quarta-feira, 29 de abril de 2009

Av. Copacabana, Discos, TV, Produtos, Anúncios etc. e tal: memórias bem pessoais de uma infância em Copacabana nos anos 60.

Comentário da “redação”: Nossa, esta postagem saiu longa! Foram dias e dias do maior “brain-storming” para me lembrar de tantas coisas. E estou certo que esqueci de centenas de outras... Já estou curioso com os “inputs” e com as lembranças de todos!

Tantas coisas que vivemos e tivemos na nossa infancia são referenciais para o resto de nossas vidas. Passei minha unfancia em Copacabana, numa época em que não éramos tao massacrados pelo “consumo” como hoje em dia, mas mesmo assim existiam coisas que “tínhamos” que ter e que faziam parte do “status” que possuíamos ainda na escola primária (A coisa ficou anos depois mais séria e complicada quando na adolescência descobrimos “Marcas” e “Griffes”): Os brinquedos quando não importados ou enviados ou por meus avós da Austria ou por minha tia que morava em Londres, eram da “Estrêla”... Joguinhos (“Memória”), brinquedos mais básicos (“Bambolê”) e até invenções geniais (Quem se lembra do “Fio Mágico” que parecia uma pistola e na frente tinha uma espécie de fio de arame que esquentava e com este podíamos cortar isopor perfeitamente? Como eu gostaria que isto ainda existisse... logo na Europa onde as vezes necessitamos cortar isopor para fins de isolação...).
O mais engraçado era que todos nós tínhamos os mesmos brinquedos. Do velocípede ao Autorama e até aos bonequinhos de plástico de Walt Disney que acompanhavam as garrafinhas de Coca-Cola (ou as de Crush? De Grapette? Nao me lembro mais)


até aquele joguinho de “Varetas”... ou “Monopólio”...

Ser “igual” era um “Must”. Num ponto porém eu não era... Na minha casa a comida sempre foi meio diferente da casa dos meus amigos... Comíamos muito “Gulasch” com bolinhos de pão, assados diferentes, peixes defumados, Liptauer e queijo de primavera com pão preto e pepinos em conserva, muitas Panquecas bem fininhas com geléia ou açúcar e canela acompanhadas de um bom chocolate quente aos domingos e festejávamos a Páscoa em grande estilo comendo fillets de “Haddock” cozidos no leite, o que meus amiguinhos achavam estranho pois eles só ganhavam ovos de Páscoa e assistiam aqueles filmes deprimentes nos quais Jesus só aparecia de costas(!!!!!!).

Mas esta, às vezes maravilhosa, influência européia vinda do meu pai, deixou-me adorando coisas que eu só via nas casas 100% brasileiras. Casas onde na hora do lanche eram servidos biscoitinhos Maria com Manteiga, onde se tomava suco de Cajú “Maguary”, onde se comia pastéizinhos feitos de Massa “Nápoli”. Casas onde o lanche de domingo tinha Guaraná, Q-Suco (ou Ki-Suco?),


e Pão doce com aquele creme amarelo (e perigosíssimo) de qualquer padaria.

Casas nas quais as sobrêmesas eram “Gelatina Royal” (e não pudim de Sêmola com suco de groselha quente ou “Apfelstrudel”, que hoje em dia amo!).

Meu pai orgulhava-se de uma geléia que comíamos em casa (“Homemade”) e dos frios da “Santo Amaro” de São Paulo, na melhor tradição alemã/austríaca... Eu achava o máximo quando era convidado para comer fora de casa e comia geléia (ou era marmelada) da “Cica” (terrível!) e aquelas salsichinhas em lata (estas nem mencionar!). Bem, certas coisas eu realmente não voltaria a comer mas outras, Uhmmm! Na nossa casa nunca entrou nem “Pão frances” nem coentro... Tudo o que hoje “amo”!

