quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Manon: Wiener Staatsoper, 22.10.2013


To be very honest, I was not in a real „Manon-mood“ yesterday and even thought of not going to the Opera. The dancer that was initially cast for Des Grieux was not going to dance and that had been the main reason why I had bought the ticket. Having seen “Manon” so often, and not long ago with Friedemann Vogel, I felt that it was not really a matter of extreme importance to attend to it. How wrong can one be. In fact I am tending now to say that this was one of the best “Manon” performances which I have ever seen.


Para ser bem honesto, eu não estava ontem com real disposição para assistir “Manon” e até pensei em não ir à Ópera. O bailarino que estava inicialmente escalado para dançar Des Grieux não iria dançar e este havia sido o principal motivo de haver comprado a entrada. Tendo visto “Manon” tantas vezes , e não há muito tempo com Friedemann Vogel, achei que não era caso de extrema importancia comparecer. Como podemos nos enganar. De fato estou tendendo agora a dizer que esta foi uma das melhores apresentações de “Manon” que já vi.


Maria Yakovleva gave a beautiful portrayal of Manon. Her profound insight of the character was touching, frightening, impressive and sometimes even chocking. She gave us beautiful “pictures to take with us” in a great number of scenes, some of them not even “so important” (from the dancing point of view) but extremely necessary , real “key-scenes”, to the development of the drama. For example; leaving for a new lover she displays extreme coldness and aloofness towards Des Grieux while he’s crying and begging for her. She simply shows no feeling for a man who is crazily in love with her and who left his life to be with her. She just thinks selfishly about her future, about herself. Maria Yakovleva has an incredible command, as an actress, of the fineness of this character which could have passed unobserved. She knows the role intimately. It must be hard to play such a vicious, dirty thing like Manon… Yet, this “Lola-Lola” of the 18th Century is a hard cookie but Yakovleva’s Manon is more than that. She is the Manon from Prévost not only the one from the Opera, from the Ballet, romanticized pictures… This causes, obviously, a great contrast (at the final act) to the extreme fragility to which she has been reduced and to the hopeless efforts to survive in the swamps, where she finally finds death, destroying at the same time Des Grieux’s happiness for ever…

Yes, “Lola-Lola” (The Blue Angel, 1930) comes once more to my mind (and heart):

“Männer umschwirren mich wie Motten das Licht
und wenn sie verbrennen
Ja dafür kann ich nicht“


Maria Yakovleva deu um bonito retrato de Manon. Sua profunda compreensão do personagem foi tocante, assustadora, impressionante e às vezes até chocante. Ela nos deu lindas “imagens para levar conosco” num grande número de cenas, algumas delas até não “tão importantes” (do ponto de vista da dança) mas extremamente necessárias, reais “cenas-chave”, para o desenvolvimento do drama. Por exemplo; saíndo para um novo amante ela exibe uma extrema frieza e indiferença para com Des Grieux enquanto este chora e implora por ela. Ela simplesmente não demonstra nenhum sentimento pelo homem que está loucamente enamorado dela e que deixou sua vida para trás para estar com ela. Ela só pensa egoisticamente sobre seu futuro, sobre si. Incrível seu domínio, como atriz, destas sutilezas deste personagem que poderiam ter passado desapercebidas Ela conhece o personagem íntimamente. Deve ser muito difícil interpretar uma coisinha tão depravada e suja como Manon… Meso assim, esta “Lola-Lola” do século XVIII é “osso duro de roer” mas a Manon de Yakovleva é mais do que isso. Ela é a depravada Manon de Prévost… na só a da Ópera e a do Ballet, figuras romantizadas… Isto causa, óbviamente, o grande contraste (no ato final) com a extrema fragilidade à qual foi reduzida e com os irremediáveis esforços para sobreviver nos pantanos, onde ela finalmente encontra a morte, destruíndo ao mesmo tempo para sempre a felicidade de Des Grieux…

Sim, “Lola-Lola” (O anjo azul, 1930) volta mais uma vez à minha mente (e coracao):

