sexta-feira, 30 de maio de 2008

Copacabana

Existem alguns filmes com Carmen Miranda que eu adoro (nao existem realmente filmes "de" Carmen Miranda, só mesmo "com" Carmen Miranda). Seus primeiros filmes na Fox foram comédias divertidíssimas e adoráveis com atores e atrizes divertidíssimos e adoráveis como Alice Faye, Don Ameche, Betty Grable, Cesar Romero, Charlotte Greenwood e muita música, coreografia e cores... Com o passar do tempo a "brazilian-bombshell" já deixara de ser novidade e uma série de filmes repetitivos foi feita...
Revi "Copacabana" (1947) um dia destes... e tenho que dizer que é um dos filmes (da "áurea época de Hollywood") mais chatos que já vi na minha vida. Uma tentativa nada bem sucedida de colocar Groucho Marx numa posicao independente de seus irmaos e de mudar um pouco a imagem de Carmen Miranda ("Carmen Novarro" - que nome mais original - e uma loura Mlle. Fifi !!!!!!). Ambas tentativas fracassaram. Carmen realmente nunca mudou muito seu repertório em Hollywood (na época já estava meio cansativa de tantos "Tico-ticos" para cá e "Tico-ticos" para lá... ) mas pelo menos no seu início da Fox ainda fazia parte de producoes mais suntuosas ( e, repito, à cores!!!). Esta producao em preto-e-branco (como o terrível "Doll face") já era uma "ligeira" indicacao do seu declínio em termos de prestígio: o mercado europeu já estava mais uma vez aberto para Hollywood, a "good neighborhood policy" de Roosevelt já tornara-se coisa do passado e a importancia do mercado sul-americano e termos de bilheteria tinha mudado. Na Europa quase ninguém tinha ouvido de Carmen Miranda e ela era um nome práticamente desconhecido (e ainda é, em vários países!). No final da década de 40 e início da de 50 ela ainda teve uma boa chance e fez um "comeback" em cores em producoes da MGM - mas à estas alturas o público já tinha cansado definitivamente dos "Tico-ticos"para lá e dos "Tico-ticos" para cá... Carmen realmente nao mais desenvolveu-se à partir de uma época, só repetiu...

A estória deste filme é boba e cansativa. O elenco secundário nao merece ser mencionado. A impressao que fica deste filme: um Groucho desesperado refazendo todo o seu repertório de "gracinhas" sem sucesso, como um menino que "quer se mostrar" e uma patética Carmen Miranda de rosto inchado (já eram as drogas?), com aparencia doentia tentando desesperadamente ser "jovem, vivaz e brejeira". Uma pena ve-los assim. Mas realmente uma perda de tempo...

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Gaslight - um drama vitoriano e claustrofóbico

Uma grande adaptação da peca homônima de 1938 de Patrick Hamilton. Este filme de 1944 foi a segunda versão cinematográfica; a primeira sido feita no Reino Unido quatro anos antes, dirigida por Thorold Dickinson e estrelada pelo muito sinistro Anton Walbrook e Diana Wynyard (Quando a MGM comprou os direitos para na realidade, fazer um “remake” do filme inglês, comprou também os direitos sobre o filme de Dickinson e além de tirá-lo imediatamente de circulação tentou, sem sucesso, destruir todas as cópias existentes do filme). A versão de Hollywood, dirigida pelo artesão e “woman’s director” George Cukor, é um magnífico filme de “supense”, definitivamente muito psicológico. Cukor já havia dirigido filmes “de época” como “Little women” (1933), “David Copperfield”(1935) e “Camille” (1936) mas nenhuma destas produções pode comparar-se ao pêso do decór vitoriano de “Gaslight”. Suntuoso e ao mesmo tempo tao simbólico que nao só os personagens, ou melhor, Paula, a personagem central da trama, sofre com a opressão desta casa mas todos nós, pobres expectadores, passamos a sentir e sofrer como ela sob a mesma pressão claustrofóbica que este/s set/s da mansão vitoriana na “lúgubre” Thorton Square nos causa...
O mesmo melodrama “gótico” da mulher martirizada e ameaçada entre suas quatro paredes sempre foi muito eficaz e popular no cinema. Esta “fórmula” foi repetida várias vezes (algumas vezes até sem um “happy-end”): “Rebecca”, “Suspeita”, “Sombra de uma dúvida” (todos os três de Hitchcock... coincidência?), “Jane Eyre”, “Laura”, “The conspirator” e o inesquecível “Sorry, wrong number” de Anatole Litvak com a antipatissíssima, porém incrível, Barbara Stanwick, só para citar alguns exemplos.

A peça de Patrick Hamilton, chamada “Gas light” foi publicada pela primeira vez em 1939. Quando foi produzida na Broadway em 1941, foi retitulada “Angel Street” - e ficou três anos em cartaz com um elenco de muito pêso, liderado na primeira temporada por Vincent Price e por uma magnífica Judith Anderson – quem poderá jamais esquecer-se da maníaca, apaixonada (por Rebecca), perversa e louca “Miss Danvers” de “Rebecca”? E da espôsa de “Big Daddy” em “Cat on a hot tin roof”??? O mesmo Hamilton, tinha escrito a peça de suspense “Rope” em 1929 que em 1948 foi filmada por Hitchcock e que no Brasil chamou-se “Festim diabólico”.

