A quarta postagem desta série segue distintos nomes do teatro e cinema como
Mary Boland (agôsto de 2008),
Gladys Cooper (outubro de 2008) e
Jean Hagen (november de 2008) é dedicada a outro rosto que vimos e revimos muitas vêzes ao passar dos anos: a deliciosa
Elsa LanchesterLanchester, nasceu na Inglaterra em 1902, filha de um casal que não acreditava na instituição chamada casamento (Lanchester:
“My parents were always a bit arty. They supported pacifism, vegetarianism, socialism, atheism, and all that”). Aos 10 anos de idade ela foi enviada para Paris para a “
Isadora Duncan School of Dance”, pessoa aliás de quem ela nada gostou, mas voltou em 1914 para Londres por causa da I Guerra Mundial. Ela gostava da dança mas também do teatro e debutou num “Music-Hall” como bailarina egípcia em 1920. No West-End ela debutou em 1922 e junta com seu partner, Harold Scott, abriu um “Night Club” em 1924. Nêste eles apresentavam peças de um só ato de
Tchekov e
Pirandello, além de cantar canções de cabaré. Entre os frequentadores estavam pessoas como
Aldous Huxley, o engracadíssimo e espirituoso
H.G.Wells (que escreveria três roteiros para filmes que ela faria em 1928),
Evelyn Waugh (o grande autor de “Brideshead revisited”, responsável pelo primeiro filme – amador – de Lanchester em 1927) e
James Whale, que trabalhava nos palcos londrinos e que brevemente iria dirigir peças na Broadway e alguns clássicos de terror (Mais sobrê sua vida em
“Gods and Monsters”, um bom filme).
Elsa não era bonita, num estilo convencional mas mesmo assim, jovem, ela era considerada “pretty”. Posou nua para muitos artistas, deu muitas aulas de dança para crianças, fundou um teatro infantil em Soho e têve a grande publicidade de ter um membro da família real deixar indignado uma apresentação sua, no “Midnight Follies”, enquanto cantava “Please Sell no more Drinks to my Father”. Como o mundo mudou... nao é verdade?
Em 1927 Lanchester começou uma relação profissional com um ator, que nos próximos anos e décadas transformaria-se num “monstro sagrado”: Charles Laughton. Eles casaram-se em 1929 e dois anos depois, chegando em casa encontrou-o no sofá da sala "divertindo-se" com um jovem rapaz, tomando assim pleno conhecimento da sua homossexualidade. Quando lhe indagaram o que fez na época, como reagiu, ela simplesmente respondeu: “Claro que eu vendi o sofá”. Êles permaneceram casados até a morte de Laughton em 1962.Eles tiveramcarreiras separadas apesar de terem muitas vezes trabalhado juntos como por exemplo no suntuoso “The private Life of Henry VIII” ( Korda, 1933) no qual uma novata chamada Merle Oberon interpretou Ann Boleyn e roubou o filme, “Rembrandt” (Korda, 1936, uma das raras apariçôes cinematográficas de Gertrude Lawrence), “Beachcomber” (1938 , foto abaixo) e “Testemunha de acusação” (Witness for prosecution, 1957, Billy Wilder), êle, inesquecível, como o advogado de defesa, ela como sua engraçadíssima enfermeira.
No início dos anos 30 Elsa ja tinha feito West-End, Broadway e Cinema na Inglaterra.Hollywood entraria brevemente em sua vida. Ela fez pouquíssimos filmes e muito decepcionada pensava num retôrno à Inglaterra. Então James Whale, seu velho amigo de Londres, já muito famoso no "Hollywood Firmament" (Thank you, Lina Lamont, peguei esta emprestada... )depois do seu “Frankenstein” (1931) e de “Invisible Man” (1933), ofereceu-lhe o papel principal de “The Bride of Frankenstein”, que se tornaria o filme pelo qual seria mais lembrada... Whale queria Elsa para dois papéis: Mary Shelley e a “Noiva”. Ela foi a atriz principal do filme mas não recebeu “Top-billing”
As filmagens foram uma tortura para Elsa e nada como uma “lua-de-mel” para esta “noiva”. Durante dez dias ela usou maquiagem pesadíssima, seu corpo completamente envolvido por “quilômetros” de bandagens, seu “penteado” sustentado por uma armação de ferro, seus olhos (reparem como estão “abertos” e separados) estavam lateralmente prêsos por fitas adesivas debaixo de sua peruca e acentuam seu olhar de “horror”. Tudo uma perfeita agonia e uma tortura para Elsa. Mas o resultado é fenomenal, nao acham? Encontrei a pouco tempo estas fotos que me tocaram muito: sente-se com qual cuidado e minúcia ela aplicava os últimos retoques ao seu personagem. Gosto muito destas fotos...
Achei fascinante descobrir que os gritos da “Noiva” foram baseados nos cisnes do Regent’s Park e que foram inicialmente gravados e depois colocados ao inverso, efeito este que os transformou em gritos muito mais fantasmagóricos. Elsa: “The most memorable thing I did on that film, I believe, was my screaming. In almost all my films since I’ve been called upon to scream. I don’t know if it is by chance but I would like to think that I am not hired for that talent alone”. “The Bride of Frankenstein”, considerado por alguns como o melhor filme de horror de tôdos os tempos, possui esta interpretação icônica de Elsa.
Muitas vêzes imitada mas NUNCA ridicularizada... Nem mesmo por
Madeline Khan em
“Young Frankenstein” (“O jovem Frankentein”, Mel Brooks)
Lanchester trabalhou constante- e excelentemente em vários excelentes filmes, sendo até nominada para um Oscar em 1949 por “Come to the Stable”. Entre seus filmes “Androcles and the Lion” (1952), “ Les Miserables” (1952), “The Razor’s Edge” (1946 e baseado no livro homonimo de Sumerset Maughan!!!!!! Uma maravilha esquecida... ), “David Copperfield” 1935), “ Naughty Marietta” (1935), “Tales of Manhattan” (1942), “The glass slipper” (MGM 1955 como a madrasta de Cinderella/Leslie Caron), no misterioso e de boníssimo gosto “Bell, book and candle” (1958, como a tia “bruxa” da também bruxa Kim Nowak, a irmã de Jack Lemmon e apaixonada de James Stewart),
no magnífico
“Witness for prosecution” (1957) ao lado de seu marido
Charles Laughton e
Tyrone Power e
Marlene Dietrich,
“Mary Poppins” (1964) no minúsculo papel de Katie Nana
e no hilário
“Murder by death” (1976, seu penúltimo filme) como uma “Miss Marple” ao lado de um grande cast de “detetives” que incluía
David Niven (com quem tinha trabalhado em
“The Bishop’s wife” de 1947),
Maggie Smith, Nancy Walker, Estelle Winwood (a grande "coadjuante" e deliciosa atriz com quem também já tinha trabalhado em
“The glass slipper” e que brevemente terá aqui uma postagem),
Alec Guiness,
Peter Falk,
Peter Sellers,
Eileen Brennan e vários outros...
Seu último filme, entre quase 70 títulos, foi
“Die Laughing” (1980).
Elsa uma vez, quase no final de sua vida reflexionou sobre sua carreira:
“...longos papéis em filmes terríveis, curtos papéis em filmes maravilhosos... “
mas para mim sua melhor exclamação foi:
“ Para mim o estrelato só significa trabalho duro, aspirinas e purgantes... “
Elsa morreu de pneumonia em finais de 1986 com 84 anos.