sexta-feira, 29 de março de 2013

I wanna be a dancing Man: Fred Astaire e perfeição

Que título mais supérfluo para Fred Astaire cantar: "I wanna be a dancing Man". Como se não vissemos nele a dança...



Em „The Belle of New York” (1952) a MGM resolveu refilmar esta cena dele, “I wanna be a dancing man”, pois a impressão geral foi que a roupa de Fred nao fazia justiça à sua fama de “debonair”.

Verdade.

Quando “That’s Entertaimment III” (1994) foi feito, os diretores tiveram a maravilhosa, genial idéia de colocar as duas cenas (a original tendo sido reencontrada nos arquivos da Metro), uma ao lado da outra…



Assim o público pode, caso nao lhe fosse conhecido, concientizar-se não só da maravilhosa arte de Astaire como também de sua extrema precisão, perfeição em termos de ensaio… Que maravilha! Um indescritível cronometro humano!



Como sou grato por poder, às vezes, assistir cenas assim… O que Mr. astaire faz é também abusar do direito de ter charme...

Happy Easter!!!!

terça-feira, 26 de março de 2013

Therpsicore & Apollo


"Apollo" (originalmente "Apollon musagète") é um ballet em dois tableaux composto entre 1927 e 1928 por Igor Stravinsky.
Foi coreografado em 1928 por Mr.B. (George Balanchine), o cenário e o figurino originais feitos por André Bauchant.
O figurino foi porém substituído em 1929 pelo trabalho de Coco Chanel.



“Apollon musagète” foi apresentado pela primeira em Paris no dia 12 de junho de 1928 pelo “Ballets Russes de Diaghilev” no Théâtre Sarah Bernhardt.
É o ballet mais antigo de Balachine a ter sobrevivido e começou a sua significante colaboração com Igor Stravinsky.
Pela primeira apresentou-se num palco o que viria a ser chamado de “estilo neoclássico”, marca registrada de Mr.B.



Em “Apollo” ele enfoca o Deus num “momento de mudança” em sua vida.
Transição…
Símbolo do que a magia de Balanchine fazia com o universo da Dança…

Encontrando através do argumento (e da técnica) uma maneira de fundir a tradição clássica do Ballet russo com uma economica austeridade do modernismo, ele cria uma nova “Mistura” e esta é exatamente a que o levaria à base da evolução deste “novo classicismo” que transformaria-se na base, na marca pessoal de Balanchine e do New York City Ballet. Um novo mundo!

No Pas de Deux com Therpsicore, a musa da música e da dança, vemos Peter Martins ao lado da magnífica Suzanne Farrell.



Nunca me havia dado conta do quanto a dança de Martins, sua técnica, dotes físicos (pés acima de tudo) não mais se identificam com padrões atuais, do quanto envelheceram... Como reassistir "La dolce Vitta" de Fellini, envelhecido.
Estranho isso, exatamente por se reconhecer que um contemporâneo seu, Mikhail Baryshnikov ainda tem uma presença atualíssima… mesmo em videos que datam desta época.
(Como com que "Casablanca": eterno filme que não envelhece!).
Engraçado como (bem colocado por uma pessoa daepoca) naqueles anos "Everyone, women and men, was in love with Peter Martins!". Como os tempos mudam...




E Farrell… como gostava dela...

Como dói ve-la assim, tão jovem, antes da artrose, que acabou com sua carreira, ter corroído seu corpo, sua dança…

sexta-feira, 22 de março de 2013

Pentimento: Lillian Hellmann



"Old paint on canvas, as it ages, sometimes becomes transparent. When that happens it is possible, in some pictures, to see the original lines: a tree will show through a woman's dress, a child makes way for a dog, a boat is no longer on an open sea. That is called pentimento because the painter "repented", changed his mind"

"Pintura velha sobre uma tela, à medida que envelhece, às vezes torna-se transparente. Quando isso ocorre, é possível, em algumas imagens, ver-se as linhas originais: uma árvore se mostrará através de um vestido de mulher, uma criança cede espaço a um cachorro, um barco não mais estará num mar aberto. Isto chama-se "pentimento" porque o pintor, "arrependeu-se", mudou de idéia"