Acho que meu pai nunca tocou num livro de Jorge Amado, apesar de amar “Stanislaw Ponte Prêta” (o fabuloso Sérgio Porto... lembram do “Samba do crioulo doido”??? Hoje em dia título políticamente meio incorreto, nao?) e seu “Febeapá”... lembram? O FEstival de BEsteira que Assola o PAís! Sérgio Porto também tinha suas "Certinhas do Lalau" - lista esta na qual apareceram nomes como Carmen Veronica, Iris Bruzzi, Elisabeth Gasper, Neide Aparecida e tantas outras... Mas, tirando a parte “gastronômica” e “literária” éramos na maioria das vezes todos parecidos...

Todos tínhamos uma Televisão (Acho que a nossa era uma “Philco”) com aquele seletor de canais rotativo – e todos nós tínhamos que nos levantar para trocar de canal. No Rio "pegávamos" a TV Excelsior (2) com suas boas novelas... "Os quatro filhos", "A megera domada", "Redencao",

a “TV Globo” (4) ainda com as novelas de Glória Magadan – durante o “reinado” dew Ioná Magalhães - com o seu “Padrão Globo de Qualidade” ainda sendo desenvolvido por Walter Clark) , a “TV Tupi” lá na Urca (6)

onde Neide Aparecida fazia anúncios dos brinquedos nos intervalos do “Teatrinho Trol” (mas a querida da garotada era "Norminha Blum" que sempre era a heroina, a "boazinha"!),

a “TV Continental” (9) e a “TV Rio” (13), que era lá no posto seis de Copacabana.

Existiam muitos progamas de música e cantores como Doris Monteiro, Lenny Everson, Lana Bittencourt, Carlos José, Ivon Cury, entre outros, tinham sua fama...

Vimos o anúncio da Danone, revolucionar a publicidade no Brasil...

E nossos pais fumavam - era chic, nao? - os mesmos cigarros. O meu fumava “Minister”.

Todos colocavam “Um Tigre no seu carro”...

mas, morando em Copacabana, ir ao centro, tomar lanche na “Mesbla” era “longe” assim como a Sorveteria do “Moraes” no Leblon... Só no fim-de semana!

As revistas mais lidas eram “Manchete”, “Fatos e Fotos” e “O Cruzeiro” (Não era aqui que aparecia o “Amigo da Onça” na última página?). Os jornais eram “O Jornal do Brasil”, “O Globo”, ambos como até hoje, mas existiam também “O Correio da Manha”, “A última Hora” e até o sensacionalista “O Dia”. As “nossas” revistinhas eram “O Pato Donald”, “Mickey”, “Tio Patinhas”, “Luluzinha”, “Super Homem”, “Super Boy”, “Ferdinando” – Mônica e Cebolinha ainda não haviam sido criados. Amávamos na TV “Os Fintstones”, “Pepe Legal”, “Zé Colméia” e “Os Jetsons”. Eu comprava minhas revistinhas aos sábados na “Banca” do “Seu Atílio” (Esquina de Av.Copacabana e Rua Dias da Rocha). Todos frenquentávamos os lindos Cinemas de Copacabana. As primeiras televisões a cores (monstros imensos de uma profundidade assustadora) apareceram só nos anos 70. Como meus amiguinhos íam lá para casa ver nossos desenhos-animados...

Comprava-se Pipoca e “picolé” da Kibon nas carrocinhas da esquinas (E aqueles Senhores de branco que vendiam uns espetinhos de uvas carameladas? Nunca provei). Mandava-se amolar as facas com o amolador, que tinha uma máquina barulhentíssima. Na praia uns coitadinhos vendiam “Mate-Limão” debaixo daquele sol sem piedade! Os taxis não tinham ar-condicionado e os chauffeurs usavam gravata!!!!! Os açougues eram um horrores cheios de sangue e vacas inteiras ficavam de cabeça para baixo, penduradas (Admiro-me que não viramos todos vegetarianos!). Na Rua Barata Ribeiro havia uma loja que vendia galinhas e frangos vivos. Todos passavam pelo outro lado da rua – o cheiro era insuportável!

