terça-feira, 27 de novembro de 2012

La Bayadère: A morte de Nikiya (e o amargo sabor da injustiça deliberada)


Triste, amargo sabor…

Uma cena em “La Bayadère” sempre me causa um desconforto imenso… analisando objetivamente o que sinto chego a conclusão que é esta vulneribilidade, indefensibilidade, destrutibilidade absurda que tanto me magoa. E esta terrível incapacidade de poder reagir, de poder se defender…


O que sinto quando penso em injustiça é um dos sentimentos que me causam mais dor, quase desespero pois fico realmente sem ar ao presenciá-la, vive-la… Esta reação é talvez equiparável para mim só ao que sinto em relação à inveja ou à deliberada crueldade… Me faltam as palavras para poder expressar o que realmente se passa dentro de mim ao presenciar, saber, tomar conhecimento de injustiças. Sei porém que o que se passa na minha alma é comparável a um furacão…

Um destes dias, quando soube do afastamento do meu querido amigo (e ídolo) Fernando Bicudo da OSB tive práticamente o mesmo quadro de reações físicas…
Desconforto, falta de ar, nervosismo…
Grande injustiça com um grande Homem e Artista que considero um dos poucos no Brasil, não só com a capacidade intelectual, mas também com o imenso talento necessário, condição Sine Qua Non, para um cargo que tão brilhantemente transformou num “trabalho de vida”, trabalho de constantes mudanças, desafios, movimento.
Trabalho que trouxe maravilhosos frutos à nossa Cidade, à nossa cena cultural.
Dedicação pura e pura dedicação à Arte.
Grande, brilhante Fernando, minha admiração e meu carinho.
Sempre, querido amigo.


São estas e outras injustiças que nos deixam boquiabertos, pois como as pessoas normais que somos, não temos a capacidade de compreender atitudes de certos seres que «se dizem» humanos… Da mesma forma como não podemos compreender a inveja de um Salieri ou tantas crueldades deliberadas que são feitas neste mundo. Talvez por isso o «horror» que tenho à esta vulnerabilidade… pois sei que eu, e muitos outros que amo e prezo, poderíamos também ser fáceis vítimas… como já fomos...

Injustiças sociais. Injustiças cívicas. Injustiças feitas inconscientemente mas causadoras de muito dano.. tão daninhas quanto as injustiças deliberadas…


Abaixo uma cena de "La Bayadère":
a cena que tanto me impressiona – ah, se eu não soubesse que o final é feliz e os dois se encontram de novo em Nirvana…

Nikiya recebe na festa de noivado de Solor, o homem que ama, com Gamzatti, uma cesta de flores. Pensando que esta é um presente de Solor ela coloca-se mais “animada”, mais “viva” (ela acabara de dançar muito sombriamente, muito triste… ) para então ser mordida por uma serpente que se encontrava entre as flores (colocada ali propositalmente por Gamzatti e seu pai, o Rajah com a intenção de matá-la). Até o último tempo pensa-se numa possível salvação, pois o sacerdote lhe oferece um antídoto, que ela finalmente nega: ao ver Solor com Gamzatti, ela prefere morrer e não mais ser testemunha do que viu…
Que momento repleto de injustiça (e deliberada crueldade). A bailarina do templo, que só cometeu o erro de estar apaixoanada, a “bayadère” se vai… Uma boa alma se vai – momento na Arte comparável à (também injusta) morte de Liu em “Turandot”.


Suspendamos as cortinas da Ópera de Paris para Isabelle Guerin, bailarina expressiva, atriz, de grande personalidade, como Nikiya, Élizabeth Platel como Gamzatti e Laurent Hilaire como Solor nesta apresentacao de 1994! Bravo!



Para quem quizer saber um pouco mais sobre “La Bayadère” recomendo, de coração, uma postagem que fiz em 24 de fevereiro de 2011… « La Bayadère revisitada : O Reino das Sombras ».

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