"Perhaps it would be as well to say that the old conception, replaced by a later choice, is a way of seeing and then seeing again"

"Talvez seria tanto quanto dizer que o velho conceito, substituído por uma escolha posterior, é uma forma ver e então de ver de novo"

Lillian Hellman, 1973.
(Tradução livre para o portugues por Ricardo Leitner)

BRAVO Lillian! Como sempre suas preciosas linhas, simplesmente tiradas da vida e da experiencia que deveríamos tirar todos os dias dela.
BRAVO, esquecida Lillian!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Steppin' out... que delícia sorrir...


Why am I alone tonight
when I should be stepping out?




No ano de 1991 tivemos esta especial surpresinha…
Um filme delicioso com Liza e um monte de talentos da Broadway
como Jane Krakowsky, Julie Walters, Bill Irving só para citar alguns nomes…

Um filme despretensioso, simples mas cheio de momentos gostosos, felicidades inesperadas,
supreendentes emoções… Daquele tipo que te deixa sorrindo por horas… e voce só se dá conta quando por mero acaso ve alguém sorrindo para voce na rua e então, só então se dá conta do seu próprio reflexo numa vitrine qualquer da rua.



Gosto disso. Como é gostoso estar feliz. Descomplicadamente feliz.



Gosto também de talentos e como eles aqui despretensiosamente brincam uns com os outros.
Ah… e Liza… numa fase linda…
Saudades deste tempo…
Sim, no ano de 1991 tivemos esta especial surpresinha… e até hoje fico feliz ao rever esta cena…


Dedico esta Tertúlia à minha amiga Claudia Büthe-Gaiser, que hoje aniversaria e que nos trouxe muita felicidade e carinho com sua visita à Viena e com sua forma delicada, educada de ser!
Happy Birthday, querida Cláudia!!!




domingo, 10 de março de 2013

Um Divertissement: o Bolshoi no "Arts Chanell" (1986)


Hoje uma tertúlia „fora da norma“. Só para mostrar alguns videos...

Hoje o dia está nublado, com cara de chuva (ou neve),frio... nenhum dia é tão perfeito assim para se "cascavilhar" velhos pertences, ler cartas que estão guardadas dentro de uma caixinha ou de baús, rever desenhos esquecidos, fotos amareladas, recados colocados num livro, flores secas entre páginas de escritos que estavam destinados a "mudar o mundo"... adoro esses dias... cheios de memórias empoeiradas!

Reorganizando velhos videos antes de passá-los para DVDs, catalogando coisas, me desfazendo de muitas, encontrei por acaso esta gravação de uma apresentação do Bolshoi, pela primeira vez depois de 12 anos, na Inglaterra em 1986!



Já que se trata mesmo de uma raridade (daquelas que a gente gravava ao vivo da televisão) e neste caso até de um canal extinto de televisão “The Arts Chanell” (que senão me engano fazia parte do “Sky Chanell” e não existe mais na Austria desde os anos 90... para voces verem que não é só no Brasil que se "nega" Arte), resolvi colocar aqui uma boa parte do video… que eu mesmo coloquei no Youtube… Não especialmente por conter momentos “imperdíveis” de Ballet mas só por seu valor histórico… Memórias minhas...



Ah, que tempos… Acho que comprei meu primeiro video em 1985… e que maravilha era poder gravar tantas coisas, ter tantas coisas! Isto era "novo" e eu me esbaldava com tantas coisas! Hoje, se somos sinceros, nos falta espaço e organização para sabermos de tudo que temos gravado… e TEMPO para poder rever certas coisas com mais frequencia! Mas olhem só... Nina Ananiashvili, que eu tinha visto naquele ano no palco só há poucos meses, estava ali... no pas de deux de Aurora!!!!