“Os homens me cercam como as mariposas a luz,
Quando eles se queimam,
Isto não é minha culpa”


Roman Lazik, a very good Danseur Noble, who, as many classical dancers, tends to use constantly an expression of “suffering” in different roles, gave a surprising performance yesterday. For me. I had already seen his Chevalier Des Grieux last Season but this time I was overwhelmed by the nuances which compose his “current” interpretation. Full of that special richness which reveal lots of introspective thoughts about the character, insight, sensibility. Mr. Lazik, in full command of his technique and virtuosity, gave us a very special portrayal on stage. He was the character, not the dancer preoccupied with his pirouettes and other technical displays. This is exactly what I love to see – an artist using technique as a tool to achieve perfect artistry, not a dancer in a constant cult to technique.


Roman Lazik, um muito bom “Danseur Noble”, que, como muitos bailarinos clássicos, tende a usar constantemente uma expressão de “sofrimento” em diferentes papéis, deu uma surpreendente apresentação ontem. Para mim. Eu já havia visto seu Chevalier Des Grieux na última estação mas desta vez fiquei extasiado com as nuances que ele compos para sua “atual” interpretação. Cheias daquela especial riqueza que revela muitos pensamentos introspectivos sobre o personagem, discernimento, sensibilidade. Mr. Lasik, em completo comando de sua técnica e virtuosidade, nos deu um especial retrato no palco. Ele era o personagem, não o bailarino preocupado com suas piruetas e outras demonstrações técnicas. É isto exatamente o que amo assistir – um artista usando sua técnica como ferramente para alcançar perfeita arte, não um bailarino num constante culto à técnica.


But the real Star of the evening was Misha Sosnovschi. I compare his Lescaut to the greatest ones I have ever seen. You are thinking about David Wall (1946-2013) who was Lescaut to Anthony Dowell’s Des Grieux? Yes… But I am also thinking of Dowell’s cynical Lescaut to Wall’s Des Grieux (yes, they alternated the roles a lot!). It’s been a long time since I’ve seen such a Lescaut. Human, with all his faults, flaws, vices, greed, eroticism, humor… His Lescaut is really made of flesh and blood. Misha is passing though that very special moment in an artist’s life, an unique moment that does not take long – a moment in which he brings together two very important things… he still has his intact youth but he arrived at a certain point of artistic maturity. He shines technically and is, at the same time, an actor mastering his character in his minimal details.

Chapeau, Mr. Sosnovschi – who also showed great skill while partnering Ketevan Papava in the “drunken pas de deux”!


Mas a verdadeira estrela da noite foi Misha Sosnovschi. Eu comparo seu Lescaut com os maiores que já assisti. Voces estão pensando sobre David Wall (1946-2013) que foi Lescaut para o Des Grieux de Anthony Dowell? Sim… mas também estou pensando no cínico Lescaut de Dowell para o Des Grieux de Wall (sim, eles alternavam muito nestes papéis!). Já faz muito tempo desde que assisti um Lescaut assim. Humano, com todos suas falhas, defeitos, vícios, ganancia, erotismo, humor… Seu Lescaut é realmente feito de sangue e carne. Misha está passando por aquele momento muito especial na vida de um artista, um momento único que dura pouco – momento no qual reúne duas coisas muito importantes… ainda tem sua juventude intacta mas chegou a um ponto de maturidade artística. Ele brilha técnicamente e é ao mesmo tempo um ator dominando seu personagem nos mínimos detalhes.

Chapeau, Mr. Sosnovschi – que também demonstrou grande habilidade enquanto fazendo parceria com Ketevan Papava no “Pas de deux bebado”!

