domingo, 7 de fevereiro de 2010

REMEMBERING: Grand Hotel (1932) and Grand Hotel - the Musical (1989)

Grand Hotel: „Always the same. People come, people go. Nothing ever happens“

Vicki Baum, a escritora vienense, nunca alcançou um sucesso tão grande como no seu livro „Menschen im Hotel“ (1929), apesar de, hoje em dia, ser considerada uma das primeiras bem-sucedidas autoras da ficção moderna, dos abominados "best-sellers".
Seu trabalho de „pesquisa“ para esta obra foi, ao meu ver, muito nao muito „acadêmico“, até peculiar: ela pegou um emprego como arrumadeira, por seis semanas, num hotel para colher informações e idéias. A própria Baum dramatizou sua „Novella“ para o palco em Berlin (Direção de Max Reinhardt). Em 1930 a tradução americana fez um sucesso tão grande na Broadway que Irving Thalberg comprou os direitos para a MGM como um veículo para Garbo (ironicamente não para sua esposa, Norma Shearer, outra „rainha de MGM“).


Material destinado a muito sucesso, o filme „Grand Hotel“ estreiou em 1932, a primeira produção da história do cinema com um „all-star cast“ - "fórmula", aliás, que provou-se muito eficaz e até hoje é imitada... pensem nos filmes de "Agatha Christie":
Para Vicki Baum o „Hotel“, símbolo da sociedade moderna, é o centro de todos os acontecimentos e o lugar onde diferentes tipos, personalidades de distintas classes sociais e grupos se encontram, se misturam, vivem emoções, se agridem e então se despedem.
Cada personagem é em si um arquétipo. Grusinskaya (Garbo), a bailarina de „certa idade“ num período de profunda depressão; Barão Felix von Geygern (John Barrymore), um nobre e um ladrão;
o diretor-geral Preysing (Wallace Beery), um homem de negócios, primitivo, sem escrúpulos e moral; Frida Flamm („Flaemmchen“, Joan Crawford) uma estenografista disposta à qualquer coisa, contando que „suba“ na vida e deixe o „Millieu“ onde habita;
Otto Kringelein, o incrível Lionel Barrymore, um velho judeu, uma encantadora pessoa, morrendo de uma doenca terminal, com todo seu dinheiro na carteira, querendo „aproveitar a vida“; Suzette (personagem práticamente retirado do filme, transfomou-se na produção da MGM numa „empregada“), a dama-de-companhia de Grusinkaya, secretamente apaixonada por ela (só sabemos deste fato quando lemos o livro); Dr. Otternschlag (Lewis Stone),um solitário homem viciado em morfina que passa seus dias na recepção do „Grand Hotel“, observando os passantes e fala a famosa linha final da peça/filme:
"Grand Hotel. Always the same. People come, people go. Nothing ever happens."
… e isto depois de uma noite na qual amores nasceram, roubos e fraudes aconteceram, um assassinato foi cometido, estupro, mentiras e intrigas se espalharam pelo interior do hotel e… o filho do porteiro nasceu.

E Garbo? As reações de Grusinskaya são bem mais claras e compreensíveis no livro (e no musical) do que no filme: o fato de uma jovem bailarina tê-la imitado para caçoar dela (fazendo dela uma feia caricatura cheia de afetações da qual o público riu) é um dos componentes para o seu desespero d’alma – não só a carreira chegando ao fim, cansaço e fatiga. Garbo nunca esteve tão afetada como atuando Grusinskaya. Como se, depois de ter lido o livro, tivesse realmente acreditado na imitação que a jovem bailarina fez e transformado o personagem nesta caricatura. Esta minha „interpretação“ sobre o personagem parece-me ser a mais provável. Garbo já tinha deixado os exageros dos filmes mudos e dois anos antes tinha criado uma „palpável“ Anna Christie de Eugene O’Neil.
Afetada ou não… Garbo está especialmente linda na cena em que encontra pela primeira o ladrão… e ele declara seu amor por ela.

Como ela está vulnerável… sendo roubada mas não abrindo mão de querer acreditar neste „amor“ que ele está a lhe confessar. Quando revirem um dia este filme, prestem atenção no „Close-up“ (ao som de „Wien, Wien, nur Du allein…“). Garbo num de seus momentos, para mim, mais „translúcidos“. Um olhar húmido, um instante, um "suspiro", um momento curtíssimo de reflexão e ao mesmo tempo introspecção, inexplicávelmente bonito para mim (Foi muito difícil encontrar esta foto deste exato momento – vide abaixo. O mencionado momento refletido não só no olhar mas também em sua boca).
Uma segunda versão de „Grand Hotel“ chamada „Week-End at the Waldorf“ (também da MGM) foi feita em 1945 com Ginger Rogers, Van Johnson, Walter Pidgeon e Lana Turner entre outros. Esqueçam este filme, o mundo inteiro esqueceu. Há muito tempo.

