Nada para mim tem um sabor tão „decisivo“ como um ano que começa… nele coloco minhas esperanças, desejos, vontades, fantasias, fé… faço „limpeza na casa“ (falando do plano emocional), tento reavaliar os bons e maus momentos do Ano que passou, como que fazendo o “balanço do estoque das prateleiras da minha alma"… checando qual mercadoria ainda está "boa" para levar para o próximo ano... então tomo decisões sobre tudo que intenciono fazer no próximo ano: seja mais exercício, comer mais frutas, andar mais de bicicleta ou ser mais atencioso com certas coisas, ter mais paciencia (tarefa a´rdua para mim... ), tomar mais vitaminas… inclusive prometo (mais uma vez) que a partir “deste” ano vou ser mais organizado com minhas papeladas (ihhh….. ) e por aí vai a lista…
Não sou um grande “fã” do Reveillón… Não gosto de sair de casa nesta Noite e “fico triste” quando tenho que aceitar um convite (um “daqueles” que a gente não tem como “recusar”).
Adoro “Festa” mas não com aquela coisa de fogos, música alta, muita bebida, alegria “forçada” à meia-Noite (esta alegria “forçada” é o pior dos elementos desta Noite! Já passei por cada uma… Certa vez, o Reveillón estava chatíssimo, todas as pessoas estavam fatigadas esperando a meia-noite… e então, como que guiados por um força sobrenatural, 10 minutos antes da passagem do Ano transformaram-se num robozinhos: rindo as gargalhadas, saltitando, cantando, acendendo fogos, gritando… Eu fiquei “pasmo”! Como se diz no Brasil - ou se dizia? - "Esta não é a minha praia!").
Eu prefiro ficar em casa e desfutar tranquilamente, em paz ao lado de pessoas queridas a passagem do ano...
Este ano estou tranquilo… ficaremos em casa, comeremos bem mas frugalmente (chega de comer depois do longo período de Natal!) e, provávelmente, logo depois de Meia-Noite nos recolheremos… O motivo é pura- e simplesmente o Concerto de Ano-Novo da Filarmonica de Viena no “Musikverein” na manhã do dia primeiro ♪ ♫ ♪
Ninguém me tira de casa há muitos anos no dia primeiro de janeiro. Amo este concerto!
Enquanto tomamos um café-da-manhã gostoso com panquequinhas, geléias, ovos etc. (mais comida!) assistimos a primeira parte do Concerto… com o passar das horas vou trazendo aos poucos tudo o que amo comer no primeiro dia do Ano (viram? Ainda mais comida… Ave!) e faço um brunch “pic-nic” delicioso: Salmão, pastinhas, caviar, suco de tomate com aipo, arenques, camarões…
e Champagne… Este Ano temos uma boas garrafas de Moët & Chandon que estão esperando para serem abertas no dia 31 e no dia primeiro…
O Concerto da Filarmonica, como já contei algumas vezes aqui, é um “Must” para se começar o Ano bem…♫ ♪ ♫
Um “Must” para quem entende a fundo (ou quer entender) a alma austríaca/ vienense…
Tenho no meu círculo de amigos realmente pouquíssimos que não o assistem!
É quase uma "heresia" deixar de assistir um espetáculo tão lindo assim...
Uma tradição espetacular que é televisionada para 73 países e tem mais de 45 milhões de pessoas de audiencia… Infelizmente a grande “Grobis” cancelou seu contrato há muito (Me lembro de, ainda criança, te-lo assistido muitas vezes): Quem acompanha as “Tertúlias” há tempo deve estar pensando: “Já li isso antes”.
É verdade.
Mas quem sabe… Não se dizia “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”? Pois é… Eu acredito que se fosse televisionado também no Brasil teria muito público...
Este Ano o magnífico Maestro é o russo Mariss Janson, que muito admiro… e pela primeira vez na história deste tradicional evento em Viena ouviremos duas peças de Tchaikowsky…
O Ballet da Ópera (Wiener Staatsballet) está sempre belamente representado e, além de outras peças, dança todo Ano „An der schönen blauen Donau“ (O Danúbio azul) de Johann Strauss.
No mais são sempre apresentados Ballets com composições típicamente austríacas em locações ainda mais típicamente austríacas – como o Schloss Laudon (que, incrívelmente, ainda é uma propriedade privada!) em 2011.
Não esquecam que o fato de ser televisionadao em tantos países faz do Concerto de Ano-Novo um evento importantíssimo em termos de marketing para o turismo na Austria).
