domingo, 21 de dezembro de 2014

Uma Beleza, uma vida movimentada: Lina Cavalieri (1874 - 1944) e a Arte... até hoje...


Lina Cavalieri, que na realidade chamava-se Natalina (por ter nascido na Itália no dia de Natal de 1874) foi, além de uma das mais lindas mulheres de sua época uma famosa cantora de Ópera, “Diseuse” e atriz…


Tendo perdido seus pais ainda muito jovem, ela foi enviada para uma escola interna, melhor dito, para um orfanato dirigido com muita disciplina por irmãs católicas o que não foi muito compatível com o alegre temperamento dela…
Ainda bastante jovem ela conseguiu chegar a Paris onde sua aparencia lhe abriu portas e mais portas como cantora nos Cafés boêmios… Ela começou sériamente a estudar canto enquanto se apresentava em “Music-Halls” pela Europa afora.


Quando, depois de anos de estudo, fez seu début “operático” em 1900 em Lisboa, já contava com quase 26 anos, o que na época era considerado já “uma certa idade”. Mas Lina, por todo o resto de sua vida, foi sempre considerada mais jovem do que aparentava… Bons gens provávelmente… Mas disciplina, modos saudáveis, inteligencia e comedimento ajudam também...


No mesmo ano ela casou-se com seu primeiro marido, o príncipe russo Alexandre Bariatinsky. Em seguida vieram apresentações na Opéra de Monte-Carlo , no Teatro Sarah Bernhardt onde cantou com Caruso em Fedora. Dali foi só um salto para o (antigo) Metropolitan em N.Y. onde debutou em 1906.


Cavalieri que era admirada não só por sua singular beleza mas também por sua voz e grande habilidade dramática, permaneceu por duas estações com o Metroplitan onde, entre outras, cantou Manon Lescaut de Puccini. Nesta época (1906 – 1908) seu público se referia à ela como “a mulher mais linda do mundo”.


Mulher de grande disciplina – o que incluía sua controlada alimentação, ela pertencia à uma geração de mulheres que se espremia constantemente, diáriamente dentro de um apertado espartilho…


Como Cavalieri conseguiu coordenar este costume com as necessidades respiratórias de cantora, não posso dizer… nem imaginar… Mas temos que admitir que o resultado fotográfico é de um esplendor único!


Seu segundo marido foi Robert Winthrop Chanler, membro da família Astor e dos “400” da Sociedade Nova Yorkyna (descobri há pouco tempo que a definição que a sociedade consistia só de “400” foi determinada pelos Astor, já que o salão de baile de Mrs. Astor só comportava realmente 400 pessoas). Eles se separaram logo após a lua de mel, Cavalieri esperou até 1912 pelo divórcio e embarcou para St. Petersburg e para a Ucrania onde se tornou uma da últimas estrelas no período pré-revolucionário.

Outra Óperas do seu repertório: La Bohème, La Traviata, Faust, Manon, Andrea Chénier, Thaïs, Les Contes d'Hoffmann , Rigoletto, Mefistofele, Adriana Lecouvreur, Tosca, Hérodiade, Carmen, Siberia e Zazà.


Ela casou-se uma vez mais em 1913 com o tenor frances. Em 1915 retornou à Itália e fez alguns filmes mas quando seu país natal envolveu-se na Primeira Guerra Mundial ela retornou aos USA onde ainda fez quatro filmes. Pena todo este material cinematográfio ter sido perdido…

Mais uma vez ela retornaria à Itália para viver, com seu quarto marido, Paolo d’Arvanni.


Já com mais de 60 anos quando a Segunda Guerra explodiu ela ainda trabalhou como uma enfermeira voluntária…
Quando um bombardeio americano começou perto de sua casa no dia 8 de fevereiro de 1944, Cavalieri, já com 69 anos enviou todos seus empregados imediatamente para abrigos anti-bombas dentro de sua propriedade. Ela, porém, e seu marido se atrasaram pois ainda resolveram pegar todas suas maravilhosas jóias… não deixá-las para trás… os dois foram mortos. Por causa das jóias... e todos os empregados no Abrigo sobreviveram…

Algumas poucas gravações de Lina sobrevivem até hoje…
Não se deve, óbviamente, comparar nem sua técnica vocal nem a qualidade técnica das gravações da época com materiais mais atuais…
Mesmo assim, interessantes momentos…
Acho que a "persona" Lina sobrevive pelo seu charme, glamour, elegancia, "savoir-faire" - qualidades quase inexistentes hoje em dia em tantas áreas das Artes...



Dois dos quadros que considero mostrar de melhor forma sua beleza e carisma são os portraits de Giovanni Boldini (quadro este comprado por Maurice Rothschild) e de Adolfo Müller-Ury. Este segundo quadro é agora propriedade do Metropolitan.


Mas mais notávelmente seu rosto é encontrado constantemente na arte, quase fanática de Piero Fornasetti, cujo trabalho é repleto de uma quase doentia obsessão pelo (belíssimo) rosto de Cavalieri e por sua “persona”…

E esta, confesso, foi a verdadeira razão que me fez criar esta Tertúlia, pesquisá-la.

Tento estado há duas semanas e meia num restaurante, no centro de Viena, que tem toda uma parede adornada com o rosto de Cavalieri e pela arte de Fornasetti, tive, primeiro, que descobrir de quem era este trabalho (Obrigado a Jayme Budiansky!), depois a quem pertencia este cativante rosto…

...e como tudo em minha vida, uma coisa levou à outra e à outra e à outra e cá estou tendo lido tanto sobre esta interessante mulher que levou uma vida tão movimentada, flexível… de país para país, de continente para continente e tudo isto em épocas em que viajar não era uma coisa simples, corriqueira, "normal".
Ainda por cima tudo isso pela Arte! (Bem, imagino que sua existencia finaceira também lhe importasse "um pouquinho"... senão houvesse pensado nas jóias...)


Ela está, de certa forma ainda aqui…

Trouxe-me muitos momentos de interessante pesquisa e sonhos (muitos sonhos) nas últimas semanas...

Abaixo Fornasetti e um pouquinho de sua obsessão... Posso até, de certa, leve forma, entende-lo...

Um comentário:

Anônimo disse...

bela cantora lirica!só conhecia a bastante famosa Maria Callas!infelizmente por ter se preocupada com suas jóias ela foi morta!isso poderia até passar por apego bens materias desnecéssarios, mas ela devia ter um profundo apego emocional as suas joias.e ainda se preocupou com o bem estar dos seus empregados!! uma mulher de caratér e muito talentosa! Marcos Punch.