Davide Dato, brilliant as the beggar in the first act and Alexis Forabosco’s very imposing warden who is possessed by desire for Manon were other “ingredients” that made this evening a very special one. Monsieur Forabosco’s unique presence on stage also reconfirms what I said above… A dancer in full command of his technique… and, by the way, the warden is one of the most daring characters in a MacMillan piece. He is erotic and dangerous. The scene in which he kisses Manon’s foot and uses her leg as an object for pleasure is more than notorious…


Davide Dato, brilhante como o mendigo do primeiro ato e o imponente administrador de Alexis Forabosco que é possuído pelo desejo por Manon foram outros “ingredientes” que fizeram desta noite uma noite muito especial. A presença cenica de Mr. Forabosco reconfirma o que eu disse acima… Um bailarino em total controle de sua técnica… e, aliás, o administrador é um dos personagens mais ousados numa peça de MacMillan. Ele é erótico e perigoso. A cena na qual beija o pé de Manon e usa sua perna como um objeto de prazer é mais do que notória…


The choice of Dagmar Kronberger for “Madame” was not a good one: my image of this character is a completely different one – she should be more vulgar, grotesque, ugly… everything that Miss Kronberger isn’t. Dagmar Kronberger’s natural elegance and beauty makes it very hard for us to relate to her as an underworld woman. She’s more an aristocratic beauty than a bawd.
Besides, I believe that Madame should be a role for a much elder Dancer. But are there elder character dancers at the Opera at the moment? I do not think so… Like in Stuttgart we would need here a Ludmilla Bogart, a Melinda Witham, a Dimitri Magitov


A escolha de Dagmar Kronberger para “Madame” não foi boa: minha imagem deste personagem é uma completamente diferente – ela deveria ser mais vulgar, grotesca, feia… tudo o que Miss Kronberger não é. A natural elegancia e beleza de Dagmar Kronberger nos deixa com dificuldade para nos relacionar-mos com ela como esta mulher do sub-mundo. Ela é mais uma beleza aristocrática do que uma cafetina.
Além disso, acredito que Madame deveria ser interpretada por uma bailarina mais velha. Mas existem bailarinos de caráter mais velhos na Ópera de Viena nesse momento ? Acho que não… Como em Stuttgart necessitamos aqui de uma Ludmilla Bogart, de uma Melinda Witham, de um Dimitri Magitov…


To finalize I would like to mention a new name, a new member in the corps de Ballet, which you will surely see a lot and hear a lot of in the near future: Leonardo Basilio. I had the pleasure to meet Leonardo, casually, last Saturday in a premiére at the Volksoper. Not knowing what to expect from him on stage, I was quite curious about this Portuguese young Gentleman from Macao. And he surprised me: he has not only a beautiful, clean technique but also a strong presence on stage. I was amazed… such a young dancer but like his colleague, enchanting Rafaella Sant’Anna , wisely said: “when you got it, you got it”. Bravo, Leonardo!


Para finalizar gostaria de mencionar um novo nome, um novo membro do corpo de baile, do qual voces muito ouvirão falar no próximo futuro: Leonardo Basilio. Tive o prazer de conhecer Leonardo, casualmente, no último sábado numa premiére na Volksoper. Não sabendo o que esperar dele no palco, estava muito curioso para ver este jovem gentleman portugues de Macau. E ele me surpreendeu: ele não só tem uma bonita, limpa técnica como também uma forte presença cenica. Fiquei impressionado… um bailarino tão jovem mas como uma colega sua, a encantadora Rafaella Sant’Anna, sábiamente disse: “quem tem, tem”. Bravo Leonardo!


Something very rare happened to me in that evening of October 22nd: I leaned back on my seat, forgot all I know about ballet, let the story be told to my heart, became a tiny part of the huge audience and at the very end of the tragic story, I cried.

Yes, emotion took over.

There was no intellect, nor analysis, nor subjective interpretations: just emotion.
I am thankful for that.
Thanks to the whole ensemble!

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Algo muito raro aconteceu comigo nessa noite do dia 22 de outubro: eu me recostei na minha cadeira, esqueci tudo o que sei sobre ballet, deixei a estória ser contada para o meu coração, virei uma pequenina parte do público e no finalzinho da trágica estória, chorei.

Sim, emoção me dominou.

Não havia intelecto, nem analises, nem interpretações subjetivas : só emoção.
Estou gradecido por isto.
Obrigado à toda companhia!

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