terça-feira, 20 de março de 2012

Wiener Staatsoper: Balanchine & Robbins (e a adorável arrogancia de Manuel Legris!)

No dia 16 passado, estive na Ópera de Viena para assistir uma Gala de “Balanchine & Robbins”, coreógrafos, genios, artistas incomparáveis…


Antes da apresentação um habitual Champagne no Bar do Hotel Sacher, papos e até piadas… (p.s. aqui já estávamos na Ópera, para "mais um" champagne... )




Conhecem o que contou Beatrice Arthur (lembram dela? Das “Golden Girls”?) sobre Jerome Robbins? Não?
Ela disse abertamente num Show seu: "The man was a genius, but he really wasn't a very nice person. Actually, he was the only director who ever made me cry. He was really a dreadful human being" (foto abaixo).


O programa reuniu quatro Ballets: “Glass Pieces” e “In the Night” – o único que eu não conhecia e que me encantou – ambos de Jerome Robbins, genio conhecido no cinema pela sua maravilhosa coreografia de “West Side Story” (no Brasil “Amor, sublime Amor”).


e “Stravinsky Violin Concerto” e “Themes and Variations” estes de George Balanchine (in short, Mr. B., foto acima) e com os quais tenho uma relação de certa forma “oblíqua”.
“Violin Concerto” é “oficialmente de 1972” mas poucos sabem que Mr.B. retrabalhou um Ballet que tinha tido sua Première em 1941 em New York, só dez anos depois de “Violin Concerto” ter sido composto por Stravinsky! Esta empoeirada peça de museu chamou-se na época “Balustrade” e, além de contar com a presença do próprio Igor (Stravinsly) regendo a orquestra, foi dançado pela “pérola negra” Tamara Toumanova (mais sobre ela brevemente) e por uma jovem Tatiana Leskova – que este ano celebrará seu nonagésimo aniversário. Fui seu aluno. Ela mesmo me deu esta “Charge” que uma vez comentei – acho que apaguei a Tertúlia quando ela fez mais uma de suas grosserias comigo...
"Coices" não fazem parte da minha filosofia de vida... Agora, a "pessoa histórica" Leskova é interessantíssima. A pessoa histórica.

De qualquer forma: Tatiana e Tamara ao lado de Mr. B e Stravinsky himself… Não é divina a charge?


Bem, comecemos “a descacar um abacaxi”

“Glass Pieces” é um trabalho chato e presunçoso… Ele tenta ser “contemporaneo” todo o tempo e acaba nos deixando a impressão de que o que foi tentado todo o tempo, não se realizou. Complexos por causa do trabalho de Twyla Tharp? No Idea... Não sei realmente qual a intenção de Robbins foi, principalmente musicalmente… Não sou fã da música de Philipp Glass: as duas primeiras partes (“Rubric” e “Façades”) são infinitamente chatas… lembrando até os programas da (finada) Rádio Jornal do Brasil FM…
Shane A. Wuerthner me chamou muito a atenção na primeira parte – por sua forma de interpretar e entender Robbins… Não sei de que compania Shane vem, mas ele é americano e – querendo ou não – tem mais experiencia com o trabalho do NYCB.

Na segunda parte, práticamente um Pas-de-Deux, Olga Esina – bailarina famosa no momento, da nova geração - estava excelente e Kirill Kourlaev, e seu magnífico físico, como sempre muito correto.

Olga tem uma coisa comparável, em termos de “secura”, à Antoinette Sibley… seu perfil as vezes “delata” isso… Mas este é o problema de uma pessoa que muito se “encosta” só na técnica… My opinion...


Musicalmente a terceira parte é mais interessante (uma parte de “Echnaton” de Glass) mas eu me assustei com a falta de ensaio do Corps-de-Ballet. Esta falha foi de certa forma tão óbvia e visível, que até Erich, que me acompanhou e não é uma pessoa “de Ballet”, notou… Linhas, filas, direções, principalmente as cabeças não foram respeitadas e devidamente ensaiadas… infelizmente uma Performance muito “suja”. Eu pensei… Se continuar assim, vou para casa!

O seguinte Ballet iria porém me recompensar o “fiasco” do primeiro. A única obra que eu não conhecia “In the Night” foi a que mais me fascinou.
Nocturnos de Chopin…
Tres Pas-de-Deux…
Uma «quarta parte» na qual todos os tres casais dividem o mesmo Nocturno (O número 2 op.9, meu predileto).
A musicalidade e delicadeza da coreografia me impressionaram demasiado! Que trabalho mais complexo e mesmo assim, trabalho que “passa” toda uma simplicidade que, nós sabemos, só è alcançada à base de muito ensaio e trabalho… Chapeaux!


O segundo Pas-de-Deux foi dançado por bailarinos que não conhecia e que estavam fazendo seu “Debùt” na Ópera: Alena Klochkova e Igor Milos – escrevam estes nomes, voces ouvirão deles no futuro…

A “estrela” maior foi para mim o incrível Eno Peci. Bailarino da Albania, muito inteligente, perspicaz, brilhante e MUITO versátil… como leremos em seguida… Uma estrela de grande bilho!!!!!

Então chegou o momento esperado por mim “Stravinsky’s Violin Concerto” (e minha comparação é com um DVD que tenho de uma velhíssima e maravilhosa “fita de vídeo” com Peter Martins… ). Fiquei deliciado com o que assisti… Temos que comentar uma coisa antes e para explicar o que quero dizer, tenho que me referir a um comentário de um tenista sobre Björn Borg (sim, juro!). Ele disse: “We are playing Tennis, he’s playing something ele!”.

E é exatamente assim que me sinto em relação à Dança de Mr.B.! Não é nada fácil dançar seus Ballets se voce não teve o devido “treino” (de anos) da escola do New York City Ballet… Tarefa comparável à dificuldade de aprender o real estilo de Bournville… Admiro a coragem de todos estes bailarinos da Ópera, entrando em terreno tão desconhecido, ajudados por uma certa «arrogancia» (no bom sentido) de Manuel Legris – que está fazendo um trabalho maravilhoso com o Corps-de-Ballet da Ópera aqui… Agora, quem não tenta não consegue (ou não falha) e é por este motivo que admiro esta sua arrogancia de colocar todos estes bailarinos, que tem uma escola “do leste”, dançando coisas do NYCB que nem Bailarinos do ABT (American Ballet Theatre) se atreveriam a dançar!!!!! Chapeau, Monsieur Legris!


Olga Esina teve momentos maravilhosos – e dificílimos por sinal. Muito trabalho a frente ainda para poder “entender” Balanchine… Mas quando penso em Olga como “Aurora”, outra bailarina… e então aqui, numa fantástica performance no que eu considero um Balanchine “danadinho”. Parabéns!
Nina Poláková me surpreendeu. Não “sigo” muito sua carreira, seus “passos”… Mas ela me tirou a respiração algumas vezes…


O querido do público, "L'enfant Terrible” da Ópera de Viena, Mihail Sosnovschi, demonstrou mas uma vez que ele pode fazer o que quer… Bailarino talvez de proporções físicas não muito clássicas, ele nos faz (assim como Haydée fazia) esquecer destas “trivialidades”, destes "pormenores" e nos coloca baixo uma corrente elétrica de alta voltagem enquanto dança… Apesar de uns “russismos circenses” nos braços – que não tem muito o que ver com o estilo de Balanchine – ele deu uma ótima apresentação…


Já há muito queria aqui fazer uma homenagem a ele… Bem, vamos ver o que encontro para publicar brevemente!
Emocionado me deixou a Performance de Eno Peçi – que antes do intervalo principal já nos tinha regalado com um grande “presente” de sensibilidade em “In the Night”. De todos os bailarinos da noite foi nele que vi o maior trabalho em termos de estilo Balanchiniano… Foi ele o que mais alcançou esta “metamorfose” de “bailarino clássico” que se transforma em “bailarino clássico de Balanchine”. Que linhas e principalmente que braços !!!!! Foi um grandíssimo prazer assistí-lo !

A parte final começou e eu já sabia que seria o maior sucesso com o público (e inclusive com Erich): Temas e Variações, uma obra de Mr.B. da qual realmente desgosto…

Tinha a esperança de que Vladimir Shishov danæasse a parte principal – pois Vladimir, a quem conheço pessoalmente – faz de qualquer coreografia uma obra de arte.


Infelizmente um bailarino nada apropriado para este trabalho, Denys Cherevychko, interpretou o “Lead”. Não vejo Cherevychko, neste tipo de papéis. Para mim, por causa do seu físico, ele seria um ótimo bailarino de caráter… Nada mais.

Este é um fato da realidade que deve ser reconhecido - por mais que doa...

Como gostaria de ter assistido Vladimir! (foto abaixo)



Duas pessoas ainda faço questão de mencionar aqui: Não porque seja uma amiga pessoal, mas a linda Flavia Soares realmente “desponta” no Corps-de-Ballet… Não tenho uma foto apropriada de sua particpação em “Temas e Variações” por isto colocarei outras aqui…



Ela possui uma coisa muito, muito especial no palco. Uma luz, uma simpatia, uma beleza (muito Audrey por sinal) combinadas com uma certa seriedade, linhas de fazer inveja à qualquer “Prima” e uma ótima técnica! Uma bonita personalidade no palco e é isso o que o público busca… Aquela coisa especial, aquele “it” que não pode ser descrito em simples palavras…


Outra “Luz” para meus olhos foi o jovem Greig Matthews:


despontando aqui desde alguns meses (acho que só desde setembro) este jovem menino escoces de 18 anos mostrou – (nos dois Ballets de Mr.B.) o que é “style”… Acho que, junto a Shane A. Wuerthner, ele era realmente um dos únicos que intuitivamente sabiam o que é realmente interpretar Mr. B. & Robbins…



O "Resumée":


mais uma “Night at the Opera” e uma noite adorável…. Esta foto no Bar do "Sacher" depois do espetáculo. Erich, Obrigado pelo convite!

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