quinta-feira, 9 de maio de 2013

Cristina Martinelli e Ballet romantico: uma pessoal reflexão...



Pela segunda vez na “história” de «As Tertúlias» um comentário, e toda a reflexão que trás com ele, é tão fascinante e tão profundo que ele transforma-se numa tertúlia por si mesmo…

Comentando uma postagem que eu havia composto há algumas semanas, sobre "La Sylphide", Cristina Martinelli nos presenteou mais uma vez com sua sensibilidade e profundo conhecimento.
Quero eternizar seu comentário aqui pois o considero de extrema importancia para uma nova geração de bailarinos.

Obrigado à amiga e grande artista Cristina Martinelli por nos deixar assim, tão simples- e descomplicadamente e daquela forma tão natural sua, ver um pouco da sua alma e do grande amor que nutre pela Arte!

A Arte está enraizada na sua alma, por isto esta forma tão espontanea, tão natural de escrever. Nada de Esboços, correções, preparações de horas... Admiro talentos assim. Natos. Naturais. Verdadeiros.

Obrigado.


(Cristina Martinelli, Les Sylphides)

Agradeço tambem a Tíndaro Silvano , coreógrafo e ex-bailarino, pelas suas palavras - que deram-me a final motivação para esta tertúlia:
"Prezado Ricardo, voltei só pra dizer que, depois deste comentário da Martinelli a gente fica até sem palavras e tudo o que eu disser será redundante. Concordo com tudo o que ela falou;
além do mais eu a acho A grande autoridade dos papeis românticos da dança clássica do nosso país.
Se ela falou, eu assino em baixo."



(Cristina Martinelli & Mark Silver, Giselle)



Rio de Janeiro, 12 de abril de 2013

Ricardo querido,

antes de mais nada, te cumprimento pela linda e trabalhosa postagem, adornada com lindas gravuras e fotos.

As sílfides, todas elas, a meu ver, simbolizam o sonho, seres etéreos e de um requinte ímpar...tradução também de uma delicadeza infinita.

Quanto a sua critica sobre a falta de interpretação/emoção/condução devida do personagem/, concordo inteiramente, ressaltando ser este um desgosto meu atualmente. Não só em Viena,mas nos quatro cantos do mundo.

Não é a técnica que me preocupa...é o culto a técnica e tão somente a ela que é grave.
A técnica está a serviço da dança, não está acima.
Não creio que seja por falta de tempo dos bailarinos... é a falta de um olhar mais profundo da parte deles, da busca do personagem, da sua Voz!

Atualmente todos os bailarinos possuem técnica, pernas altas, belos pés e trocentas piruetas, mas falta arte e a condição maior: ser artista! São muitos executantes e poucos dançantes.

Há pouco tempo conhecí,aqui no Brasil,um jovem bailarino,na realidade ele tem apenas 16 anos, chamado Gustavo Carvalho, que me causou profunda emoção, justamente por aliar uma técnica apurada com um estudo profundo do personagem, um mergulho mesmo. Dançou o Lago dos Cisnes completo lindamente, apesar da sua pouca idade, falta de experiência artística e de vida, ali ele se revelou maduro, sem técnica acrobática mas com grande conteúdo artístico.

Acho que é disso que estamos falando.

Não...ginástica não...por favor..! Não vou comentar sobre La Sylphide pois você já o fez magistralmente, mas admiro muitíssimo o trabalho de M.Legris, ainda mais sendo quem é e vindo de onde veio.
Acho seu legado a Ópera de Viena de valor inestimável,principalmente no que diz respeito ao repertório mas acho triste sentar para ver um ballet deste porte e não encontrar aquela magia que nos transporta para além deste pequeno mundinho, para o sonho de sílfides, o drama de Giselle, a gruta dos Cisnes, a emoção de Julieta, o embate de Des Grieux...

Sem dúvidas,Michael Denard era um excepcional bailarino,cheio de luz e tridimensional sim, em todos os sentidos.

Lindas as fotos do Corpo de Baile... e Flavia Soares encarnando exatamente a delicadeza e o sublime de uma sílfide. Já por sua posição nesta foto, vê-se sua qualidade como bailarina dentro do personagem.

Acho que todos os bailarinos da atualidade precisam de um coach para iniciá-los no estudo da interpretação dos seus papéis... não um coach de 21 anos... mas um que tenha real experiência artística e conhecimento dos papéis títulos e da história dos ballets de repertório...e caso não seja possível ter este coach,recomendo que vejam vídeos, muitos vídeos, com a condição única de não olharem para a técnica, mas sim observar principalmente o estilo,qual a voz deste personagem...

Belo post Ricardo para uma grande reflexão.

Mil beijos

Cristina Martinelli

3 comentários:

Iris Braga Ferreira disse...

Excelente! Magnífica postagem! Parabéns Ricardo por nos ensinar a sentir a dança ao lado da sensível e talentosa e grande bailarina e amiga Cristina Martinelli.
Bjs. Amo vocês.

Iris Braga Ferreira disse...

Excelente! Magnífica postagem! Parabéns Ricardo por nos ensinar a sentir a dança ao lado da sensível e talentosa e grande bailarina e amiga Cristina Martinelli.
Bjs. Amo vocês.

As Tertulías disse...

Sempre que volto a reler este relato de Cristina Martinelli me emociono... que visao rica do que é SER um artista...
Bravo.