quinta-feira, 23 de abril de 2009

REMEMBERING: Gwen Verdon



Bom, poder escrever hoje sobre um talento tao grande...

Gwyneth Evelyn Verdon ou melhor, Gwen Verdon , filha de imigrantes inglêses, nasceu na Califórnia em 1925. Seu pai era um eletricista da MGM e sua mãe tinha dançado no Vaudeville com Denishawn (o legendário grupo de “Miss” Ruth St. Dennis e Ted Shawn).
Durante a infância ela sofreu muito pelas consequências de um fortíssimo raquitismo que deixou suas pernas completamente deformadas. Tendo que passar toda sua infância usando botas ortopédicas e muletas, sua mãe inscreveu-a para tomar aulas de dança – o que realmente ajudou-a em sua recuperação. Quem diria que aquela menina que puxava a perna e que era, maldosamente, chamada de “Gimpy” por seus coleguinhas de escola, transformaria-se numa das mais famosas bailarinas da Broadway?

Ela apaixonou-se pelo mundo da dança e comecou a aprender, além do Ballet, Jazz, Sapateado, Dança de Salão, Flameco, Danças Balinêsas e até Malabarismo!!!! Aos 11 anos estreiou como bailarina num filme dirigido por Josef von Sternberg (“The Blue Angel”) no qual tinha seu próprio solo. Seu nome não foi mencionado nos créditos do filme.
Em 1942 ela chocou seus pais. Abandonou de um dia para o outro sua carreira e fugiu, aos 17 anos, para casar-se. Ela voltou a trabalhar em 1945 aparecendo no filme “A Blonde from Brooklyn”. Depois do seu divórcio ela deixou seu filho (que nascera em 1943) para ser criado por seus pais. Foi então que ela conseguiu um emprêgo como assistente de coreografia para o notório Jack Cole (vide minha postagem de 18.02.2009 sobre Carol Haney, que também foi assistente de Cole). Nesta época ela apareceu como bailarina em muitos filmes (devemos mencionar aqui que todas suas aparições no cinema até 1953, como specialty dancer, foram “uncredited”, ou seja, seu nome nunca apareceu !). Uma de suas mais brilhantes aparições foi em “A viúva Alegre” (The Merry Widow, MGM 1952) num incrível, rápido, dinâmico, alucinante Can-Can. Esta dança ainda lhe traria muita sorte...

Durante este período com Jack Cole ela deu muitas aulas para atores e atrizes, sendo até responsável pelo primeiro grande sucesso de Marilyn Monroe em “Gentlemen prefer Blondes” (20th Century Fox, 1953) já que ela “criou” a forma de Marilyn movimentar-se (que era a forma instintiva de Gwen movimentar-se! Peculiaridade esta contada por muitos de seus amigos... Gwen era realmente a verdadeira “Marilyn”. Marilyn “estudou” e copiou Gwen ). Ela trabalhou no Show “Alive and Kicking” de Jack Cole. Um fracasso. Ela dirigiu então suas atenções à Broadway onde trabalhou como uma “gypsy”, trocando de “chorus line” para “chorus line”. Entao a grande chance: Seu primeiro grande sucesso foi no musical de Cole Porter “Can-Can” (1953) no qual ela conseguiu o segundo papel principal: “Mademoiselle Pistache” ou “Môme Pistache” (O papel principal era interpretado por uma cantora francêsa chamada Lilo). A coreografia foi feita pelo legendário Michael Kidd. Já nas pré-estréias fora de Nova Iorque ficou óbvio para todos que o número de dança “Jardim do Eden” realmente era um “Show-stopper” e “roubava o show”.

Lilo ficou preocupadíssima e exigiu que o papel de Gwen fosse todo cortado – só suas danças permaneceram no Show (também um “Apache” e o “Can-Can” do título). Na estréia em N.Y. a platéia ficou tão enlouquecida depois do “Jardim de Eden”, gritando seu nome, que Gwen, que já tinha ido para seu guarda-roupa, foi levada de volta ao palco – de roupão!!!! – para agradecer.

Vernon não só recebeu a partir deste momento um melhor salário como um Tony Award pela sua interpretação. Anyways... Who the hell is Lilo? Na versão cinematográfica de 1960 os papéis de Gwen e Lilo foram “unidos” e Shirley MacLaine deu vida à “Simone Pistache”.

A partir d’aí, até sua morte, tornou-se THE “Broadway’s Darling”. Seu próximo projeto deu-lhe ainda mais fama e um marido. “Damm Yankees” (1955) . Bob Fosse dirigiu e coreografou o Show. Este marcou para sempre a imagem de Gwen: “Lola”, a sensual “assistente” do Diabo.

No início da temporada o Show, apesar das boníssimas e acaloradas críticas, não estava tendo bilheteria. Quando o poster, que mostrava Gwen vestida de jogador de baseball, foi trocado por um que mostrava-a em “dessous” no final do primeiro ato (quando faz uma espécie de strip-tease no vestiário, cantando “Whatever Lola wants, Lola gets”), a reação do público foi enorme e o Show ficou em cartaz por 1019 apresentações.


Ela estrelou o filme de 1958 com Tab Hunter e, adivinhem que foto foi usada no poster do filme... e ainda é usada até hoje...

Com Fosse ela trabalhou em “New Girl in Town” e em “Redhead” (um musical de mistério...).

A menina raquítica de Culver City que fora ridicularizada por seus defeitos físiscos já tinha feito um longo caminho e nao é todo bailarino que aparece em capas do Time magazine, do Life magazine...



Quando casou-se com Bob e engravidou, deixou o teatro para cuidar da filhinha Nicole, nascida em 1963. Cuidado este que aos 18 anos de idade, em 1943, não teve com seu primeiro filho. Só voltou à Broadway em 1966 para interpretar a cativante prostituta “Charity Hope Valentine” de “Sweet Charity” – uma obra-prima do teatro musical, baseada no filme “As noites de Cabíria” de Fellini e dirigida e coreografada por Bob Fosse.


Foi mais ou menos nesta época que ela separou-se de Bob Fosse por suas infidelidades (apesar de terem-se mantido casados e amigos até a morte dêle em 1987). Para ter uma idéia do porque desta separação só é necessário dar uma olhada no incrível (e autobiográfico) “All that Jazz” (1979) de Fosse. “Ela”, no filme, foi interpretada por Leland Palmer... What happend to her? Talentosa...

Em 1975, mais uma vez sob a direção de Fosse, ela interpretou a assassina “Roxie Hart” em "Chicago" ao lado da “Velma Kelly” de Chita Rivera (que em 1953 tinha sido uma “gypsy” na “chorus line” de “Can-Can”: Conchita Del Rivero). Duas grandes personalidades com muita coragem no palco... mulheres “bem mais para lá dos 40” (Gwen na realidade já estava com 50), corajosas nas suas interpretações, propositalmente pouco “vestidas”, mostrando como transitória é a beleza... Vejam minha postagem de 10.04.2008). Mais um grande sucesso – infelizmente seu último na Broadway.



Incansável, talentosa, cheia de energia Gwen fez, notávelmente, muitos filmes, sendo “The Cotton Club” (1984), “Cocoon” (1985) – uma notável aparição ao lado de Don Ameche, “Cocoon: The return” (1988) e “Alice” (de Woody Allen, 1990) alguns de seus últimos. Além disto trabalhou muito ao lado de Fosse em suas coreografias e também no cinema: ela não só foi o “Coach” de Shirley MacLaine quando esta recriou o papel de “Charity” (Este foi o segundo papel que Gwen criou originalmente na Broadway e que Shirley interpretou no cinema em 1969) como também trabalhou muito próxima de Bob nas coreografias (e no roteiro) de “All that Jazz”.

Em 1987 Gwen acompanhava Bob Fosse para uma Revival de “Sweet Charity” com Donna McKechnie em Washington quando ele teve um ataque cardíaco fatal e morreu nos seus braços.

Gwen transformou-se numa grande amiga de Ann Reinking, que viveu muitos anos com Fosse. Anos depois Ann dedicaria à memória de Gwen sua montagem do incrível musical “Fosse”. Nenhuma bailarina foi tão íntimamente associada com o estilo de dança de Fosse. Talvez por Gwen ter estado lá, no início da carreira coreográfica de Fosse, ajudando, compartilhando, dando idéias. Ela transformou-se no perfeito instrumento para ele. Uma perfeita encarnacao de sua danca e de eu famoso estilo. Em outra dimensão acho que só Ann Reinking chegou perto da importância que Gwen teve no trabalho de Fosse. Um ano antes de sua morte, em 1999 Gwen, Nicole Fosse e Ann Reinking foram juntas à festa da premiére de “Fosse”.

Na realidade Gwen fez pouquíssimos Shows na Broadway (Ao todo sete de 1953 a 1975, ganhando um total de quatro “Tonys”, tendo sido nominada por seis musicais! Seis nominacoes por sete Shows!), mesmo assim transformou-se numa lenda...

Em 2000 Gwen morreu calmamente, dormindo. Também um ataque do coração levou-a aos 75 anos de idade. Nada mais daquela linda risada, daquela voz rouca de menina... No dia 18 de outubro de 2000 as luzes na Broadway ficaram às escuras: homenageando uma de suas mais luminosas estrêlas.

Chita Rivera disse no seu funeral: “She was even a better person than a dancer!”

Aqui dois números de "Damm Yankees": "A little brains, a little talent" e o inesquecível "Whatever Lola wants, Lola gets" - principalmente o segundo é puro "Fosse" dos anos 50!
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