Um detalhe muito interessante de como a arte realmente influência a vida é que uma expressão “nova”, na língua inglêsa, surgiu com esta peça/filme: “to gaslight someone” significa “deliberadamente levar alguém à loucura por psicológicamente manipular seu meio-ambiente e também fazer uma pessoa acreditar, por meio de truques, que está insã”.

Charles Boyer (nominado para o Oscar de melhor ator), Ingrid Bergman (Oscar de melhor atriz de 1944) e Joseph Cotten lideram o elenco (os dois últimos ainda com muita publicidade extra por aparecerem “por cortesia de David O. Selznick”, com quem tinham um contrato na época). Dame May Whitty é uma maravilhosa vizinha bisbilhoteira e uma “menina” de 18 anos chamada Angela Lansbury, fazendo seu debut no cinema, rouba várias cenas como uma antipática empregadinha doméstica que “maltrata” a (quase louca) Paula (Lansbury foi indicada também para um Oscar de melhor atriz coadjuvante, como seria novamente no ano seguinte por seu desempenho como Sybill em “The picture of Dorian Gray”. Lansbury foi nominada uma terceira vez mas nunca recebeu o Oscar. O pior porém foi ter sido nominada 18 vezes para um Emmy e nunca ter vencido...).
Eu particularmente acho que Boyer está fantástico como “Gregory Anton/Sergius Bauer”. Nenhuma menção é porém feita à nacionalidade de Paula (no original 100% inglêsa) deixando assim Ingrid Bergman mais cômoda com seu sotaque suéco (e sem nenhum vestígio de um sotaque britânico). O mesmo sucede com Joseph Cotten.
Mas estas são pequenas liberdades que Hollywood, ao meu ver, pode tirar. Triste mesmo é ver Salomé casada com João Batista no final daquele terrível filme com Rita Hayworth... Mas esta é uma outra estória que, aliás, deveremos um dia abordar aqui... Nossa, ainda há muito pano para manga!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Lillian Gish vs. Greta Garbo - Manipulacoes da MGM

Uma das estórias mais impiedosas e mesquinhas do "star-system" de Hollywood foi o processo contínuo (e caríssimo) com o qual a Metro-Goldwyn-Mayer aniquilou propositalmente a (grande) carreira de Lilian Gish para colocar uma outra estrela em ascencao como a deusa do estúdio: Garbo, o MITO.
Lillian, a ATRIZ e eterna e inesquecível heroína de Griffith no período de auge do cinema mudo(Nascimento de uma nacao, Intolerancia, Broken blossons, Way down east, Orphans of the storm) que estava no cinema desde 1912 foi chamada para a Metro em 1925. Lá ela fez filmes de "prestígio" na mesma época em que Garbo, a "temptress destruidora de lares", "abria a boca" para beijar seu gala (pela primeira vez na estória do cinema) em "The flesh and the devil".
Lillian e sua imagem etérea estavam saindo de moda.
As sedutoras vamps que Garbo interpretava (e que quase sempre eram castigadas no final do filme e morriam) encontravam mais empatia e simpatia com o público.
A MGM queria sómente UMA estrela no firmamento do cinema e estava conseguindo alcancar seu objetivo. Trazendo Gish para o estúdio o management da Metro ficou com sua carreira nas maos, para aniquilar com a única carreira que poderia ter sido capaz de ameacar o "fenomeno" Garbo.

Se Garbo seduziu John Gilbert em "The flesh and the devil" (no qual ela, além do "beijo pecador", até transforma um cálice de comunhao na igreja num intrumento profano... Haja!) e as cenas de amor deixaram o público suando, a dupla Gish/Gilbert em "La Bohéme" nao deixou o público nem tépido...

Os filmes de prestígio de Gish (entre eles o maravilhoso "The scarlett letter") foram fracassos totais de bilheteria. Mas este foi um investimento da Metro que foi totalmente calculado: a grande perda de dinheiro que os filmes de Gish causou (porque foram producoes de prestígio) seria ínfima comparada às futuras cifras que Garbo traria como lucro para este estúdio... Um investimento caríssimo e extremamente cruel.

