan Crawford) uma estenografista disposta à qualquer coisa, contando que „suba“ na vida e deixe o „Millieu“ onde habita;
Otto Kringelein, o incrível Lionel Barrymore, um velho judeu, uma encantadora pessoa, morrendo de uma doenca terminal, com todo seu dinheiro na carteira, querendo „aproveitar a vida“; Suzette (personagem práticamente retirado do filme, transfomou-se na produção da MGM numa „empregada“), a dama-de-companhia de Grusinkaya, secretamente apaixonada por ela (só sabemos deste fato quando lemos o livro); Dr. Otternschlag (Lewis Stone),um solitário homem viciado em morfina que passa seus dias na recepção do „Grand Hotel“, observando os passantes e fala a famosa linha final da peça/filme:
"Grand Hotel. Always the same. People come, people go. Nothing ever happens."
… e isto depois de uma noite na qual amores nasceram, roubos e fraudes aconteceram, um assassinato foi cometido, estupro, mentiras e intrigas se espalharam pelo interior do hotel e… o filho do porteiro nasceu.

E Garbo? As reações de Grusinskaya são bem mais claras e compreensíveis no livro (e no musical) do que no filme: o fato de uma jovem bailarina tê-la imitado para caçoar dela (fazendo dela uma feia caricatura cheia de afetações da qual o público riu) é um dos componentes para o seu desespero d’alma – não só a carreira chegando ao fim, cansaço e fatiga. Garbo nunca esteve tão afetada como atuando Grusinskaya. Como se, depois de ter lido o livro, tivesse realmente acreditado na imitação que a jovem bailarina fez e transformado o personagem nesta caricatura. Esta minha „interpretação“ sobre o personagem parece-me ser a mais provável. Garbo já tinha deixado os exageros dos filmes mudos e dois anos antes tinha criado uma „palpável“ Anna Christie de Eugene O’Neil.
Afetada ou não… Garbo está especialmente linda na cena em que encontra pela primeira o ladrão… e ele declara seu amor por ela.

Como ela está vulnerável… sendo roubada mas não abrindo mão de querer acreditar neste „amor“ que ele está a lhe confessar. Quando revirem um dia este filme, prestem atenção no „Close-up“ (ao som de „Wien, Wien, nur Du allein…“). Garbo num de seus momentos, para mim, mais „translúcidos“. Um olhar húmido, um instante, um "suspiro", um momento curtíssimo de reflexão e ao mesmo tempo introspecção, inexplicávelmente bonito para mim (Foi muito difícil encontrar esta foto deste exato momento – vide abaixo. O mencionado momento refletido não só no olhar mas também em sua boca).
Uma segunda versão de „Grand Hotel“ chamada „Week-End at the Waldorf“ (também da MGM) foi feita em 1945 com Ginger Rogers, Van Johnson, Walter Pidgeon e Lana Turner entre outros. Esqueçam este filme, o mundo inteiro esqueceu. Há muito tempo.

Em 1988 estreiou na Broadway o fantástico „Grand Hotel – the Musical“ que eu tive a oportunidade de ver (Abaixo uma série de fotos do meu programa. Eu guardo tudo…).

Foi dificílimo conseguir entradas na época – apesar de ser „o sucesso do momento“ eu consegui assisti-lo tres vezes em sete dias! Não me arrependo. Uma das melhores produções musicais que assisti até hoje na Broadway.
Grusinskaya foi interpretada por Lilliane Montevecchi, bailarina clássica da companhia de Roland Petit junto a Leslie Caron (que aliás foi "Grusinskaya" na producao de Berlin), vedette do Folies Bergére, atriz e dançarina de Hollywood e da Broadway. Louquíssima, mas em „Hotel“ contida, controladíssima. Liliane foi depois substituída por Cyd Charisse (Com quem tinha dancado muito secundáriamente em „Meet me in Las Vegas“).
O Barão foi David Carrol, um bom tenor de uma boa e viril presença no palco.
A „dama-de-companhia“ de Grusinskaya é interpretada pela maravilhosa atriz (e cantora) da Broadway Karen Akers (Se lembram dela como a cantora em „A rosa púrpura do Cairo“ de Woody Allen?). Que voz linda tem Miss Akers.
(Detalhe: o nome original deste personagem era „Suzette“. A atriz que a interpretou na versão da MGM chamava-se Rafaela Ottiano: Para a produção do musical na Broadway o nome do personagem foi transformado em Rafaella Ottanio (não Ottiano), nome aliás imponente. Sua canção, na qual comenta seu amor por Elizavetta, também é linda!)

Jane Krakowsky, hoje em dia conhecida mais por sua aparição na série „Ally McBeal“, já mostrava o talento que iria trazer-lhe algumas nominações para o „Tony“ (ela recebeu-o por „Nine“) antes de intalar-se na California. Ela, no papel secundário de „Frida Flamm, a estenotipista“ tem tres números musicais simplesmente maravilhosos (quase „Show-Stoppers“) e práticamente „rouba“ o Show (bem, pelo menos a parte feminina). Ela foi nominada para um Tony por sua „Flaemmchen“.

Jane, nos seus primeiros anos no teatro (e no cinema… ela apareceu como uma enfermeira sapateadora com Liza Minelli em „Steppin’ out“) tinha um físico muito diferente do que tem hoje em dia. Bem mais magra. Adoro sua „figurinha“ e pernas nestes figurinos de „Flapper“ dos anos 20. Uma figura muito „limpa“ no palco!
Mas quem roubou mesmo o Show foi Michael Jeter. O ator que faleceu em 2003 de AIDS deu uma interpretação toda especial ao seu „Mr. Otto Kringelein“, que é mais do que tridimensional.
Aqui um raro vídeo, apresentado por Kathleen Turner (Tony Awards), onde todos os personagens da produção original de 1988 podem ser rápidamente vistos e um „Show-Stopper“ com Michael Jeter e Brent Barret – um dos vários “ Baron von Geygern “ em “We’ll take a glass together”. EMOCIONANTE!!!! Que trabalho de corpo!!!!!!!!

(Nota: a postagem segue depois dos vídeos…)
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Ficaram curiosos? Aqui um melhor vídeo (sem a cena de abertura!)
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Direção, produção e coreografia do fantástico Tommy Tune!!!!
Tommy, num destes momentos inspirados fez com que todos os números musicais competicem uns com os outros, como se todos estivessem acontecendo ao mesmo tempo… como num hotel, onde tudo realmente acontece ao mesmo tempo. Tommy conta muito desta produção em sua biografia “Footnotes” (nome inspirado para a biografia de uma bailarino/ coreógrafo/ diretor). Livro que já presenteei várias vezes e muito recomendo!
P.S. Existe toda uma estória incrível sobre este Show…
de como foi complicada sua montagem pois os autores não queriam modificar a concepção que tinham criado em 1958 para o fatídico „At the Grand“ – que nunca chegou a estreiar na Broadway, de como Tommy Tune teve que despedí-los, de como várias canções e números musicais tiveram que ser reescritos, de como o Show teve 31 (!!!) Pré-estréias, de como David Carrol morreu de AIDS no banheiro enquanto gravava o disco do Show, das várias mudanças no Cast…
mas também do grande sucesso em que se transformou, dos doze Tony Awards para os quais foi nominado (ganhando 5) e de como transformou-se num dos raros musicais que teve mais de 1.000 apresentações na Broadway! Mas para contar tudo isto necessito de uma outra postagem…

Eu trabalho em turismo… Imaginem o que um “Grand Hotel” significa para mim…

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