Continuando a minha série sobre atores/atrizes coadjuvantes, repito o que escrevi no meu relato sôbre
Mary Boland e
Gladys Cooper (Vide a primeira e a segunda postagem desta série,
Supporting Actors/Actresses I: Mary Boland, de 1 de agosto de 2008 e
Supporting Actors/Actresses II: Gladys Cooper, de 18 de outubro de 2008):
Penso já há muito tempo em fazer uma série de postagens em homenagem a vários “Supporting actors and actresses” – aqueles que já vimos centenas de vezes nas telas e de quen não sabemos mais os nomes ou exatamente aonde os vimos... Hoje a matéria é um pouco diferente. Jean Hagen, a fantástica Jean Hagen têve uma carreira na realidade bastante curta, fez três filmes muito bons, depois vários bastante ruins, televisão e desapareceu. Mesmo assim conseguiu imortalizar-se no filme que Francois Truffaut nos seus famosíssimos «Cahiers du Cinemá» descreveu como o melhor filme de todos os tempos : "Singin’ in the rain” (Stanley Donen/ Gene Kelly, MGM 1952).
Jean nasceu em 1923 em Chicago, Illinois, filha de imigrantes holandêses. O mundo primeiro conheceu-a como Jean Shirley Verhagen, que foi logo morar em Indiana… coitada. Ela estudou teatro e conseguiu chegar à Nova York… trabalhando como uma usherette em cinemas antes de debutar na Broadway em 1946 em “Another part of the forest”.
Hagen debutou no cinema em boa companhia… Katharine Hepburn, Spencer Tracy, Judy Holiday e Tom Ewell. O filme chamou-se “Adam’s Rib” e ela era a “outra” – ou seja, o por que de toda a trama: sem ela Judy não teria tentado matar o marido e sem esta tentativa de assassinato nem a advogada de defesa (Hepburn) nem o advogado de acusação (Tracy) – por sinal, marido e mulher no filme – teriam tido trabalho. “Adam’s Rib” foi um trabalho, para todos envolvidos, extremamente gratificante. Mas como poderia ser der outra forma com um roteiro do genial Garson Kanin & (sua espôsa) Ruth Gordon (yes!!! a grande atriz de “Harold & Maude” e “Rosemary’s baby”) e com a direção do incomparável George Cukor????
Em 1950 Jean teria seu primeiro papel principal em
“The Asphalt Jungle” (1950) um filme de John Huston no qual
Marilyn Monroe têve um pequeno papel e que no Brasil foi chamado
“O segredo das jóias” (ânhh?). Jean aqui nao fez comédia... e encantou com sua naturalidade!
1952 trouxe à Jean o maravilhoso e inesquecível papel de Lina Lamont em "Singin’ in the rain" , a diva sem talento do cinema mudo, com uma voz terrível ( não encontro nenhuma palavra em português que possa traduzir ao pé da letra “scratchy”! Lina Lamont é scratchy! Como um disco arranahado que foi colocado na rotacao errada...). Jean Hagen, na minha opinião,”roubou o filme”… Apesar de todas as maravilhosas cenas de dança com Gene, Debbie, Donald e Cyd Charisse, das maravilhosas canções, do incrível diálogo e « timing », da maravilhosa direção e do (realmente) inteligentíssimo, engraçado, maravilhoso roteiro, Jean “rouba o filme”.
Uma mulher bonita num papel absurdamente engraçado (nao era esta, de certa forma, parte da magia de Lucille Ball? Uma comediante bonita?) com um texto incrível e de pleno acôrdo com sua voz horrível e sotaque: “Waddya think I am, dumb or sumpin?” (Lina não tem a permissão de falar perante as platéias depois das premiéres)
Quem poderá esquecer-se das aulas de fonética e dos seus "Ta-te-ti-to-tu"s??? E das peripécias de um microfone enquanto os “Talkies”, o cinema falado ainda usava fraldas? Primeiro nao captando sua voz, depois captando suas batidas cardíacas e e e… E depois Lina Lamont cantando “Would you?” – originalmente usado em “San Francisco” com Jeanette MacDonald, Clark Gable e Spencer Tracy (MGM 1936) – com sons tão absurdos que até hoje não consigo me compenetrar e ficar sério… Apesar de ter visto este filme, acho, centenas de vêzes! Logo depois Debbie Reynolds a dubla e de repente, com uma voz bonita, o expectador se dá conta como ela á bonita. Sim uma voz feia transforma também uma mulher bonita numa bruxa…
E o final do filme – que pertence práticamente à Hagen – no qual ela “decide” cantar “Singin’ in the rain” (com Debbie Reynolds sincronizando-a por detrás das cortinas do cinema)
e è cruelmente exposta à platéia, que finalmente descobre que Lina nao tem uma "voz"…
Depois dêste maravilhoso começo de carreira, Jean foi colocada “na estante” da MGM – até tendo a humilhacao de – depois de ter sido nominada para um Oscar como melhor coadjuvante por sua
Lina Lamont – trabalhar práticamente como um figurante, secretária de
Lana Turner, num veículo para esta e
Ricardo Montalban ( o terrível
“Latin Lovers” da MGM, 1953).
Jean ainda fez televisão mas se cansou depois de três “seasons” de
“Make room for daddy” (aliás fazendo história: o seu personagem foi o primeiro a ser morto numa série de televisão, quando ela não quiz renovar seu contrato, por achar que o sitcom não estava a seu nível).
Jean nunca mais teve um êxito… seu último filme foi o péssimo “Dead Ringer” (1964) num papel secundário como amiga de Bette Davis.
Sua carreira acabou aí.
O final de sua carreira foi descrita de uma forma interessante: “Jean era tão versátil, que, paradoxicalmente, ela ficou difícil de ser escalada”, disse o historiador Bill Warren.
Em 1976 ela ainda tentou um come-back mas em agôsto de 1977 sucumbiu a um cancer de garganta. Irônico êste fato, principalmente por ela ter tido seu melhor papel no cinema como uma atriz de cinema mudo que não tinha voz…
Lina Lamont disse:
“People!!!! I ain’t people!!!!!!!!!!! I’m a shimmering glowing Star in the cinema firm-a-mint! “
Eu amo, entre muitos outros faux-pas, a "burrice " de Lina (firmament) mas... Right you are Lina/ Jean!!!!!
Obrigado! Sei que continuarei rindo, sempre...
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