Todas as empregadas tinham um “radinho” (as vezes de pilha) na cozinha. O leite era em garrafa (depois era vendido em sacos, que furavam por qualquer coisa... ). Todo mundo foi ver as obras do “Calçadão” da praia de Copacabana, a Abertura do Corte do Cantagalo e a Rainha Elizabeth com Prince Philipp quando passearam de carro-aberto pela Avenida Atlântica durante sua visita ao Rio... O terrorismo ainda não tinha sida descoberto...

Haviam assaltos e roubos mas não como hoje. O Rio de Janeiro vivia cheio de turistas e a “Garôta de Ipanema” (..é ela menina que vem e que passa!) tinha acabado de “passar”.

Todos ficamos em casa, assustados com as notícias do desabamento do elevado Paulo de Frontin no Rio Comprido ou, numa outra ocasião, com o incêndio do Edifício Andraus em São Paulo. Todos assistimos “Miss Guanabara”, “Miss Brasil” e “Miss Universo”. E a todos os festivais de “Canção” no Maracanãzinho pela televisão... O FIC (Festival internacional da Canção) assim como os concursos de fantasia durante o carnaval! Clóvis Bornay, Evandro Castro Lima e Wilza Carla pareciam ganhar todo ano!

E como faltava água no Rio de Janeiro...

E a Av. Copacabana?

Toda criança que “se prezasse” era apanhada na porta de casa pelo Onibus da escola particular e usava “Japona” de la (azul marinho, por favor!) comprada no Pavilhão (onde fui visitar o “Capitao Furacão”) na Avenida Copacabana, alí, bem ao lado do “Bicho-da-Sêda” que está na esquina da Constante Ramos. Sim, o Pavilhão se encontrava entre uma loja de brinquedos (que depois transformou-se na “Entrelivros”) e o “Bicho-da-Seda”. Atravessando a “Constante” se chegava à “Ducal” (uma loja de Roupa masculina) e passando para o outro lado da “Av.Copacabana” estava a “Polar” (loja de calçados). Fazendo a volta completa, ou seja, cruzando-se a Constante Ramos de novo, chegáva-se ao Supermercado “Gaio Marti” e ao lado deste existia uma casa de lanches (da qual eu adorava a “Pizza”): “A Brasiliana”. Seguindo-se em direção à Rua Santa Clara passava-se pelo “Helio Barki” (boa loja de cama-e-mêsa, com vários andares e com uma filial do lado oposto da Av.Copacabana), pelo “Cinema Copacabana”, pelo “Mercadinho Azul” (onde comprei muitos disquinhos compactos para a minha vitrolinha portátil, inclusive “Satisfaction” dos Rolling Stones que eu cantava aos berros aos 5 – sim, cinco – anos de idade em 1965! A loja, lembrei-me, chama-se “Copadisco”... a “Modern Sound” também nao existia... foi criada no final dos anos 60 e era uma “lojinha” só). Passando pelo Cinema Arte-Palácio, via-se já a linda “Sloper” e as “Lojas Brasileiras” (onde eu comprava moedinhas de chocolate, Balas Soft - que eram duras! - e Drops Dulcora!) do outro lado da Avenida




e aí era só um pulinho para passar pelo Metro Copacabana, a sorveteria “Zero”, o “Cirandinha” (que existe até hoje, graças a Deus, com seus cajuzinhos, olhos-de-sogra, brigadeiros e um “divertissement” de salgadinhos bem engordativos!) e a “Barbosa Freitas”, uma loja de departamentos linda, que lembrava, com suas escadarias, boas vendedoras e bom serviço de atendimento, a um magazin em Paris... Bem, se continuássemos pela Av.Copacabana (uhmmm... o sanwich “angélico” do “Gordon”!) e a atravessásse-mos chegaríamos na “Galeria Menescal” (uma jóia arquitetonica dos anos 40) – e qual era a criança que não ficava encantada com aquela loja de flores que tinha “água escorrendo” pela vitrine?????

