quinta-feira, 9 de junho de 2011

The Shop around the Corner: Budapest, Chicago, New York…

Sou apaixonado por lojas antigas, lojas com “história”, com passado, com vida… Adoro esta atmosfera de um “estabelecimento” com “fundamentos”, sólido, estável… Luvarias, Chapelarias, Lojas de música, Livrarias...

„The Shop around the corner“ (MGM, 1940) com Margaret Sullavan (grande concorrente e alvo da cólera de Katharine Hepburn no início de sua carreira) e James Stewart, é um daqueles “filminhos” gostosos e simpáticos para se ver numa sessão da tarde de um dia de chuva.
Amo a atmosfera deste filme, da fotogtrafia, dos personagens, da “loja” de presentes no centro de Budapest. (o roteiro foi baseado numa peça de Miklós Lázló chamada “Parfumerie”).


Sob a direção do “mestre” Ernst Lubitsch, os personagens se desenvolvem de uma forma cheia de “fluidez”: dois empregados da loja que se odeiam (e sem a menor idéia que se correspondem…): Klara Novak (Sullavan) e Alfred Kralik (Stewart). O dono da loja, Sr. Matuschek (Frank Morgan, o “Mágico de Oz”), um outro empregado ganancioso, Ferencz Vadas (o grande ator Joseph Schildkraut), a “caixa”, uma senhora apaixonada pelo Sr.Matuschek, por quem é secretamente amada, Flora Kaczek (Sara Haden) e o engraçado e espirituoso “entregador”, Pepi Katona (maravilhosamente desempenhado por William Tracy) que nos dá os momentos mais simpáticos do filme!

Óbviamente a MGM não poderia deixar um “roteiro desses”, tão “perfeito para o público familiar” (amado e venerado por Louis B-Mayer) empoeirar em prateleiras e em 1949 uma segunda versão, dessa vez musical, foi feita: “In the good old Summertime”.


Dirigido sábiamente por Robert Z.Leonard, nesse “remake” o “plot” foi transferido de Budapest para uma Chicago no início do século XX. O que dá uma qualidade “de época” (bem fotogenica por sinal) ao filme.

Contou não só com grandes canções (como o Hit de 1906 de Eva Tanguay, “I don’t care”), lindo colorido, cenários e figurinos “ao nível” da Metro como também a com a presença de Judy Garland e Van Johnson (nos papéis principais, desta vez chamados de Veronica Fischer e Andrew Larkin), do meu queridíssimo (austríaco) S.Z. Sakall (no papel do Sr. Oberkugen, o dono da loja), da simpatissíssima Spring Byington (como a caixa, Nellie) e até Buster Keaton como um empregado/sobrinho do Sr. Oberkugen.


A camera e as cores nos levam de volta aos tempos das lojas com balcões de mogno, cheiro de Madeira e de um estilo todo “parisiense” como um “Magazin” (alguém ainda se lembra da “Barbosa Freitas” em Copacabana? Tinha móveis como os que ainda se encontram nas “Galeries Laffayette” em Paris ou no “Saks” e no “Bergdorf & Goodman” – minha favorita – na 5th Avenue em N.Y., só para citar algumas… Porque tudo isso é “aniquilado” no Brasil? Porque esta falta de consideração ao “tradicional”?).


Nesta versão a loja do Sr. Oberkugen é uma loja de música… o que dá à talentosa Judy chance de se esbaldar em várias canções da época…


como em “Meet me tonight in Dreamland”:



Judy parece ter-se literalmente “esbaldado” com o material "tradicional americano" que foi-lhe dado para cantar – insistindo até que a canção “Last Night when we were young” fosse incluída no filme… Essa porém foi cortada dele na edição final. Apesar de muito conhecida pelo “Soundtrack” do filme e até por uma outra gravação de Garland, “Last Night” só foi vista nas telas finalmente em 2004 no documentário ”Judy Garland: By myself”.

A produção de “Summertime” foi coroada por um momento muito pessoal de Garland. Para a cena final do filme ela escolheu, para o papel de sua filhinha com Van Johnson. Uma criança que no futuro nos traria muitos momentos inesquecíveis: sua própria filha, Liza Minelli, aqui em seu "debut" cinematográfico!