Este Ano (enquanto escrevo esta „Tertúlia“ ainda estamos em 2011) tivemos um número musicalmente interessante (O ballet em si é sempre aquela coisa bem “Opereta”, bem “brilhante”, bem vienense, bem tradicional… Nada de extremamente especial): “Mein Lebenslauf ist Lieb und Lust” (O meu viver é amor e alegria/prazer) Valsa Op. 263 de Josef Strauss (Sim, Josef… Johann – o „rei“ da Valsa era seu irmão).
Nele aparece como solista um dos meus bailarinos prediletos da Ópera (mais sobre ele numa próxima „Tertúlia“), o moldavo Mihail Sosnovschi (ou Mischa Sosnovski, como ele mesmo se chama no Facebook).
Um grande talento, uma grande energia que enriquece nossos palcos!
Voces logo o reconhecerão como o solista que está lendo, estudando um livro… com uma longa, solta camisa branca! Um lindo bailarino - que aqui é mais um "support" à bailarina com quem baila do que um solista... mas ele "pode" muito mais do que isso (apesar de eu ter que dizer que ser um bom "partner" é uma tarefa extremamente difícil... e ele é excelente!).
Mais sobre Mischa, como já escrevi, numa futura "Tertúlia"!
Desfrutem tranquilamente destes momentos… e, queridos, do fundo do coração:
UM FELIZ ANO NOVO PARA TODOS! QUE TODOS NOSSOS SONHOS SE REALIZEM!!!!!
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
O começo do (meu) Ano-Novo em Viena...
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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Julie Andrews... Medley...
Uma postagenzinha curta e leve para o dia 26 de dezembro... aqui feriado...
Gostei imensamente de encontrar por puro acaso este video de Julie... Coisa gostosa na época de Natal… um presente…
Que delícia ouvi-la (e ve-la) em “Wouldn’t it be loverly?” na época em que aparecia na Broadway como Eliza no famoso “My Fair Lady”…
Me impressionou principalmente o fato de ouví-la em “Someone to watch over me”, de Gershwin, música que recantaria anos depois no mal sucedido “Star!” de 1968…
Adoro o seu “fraseado”, que delicado, preciso… e que dicção…
Gostei imensamente de encontrar por puro acaso este video de Julie... Coisa gostosa na época de Natal… um presente…
Que delícia ouvi-la (e ve-la) em “Wouldn’t it be loverly?” na época em que aparecia na Broadway como Eliza no famoso “My Fair Lady”…
Me impressionou principalmente o fato de ouví-la em “Someone to watch over me”, de Gershwin, música que recantaria anos depois no mal sucedido “Star!” de 1968…
Adoro o seu “fraseado”, que delicado, preciso… e que dicção…
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
"O Quebra-Nozes" e meus votos de Feliz Natal a todos...
No dia 25 iremos à Ópera para assistir „A bela adormecida“.
Gostoso, tradicional programa de Natal…
Já me animo só em pensar em Aurora, em Carabosse, no Adágio da Rosa…
Mesmo assim eu teria preferido “O Quebra-Nozes” pelo fato do tema natalino…
Mas, o que fazer, este ano não está na programação de dezembro. Então será com a “Bela” mesmo que vamos nos divertir na Noite do dia 25.
Porém como “The Nutcracker” não saiu dos meus pensamentos, quiz rever há poucos dias algumas cenas da produção de Baryshnikov de 1977.
Já há muito não a assistia e, mais uma vez (como sempre), Gelsey Kirkland encantou-me, fascinou-me, hipnotizou-me com sua brilho único, com sua arte… Nunca encontro as palavras certas para descreve-la.
Talvez seja melhor assim… está tudo aí, dançado para nós… Palavras seriam supérfluas!
Só sei que adoro sua “Clara” ao lado de Baryshnikov!
Sim... é exatamente esta precisa e preciosa harmonia, esta paz, esta delicadeza, este "mimo" às nossas almas que desejo a todos voces e suas famílias nos dias de Festa.
Um feliz Natal a todos!
Gostoso, tradicional programa de Natal…
Já me animo só em pensar em Aurora, em Carabosse, no Adágio da Rosa…
Mesmo assim eu teria preferido “O Quebra-Nozes” pelo fato do tema natalino…
Mas, o que fazer, este ano não está na programação de dezembro. Então será com a “Bela” mesmo que vamos nos divertir na Noite do dia 25.
Porém como “The Nutcracker” não saiu dos meus pensamentos, quiz rever há poucos dias algumas cenas da produção de Baryshnikov de 1977.
Já há muito não a assistia e, mais uma vez (como sempre), Gelsey Kirkland encantou-me, fascinou-me, hipnotizou-me com sua brilho único, com sua arte… Nunca encontro as palavras certas para descreve-la.
Talvez seja melhor assim… está tudo aí, dançado para nós… Palavras seriam supérfluas!