Antes de ir para escola se assistia no canal 4 “Unidinitê” com a Tia Fernanda e um pouquinho do National Kid em suas inesquecíveis aventuras e lutas contra os “Inca-Venuzianos” que gritavam “Auíka!” (Sei cantar a canção de abertura até hoje, num “japones” inventado...) .


Os tempos passaram, tudo mudou, a infância se foi e Copacabana transformou-se quase num outro bairro sem seus cinemas, sem sua linda Confeitaria Colombo e boas Lojas.

Mas uma coisa aconteceu durante uma estadia no Rio que foi extremamente interessante. Foi supreendente constatar que na maioria de casas de pessoas, que não se desfizeram dos seus “discos”, ainda são encontrados muitos discos que “Todos” compravam (e que “tinha-se” que ter!).
Comprava-se na época muitos discos com trilhas sonoras de filmes... e esta foi a real “inspiração” para esta postagem que ficou um pouco mais longa do que o previsto já que nao consegui freiar as memórias que estas capas de disco trouxeram...

A Volta ao mundo em 80 dias – que produção mais incrível...

A Noviça Rebelde – quem nao viu na época? Eu assisti não sei quantas vezes!

Glen Miller Story – com James Stewart & June Allyson,

My Fair Lady – nao faltava em nenhum lar. Já a versão com Bibi Ferreira e Paulo Autran não vi muito,

Mary Poppins – que não podia faltar em casas com criança! Este filme foi meu primeiro encontro com Julie Andrews, que transformaria-se numa paixao para a vida toda.

Candelabro ItalianoSuzanne Pleshette (oh, que linda!) e “Aldi lá”,

Born Free com a orquestra de Percy Faith (“Livre”, que também era cantada em portugues por Agnaldo Rayol... )

E para os mais modernos, principalmente para a minha prima:
Chubby Checker – que também foi muito tocado quando meus pais davam festas para dançar o « Twist «,

Rita Pavone, juventude "transviada",

a « terrível » Gigiola Cinquetti,

Tijuana Brass,

Sergio Mendes

e para finalizar esta seleta lista : Trini Lopez

Tudo isto para não mencionar os compactos : Quem se lembra do sucesso «Pata-Pata » da sulafricana, já falecida Miriam Makeba?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

The forgotten IV: A foreign Affair (1948)


Um destes filmes, que apesar de serem “imperdíveis”, foram práticamente esquecidos. Quando se fala na carreira do austríaco Billy Wilder em Hollywood, práticamente não são mencionados seus filmes anteriores a “Sunset Blvd.” (O título original tem “Boulevard” de forma abreviada. No Brasil chamou-se "Crepúsculo dos Deuses", apesar de nao ter nada em comum com a ópera de Wagner!), apesar de ter dirigido obras-primas anteriormente como “The major and the Minor” (1942), “Double Idemnity” (1944) e “The lost Week-End” (1945). “A foreign Affair” é uma destas obras “esquecidas”... Junto com “One, Two, Three” este filme constitue a filmografia “berlinense” de Wilder. Dois dos melhores filmes já feitos sobre Berlin – junto a “Cabaret” de Bob Fosse.

A estória, o “plot” do filme é na realidade bem simples: Um comitê de designados do congresso americano voa, depois da guerra, para Berlin. Entre estes designados encontra-se uma mulher, bem conservadora e chata, chamada Phoebe Frost (Jean Arthur) de Iowa. Ela quer “checar” a moral dos GIs, das tropas. Quando por uma casualidade ela vai a um Nightclub chamado “Lorelei”, assiste quase em estado de choque à cantora Erika von Schlütow (Marlene Dietrich) cantando “Black Market” e vendendo por qualquer preço sua moral, suas convicções... ( ♫ ♪ “For you for your K-ration, compassion and maybe an inkling, a twinkling of real simpathy, I’m selling out, Take all I’ve got: Ambitions, Convictions, the Works... Why not? Enjoy these goods, for boy these goods, are hot!” ♪ ♫).
Um texto bem próximo das atividades dos “Black Markets” da época...

