terça-feira, 28 de junho de 2011

"Les Girls" (MGM 1957) ou "A pergunta eterna: What's truth?"

O que é a verdade? Todos nós, em alguma altura de nossas vidas, já fizemos esta mesma pergunta…


“Les Girls” (MGM, 1957) é práticamente um musical esquecido. Apesar de ter sido maravilhosamente recebido pela crítica e público em 1957, não conseguiu um “lugar ao sol” na história do musical de Hollywood. Assim como “Silk Stockings” (com Cyd Charisse e Fred Astaire, MGM 1957) o score foi composto por Cole Porter (em “Girls” no seu último trabalho para o Cinema, “Meias de Sêda” tinha sido feito para a Broadway e interpretado por Hildegard Kneff e Don Ameche). Os dois musicais representam o “Canto do Cisne” da MGM no que diria respeito à musicais. Gone were the “good ol’ days”… Muitos seriam ainda feitos em outras companhias (“South Pacific”, “The Music Man” etc.) mas nada pode se comparar aos musicais da era dourada da Metro – mesmo nos anos 50!


“Les Girls” é talvez o mais “filosófico” dos musicais da Metro já que se preocupa com uma pergunta eterna: “O que é a verdade?”.


Dirigido pelo “mestre” George Cukor (“A woman’s director”), que aqui simplesmente “arranca” fantásticas interpretações da “desconhecida” finlandesa Taina Elg (que anos depois arrasaria no musical “Irma la Douce” na Broadway), da “reinventada” Mitzi Gaynor (que até então só tinha feitos papéis “sexy” na Fox e que por causa de “Girls” ganharia no ano seguinte o cobiçado papel de Nellie em “South Pacific”) e da eterna Kay Kendall… Ah… Bonita, engraçada, sofisticada, amorosa, incandescente, hilária, trágica Kay… nos seus tres únicos filmes em Hollywood Kendall conquistaria todos nós… para sempre! Esposa de Rex Harrison, conhecida só na Inglaterra do clássico “Geneviéve” – uma maravilha MUITO recomendável de filme – ela faleceria de leucemia em 1959… Ela tinha um perfil “aristocrático ingles” que era muito difícil de ser fotografado. Ela “agradecia” este perfil a um acidente de carro e a um cirurgião plástico ingles. Ela disse para Dirk Bogarde: “The surgeon had only two noses in his repertoire, "this one and the other one…”. Mais sobre a fabulosa Kay outro dia aqui nas Tertúlias).


Além de várias outras distinções (inclusive ser o último «real» musical de Kelly) «Les Girls» é um dos poucos musicais de Hollywood que mostram um palco como um real palco… e não como um estúdio da Metro que “derepente” cabe num pequeno teatro de variedades. Me refiro à uma única cena: “Ladies in Waiting” – todas as tres versões dela inclusive aquela na qual Kay Kendall está completamente bebada (e tão hilária quanto na cena em que canta “La Habanera”) e nos conquista definitivamente…



A linha do roteiro de “Les Girls” pode parecer muito simples mas o filme tem um encanto. O “plot” é contado de tres pontos de vista diferentes num tribunal…
Um detalhe que amo: em frente ao prédio do Tribunal anda durante todo o filme um homem que leva um cartaz (aqueles que antigamente eram chamados de “Sandwich”) com as seguintes palavras: “What's Truth?”. E como sua presença “incomoda” a todos que acabaram de dar seu depoimentos deixando-os completamente constrangidos, aflitos… Um dos detalhes mais ignorados do filme e, para mim, de suma importancia na linha dramática da estória. Sensacional!


Esta linha dramática, este “contar uma estória” é óbviamente inspirada pelo filme "Rashômon" de Akiro Kurosawa, que tinha sido feito alguns anos antes. George Cukor, que danadinho!
Vamos ser sinceros: quem pode dizer se uma pessoa disse a completa verdade ou só em parte? Ou se imparcialmente só contou parte dela? Todos nós, em alguma altura de nossas vidas, fomos vítimas de uma “verdade mal contada”, não é? Ou foi só por representar outro ponto de vista, outro "enfoque" da "nossa" verdade?

E a questão é deixada em aberto: Quem realmente pode julgar o que é a Verdade? O que é a Verdade?


P.S. Um detalhe simpático. Originalmente as tres “girls” teriam sido Cyd Charisse, Leslie Caron e Carol Haney – teria sido um outro filme mas imaginem só os números de dança... pensem nisso...

Nenhum comentário: