Uma curta mensagem : como sei que hoje Dona Odette, mãe de minha querida amiga Cristina Martinelli, virá aqui às “Tertúlias” pela primeira vez de visita, quero dar-lhe as Bem-Vindas, dedicar-lhe esta postagem (principalmente o segundo vídeo do youtube que está no final dela) e aproveitar para desejar-lhe um lindo Dia das Mães!
Com muito carinho
Ricardo
Zéquinha de Abreu (1880-1939) foi o nome como José Gomes de Abreu ficou conhecido. Aos dez anos de idade ele já tocava requinta, flauta e clarineta e ensaiva suas primeiras composições. Contemporâneo de Ernesto Nazareth, compos um grande repertório de choros (apesar de ter composto muitas valsas singelas, bem menos sofisticadas que as de Nazareth). Ele é o autor do choro “Tico-Tico no Fubá” tão associado com a cultura brasileira e que de certa forma virou um hino “nao oficial” do Brasil no mundo. Não poderemos jamais comparar as composições de Zéquinha com o “Chopinianismo Nazarehno”, porém não poderemos jamais deixar de dizer que ele foi um dos primeiros, senão o primeiro, a trazer um total e intenso conceito de contemporaneidade à música brasileira. É só, por exemplo, pensar no "choro" “Pintinhos no Terreiro”.
Infelizmente durante minhas curtas pesquisas sobre Zequinha deparei-me com um fato que me deixou de certa forma decepcionado. A similaridade de “Tico-Tico” com uma melodia do primeiro movimento do Concerto para Piano Op. 15 de Beethoven é bem mais do que uma mera coincidência... Dei-me ao trabalho de ouvir e reouvir certas passagens do concerto acima mencionado. E... bem... Temos que aceitar que, como organisador e regente de várias orquestras e bandas, Zéquinha teve bastante acesso a um repertório clássico que, de certa forma, abriu-lhe outros “horizontes”.
“Tico-Tico” transformou-se num clássico da música internacional. Na verdade, mundialmente, uma das músicas mais gravadas de todos os tempos; executada em todos os ritmos, gingas, versões e “sotaques”. Incrível certas imagens que esta música me traz: Vejo Tonia Carrero no antigo filme da Vera Cruz “Tico-Tico no Fubá” entrando com o circo (ela era uma “artista”) na cidadezinha de Zéquinha, sentadinha num burrico! Uma linda imagem, inesquecível. Tão brasileira... tao pura...
Não assisti todas as versões de “Tico-Tico” em Hollywood (na realidade filmadas depois da morte de Zéquinha) mas lembro-me intensamente da incrível organista Ethel Smith, no primeiro musical aquático de Esther Williams (“Bathing Beauty”/”A escola de Sereias”, MGM 1944)
e também de Carmen Miranda, no chatíssimo “Copacabana” (com Groucho Marx) de 1947 (vejam minha postagem de 30.05.2008).
Nota da redação: Todos que não gostarem de Miss Miranda pulem o próximo vídeo mas não saiam da postagem. Uma linda surpresa ainda virá no final!">
E, como disse antes, “Tico-Tico” transformou-se num “carro-chefe”, num quase “hino” brasileiro no exterior. Tocado por em centenas de versões: de Carmen Miranda à Ethel Smith, de Ray Coniff a Mantovani... Foi “acubanado” por Desi Arnaz e sua orquestra, transformou-se num Mambo por Perez Prado, a orquestra Tabajara tocou-o como Frevo, virou “swing” com Tommy Dorsey e até uma peça flamenca com Paco de Lucia! Liberace o floriou e Henry Mancini deu-lhe um touch quase Novayorkino... Esqueçam porém aquela cena terrível de “Radio Days” (Dias do Rádio) de Woody Allen.
Nota da redação Nr.2:
Uma pseudo-atrizinha brasileira que chamava-se Denise Dummond - tentava fazer teatrinho infantil quando eu saí do Brasil em 81 - que não cantava nem atuava e na realidade não sabia nem sorrir ou até ficar em pé, transforma “Tico-Tico” numa coisa horrenda e de péssimo gosto... Woody, o que aconteceu com este “casting”? Mas que Faux-pas...
Uma de suas mais impressionantes versões foi tocada durante o concerto de Ano-Novo de 1999/2000 quando, em Londres, os “Berliner Philarmoniker” tocaram-o soberbamente sob a regência de Barenboim, um dos meus grandes Ídolos (sim, com I maiúsculo!). Um momento incrível que queria que voces vissem/ ouvissem. A partir do terceiro minuto a “coisa esquenta” e emociona demais. Divirtam-se! Plágio ou nao...
(P.S. Zéquinha deve ter ficado muito feliz, onde quer que esteja, ao ouvir seu “Tico-Tico” com um arranjo maravilhoso e tão prodigiosamente tocado!)
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