Só sei que adoro sua “Clara” ao lado de Baryshnikov!
Sim... é exatamente esta precisa e preciosa harmonia, esta paz, esta delicadeza, este "mimo" às nossas almas que desejo a todos voces e suas famílias nos dias de Festa.
Um feliz Natal a todos!
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domingo, 18 de dezembro de 2011
Joseph Calleja, THE maltese tenor...
Há umas semanas atrás, no dia 23 de novembro, fui convidado pela representação turística de Malta aqui em Viena para assistir um concerto do (jovem) tenor maltes Joseph Calleja na nossa «Konzerthaus».
Sem saber ao certo o que me realmente me esperava me baseei no fato de que Mr. Calleja tinha feito este ano seu Debút não só na Ópera de Viena mas também em Covent Garden e no Metropolitan.
Uma, por assim dizer, belíssima “carta de recomendação”.
Ele entrou em cena e enquanto cantava suas primeiras notas eu já estava fascinado pela voz. Simplesmente encantado, assim como todo o público da lotada sala de concertos...
QUE VOZ!!!!!!!!!
Uma daquelas vozes que aparecem uma vez no século… Aquela coisa «Caruso», aquela coisa «Lanza» (não estou, por favor, falando de técnica e sim de qualidade de voz! Callas, por exemplo, era maravilhosa e era conhecida como «a grande feia voz». A voz de Calleja é uma coisa linda! Única!).
Uma noite inesquecível. Uma carreira que continuarei a seguir.
Um repertório ainda de um “jovem” tenor: “Traviata”, “Werther” (no emocionante “Porquoi me reveiller”), “Cavalleria Rusticana” (no choroso e piegas “Addio alla Madre”), ou seja nada “complexo” em termos de escalas emocionais...
Ele ainda tem muito para percorrer em sua carreira. Joseph Calleja tem só 33 anos… Uma carreira que agora inicia!
Aqui uma pequena demonstração do que estou querendo dizer… e neste video ele ainda tinha sómente 29 anos... vamos ver se voces entendem/ concordam com o que digo.
Como estávamos convidados para um Cocktail depois do Concerto (ele ofereceu aliás 5 encores – ninguém queria que saísse do placo!) num salão na própria “Konzerthaus”, o departamento de turismo maltes conseguiu que ele viesse nos comprimentar.
Que maravilha de pessoa, tão simples…
Ricardo conseguiu um autógrafo de Mr. Calleja no seu programa…
Sem saber ao certo o que me realmente me esperava me baseei no fato de que Mr. Calleja tinha feito este ano seu Debút não só na Ópera de Viena mas também em Covent Garden e no Metropolitan.
Uma, por assim dizer, belíssima “carta de recomendação”.
Ele entrou em cena e enquanto cantava suas primeiras notas eu já estava fascinado pela voz. Simplesmente encantado, assim como todo o público da lotada sala de concertos...
QUE VOZ!!!!!!!!!
Uma daquelas vozes que aparecem uma vez no século… Aquela coisa «Caruso», aquela coisa «Lanza» (não estou, por favor, falando de técnica e sim de qualidade de voz! Callas, por exemplo, era maravilhosa e era conhecida como «a grande feia voz». A voz de Calleja é uma coisa linda! Única!).
Uma noite inesquecível. Uma carreira que continuarei a seguir.
Um repertório ainda de um “jovem” tenor: “Traviata”, “Werther” (no emocionante “Porquoi me reveiller”), “Cavalleria Rusticana” (no choroso e piegas “Addio alla Madre”), ou seja nada “complexo” em termos de escalas emocionais...
Ele ainda tem muito para percorrer em sua carreira. Joseph Calleja tem só 33 anos… Uma carreira que agora inicia!
Aqui uma pequena demonstração do que estou querendo dizer… e neste video ele ainda tinha sómente 29 anos... vamos ver se voces entendem/ concordam com o que digo.
Como estávamos convidados para um Cocktail depois do Concerto (ele ofereceu aliás 5 encores – ninguém queria que saísse do placo!) num salão na própria “Konzerthaus”, o departamento de turismo maltes conseguiu que ele viesse nos comprimentar.
Que maravilha de pessoa, tão simples…
Ricardo conseguiu um autógrafo de Mr. Calleja no seu programa…
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Le petit Parisien: uma mensagem pré-Natalina...
Foi em maio deste ano em Nova York.
Eu me sentei em alguma Coffe-Shop da Lexington Avenue para tomar um café-da-manhã e – wow – este maravilhoso trabalho fotográfico estava na minha frente… e me encantou, me encheu de alegria!
« Le petit Parisien » (1952) de Willy Ronis…
Notem quanta felicidade esse menininho nos trasmite… E o que lhe dá esta felicidade? Um pão!!!!!
Há algumas semanas atrás a idéia de colocar aqui uma simples foto se concretizou com o fato de ter assistido um curto anúncio na televisão.
Não estou mais seguro se era da Peugeot (ou da Renaut?) mas isto não importa.
O anúncio consistia simplesmente de uma colagem daqueles “filmes familiares” que eram feitos com cameras de 8mm pelas famílias nos anos 60.
Esta, particularmente, nos mostrava uma família da classe média fazendo «camping», churrascos ao ar livre, passeando pelo campo, por zonas rurais, numa praia, pegando chuva num desconforto total… nada mais...
E terminava com a seguinte frase:
NOS TEMPOS EM QUE SE SER FELIZ NÃO CUSTAVA NADA…
Como o Natal se aproxima, achei esta uma mensagem bem apropriada…
Gob bless, queridos!
Eu me sentei em alguma Coffe-Shop da Lexington Avenue para tomar um café-da-manhã e – wow – este maravilhoso trabalho fotográfico estava na minha frente… e me encantou, me encheu de alegria!
« Le petit Parisien » (1952) de Willy Ronis…
Notem quanta felicidade esse menininho nos trasmite… E o que lhe dá esta felicidade? Um pão!!!!!
Há algumas semanas atrás a idéia de colocar aqui uma simples foto se concretizou com o fato de ter assistido um curto anúncio na televisão.
Não estou mais seguro se era da Peugeot (ou da Renaut?) mas isto não importa.
O anúncio consistia simplesmente de uma colagem daqueles “filmes familiares” que eram feitos com cameras de 8mm pelas famílias nos anos 60.
Esta, particularmente, nos mostrava uma família da classe média fazendo «camping», churrascos ao ar livre, passeando pelo campo, por zonas rurais, numa praia, pegando chuva num desconforto total… nada mais...
E terminava com a seguinte frase:
NOS TEMPOS EM QUE SE SER FELIZ NÃO CUSTAVA NADA…
Como o Natal se aproxima, achei esta uma mensagem bem apropriada…
Gob bless, queridos!
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Baryshnikov nu...
Como, já há algum tempo atrás, coloquei aqui um “portrait” de Makarova chamado “Makarova nua”, continuo essa “fórmula” com o grande, queridíssimo Mikhail Baryshnikov, ídolo de todos os bailarinos da minha geração!
Misha (como ele é também carinhosamente chamado por toda esta geração) sempre teve uma grande identificação com o papel de Albrecht, em “Giselle”.
Sua interpretação porém mudou, amadureceu com o passar dos anos… Aquela coisa maravilhosa do contínuo movimento, da incessante mudança na arte…
Aquilo que a mantém viva.
E não “petrificada”.
Em sua juventude seu “Albrecht” pendia mais para um lado sonhador, com uma personalidade mais naïve que não viu as consequencias do que estava fazendo com Giselle...
Já na sua maturidade artística seu “Albrecht” transformou-se num personagem que levava dentro de si uma pequena dose de cinismo, um “playboy” que, com seu oportunismo e egoísmo, (talvez) não viu as consequencias do que estava fazendo (com a pura Giselle). Estou, óbviamente, a falar do primeiro Ato...
Interpretações minhas talvez…
Mas para quem não sabe ao que me refiro ou não conhece o “enredo” de Giselle, recomendo http://en.wikipedia.org/wiki/Giselle, já que ao contrário de muitos Blogs não "conto", não descrevo aqui enredos de filmes, librettos de óperas ou estórias de ballets... gosto só de tertuliar sobre eles...
O filme “Dancers” (ou às vezes chamado “Giselle”) de 1987 não é uma obra-prima em termos cinematográficos, muito pelo contrário: concebido também por Herbert Ross e sua esposa (ex-bailarina do American Ballet Theatre) Nora Kaye, “Dancers” tentou apoiar-se na bem sucedida fórmula de “The turning point” (Momento de Decisão, 1977) também idealizado por Ross e Kaye e não funcionou. Na realidade falhou completamente e foi um grande fracasso.
Senão fosse por toda uma geração de bailarinos “fiéis” aos seus ídolos (à qual me incluo), acho até provável que este filme não teria “dado o salto” para a digitalização (e se transformado em VHS/DVD). Para esta geração de bailarinos, a importancia de ver este “outro” Albrecht, mais amadurecido, de Misha é muito mais do que interessante, é quase essencial.
Nesta época ele já se encontrava num "pulo" em termos de carreira na dança. Bem mais magro, bem mais vulnerável do que nos anos de seu apogeu técnico (num dos quais “The turning point” foi filmado) ele aqui apresenta muita, muita sensibilidade… Ele literalmente se “despe” em frente da camera e nos mostra uma faceta – que é as vezes interpretada como a sua verdadeira – muito interessante para este personagem.
Baryshnikov nu.
Sua Giselle aqui é Alessandra Ferri (os “pés” mais lindos da história do ballet) e os dois criam uma “química” maravilhosa.
Alessandra, que já se retirou, era para mim a única bailarina capaz de bailar “Marguerite” em “La Dame aux Camelias” de John Neumeier, depois da fantástica Marcia Haydée – e qual foi minha surpresa ao saber que ela a interpretaria… Voei para Milão para vê-la ao lado de Roberto Bolle. Sua Marguerite, mulher "mais madura”, ao lado de um jovenzíssimo Armand de Bolle, foi suprema. Pergunto-me se um dia bailarinos como o lindíssimo Bolle terão esta perspicácia, como Misha teve, de “amadurecer” inteligentemente seus papéis… seus personagens… para ve-los, enfocá-los de um outro lado do "prisma".
Ferri sempre deu vida à uma Giselle muito singular… em alguns momentos minha respiração para.
Ela me fascina.
A capacidade, também em termos de estilo (históricamente vistos, Ballet romantico), que Ferri aqui demonstra é uma coisa única, rica... uma bailarina italiana,
uma bailarina dramática ( e "lírica" termo sempre dirigido a um soprano porém esta bailarina o merece), ela teve uma carreira única… em Milão, no American Ballet Theatre, no mundo… e, depois de muitos anos de carreira, despediu-se graciosamente dos palcos. Um acontecimento...
Gosto quando vejo uma carreira maravilhosa tornar-se numa longa carreira, cheia de harmonia e elegancia… jamais esquecerei-a em “Romeu e Julieta” e em “A streetcar named desire” (Um bonde chamado desejo), ballet inspirado na peça de Tenessee Williams, no qual ela deu vida à vulnerabilíssima, triste e doente Blanche Dubois…
Sua despedida dos palcos foi emocionante (voces a encontram fácilmente em “Youtube”) e inolvidável… Um daqueles tributos à grandes artistas que foram sempre amadas – também por seus « colegas » de trabalho… Penso no que minha vó dizia: “Sempre colhemos o que plantamos”. Linda Alessandra Ferri!
Mas voltando a “Dancers”… visto de certa forma como uma “provável” sequencia de “The turning point” (filme que aliás divide com “A cor púrpura” de Steven Spielberg a “honra” de ter sido nominado para 11 Oscars – sem ter ganhado um sequer… ), um dos poucos fatos interessantes deste filme é a continuação que é dada ao personagem de Lesley Browne (bailarina cuja carreira com o ABT foi amaldiçoada pelo sucesso de “Momento de decisão”), que havia se apaixonado pelo de Baryshnikov… aqui, ela é uma mulher amarga, uma das “ex” dele… e ele a coloca como Myrtha – a líder das “Willis”, dos espíritos das “virgens” – e ela dá uma incrível performance, bem forte por sinal, dura, cheia de ódio aos homens… bem “retrato de uma mulher mal-amada” e frustrada… mais um "arquétipo" tratado dentro de Giselle...
Aqui os dois em “Dom Quixote” em “The turning point” dez anos antes de “Dancers”… Penso como teria sido a carreira de Browne se houvesse escapado "The turning point" e o que teria acontecido à Gelsey Kirkland se o tivesse aceitado...
Assistam alguns trechos do filme, do ballet…
Ah, para quem ainda não sabe: Giselle é o meu ballet preferido…
E aqui um trecho de um Blog chamado www.adancersprism.com, com maravilhosas notícias para os amantes do Ballet:
Legendary ballet dancer, Mikhail Baryshnikov, has donated 35 boxes containing his personal archives — video recordings, photos, documents and letters — to the New York Public Library for the Performing Arts. The incredible archives include some rare gems, such as videos where Baryshnikov can be seen practicing in Riga, Latvia (where he was born) as a young boy of 11 or 12 , doing exercises at the Vaganova School and working with such greats as Balanchine, Cunningham, Robbins and Graham. There is so much material that cataloging and digitizing is estimated to take at least three years, at which point it should be searchable by year, performance, dancer or choreographer. Baryshnikov has said that this archive represents his whole life. Considering that the 63-year-old is still working as a dancer, actor and founder of the Baryshnikov Arts Center in Manhattan, we are certain there is much more to come in his life.
Misha (como ele é também carinhosamente chamado por toda esta geração) sempre teve uma grande identificação com o papel de Albrecht, em “Giselle”.
Sua interpretação porém mudou, amadureceu com o passar dos anos… Aquela coisa maravilhosa do contínuo movimento, da incessante mudança na arte…
Aquilo que a mantém viva.