Divirtam-se com uma curta parta deste “Divertissement” – esta espécie de Noite de Gala que era tão popular nos anos 70 e 80. Fórmula esta usada e reusada pelo Bolshoi até público ter-se cansado totalmente desta espécie de “entertaimment” (Engraçado o fato de há poucas semanas atrás o “Royal” ter dado uma noite destas, cheia de curtos pas de deux etc. no Theatro Municipal do Rio de Janeiro… que coisa mais «passé»).
Aqui um curto «Spring Waters» (que eu possuo também com NOSSA maravilhosa Cristina Martinelli), o (para mim abominável) "Spartacus" e "A bela adormecida", "La Bayadére", "Lago dos Cisnes"... Tudo...
You'll get your money's worth tonight!





sexta-feira, 1 de março de 2013

Lizzie Borden: Assassinatos que inspiraram o Cinema & o Ballet?


O CASO “LIZZIE BORDEN” - 1892

No dia 4 de agosto do ano acima mencionado, Andrew Borden tinha ido ao centro de Fall River, cidadezinha de Massachusetts, para resolver coisas no banco e no correio. Ele voltou à sua casa mais ou menos às 10:45 hs… Lizzie Borden, sua filha, encontrou seu corpo mutilado meia hora depois!



Lizzie, solteirona de 32 anos de idade foi acusada de homicídio. Durante o processo, a empregadinha dos Borden, Bridget Sullivan testemunhou que ela estava deitada, descansando no seu quarto no terceiro andar da casa depois de ter limpado janelas, quando ouviu logo depois das 11:00 hs Lizzie chamando-a e dizendo que alguém tinha assassinado seu pai! Seu corpo foi encontrado na sala de estar, deitado num sofá. Ele tinha sido morto à machadadas…

Logo depois, enquanto a nervosa Lizzie estava sendo acudida por seus vizinhos e pelo medico da família, a mesma empregada descobriu o também mutilado corpo de Abby Borden, a madrasta das irmãs Borden no chão do quarto de hóspedes (sim, Lizzie tinha uma irmã mais velha, Emma Borden, que não estava em casa durante estes acontecimentos!). Ela também tinha sido assassinada. Fortes machadadas deformavam seu cranio, como acontecera com Andrew (o globo ocular deste tinha sido partido em dois!).



Muitas fatos continuam até hoje inexplicados… Um machado sem cabo foi encontrado no porão. Sem nenhuma mancha de sangue. Mas teria sido o cabo retirado por estar ensanguentado?

Nenhuma roupa ensanguentada foi encontrada. Mas porque Lizzie queimou um vestido numa fornalha alguns dias depois do assassinato? Ou haveria cometido os crimes completamente nua como foi sugerido durate alguma fase do processo? Sugestão esta que chocou os U.S.A. na época…

Por algum desconehecido motivo não foi mencionado o fato que Lizzie tentara comprar numa farmácia um frasco de cianeto de hidrogenio (poderoso veneno) para supostamente limpar uma capa de pele de foca um dia antes dos assassinatos. Porque?

Alguns dias antes todos os moradores da casa “Borden” estiveram misteriosamente doentes (restos de comida deixados sobre um fogao estavam deteriorados… disse-se na época…). Todos os moradores da casa foram porém examinados, inclusive os estomagos de Andrew e Abby foram retirados dos cadáveres, para esta investigação. Teria Lizzie tentado envenená-os? Nenhum vestígio de veneno foi encontrado...



Por falta de provas concretas Lizzie foi absolvida e enviada da prisão para casa… Ela continuou morando em Fall River apesar do ostracismo com o qual foi tratada pela população local até sua morte… As irmãs dexaram a casa "do pai (abaixo) e mudaram-se para uma melhor vizihança.



Até hoje ainda existem especulações sobre as mortes de Andrew e Abby Borden… Muitas sugestões sobre desavenças entre os familiares, por motivos financeiros, são até hoje cogitadas.

De qualquer forma. Julgamento ou não, assassinato premeditado por Lizzie ou não, este caso transformou-se numa “cause célèbre americaine” e inspirou uma rima até hoje cantada por criancinhas (que coisa mais mórbida!):


Lizzie Borden took an axe,
gave her mother forty whacks.
When the job was neatly done,
(ou “When she saw what she had done”)
she gave her father forty-one.