Aliás, neste texto há uma peculiaridade. Referindo-se à primeira edicao de um livro, ela canta: "A simple definition; you take art, I take Spam". Voces sabem ao que ela se refere como Spam? à uma espécia de carne enlatada que os americanos distribuíam pela Europa para todos os famintos aqui, que comiam qualquer coisa. Dizem que era como comida de cachorro ou até pior pois cheirava malíssimo... esta é a razao dos "Spams" que se recebe hoje em dia por e.mail serem chamados assim... lixo!

Erika é a “ex-mulher” de um grande nazista que ainda é procurado... e, descobre-se, que ela é a “ protegida” de “grande peixe” do exército americano – apesar de ter tido um “passado” nazista e ter pertencido oficialmente a este partido (durante o decorrer do filme são descobertos filmes que mostram Erika ao lado de Hitler, flertando com ele, durante uma apresentação de Lohengrin). Quem “protege” Erika? O capitão John Pringle. E foi exatamente para ele que Phoebe trouxe uma torta que sua namorada fez (em Iowa). Não preciso dizer que Phoebe se apaixonará por John, criando o conflito central do filme (Erika não quer abdicar de tudo que Capitao Pringle traz para ela: café, cigarros, chocolates, meias de sêda, pasta de dente... artigos de “luxo” nos anos depois da guerra).

A razão desta postagem é porém outra: a extrema inteligência de Billy Wilder.
Numa época em que ainda existia uma certa animosidade contra os americanos, um certo “rancor” depois das guerra (temos que pensar no povo... sim naqueles que tiveram suas casas, lares e cidades completamente bombardeados!), Billy conseguiu fazer uma obra-prima que agradou a “Gregos e Troianos”. Sim. Nunca vi uma dualidade funcionar tão bem no cinema! Quanto cinismo – muito bem usado por sinal!

Pensemos, por exemplo, na cena de abertura do filme: um pequeno avião, que leva o dito comitê do congresso, para Berlin, “sobrevoa” a cidade. Imagens (reais) de uma Berlin completamente bombardeada e acabada são impressionantes. De valor até documental.


O diálogo se desenvolve e ouvimos como os designados encaram sua “missão” na Alemanha: eles vão a Berlin para levar um pouco de “cultura” e “civilização” a estes “Bárbaros” (isto vendo-se ao fundo uma Berlin arrasada, aniquilada). O público europeu morreu de rir desta ironia – pois entendeu a crítica de Wilder sobre os americanos (uma nação “jovem” vai levar “civilização” à pátria de Goethe? de Schumann?). Já o público americano ficou orgulhosíssimo deste enfoque e levou-o completamente a sério. Como seria de esperar. Dos dois lados do oceano este filme e sua linguagem fizeram sucesso – e este é só um pequeno detalhe. Na realidade Billy Wilder conseguiu escrever dois filmes ao mesmo tempo, com um único roteiro. Dependendo de que lado do oceano voce estivesse, voce o entenderia diferentemente.

Mas talvez tenha sido esta a razão do “esquecimento” deste filme... Nao sei se os americanos prezam a imagem que é feita deles neste filme...

Nos U.S.A. durante a cena na qual Phoebe canta para a tropas o hino de “Iowa” (que foi o último estado a entrar na “União”) o público vibrou, como vibra com as Cheer-Leaders dos jogos de Baseball... O Europeu morreu mais uma vez de rir pois a cena beira o ridículo e o patético (para a mentalidade européia).

Quando Erika diz a Phoebe que está muito decepcionada com o “Look” da mulher americana (para insultá-la), a designada do congresso assume um papel de vítima para o público americano. As vítimas porém para o Europeu foram as “Erikas da vida” (as sem passado nazista, diga-se de passagem) que perderam seus maridos e famílias. As que foram bombardeadas para fora de suas casas e cidades (como Erika mesmo diz ao decorrer do filme: “Do you know what it meant to be a woman in this city when the russians came?” ou “We cannot afford to be generous, we’re very poor!”). Como se ve, tudo uma questão de enfoque... de ponto de vista. Mas agradar a Gregos e Troianos... só Billy Wilder, principalmente nesta temática difícil que ainda estava tao recente, tao “à flor da pele” em 1948... que inteligente Billy era...