E não “petrificada”.
Em sua juventude seu “Albrecht” pendia mais para um lado sonhador, com uma personalidade mais naïve que não viu as consequencias do que estava fazendo com Giselle...
Já na sua maturidade artística seu “Albrecht” transformou-se num personagem que levava dentro de si uma pequena dose de cinismo, um “playboy” que, com seu oportunismo e egoísmo, (talvez) não viu as consequencias do que estava fazendo (com a pura Giselle). Estou, óbviamente, a falar do primeiro Ato...
Interpretações minhas talvez…
Mas para quem não sabe ao que me refiro ou não conhece o “enredo” de Giselle, recomendo http://en.wikipedia.org/wiki/Giselle, já que ao contrário de muitos Blogs não "conto", não descrevo aqui enredos de filmes, librettos de óperas ou estórias de ballets... gosto só de tertuliar sobre eles...
O filme “Dancers” (ou às vezes chamado “Giselle”) de 1987 não é uma obra-prima em termos cinematográficos, muito pelo contrário: concebido também por Herbert Ross e sua esposa (ex-bailarina do American Ballet Theatre) Nora Kaye, “Dancers” tentou apoiar-se na bem sucedida fórmula de “The turning point” (Momento de Decisão, 1977) também idealizado por Ross e Kaye e não funcionou. Na realidade falhou completamente e foi um grande fracasso.
Senão fosse por toda uma geração de bailarinos “fiéis” aos seus ídolos (à qual me incluo), acho até provável que este filme não teria “dado o salto” para a digitalização (e se transformado em VHS/DVD). Para esta geração de bailarinos, a importancia de ver este “outro” Albrecht, mais amadurecido, de Misha é muito mais do que interessante, é quase essencial.
Nesta época ele já se encontrava num "pulo" em termos de carreira na dança. Bem mais magro, bem mais vulnerável do que nos anos de seu apogeu técnico (num dos quais “The turning point” foi filmado) ele aqui apresenta muita, muita sensibilidade… Ele literalmente se “despe” em frente da camera e nos mostra uma faceta – que é as vezes interpretada como a sua verdadeira – muito interessante para este personagem.
Baryshnikov nu.
Sua Giselle aqui é Alessandra Ferri (os “pés” mais lindos da história do ballet) e os dois criam uma “química” maravilhosa.
Alessandra, que já se retirou, era para mim a única bailarina capaz de bailar “Marguerite” em “La Dame aux Camelias” de John Neumeier, depois da fantástica Marcia Haydée – e qual foi minha surpresa ao saber que ela a interpretaria… Voei para Milão para vê-la ao lado de Roberto Bolle. Sua Marguerite, mulher "mais madura”, ao lado de um jovenzíssimo Armand de Bolle, foi suprema. Pergunto-me se um dia bailarinos como o lindíssimo Bolle terão esta perspicácia, como Misha teve, de “amadurecer” inteligentemente seus papéis… seus personagens… para ve-los, enfocá-los de um outro lado do "prisma".
Ferri sempre deu vida à uma Giselle muito singular… em alguns momentos minha respiração para.
Ela me fascina.
A capacidade, também em termos de estilo (históricamente vistos, Ballet romantico), que Ferri aqui demonstra é uma coisa única, rica... uma bailarina italiana,
uma bailarina dramática ( e "lírica" termo sempre dirigido a um soprano porém esta bailarina o merece), ela teve uma carreira única… em Milão, no American Ballet Theatre, no mundo… e, depois de muitos anos de carreira, despediu-se graciosamente dos palcos. Um acontecimento...
Gosto quando vejo uma carreira maravilhosa tornar-se numa longa carreira, cheia de harmonia e elegancia… jamais esquecerei-a em “Romeu e Julieta” e em “A streetcar named desire” (Um bonde chamado desejo), ballet inspirado na peça de Tenessee Williams, no qual ela deu vida à vulnerabilíssima, triste e doente Blanche Dubois…
Sua despedida dos palcos foi emocionante (voces a encontram fácilmente em “Youtube”) e inolvidável… Um daqueles tributos à grandes artistas que foram sempre amadas – também por seus « colegas » de trabalho… Penso no que minha vó dizia: “Sempre colhemos o que plantamos”. Linda Alessandra Ferri!