Lendas urbanas… na verdade sua madastra "só" sofreu 18 ou 19 machadadas e seu pai 11!

Lenda porém não é o fato que os cranios de Andrew e Abby foram separados dos corpos, para serem usados como prova durante o processo (Lizzie desmaiou ao ve-los) para depois serem enterrados junto aos corpos, mas não perto dos ombros senão ao pé da cova perto dos pés dos cadáveres!)

FALL RIVER LEGEND – o Ballet (1948)

Eu assisti só uma vez a alguns pedaços do Ballet “Fall River Legend” baseado na vida de Lizzie Andrew Borden.
Um dos trabalhos mais conhecidos do “ícone” da dança Americana, Agnes de Mille, ele tem a distinção de ainda ter a assinatura de Morton Gould na parte musical.



O ballet teve sua Premiere com o American Ballet Theatre e com Alicia Alonso no papel de Lizzie (simplesmente chamada na obra “a acusada”) em 1948. Outras “Lizzies” seguiram seus passos como por exemplo Nora Kaye (esposa do diretor de Cinema Herbert Ross e, mais tarde, diretora do ABT)



e mais recentemente Julie Kent



e Gillian Murphy na temporada de 2007 no New York City Center!



Os pedaços que assisti há alguns anos atrás eram porém com o Dance Theatre of Harlem com a magnífica Virginia Johnson no papel principal…
"Legend" é um trabalho para uma bailarina/atriz de grande personalidade, assim como que Blanche em "Um bonde chamado desejo", Lizzie é um personagem complexo, de muitas nuances, muit difícil de ser interpretado... Personagem digno de um Ferri, de uma jovem Haydée e no Brasil de uma Martinelli... sim trabalho para uma bailarina/atriz de grande personalidade!



(Coincidencia que neste curto "pot-pourri" da dramática Johnson, grande bailarina do Dance Theatre of Harlem, estejam incluídos, ao lado de Lizzie, papéis como Desdemona e Blanche DuBois?)

Um Ballet forte, doído, emocional, visceral… mas com um erro histórico tão fatal para a verissidade da estória, que me deixa desagradavelmente incomodado… De Mille alterou o curso histórico dos fatos quando deixou Lizzie ser declarada culpada das mortes pelo tribunal… Certas liberdades são “un peu trop”. Não acham?



THE LEGEND OF LIZZIE BORDEN – o Filme (1975)

O (interessante) filme para a televisão de 1975 nos dá um “insight” mais preciso e amplo do caráter de Lizzie – mas esta Lizzie do filme também é uma culpada, uma assassina sem pudor ou moral (No filme foi usada a “suposta” nudez enquanto matava suas duas vítimas a machadadas!). Mas, fielmente à história e aos fatos, ela permanece porém livre. O final do filme nos faz crer que Lizzie era uma fria e calculista assassina… mas se ela não foi assim na realidade?



Quase tão interessante como a própria “lenda” sobre Lizzie é o fato de Elizabeth Montgomery, conhecida de “A feiticeira” (Bewitched) ter sido usada no papel de Lizzie (que alguns anos depois do processo, passou a chamar-se “Lizbeth A. Borden” para evitar a atenção sobre sua pessoa, já que ao longo de sua vida vários livros com teorias sobre o crime foram escritos.

Elizabeth Montgomery (Liz? Lizzie?) encontrou mais uma forma de liberar-se como atriz definitivamente das algemas de “Samantha Stevens”.




Por algum motivo, o filme foi considerado "chocante" na época em que apareceu na televisão. Eu lembro-me de te-lo assistido atentamente. Revendo-o depois de mais de 35 anos há pouco tempo não fiquei nada desapontado: a direção é boa, precisa, com a correta porção de “suspense”, sarcasmo, morbidez… e Elizabeth Montgomery magnífica como a solteirona Lizzie.



Mas de volta à Lizzie Borden… o fascinante mistério continua até hoje não resolvido…
E se Lizzie foi na realidade inocente dos crimes dos quai foi acusada...
Tanta suposição a troco de nada?