Ele teve problemas durante as filmagens com suas atrizes. Ele comentou ironicamente sobre as dificuldades que teve com Jean Arthur e Marlene: “ I have one dame who’s afraid to look at herself in a mirror and another who won’t stop looking!”.

As canções “(Want to buy Some) Illusions?”, “Black Market” (Magnífica!) e “Amidst the ruins of Berlin” foram compostas por Friedrich Hollaender (que tinha composto a música de “The Blue Angel” – “Der Blaue Engel” eternizadas em 1930 por Marlene). Junto a Dietrich, que por sinal está muito bem neste filme – é ele mesmo ao piano, acompanhando-a com o seu inimitável “som”.
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domingo, 26 de abril de 2009

Bye-Bye Bea Arthur ( 13.05.1922 - 25.04.2009)


Ontem o mundo perdeu uma grande personalidade, uma grande artista, cantora e comediante: Beatrice Arthur ( ou para os seus fās, simplesmente “Bea” Arthur!).
No início dos anos 90 Bea transformou-se num nome muito conhecido por causa de sua “Dorothy” na série “Golden Girls”.

Para mim Bea já era já desde a década de 70 uma das “preferidas”: no Musical “Mame” ela deu vida, na Broadway e depois nas telas do cinema, à “Vera Charles” – “atriz!”. Que personagem mais incrível... que genialidade ela deu à sua interpretacao! Na Broadway, aliás, ela contracenou com Angela Lansbury que tornou-se uma amiga para a vida ( …e que, segundo Bea, tinha a boca e as piadas “mais sujas” do planêta).

No filme “Mame”, esta foi interpretada por Lucille Ball… Também uma boa escolha mas “Vera Charles” rouba muito o filme.


Alguém já ouviu seu maravilhoso Show “Between Friends” em CD? Vale muito a pena…

Bea cantou neste musical “The Man is the Moon is a Lady”, uma das cenas mais hilariantes do cinema… Bea, voce agora está lá em cima… na Lua talvez?

Divirtam-se aqui, mais uma vez, com esta magnífica comediante!

Obrigado querida por todas estas risadas e por tanto talento!
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God Bless, Bea! We'll miss you!
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quinta-feira, 23 de abril de 2009

REMEMBERING: Gwen Verdon



Bom, poder escrever hoje sobre um talento tao grande...

Gwyneth Evelyn Verdon ou melhor, Gwen Verdon , filha de imigrantes inglêses, nasceu na Califórnia em 1925. Seu pai era um eletricista da MGM e sua mãe tinha dançado no Vaudeville com Denishawn (o legendário grupo de “Miss” Ruth St. Dennis e Ted Shawn).
Durante a infância ela sofreu muito pelas consequências de um fortíssimo raquitismo que deixou suas pernas completamente deformadas. Tendo que passar toda sua infância usando botas ortopédicas e muletas, sua mãe inscreveu-a para tomar aulas de dança – o que realmente ajudou-a em sua recuperação. Quem diria que aquela menina que puxava a perna e que era, maldosamente, chamada de “Gimpy” por seus coleguinhas de escola, transformaria-se numa das mais famosas bailarinas da Broadway?

Ela apaixonou-se pelo mundo da dança e comecou a aprender, além do Ballet, Jazz, Sapateado, Dança de Salão, Flameco, Danças Balinêsas e até Malabarismo!!!! Aos 11 anos estreiou como bailarina num filme dirigido por Josef von Sternberg (“The Blue Angel”) no qual tinha seu próprio solo. Seu nome não foi mencionado nos créditos do filme.
Em 1942 ela chocou seus pais. Abandonou de um dia para o outro sua carreira e fugiu, aos 17 anos, para casar-se. Ela voltou a trabalhar em 1945 aparecendo no filme “A Blonde from Brooklyn”. Depois do seu divórcio ela deixou seu filho (que nascera em 1943) para ser criado por seus pais. Foi então que ela conseguiu um emprêgo como assistente de coreografia para o notório Jack Cole (vide minha postagem de 18.02.2009 sobre Carol Haney, que também foi assistente de Cole). Nesta época ela apareceu como bailarina em muitos filmes (devemos mencionar aqui que todas suas aparições no cinema até 1953, como specialty dancer, foram “uncredited”, ou seja, seu nome nunca apareceu !). Uma de suas mais brilhantes aparições foi em “A viúva Alegre” (The Merry Widow, MGM 1952) num incrível, rápido, dinâmico, alucinante Can-Can. Esta dança ainda lhe traria muita sorte...

