quarta-feira, 29 de maio de 2013

A pele de nossos dentes... The Skin of our Teeth...


Não sei já há quantos anos venho adiando esta postagem… Reli (finalmente) „The skin of our Teeth“ (em portugues “A pele de nossos dentes” ) de Thornton Wilder, autor que pertence aos meus preferidos… como gostaria de rever esta produçâo (Leiam minha postagem sobre “Our Town”/”Nossa cidade”).

Wilder recebeu um Pulitzer Prize por este trabalho, uma excelente peça que estreiou em N.Y. em 1942, dirigida por Elia Kazan – grande director mas também um grande “Judas” na história do teatro Americano (Ele delatou muita gente na época do McCarthysmo e ficou com muitos “destinos” em sua consciencia).



No papel principal ninguém menos do que a endiabrada Tallulah Bankhead – que transformou numa miséria a vida de seus companheiros de cena, entre eles Frederic March e um jovensíssimo Montgomery Clift



O título da peça se refere simplesmente a um pedaço da bíblia (Jó, 19:20):

“Os meus ossos se apegaram à minha pele e à minha carne, e escapei só com a pele dos meus dentes”

Os personangens principais são só 5: George e Maggie Antrobus (do grego, humano), seus dois filhos e Sabina (que aparece como a empregada deles no primeiro e terceiro ato e como uma rainha linda e sedutora no Segundo). Apesar da peça ser passada na cidade fictícia de “Excelsior” e nos tempos atuais (1940’s) ela está cheia de anacronismos que nos levam de volta à pré-história… pulando para a época atual. Jamais esquecerei como um dinossauro passa pela porta deles na hora do “rush”.



Thornton Wilder conseguiu deixar publico e crítica completamentes indefesos e confusos… Por exemplo: o assassinato de Abel é um dos temas centrais do espetáculo… (o nome do filho foi mudado por Wilder de “Cain” para “Adam” para não delatar o enredo tão óbviamente). Já Lilly Sabina é uma referencia ao mito de Lilith e ao estupro das Sabinas, e por aí vai a lista…

Voltando aos palcos em Londres na estacão de 1945/46, Vivien Leigh, sempre procurando novas obras, foi a primeira Sabina “inglesa”.
Esta “aventura” tornou-se o que até hoje é considerado como seu maior desempenho no palco: um papel na realidade de grande comicidade que ela bravorosamente desempenhou (logo ela... no palco Lady MacBeth, Juliet, Lavinia, Blanche, Marguerite Gautier... ) enquanto lutava contra uma forte turbeculose (que a mataria em 1967) – e seus contantes ataques maníacos-depressivos (hoje em dia “bipolaridadde”).

Depois de só 78 apresentações ela teve que retirar-se do show, quando foi internada numa clínica onde, exausta, ficou 9 meses tentando melhorar suas condições mentais e físicas… Pobre Viv.



Nos restam hoje em dia sómente alguns relatos magníficos sobre sua inteligente Sabina (entre eles o do maravilhoso John Gieguld e da talentosíssima Kim Hunter – que trabalharia com Viv na filme de “Um bonde chamado desejo”, em 1950, também dirigido por Kazan) e algumas fotos – pouquíssimas – na qual vemos Viv em “traje de Maillot” com uma faixa de “Miss Atlantic City” – supostamente seu uniforme doméstico… não esqueçamos: por mais glamourosa que seja; ela era a empregada dos Antrobus… Mas esta foto com a escova-de-dentes arrematando o seu penteado não é tudo para este papel?



A peça, que em si, cobre um período de 5000 anos confundiu o público e os críticos. Um enredo que vai da idade glacial à atualidade em Atlantic City
– em meras duas horas –
era realmente uma linguagem muito avançada e ousada para a audiencia de 70 anos atrás…
Viv levou-a numa tournée pela Oceania… Imagino o que o simples público australiano deve ter pensado!



Uma deliciosa estória foi contada por Tallulah: um amigo seu escutou uma conversa durante o intervalo e passou para ela, que uma jovem socialite nova-yorkina estava desesperada: “Eu não estou entendo uma palavra desta peça… não tenho noção do que está acontecendo ou do que é sobre, e voce?”. O companheiro da inteligente loirinha gaguejou um pouco e disse “Sim, eu acho que em termos gerais… é sobre a raça humana”, ao que ela respondeu:

“Oh”, acrescentando depois de uma curta pausa, “então é só isso?”

(P.S. Existem os dois primeiros atos de "Skin" na Internet... Viv trabalhou numa produçâo televisiva de 1959... interessante!)