Em 1988 estreiou na Broadway o fantástico „Grand Hotel – the Musical“ que eu tive a oportunidade de ver (Abaixo uma série de fotos do meu programa. Eu guardo tudo…).

Foi dificílimo conseguir entradas na época – apesar de ser „o sucesso do momento“ eu consegui assisti-lo tres vezes em sete dias! Não me arrependo. Uma das melhores produções musicais que assisti até hoje na Broadway.
Grusinskaya foi interpretada por Lilliane Montevecchi, bailarina clássica da companhia de Roland Petit junto a Leslie Caron (que aliás foi "Grusinskaya" na producao de Berlin), vedette do Folies Bergére, atriz e dançarina de Hollywood e da Broadway. Louquíssima, mas em „Hotel“ contida, controladíssima. Liliane foi depois substituída por Cyd Charisse (Com quem tinha dancado muito secundáriamente em „Meet me in Las Vegas“).
O Barão foi David Carrol, um bom tenor de uma boa e viril presença no palco.
A „dama-de-companhia“ de Grusinskaya é interpretada pela maravilhosa atriz (e cantora) da Broadway Karen Akers (Se lembram dela como a cantora em „A rosa púrpura do Cairo“ de Woody Allen?). Que voz linda tem Miss Akers.
(Detalhe: o nome original deste personagem era „Suzette“. A atriz que a interpretou na versão da MGM chamava-se Rafaela Ottiano: Para a produção do musical na Broadway o nome do personagem foi transformado em Rafaella Ottanio (não Ottiano), nome aliás imponente. Sua canção, na qual comenta seu amor por Elizavetta, também é linda!)

Jane Krakowsky, hoje em dia conhecida mais por sua aparição na série „Ally McBeal“, já mostrava o talento que iria trazer-lhe algumas nominações para o „Tony“ (ela recebeu-o por „Nine“) antes de intalar-se na California. Ela, no papel secundário de „Frida Flamm, a estenotipista“ tem tres números musicais simplesmente maravilhosos (quase „Show-Stoppers“) e práticamente „rouba“ o Show (bem, pelo menos a parte feminina). Ela foi nominada para um Tony por sua „Flaemmchen“.

Jane, nos seus primeiros anos no teatro (e no cinema… ela apareceu como uma enfermeira sapateadora com Liza Minelli em „Steppin’ out“) tinha um físico muito diferente do que tem hoje em dia. Bem mais magra. Adoro sua „figurinha“ e pernas nestes figurinos de „Flapper“ dos anos 20. Uma figura muito „limpa“ no palco!
Mas quem roubou mesmo o Show foi Michael Jeter. O ator que faleceu em 2003 de AIDS deu uma interpretação toda especial ao seu „Mr. Otto Kringelein“, que é mais do que tridimensional.
Aqui um raro vídeo, apresentado por Kathleen Turner (Tony Awards), onde todos os personagens da produção original de 1988 podem ser rápidamente vistos e um „Show-Stopper“ com Michael Jeter e Brent Barret – um dos vários “ Baron von Geygern “ em “We’ll take a glass together”. EMOCIONANTE!!!! Que trabalho de corpo!!!!!!!!

(Nota: a postagem segue depois dos vídeos…)
">
Ficaram curiosos? Aqui um melhor vídeo (sem a cena de abertura!)
">
Direção, produção e coreografia do fantástico Tommy Tune!!!!
Tommy, num destes momentos inspirados fez com que todos os números musicais competicem uns com os outros, como se todos estivessem acontecendo ao mesmo tempo… como num hotel, onde tudo realmente acontece ao mesmo tempo. Tommy conta muito desta produção em sua biografia “Footnotes” (nome inspirado para a biografia de uma bailarino/ coreógrafo/ diretor). Livro que já presenteei várias vezes e muito recomendo!
P.S. Existe toda uma estória incrível sobre este Show…
de como foi complicada sua montagem pois os autores não queriam modificar a concepção que tinham criado em 1958 para o fatídico „At the Grand“ – que nunca chegou a estreiar na Broadway, de como Tommy Tune teve que despedí-los, de como várias canções e números musicais tiveram que ser reescritos, de como o Show teve 31 (!!!) Pré-estréias, de como David Carrol morreu de AIDS no banheiro enquanto gravava o disco do Show, das várias mudanças no Cast…
mas também do grande sucesso em que se transformou, dos doze Tony Awards para os quais foi nominado (ganhando 5) e de como transformou-se num dos raros musicais que teve mais de 1.000 apresentações na Broadway! Mas para contar tudo isto necessito de uma outra postagem…

Eu trabalho em turismo… Imaginem o que um “Grand Hotel” significa para mim…

">

Nenhum comentário: