Existem cenas de filmes que apesar de distorcer a história (Hollywood sempre foi mestre nisso) são na realidade melhores do que a própria…
Durante seus anos em Versailles, antes da morte de Louis XV e de tornar-se rainha de França, Marie Antoinette evitou ao máximo qualquer contato com a ex-chapeleira (millinery), cortesã e amante de Louis XV, Jeanne Bécu, La Comtesse du Barry.
Por insistencia por parte de sua mãe, a imperatriz Maria Theresia d'Austria, e do Embaixador austríaco em França (que pensavam estratégicamente em “não desagradar” o Rei, o que é políticamente fácil de explicar) ela finalmente concordou e, durante um baile em Versailles, dirigiu-se à uma das mais notórias cortesãs da história dizendo as seguintes palavras:
«Il y a un bon nombre de gens à Versailles aujourd'hui»
Só e nada mais do que isto. Antoinette deixou bem claro ao Embaixador, Conde Mercy, que não tinha a absoluta intenção de falar mais do que estas palavras com Du Barry. Esta ficou contente por ter conseguido mais um triunfo e estas palavras entraram para a história.
Hollywood e seus roteiristas não puderam deixar tão ilustre cena passar tão “despercebida” e, mudando a história descaradamente, transformaram este “encontro” em algo mais imponente em termos cinematográficos, algo mais forte em termos de roteiro.
(Detalhe, o filme era “Marie Antoinette”, MGM 1938. Uma incrível produção – iniciada por Irving Thalberg - com a lindíssima Norma Shearer – então uma das rainhas da Metro, e o mais bonito perfil da história do cinema, esposa de Thalberg - e um jovem Tyrone Power):
Após uma entrada triunfal num baile que Antoinette está dando, Du Barry (a atriz Gladys George) agride-a verbalmente ao acusar a falta de Louis XVI e mencionar o “quarto das crianças” – Antoinette demorou anos para produzir um herdeiro, um real problema, devido ao seu casamento ainda não consumado. Além disso nota como Louis está bem representado por seu primo – sugerindo também a existencia de um caso de amor entre Antoinette e o Duc de Orléans – no filme Joseph Schildkraut.
Mme. du Barry: I presume I shall not have the honor of meeting his Royal Highness?
Marie: My husband does not care for dancing, madame.
Mme. du Barry: Quite the family man, isn't he? The fireside, the nursing room and all that? Well, here is my old friend and how well he takes the husband's place!
“Toni” que, no filme, tinha prometido ao rei (Louis XV e neste caso John Barrymore) “comportar-se bem”, sente-se como se “tivessem pisado nos seus calos”, dá início a um diálogo que simplesmente adoro:
Marie: I'm sorry you feel your triumph incomplete, madame. My husband has better sense than I. He knows where to draw the line.
King Louis XV: Will you dance, Madame?
Mme. du Barry: So that's it? I'm dirt, ah? Not good enough for your high and mightiness?
Marie: But, nooo, madame! Royalty loves an occasional roll in the gutter, don't they Grand-pappa?
I enjoy nothing more than meeting people of broad experience. You see I've never walked the streets of Paris, but I am sure you could tell me something about that.
Com isto “Toni” insinua simples e diretamente um “faire le trottoir” para Du Barry, que insultada abandona o Baile na companhia de Sua Majestade Louis XV.
Eu particularmente adoro a frase na qual se refere à aristocracia e como “amam uma rolada ocasional na sarjeta”… Ah, se a vida fosse assim…
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
2001: Kristin Chenoweth homenageando Julie Andrews
KENNEDY CENTER HONORS 2001
Julie, divertindo-se, sentada entre Jack Nicholson e Pavarotti!
Kristin Chenoweth, minha querida "Cunegunde" de "Candide" (Bernstein), no palco, homenageando Julie e simplesmente "arrasando" com um número de "Mary Poppins". There's no Business like Show Business...
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domingo, 21 de novembro de 2010
Vivien Leigh à beira de um ataque de nervos?
“A Nave dos Deseperados” (The Ship of Fools, 1965) nos revela, como nenhum outro trabalho de Vivien no cinema, uma faceta real desta fabulosa atriz. Até então suas neuroses pessoais tinham ficado longe da tela. Nada é tão revelador como a cena no corredor do navio na qual ela bebada e enlouquecida começa a dançar um Charleston, que só “toca” na sua cabeça…
Esta cena, de certa forma, incomoda mas é ao mesmo tempo engraçada, ironica e, como colocado pela própria Vivien, revela “uma mulher que sabe que o tempo está passando e se recusa a reclamar”. Como a própria Leigh. De alguma forma ela, Mary Treadwell, lembra-me vagamente aqui uma Scarlett num baile em Atlanta, viúva, de preto, dançando atrás de uma balcão de caridade ao som da orquestra. A mesma que à mesa diz para o personagem de Lee Marvin (quando este diz que na Alemanha estão “fazendo coisas” com os judeus): “E qual é o esporte de moda no Sul dos Estados Unidos este ano? Ainda linchar negros?”)