Mas voltando a “Dancers”… visto de certa forma como uma “provável” sequencia de “The turning point” (filme que aliás divide com “A cor púrpura” de Steven Spielberg a “honra” de ter sido nominado para 11 Oscars – sem ter ganhado um sequer… ), um dos poucos fatos interessantes deste filme é a continuação que é dada ao personagem de Lesley Browne (bailarina cuja carreira com o ABT foi amaldiçoada pelo sucesso de “Momento de decisão”), que havia se apaixonado pelo de Baryshnikov… aqui, ela é uma mulher amarga, uma das “ex” dele… e ele a coloca como Myrtha – a líder das “Willis”, dos espíritos das “virgens” – e ela dá uma incrível performance, bem forte por sinal, dura, cheia de ódio aos homens… bem “retrato de uma mulher mal-amada” e frustrada… mais um "arquétipo" tratado dentro de Giselle...
Aqui os dois em “Dom Quixote” em “The turning point” dez anos antes de “Dancers”… Penso como teria sido a carreira de Browne se houvesse escapado "The turning point" e o que teria acontecido à Gelsey Kirkland se o tivesse aceitado...
Assistam alguns trechos do filme, do ballet…
Ah, para quem ainda não sabe: Giselle é o meu ballet preferido…
E aqui um trecho de um Blog chamado www.adancersprism.com, com maravilhosas notícias para os amantes do Ballet:
Legendary ballet dancer, Mikhail Baryshnikov, has donated 35 boxes containing his personal archives — video recordings, photos, documents and letters — to the New York Public Library for the Performing Arts. The incredible archives include some rare gems, such as videos where Baryshnikov can be seen practicing in Riga, Latvia (where he was born) as a young boy of 11 or 12 , doing exercises at the Vaganova School and working with such greats as Balanchine, Cunningham, Robbins and Graham. There is so much material that cataloging and digitizing is estimated to take at least three years, at which point it should be searchable by year, performance, dancer or choreographer. Baryshnikov has said that this archive represents his whole life. Considering that the 63-year-old is still working as a dancer, actor and founder of the Baryshnikov Arts Center in Manhattan, we are certain there is much more to come in his life.
sábado, 3 de dezembro de 2011
Um final nada feliz..
Considero „Funny Girl“ uma pequena preciosidade.
Uma peça, um filme único sobre a vida de Fanny Brice que lançou um talento único: Streisand (em 1964, na data que estreiou "Funny Girl" Streisand ainda era uma "menina" de 21 anos de idade... )
(para quem não sabe: eu NÃO sou fã de Streisand… acho que com o passar dos anos ela deixou para trás a “menina Jiddish” para transformar-se numa persona “larger than life”, associadíssima à California e muito chata… mas a Streisand dos primeiros anos, dos primeiros discos, dos primeiros shows de televisão, dos primeiros filmes, era adorável… como em “Funny Girl”, uma biografia bem “criativa” sobre a vida de Fanny Brice, seu primeiro filme).
O final do filme deixa porém, para mim, algo a desejar e quando me refiro a um final nada feliz, não estou referindo-me à triste estória de amor entre Fanny e Nick…
Na versão da Broadway o show terminava com uma repetição de “Don’t rain on my parade”, mostrando que esta mulher era forte, corajosa, cheia de energia…
Na versão para o Cinema esta música foi trocada por um velho sucesso de Fanny Brice: My Man… Para meu gosto, uma típica canção de “vítima”. Uma canção cantada por uma mulher dependente, burra (“Two or three girls has he, that he likes as well as me… But I love him” Ora, que absurdo… Oh, Nick, "vá plantar batatas!"), oprimida… O desempenho de Streisand neste número pode ser singular e espetacular mas esta canção transforma o personagem Fanny, no final do filme, numa mulher completamente oposta ao que tinhamos visto nas duas horas prévias…
Um final nada feliz para o filme…
Acho, porém, que uma outra mudança “da Broadway para Hollywood” foi ainda bem mais trágica. Ela está relacionada também ao final do filme, já que involve a troca da canção anterior a “My Man”. No filme Streisand canta um curto, sincero número chamado “Funny Girl”, que foi composto especialmente para o filme (para justificar o título do filme… como se isto fosse necessário… ). Gosto muito desta canção… mas é um monólogo que ela faz sobre si mesma. Não questionando o amor que sente por “Nick” e sim indagando se ela é realmente uma “funny girl”. Uma direção completamente oposta ao roteiro original faz com que o personagem perca totalmente sua “força”:
A canção que estava neste “Spot” da peça é uma outra preciosidade que ficou, por assim dizer, “perdida”. Não fez parte de nenhum disco de Streisand (com exceção do disco da gravação do elenco original em 1964), do seu repertório…
Só depois de bem mais velha Streisand redescobiu este tesouro que havia perdido, há muito tempo… mas com sua (criada) afetação californiana não deu mais a “rendition” que dava, quando era ainda a “menina Jiddish” do início de sua carreira … Esta música é como uma moldura sobre o caráter de Fanny e seu (descabido) amor por Nick – mas em nenhum ponto ela transforma-se na vítima sofredora e dependente em que se transformou cantando “My Man”.
