domingo, 21 de novembro de 2010

Vivien Leigh à beira de um ataque de nervos?



“A Nave dos Deseperados” (The Ship of Fools, 1965) nos revela, como nenhum outro trabalho de Vivien no cinema, uma faceta real desta fabulosa atriz. Até então suas neuroses pessoais tinham ficado longe da tela. Nada é tão revelador como a cena no corredor do navio na qual ela bebada e enlouquecida começa a dançar um Charleston, que só “toca” na sua cabeça…



Esta cena, de certa forma, incomoda mas é ao mesmo tempo engraçada, ironica e, como colocado pela própria Vivien, revela “uma mulher que sabe que o tempo está passando e se recusa a reclamar”. Como a própria Leigh. De alguma forma ela, Mary Treadwell, lembra-me vagamente aqui uma Scarlett num baile em Atlanta, viúva, de preto, dançando atrás de uma balcão de caridade ao som da orquestra. A mesma que à mesa diz para o personagem de Lee Marvin (quando este diz que na Alemanha estão “fazendo coisas” com os judeus): “E qual é o esporte de moda no Sul dos Estados Unidos este ano? Ainda linchar negros?”)



Stanley Krammer, o diretor deste magnífico filme, comentou que Vivien estava em condições muito precárias durante a filmagem de “Ship” (para quem não sabe: Vivien era maníaca-depressiva, doença que hoje em dia é chamada de “bipolaridade” e que começou logo depois de “Vento” em 1940 durante uma temporada na Broadway, com seu então marido Laurence Olivier, em 1940. Sua vida a partir de então foi uma série de ataques, estadias em instituições psiquiátricas, humilhações, terapias de choque, de banhos de gelo…).

Tenessee Williams disse: "Having known madness, she knew how it was to be drawing close to death".



Krammer comentou que ela vivia num estado de constantes “palpitações” e nervosismo, literalmente tremendo, enquanto esperava pelos seus “takes”. Quando era chamada, levantava-se, ía para a frente das cameras e completamente recomposta, desempenhava suas cenas com bravura para voltar então para sua cadeira e para suas palpitações e tremedeiras!
Viv estava ainda recuperando-se da exaustão da árdua temporada da Broadway na qual tinha feito o musical (Yes!) “Tovarich” (leia-se em russo “taváritchi” – o que significava no comunismo “camarada”!). Sim Viv fazia tudo! Danadinha!



A atriz Elizabeth Ashley comentou um fato bonito que percebeu durante a fimagem de “Ship”. O rosto, o sorriso jovem de Vivien… Apesar de toda sua doença havia uma jovialidade nela.



“There are people who get old, there are people who just age” ela disse. Vivien tinha 52 anos ao fazer “Ship” e desde “Anna Karenina” em 1948 (quando tinha só 35 anos) tinha únicamente interpretado papéis de caráter – desfazendo-se e desfigurando-se ao mais extremo em frente às cameras como “Blanche” em “Um Bonde chamado Desejo”, no Brasil às vezes chamada estranhamente de "Uma Rua chamada Pecado" (A Streetcar named Desire, 1950) de Tenessee Williams com só 37 anos… As vezes penso que Viv quiz envelhecer antes do tempo, para alcançar outras possibilidades no teatro… como talvez esta foto de 1958 nos revele: esta “Senhora” tinha só 45 anos.



Ashley também comenta sobre a extrema profissionalidade de Viv: “Só o fato de eu não ter percebido nada, não saber de sua doença, diz tudo”,



A mesma Leigh, tinha estado também muito mal durante uma Tournée pela Australia do “Old Vic” no qual ela interpretou um dos papéis mais agressivos e cruéis (para a atriz que o interpreta, quero dizer) da história do teatro: “Lavinia” em “Titus Andronicus” (supostamente Shakespeare) – no qual, depois de ser estuprada pelo pai, sua língua e mãos são cortadas e seus olhos furados – e nunca perdeu uma apresentação!



Viv fez, na realidade, pouquíssimos filmes… só 8 entre «…e o Vento levou» (GWTW,1939) e «A Nave dos Desesperados» (1965), seu último antes de falecer em 1967. E quando se pensa que ela é uma das atrizes mais consideradas da história do Cinema…

Sim, Vivien Leigh, magnífica, e realmente à beira de um ataque de nervos. Aqui Mary Treadwell/Viv na mencionada, nada comum cena…

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