Durante este período com Jack Cole ela deu muitas aulas para atores e atrizes, sendo até responsável pelo primeiro grande sucesso de Marilyn Monroe em “Gentlemen prefer Blondes” (20th Century Fox, 1953) já que ela “criou” a forma de Marilyn movimentar-se (que era a forma instintiva de Gwen movimentar-se! Peculiaridade esta contada por muitos de seus amigos... Gwen era realmente a verdadeira “Marilyn”. Marilyn “estudou” e copiou Gwen ). Ela trabalhou no Show “Alive and Kicking” de Jack Cole. Um fracasso. Ela dirigiu então suas atenções à Broadway onde trabalhou como uma “gypsy”, trocando de “chorus line” para “chorus line”. Entao a grande chance: Seu primeiro grande sucesso foi no musical de Cole Porter “Can-Can” (1953) no qual ela conseguiu o segundo papel principal: “Mademoiselle Pistache” ou “Môme Pistache” (O papel principal era interpretado por uma cantora francêsa chamada Lilo). A coreografia foi feita pelo legendário Michael Kidd. Já nas pré-estréias fora de Nova Iorque ficou óbvio para todos que o número de dança “Jardim do Eden” realmente era um “Show-stopper” e “roubava o show”.

Lilo ficou preocupadíssima e exigiu que o papel de Gwen fosse todo cortado – só suas danças permaneceram no Show (também um “Apache” e o “Can-Can” do título). Na estréia em N.Y. a platéia ficou tão enlouquecida depois do “Jardim de Eden”, gritando seu nome, que Gwen, que já tinha ido para seu guarda-roupa, foi levada de volta ao palco – de roupão!!!! – para agradecer.

Vernon não só recebeu a partir deste momento um melhor salário como um Tony Award pela sua interpretação. Anyways... Who the hell is Lilo? Na versão cinematográfica de 1960 os papéis de Gwen e Lilo foram “unidos” e Shirley MacLaine deu vida à “Simone Pistache”.

A partir d’aí, até sua morte, tornou-se THE “Broadway’s Darling”. Seu próximo projeto deu-lhe ainda mais fama e um marido. “Damm Yankees” (1955) . Bob Fosse dirigiu e coreografou o Show. Este marcou para sempre a imagem de Gwen: “Lola”, a sensual “assistente” do Diabo.

No início da temporada o Show, apesar das boníssimas e acaloradas críticas, não estava tendo bilheteria. Quando o poster, que mostrava Gwen vestida de jogador de baseball, foi trocado por um que mostrava-a em “dessous” no final do primeiro ato (quando faz uma espécie de strip-tease no vestiário, cantando “Whatever Lola wants, Lola gets”), a reação do público foi enorme e o Show ficou em cartaz por 1019 apresentações.


Ela estrelou o filme de 1958 com Tab Hunter e, adivinhem que foto foi usada no poster do filme... e ainda é usada até hoje...

Com Fosse ela trabalhou em “New Girl in Town” e em “Redhead” (um musical de mistério...).

A menina raquítica de Culver City que fora ridicularizada por seus defeitos físiscos já tinha feito um longo caminho e nao é todo bailarino que aparece em capas do Time magazine, do Life magazine...



