quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

REMEMBERING: "Michigan" e Judy Garland...

„Easter Parade“ (MGM 1948) é um filme realmente delicioso.


Pertence, dentro da minha memória afetiva, à uma fase da minha vida na qual – já um pouco mais livre dos cursos e cursos nos quais meus pais me colocavam – eu algumas vezes chegava em casa para almoçar e podia da-me ao luxo de assistir a “finada” “Sessão das Duas” da Globo (que invariávelmente, e de acordo à mentalidade do nosso país, começava bem depois do horário marcado…).
Amo recordar-me de filmes durante uma tarde chuvosa do Rio de Janeiro…


Foi nessa época que o meu grande vínculo (paixão, admiração, respeito, amor… ) pelo cinema musical realmente nasceu. Tudo isso acompanhado das “lições de cinema” que meus pais espontaneamente me davam… Tempos bons.


Intermission:
Foi assim que aos poucos vim descobrindo talentos e talentos… Músicas, coreógrafos, autores, diretores, figurinistas, atores e bailarinos não só principais como também muitos deles excelentes coadjuvantes do “stock” de vários estúdios cinematográficos.
A Metro, a 20th Century Fox, a Warner… todas tinham seus atores “da casa” baixo contrato (normalmente de 7 anos) e era uma diversão assistí-los em vários diferentes papéis. Como se os estúdios estivessem fazendo um constante teste com eles, até acertar seu “tipo” com o público.
Um exemplo: Don Ameche oportunista em “In old Chicago” lutando contra Tyrone Power ou cantando e bailando ao lado de Carmen Miranda e com Alice Faye em “That Night in Rio”. Assassino perigoso em “Sleep my love” com Claudette Colbert, comico e irônico ao lado de Gene Tierney em “Heaven can wait”, intrépido em “The three Musketeers”, romantico em “Lillian Russel” outra vez ao lado de Faye e por aí vai a lista… Viva sua versatilidade coroada por um Oscar (aos seus 78 anos de idade) pelo delicioso “Cocoon” – onde sua “namorada” era uma anciã chamada Gwen Verdon… maravilhosa Gwen!
A Fox nunca conseguiu encontrar o “tipo” de Ameche – por isso ele era tâo querido pelo estúdio: o público o aceitava em tudo o que fazia!


Bem, esta quase virou já uma nova "Tertúlia"... Bye-Bye 20th Century Fox!!!Voltemos a "Easter Parade" e à MGM!!!


Foi nessa época que descobri “Easter Parade” com Judy Garland, Fred Astaire, Ann Miller e Peter Lawford. Esse dia deveria ser um feriado na minha vida!


“Parade” tem uma razoável “estorinha”… ou seja um roteiro simples que dá à Judy muitas oportunidades para cantar, a Fred muitas para dancar e à Miller muitas para fazer incessáveis piruetas (estou sendo sarcástico… mas, sinceramente, “Anny” com toda sua simpatia, jamais pertenceu à minha lista de queridos…).
Na realidade o filme é uma sucessão de números musicais de Irving Berlin.


Alguns deles bastante necessários à narrativa da estória ( welll more or less), outros completamente descartáveis em termos dramáticos pois nada contribuem ao roteiro, à linha central da estória… mas se os cortássemos o filme ficaria resumido à uns 60 minutos… sim seis números musicais (de doze) não tem nada que haver com o filme em si. São só números musicais no palco!
Mesmo assim, Graças a Deus, não foram cortados.
12 números maravilhosos. Cada um por si uma pequena obra de arte!
(Só "Mr. Monotony" foi cortado… vide minha postagem de 4 de junho de 2010).


Terminando a primeira “trilogia” de “ceninhas sem importancia” tive que escolher um numerozinho de Judy: o esquecido e ignorado "Michigan" (e assim posso homenagear minha trinca predileta “Gene, Judy & Fred” – claro que ao falar de Gene e Fred estou referindo-me à duas postagens passadas!).


Judy está deliciosa em “Michigan”. Ainda numa (recente) fase “pós-Minnelli” ela mantinha uma certa magreza, o rosto fino e um bom visual (ainda não alterado pelos excessos que depois transformariam sua vida num inferno).
Liberada por Vincente dos “trejeitos de Garland” (desde 1944 quando fizeram “Meet me in St. Louis”) ela tem aqui uma transparencia especial e uma intimidade total com a camera. Judy está até em momentos bonita….


Ainda muito distante do seu ápice (cinematográfico) em termos vocais (que é para mim “A Star is born” de 1954) acho-a aqui encantadora e gosto particularmente de seu olhar distante, sonhador, longínquo quando nos “conta” de Michigan ao lad do trompetista… Reminicencias de “Over the Rainbow”?

De qualquer forma: VIVA a ingenuidade desses tempos!

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