A última aventura cinematográfica desta atriz, antes do filme falado, foi o belíssimo e ao mesmo tempo assustante "The wind" de Victor Seastrom (Um filme mudo no qual a sensacao de se ouvir um ensurdecedor e ameacador barulho de vento é impressionante - levando a heroína à loucura - uma linguagem cinematográfica de muita classe!). À partir desta época, e junto com o advento do cinema falado, Lillian Gish passou à simbolizar para o público de cinema uma representante de um tempo passado (como, entre outras, também Gloria Swanson ). A hierarquia do estúdio mudou e Garbo passaria uma década reinando mas nao realmente mais com o público dos Estados Unidos. O público europeu era o público de Garbo e seus filmes faziam sucesso e ganhavam dinheiro na Europa, nao nos Estados Unidos. Quando a guerra comecou e, de certa forma, uma grande parte do mercado europeu ficou fechado para a industria cinematográfica americana, a MGM desesperadamente ainda tentou mudar a imagem de Garbo, transformando-a numa americana de cabelos no permanente que (até) dancava "rumba" em "Two faced woman" de George Cukor. O resultado nao poderia ter sido mais forcado e vexaminoso... e Garbo despediu-se das telas... ou seja nada de "I want to be alone!"
Gish continuou no teatro, trabalhou durante os anos 30, 40, 50 e 60 contínuamente no cinema ( Em 1947 sob a direcao de King Vidor, ela seria nominada para um "Oscar" de melhor atriz coadjuvante por "Um duelo ao sol"). Em 1978 ela fez uma aparicao fantástica no faladíssimo "Um casamento" de Robert Altman (ao lado de Mia Farrow, Geraldine Chaplin, Carol Burnett).

Em 1971 recebeu um "Oscar" especial por sua contribuicao ao cinema, em 1978 um "Life achievement award" pelo mesmo motivo. Que homenagns mais adequadas!

Seu canto de cisne no cinema aconteceu no sensibilíssimo "The whales of august" ao lado de Bette Davis, Ann Sothern e Vincent Price. Aos 94 anos de idade (sim, que fenomeno, nao? ela morreu em 1993 com 99 anos!) ela nao só deu uma magnífica interpretacao como ainda mostrou porque seu rosto foi considerado um dos mais bonitos e fotogenicos do cinema, pois, apesar de toda a idade ela ainda está linda - e eu recomendo este filme, muito...

terça-feira, 13 de maio de 2008

Sulamith Wülfing e os seus anjos...


Quando eu ainda era um adolescente “descobri” pela primeira vez o trabalho de Sulamith Wülfing e até hoje nao sei articular verbalmente o que penso dele, apesar dele sempre de alguma forma ter-me encantado. Num país naturalmente tao esotérico e tao místico, como é o Brasil, sempre fui um pouco “peixe fora d’água” nestas matérias, muito distante.
...Talvez exatamente por me faltarem as palavras para exprimir certos sentimentos.

Nascida na Alemanha em 1901, Sulamith foi criada por pais muito ligados ao espiritialismo – fato que pode ser observado em qualquer dos seus desenhos, rascunhos, telas…
Seu estilo muito definido e pessoal já existia quando ela entrou para a Escola de arte de Wuppertal, de onde saiu em 1921. A seguinte década ela passou pintando suas “visoes do mundo”. Com seu marido fundou uma compania para imprimir e distribuir os eu trabalho – na maioria como cartoes postais e calendários... Esta firma acabou com e morte dele em 1976.
Hoje existem alguns livros muito interessantes sobre seu trabalho... os contos de fada (“A pequena sereia” por exemplo) me fascinam e às vezes, até hoje, ainda me enchem de medo...
Sulamith Wülfing morreu em 1989. Ela nos deixou um trabalho de arte quase fantástica, porém repleto de uma calma e serenidade só suas.
Aqui um comentário de Sulamith:

My drawings are a visual representation of my deepest feelings - pleasure, fear, sorrow, happiness, humor. And, to people attuned to my compositions, they may well be mirrors of their own experiences.
It is because of this that I have left the explanation of the drawings completely to the viewer, so that they are not bound by my interpretation of what each picture should be.
For me it is not a matter of creating illustrations to fit nursery rhyme themes. My ideas come to me from many sources, and in such harmony with my personal experiences that I can turn them into these fairy compositions.
My Angels are my consolers, leaders, companions, guards. And dwarfs often show me the small ironies and other things to make me smile even in life's most awesome events.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ferdinando (Lil' Abner)

Alguém ainda se lembra de Ferdinando e seu eterno amor por Daisy Mae?

Meu amigo Cláudio escreveu na minha postagem sobre Pafúncio e Marocas: “ E a família Buscapé?”. Boa idéia... (Mas existia também uma série de televisao “Família Buscapé”, acho que em ingles chamava-se alguma coisa como “The Beverly Hillibillies”, com Buddy Ebsen... Nao confundamos esta com a família de Ferdinando).
O criador de Ferdinando chamava-se Al Capp e as primeiras tirinhas de Ferdinando apareceram em 1934 e só pararam de ser produzidas em 1977. Neste interim aconteceram muitas coisas... desde o casamento de Ferdinando com sua eterna noiva Daisy Mae até encontros de Ferdinando com extra-terrestres (!!!!). Eu particularmente adoro o detalhe que a profissao “oficial” de Ferdinando era “provador de colchoes”... pode?.
Lil’ Abner virou musical da Broadway e até filme de Hollywood...
Eu sempre me pergunto se o grande sucesso destas tirinhas aconteceu por causa do erotismo (às vezes bem pouco contido...), ou melhor, por causa da IDÉIA norte-americana de erotismo... músculos (implicando em “pouco cérebro”), peitos imensos, pouca roupa, cidade do interior (menos "moral") etc.