Quando casou-se com Bob e engravidou, deixou o teatro para cuidar da filhinha Nicole, nascida em 1963. Cuidado este que aos 18 anos de idade, em 1943, não teve com seu primeiro filho. Só voltou à Broadway em 1966 para interpretar a cativante prostituta “Charity Hope Valentine” de “Sweet Charity” – uma obra-prima do teatro musical, baseada no filme “As noites de Cabíria” de Fellini e dirigida e coreografada por Bob Fosse.


Foi mais ou menos nesta época que ela separou-se de Bob Fosse por suas infidelidades (apesar de terem-se mantido casados e amigos até a morte dêle em 1987). Para ter uma idéia do porque desta separação só é necessário dar uma olhada no incrível (e autobiográfico) “All that Jazz” (1979) de Fosse. “Ela”, no filme, foi interpretada por Leland Palmer... What happend to her? Talentosa...

Em 1975, mais uma vez sob a direção de Fosse, ela interpretou a assassina “Roxie Hart” em "Chicago" ao lado da “Velma Kelly” de Chita Rivera (que em 1953 tinha sido uma “gypsy” na “chorus line” de “Can-Can”: Conchita Del Rivero). Duas grandes personalidades com muita coragem no palco... mulheres “bem mais para lá dos 40” (Gwen na realidade já estava com 50), corajosas nas suas interpretações, propositalmente pouco “vestidas”, mostrando como transitória é a beleza... Vejam minha postagem de 10.04.2008). Mais um grande sucesso – infelizmente seu último na Broadway.



Incansável, talentosa, cheia de energia Gwen fez, notávelmente, muitos filmes, sendo “The Cotton Club” (1984), “Cocoon” (1985) – uma notável aparição ao lado de Don Ameche, “Cocoon: The return” (1988) e “Alice” (de Woody Allen, 1990) alguns de seus últimos. Além disto trabalhou muito ao lado de Fosse em suas coreografias e também no cinema: ela não só foi o “Coach” de Shirley MacLaine quando esta recriou o papel de “Charity” (Este foi o segundo papel que Gwen criou originalmente na Broadway e que Shirley interpretou no cinema em 1969) como também trabalhou muito próxima de Bob nas coreografias (e no roteiro) de “All that Jazz”.

Em 1987 Gwen acompanhava Bob Fosse para uma Revival de “Sweet Charity” com Donna McKechnie em Washington quando ele teve um ataque cardíaco fatal e morreu nos seus braços.

Gwen transformou-se numa grande amiga de Ann Reinking, que viveu muitos anos com Fosse. Anos depois Ann dedicaria à memória de Gwen sua montagem do incrível musical “Fosse”. Nenhuma bailarina foi tão íntimamente associada com o estilo de dança de Fosse. Talvez por Gwen ter estado lá, no início da carreira coreográfica de Fosse, ajudando, compartilhando, dando idéias. Ela transformou-se no perfeito instrumento para ele. Uma perfeita encarnacao de sua danca e de eu famoso estilo. Em outra dimensão acho que só Ann Reinking chegou perto da importância que Gwen teve no trabalho de Fosse. Um ano antes de sua morte, em 1999 Gwen, Nicole Fosse e Ann Reinking foram juntas à festa da premiére de “Fosse”.

Na realidade Gwen fez pouquíssimos Shows na Broadway (Ao todo sete de 1953 a 1975, ganhando um total de quatro “Tonys”, tendo sido nominada por seis musicais! Seis nominacoes por sete Shows!), mesmo assim transformou-se numa lenda...

Em 2000 Gwen morreu calmamente, dormindo. Também um ataque do coração levou-a aos 75 anos de idade. Nada mais daquela linda risada, daquela voz rouca de menina... No dia 18 de outubro de 2000 as luzes na Broadway ficaram às escuras: homenageando uma de suas mais luminosas estrêlas.

Chita Rivera disse no seu funeral: “She was even a better person than a dancer!”

Aqui dois números de "Damm Yankees": "A little brains, a little talent" e o inesquecível "Whatever Lola wants, Lola gets" - principalmente o segundo é puro "Fosse" dos anos 50!
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