segunda-feira, 14 de março de 2011

La Bayadère: "corrigindo" um fato histórico do nosso Theatro

Não estou «Making History» (Título aliás do fabuloso livro de Stephen Fry, que muito recomendo) e nem tentando corrigí-la. Estou porém corrigindo a ordem dos fatos, como nos estão expostos, estes sim injustamente «mudando o curso a história». Como já disse uma vez, aqui nas «Tertúlias» : « Nunca tive e nunca terei qualquer ambição didática com este Blog“.
Tenho porém desta vez quase que dar „o braço a torcer“ porque, com minha querida amiga Eliana Caminada, consegui desvendar algo que não está corretamente colocado em várias plataformas da Internet e até em vários livros e Enciclopédias!!!!

Tudo começou com minha postagem do dia 24 de fevereiro de 2011 sobre “La Bayadère” (postagem, aliás, que eu achava que ninguém iria ler e que se transformou na melhor sucedida que fiz até hoje…):
„La Bayadère“ era considerada um clássico na Russia mas no mundo ocidental completamente desconhecida. Segundo a “história”, a primeira “impressão” que o público ocidental teve deste trabalho foi quando o Ballet Kirov apresentou “The Kingdom of the Shades” (O Reino das Sombras) em 4 de julho de 1961 no Palais Garnier em Paris”. Quase dois anos e meio depois, em novembro de 1963 como consta, Nureyev apresentou a cena (ou melhor, o terceiro ato – ou segundo, dependendo da versão) para o Royal Ballet com Margot Fonteyn como Nikiya.



Tenho aqui em Viena o raríssimo livro “O Ballet no Brasil” de Edméa A. Carvalho, comprado ainda nos anos 70 num daqueles maravilhosos e imensos “sebos” de dois andares da Rua do Rosário ou em outras paralelas (ainda existem?). Tatiana Leskova, Eliana Caminada e várias outras pessoas tiveram este livro, um dos primeiros sobre Ballet no Brasil, mas de alguma forma todos “sumiram” (por isso mantenho meu princípio: discos e livros não empresto!) e lá encontrei uma foto da maravilhosa Bertha Rosanova e de meu querido mestre Aldo Lotufo em “Bayadera” no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Bem, mais do que isso não “precisamos” (a sabida e maravilhosa Eliana Caminada e eu – curioso “par excellence”)... Tenho que adicionar que à esta pesquiza se juntou minha querida Danielle Crepaldi, sempre atenta, esperta e inteligente.



Na primeira versão no Brasil conseguimos descobrir, no livro de Edméa, quem estava no corpo de baile:
Alda Acioli, Sonia Barroso, Luciana Bogdanocich, Rojan Cavina, Oneide Craveiro, Maria Enamar, Wanda Garcia, Therezinha Goulart, Eunice Khoury, Helena Lobato, Nair Moussatche, Helna Nogueira, Irene Orazem, Estella Reigas, Julia Rodrigues e Clélia Serrano.
Mas o livro é de certa forma “pobre” em termos de datas, revela pouco.





Um dia chegou um impressionante e.mail de Eliana, no qual mal pude acreditar e que tenho que aqui citar:

Ricardo, Aldo Lotufo está aqui em casa e me esclareceu que dançou, com Bertha Rosanova, o Ato das Sombras de La Bayadère, em uma versão de Chabukiani, estreando no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 12 de abril de 1961 (de acordo com o livro de Edgard de Brito Chaves Junior "Memórias e Glórias de um Teatro").
A versão foi extraída do filme de Chabukiani com Dudinskaya, mas Aldo comenta que muita coisa foi colocada por Dona Genia (comentário meu: Eugenia Feodorova) a partir de suas próprias lembranças e do conhecimento que tinha do estilo do ballet.
Uma musicista da Rádio Mec tirou a partitura de disco para piano e posteriormente foi feita a orquestração.
D. Eugenia remontou o mesmo ato do ballet para sua Fundação Brasileira de Ballet, quando Aldo dançou com Sílvia Barroso.
Bjsss
Caminada


Num dicionário mais recente sobre dança, a parte que se refere a este Ballet no Theatro é lamentávelmente erronea. Nem Bertha nem Aldo constam na menção sobre “La Bayadère”. Falta de informação? As vezes existe neste nosso mundo não só falta de informação mas também mal intenções, parcialidade e muita falta de ética..

Mas neste livro está o fato comprovado: "Memórias e glórias de um Teatro: sessenta anos de história do T. M. do Rio de Janeiro" de Edgard de Brito Chaves.

TROCANDO EM MIÚDOS: a Première no mundo Ocidental não foi feita nem pelo Kirov em Paris em 1961 nem pelo Royal Ballet com Fonteyn e Nureyev em 1963 porém no Theatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 12 de abril de 1961.



Como agora vou conseguir manter-me “quieto” e não querer mudar todas as Enciclopédias do mundo? (Pelo menos a Wikipedia em ingles e alemão já mudei oficialmente).
Não é uma questao de orgulho.
Só quero que Dona Eugenia, Bertha Rosanova e Aldo Lotufo tenham seu prestigiado (e justo) lugar na História.
“A César o que é de César”, n’est-ce-pas ?

Idéias?
A minha é simplesmente uma: Passem esta postagem para o maior número posível de pessoas relacionadas ao mundo do Ballet!!!!
Vamos prestigiar a memória dos nossos talentos!

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