Sim... um final nada feliz para o filme…
Procurando na Internet não consegui encontrar uma foto sequer deste número – que ela cantava no seu camarim de teatro… por isto, aqui o interior da capa do disco, escaneado hoje… a foto abaixo é a da mencionada cena:
“The Music that makes me dance”.
Como só existem videos mais recentes de Streisand cantando esta música (que nada me agradam), decidi colocar aqui uma outra “funny girl”: Liza Minneli (ao lado de Mikhail Baryshnikov) no empoeirado “Baryshnikov on Broadway”.
Liza sensacional dando vida à esta beleza de melodia (e texto):
(HIS IS THE ONLY) MUSIC THAT MAKES ME DANCE…
...e para quem ainda tiver a paciencia de "ouvir" (inclusive "introduction"), aqui a menina Streisand em 1964 cantando esta maravilha!
Uma peça, um filme único sobre a vida de Fanny Brice que lançou um talento único: Streisand (em 1964, na data que estreiou "Funny Girl" Streisand ainda era uma "menina" de 21 anos de idade... )
(para quem não sabe: eu NÃO sou fã de Streisand… acho que com o passar dos anos ela deixou para trás a “menina Jiddish” para transformar-se numa persona “larger than life”, associadíssima à California e muito chata… mas a Streisand dos primeiros anos, dos primeiros discos, dos primeiros shows de televisão, dos primeiros filmes, era adorável… como em “Funny Girl”, uma biografia bem “criativa” sobre a vida de Fanny Brice, seu primeiro filme).
O final do filme deixa porém, para mim, algo a desejar e quando me refiro a um final nada feliz, não estou referindo-me à triste estória de amor entre Fanny e Nick…
Na versão da Broadway o show terminava com uma repetição de “Don’t rain on my parade”, mostrando que esta mulher era forte, corajosa, cheia de energia…
Na versão para o Cinema esta música foi trocada por um velho sucesso de Fanny Brice: My Man… Para meu gosto, uma típica canção de “vítima”. Uma canção cantada por uma mulher dependente, burra (“Two or three girls has he, that he likes as well as me… But I love him” Ora, que absurdo… Oh, Nick, "vá plantar batatas!"), oprimida… O desempenho de Streisand neste número pode ser singular e espetacular mas esta canção transforma o personagem Fanny, no final do filme, numa mulher completamente oposta ao que tinhamos visto nas duas horas prévias…
Um final nada feliz para o filme…
Acho, porém, que uma outra mudança “da Broadway para Hollywood” foi ainda bem mais trágica. Ela está relacionada também ao final do filme, já que involve a troca da canção anterior a “My Man”. No filme Streisand canta um curto, sincero número chamado “Funny Girl”, que foi composto especialmente para o filme (para justificar o título do filme… como se isto fosse necessário… ). Gosto muito desta canção… mas é um monólogo que ela faz sobre si mesma. Não questionando o amor que sente por “Nick” e sim indagando se ela é realmente uma “funny girl”. Uma direção completamente oposta ao roteiro original faz com que o personagem perca totalmente sua “força”:
A canção que estava neste “Spot” da peça é uma outra preciosidade que ficou, por assim dizer, “perdida”. Não fez parte de nenhum disco de Streisand (com exceção do disco da gravação do elenco original em 1964), do seu repertório…
Só depois de bem mais velha Streisand redescobiu este tesouro que havia perdido, há muito tempo… mas com sua (criada) afetação californiana não deu mais a “rendition” que dava, quando era ainda a “menina Jiddish” do início de sua carreira … Esta música é como uma moldura sobre o caráter de Fanny e seu (descabido) amor por Nick – mas em nenhum ponto ela transforma-se na vítima sofredora e dependente em que se transformou cantando “My Man”.
Sim... um final nada feliz para o filme…
Procurando na Internet não consegui encontrar uma foto sequer deste número – que ela cantava no seu camarim de teatro… por isto, aqui o interior da capa do disco, escaneado hoje… a foto abaixo é a da mencionada cena:
“The Music that makes me dance”.
Como só existem videos mais recentes de Streisand cantando esta música (que nada me agradam), decidi colocar aqui uma outra “funny girl”: Liza Minneli (ao lado de Mikhail Baryshnikov) no empoeirado “Baryshnikov on Broadway”.
Liza sensacional dando vida à esta beleza de melodia (e texto):
(HIS IS THE ONLY) MUSIC THAT MAKES ME DANCE…
...e para quem ainda tiver a paciencia de "ouvir" (inclusive "introduction"), aqui a menina Streisand em 1964 cantando esta maravilha!
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