Se sou sincero, tenho que admitir que esta segunda versão me agrada muito mais do que a primeira. Ainda é mais adequada para se assistir numa tarde chuvosa na “Sessão da tarde”.
Não quero porém de nenhuma forma tirar o crédito de “The Shop” pois é um filme maravilhoso e bem mais denso e “complexo” do que “Summertime” (e que aliás foi selecionado para preservação no Registro cinematográfico nacional dos U.S.A. na Biblioteca do Congresso por ser “culturalmente, históricamente ou estéticamente significante”). É simplesmente uma questão de gosto… Quando o reassisto, me transporto para minha adolescencia… de volta às épocas da “Sessão das Duas”



O musical da Broadway “She loves me” foi também baseado na mesma estória… Nunca veremos a produção cinematográfica da MGM, pela qual Blake Edwards e Julie Andrews (ambos em fases tenebrosas e bem frustrantes de suas carreiras) foram pagos US$ 1 milhão para NÃO fazer o filme… humilhação esta jamais sofrida anterior- ou posteriormente por membros da profissão…
(como confirmado num artigo de 1973: "Blake Edwards and Julie Andrews are reportedly being paid 1 million dollars settlement by MGM not to shoot their previously committed film, She Loves Me").

O filme “You’ve got Mail" (1998) com Meg Ryan e Tom Hanks foi também baseado na mesma estória (alguém reparou que a loja nos quais os dois trabalham chama-se “The Shop around the corner”?). Não é realmente dos meus prediletos…

Mas porque hoje “lojas”? Na minha última estadia em N.Y. fiquei realmente decepcionado com a forma com a qual as livrarias lá estão desaparecendo…

Impressionante.

Triste!

No último dia porém tive uma grata supresa. Passeando na parte da manhã pelo Upper East Side entrei por acaso na rua 59 e entre a Lexington e a Park Avenue, ou seja, práticamente “just around the corner” do Waldorf Astoria, encontrei a “Shop” que estava buscando: Argosy Bookshop!!!!! A minha “Shop around the Corner”!


Um mundo fascinante de raros livros antigos, muitos assinados, autógrafos, "americana", fotos, gravuras, mapas…
Tudo isso “emoldurado” de madeiras, cultura (principalmente no atendimento), cantos de leitura, pilhas de livros, porão…
Consegui “Catalina” de W. Somerset Maugham (que buscava há anos)!
Caíram literalmente nas minhas mãos dois volumes com todas as “short-stories” de Maugham… Não foi o preço porém o peso dos dois livros que me “freiou” de comprá-los… já no avião tinha-me arrependido de ter tomado tal atitude… No dia seguinte à minha chegada à Viena já estava eu “on-line” em contato com um vendedor de “Argosy”, encomendando os livros… que chegaram na sexta-feira passada… Minha amiga Maurette já os viu "ao vivo" pelo Skype e vibrou... Lindos volumes de 1953 com capa de couro... como livros deveriam sempre ser!

Claro que eu adoraria muito ter um contato com uma livraria como Anne Bancroft o teve com Anthony Hopkins em “84 Charing Cross Road”, por cartas (Conhecem o filme?) mas os tempos de hoje nos permitem ser um pouco mais rápidos (e assim não correr o risco que de alguém comprar os volumes que me interessam).
Ontem mesmo já entrei em contato com Argosy de novo… procurando mais livros que meinteressam… desta vez Paul Gallico… Ah, e as fotos e volumes autografados por Nureyev, Baryshnikov, Sybley e Dowell, Peter Martins, Fonteyn… e as primeiras edições de Fitzgerald… Um mundo…

Como disse anteriormente: uma loja antiga (de 1925, by the way), com “história”, com passado, com vida… com a atmosfera de um “estabelecimento” com “fundamentos”, sólido, estável… Que beleza!

Finalizando – como resisitir? Judy Garland, danadinha, eterna e elétrica em „I don’t care!”.

Viva o celulóide!

Nenhum comentário: