Uma das obras primas de um cinema que hoje em dia pode ser considerado como "angry" (num muito bom sentido, diga-se de passagem), "They shoot horses, don't they?"/ "Mas não se mata cavalo?" (Sidney Pollack, 1969), baseado no novela homonima de 1935 (!!!) de Horace McCoy, significa para mim um grande marco do cinema comercial americano dos anos 60…
Junto à uma boa dezena de filmes com mensagens sociais fortíssimas, «Horse» se distingue pelo fato dos seus personagens serem realmente “engolidos” pela máquina cruel chamada sociedade… pelo fato deles estarem completamente à mercê “deles” e sem nenhuma esperança… O que fazer quando acaba a esperança?
Engoli este livro “avidamente” no final dos anos 70 (em 77 para ser mais preciso) quando uma hippie conhecida, daquelas sempre em “alfa” (com uma certa ajuda “herbária” diga-se de passagem) falou-me muito dele… lembro ainda daquele domingo, na feirinha hippie de Penedo…
Considero este filme a melhor chance que Jane Fonda teve até então para provar que era uma atriz, uma grande por sinal. Logo seguiria “Klute” pelo qual ganharia um Oscar… mas Klute foi um filme mais confortável para a academia: não criticava o sistema, o “american dream” como “Horse” fazia. Fonda deveria ter recebido um Oscar por este desempenho (foi pelo menos nominada), por sua sensível e cínica “Gloria”.
O maravilhoso trabalho fotográfico de Bob Willoughby, que produziu centenas de “stills” para este filme (Willoughby fotogrou muito “outra espécie de filme”, suas fotos de Audrey Hepburn são conhecidíssimas) mostra em detalhe o trabalho fortíssimo, a entrega dos atores…
Lembram da cena inicial? O lindo cavalo correndo por uma campina ensolarada cheia de flores? E o seu acidente, a perna quebrada, o menino (seu dono e amigo) chorando e o pai matando-o com seu rifle?
Lembram da cena final e Gloria (Fonda) irremediávelmente “quebrada”, aniquilada, visivelmente reduzida a farrapos por tudo e todos, violada nos seus mais íntimos sentimentos, dando uma arma para o Cowboy (meu querido Michael Sarrazin – o que aconteceu com ele?) e dizendo: “Help me... They shoot horses, don’t they?”.
Ao lado dos dois, em papéis de muito peso, os sensacionais Susannah York (sou um grande fã de York!), Gig Young (Oscar de ator secundário) e Red Buttons… Um “cast” e um diretor magnífico (que imcompreensívelmente para mim faria um dia os lacrimejantes e piegas “The Way we were” com Streisand e Redford assim como “Out of Africa” com Redford e Streep!) levam a estória de Mc Coy “à ponta da faca”.
Mais sobre “Horse” não quero contar, assistam só esta cena para se dar conta da força do roteiro, da direção, dos atores e de seus desempenhos… Sim, está na hora de rever-mos filmes assim…
"People are the ultimate spectacle" - desde os cristãos no Coliseum até Big Brother...
e o magnífico trailer...
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