Stanley Krammer, o diretor deste magnífico filme, comentou que Vivien estava em condições muito precárias durante a filmagem de “Ship” (para quem não sabe: Vivien era maníaca-depressiva, doença que hoje em dia é chamada de “bipolaridade” e que começou logo depois de “Vento” em 1940 durante uma temporada na Broadway, com seu então marido Laurence Olivier, em 1940. Sua vida a partir de então foi uma série de ataques, estadias em instituições psiquiátricas, humilhações, terapias de choque, de banhos de gelo…).
Tenessee Williams disse: "Having known madness, she knew how it was to be drawing close to death".
Krammer comentou que ela vivia num estado de constantes “palpitações” e nervosismo, literalmente tremendo, enquanto esperava pelos seus “takes”. Quando era chamada, levantava-se, ía para a frente das cameras e completamente recomposta, desempenhava suas cenas com bravura para voltar então para sua cadeira e para suas palpitações e tremedeiras!
Viv estava ainda recuperando-se da exaustão da árdua temporada da Broadway na qual tinha feito o musical (Yes!) “Tovarich” (leia-se em russo “taváritchi” – o que significava no comunismo “camarada”!). Sim Viv fazia tudo! Danadinha!
A atriz Elizabeth Ashley comentou um fato bonito que percebeu durante a fimagem de “Ship”. O rosto, o sorriso jovem de Vivien… Apesar de toda sua doença havia uma jovialidade nela.
“There are people who get old, there are people who just age” ela disse. Vivien tinha 52 anos ao fazer “Ship” e desde “Anna Karenina” em 1948 (quando tinha só 35 anos) tinha únicamente interpretado papéis de caráter – desfazendo-se e desfigurando-se ao mais extremo em frente às cameras como “Blanche” em “Um Bonde chamado Desejo”, no Brasil às vezes chamada estranhamente de "Uma Rua chamada Pecado" (A Streetcar named Desire, 1950) de Tenessee Williams com só 37 anos… As vezes penso que Viv quiz envelhecer antes do tempo, para alcançar outras possibilidades no teatro… como talvez esta foto de 1958 nos revele: esta “Senhora” tinha só 45 anos.
Ashley também comenta sobre a extrema profissionalidade de Viv: “Só o fato de eu não ter percebido nada, não saber de sua doença, diz tudo”,
A mesma Leigh, tinha estado também muito mal durante uma Tournée pela Australia do “Old Vic” no qual ela interpretou um dos papéis mais agressivos e cruéis (para a atriz que o interpreta, quero dizer) da história do teatro: “Lavinia” em “Titus Andronicus” (supostamente Shakespeare) – no qual, depois de ser estuprada pelo pai, sua língua e mãos são cortadas e seus olhos furados – e nunca perdeu uma apresentação!
Viv fez, na realidade, pouquíssimos filmes… só 8 entre «…e o Vento levou» (GWTW,1939) e «A Nave dos Desesperados» (1965), seu último antes de falecer em 1967. E quando se pensa que ela é uma das atrizes mais consideradas da história do Cinema…
Sim, Vivien Leigh, magnífica, e realmente à beira de um ataque de nervos. Aqui Mary Treadwell/Viv na mencionada, nada comum cena…
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Mrs. & Mr. Bailarino... sim, casados!
Antes de começar esta postagem tenho que agradecer a duas queridas amigas pela “inspiração” que me deram: uma delas (que não quer ser mencionada) pelo melhor comentário que já entrou nestas “Tertúlias”. Na minha última postagem sobre um “Tutú” de Margot Fonteyn, ela imaginou que eu estava a falar sobre um “Tutú à Mineira” (Engraçado, a primeira vista, mas se voce pensa bem, nos comportamos às vezes muito arrogantemente por assumir que é óbvio que todos saibam exatamente sobre o que estamos falando). A segunda, a bailarina Eliana Caminada, por colocar tão bem esta questão em palavras e por me reconfirmar, com aquele jeito tao sábio que tem, esta “certa arrogancia” que possuímos! Obrigado, amigas!
Eu tenho a sorte de pertencer, de certa forma, a dois grupos profissionais… e é simplesmente impressionante como o comportamento destes dois grupos, quando comparados, é bastante semelhante.
Como o profissional na área de Turismo & Marketing, “Herr Leitner”, encontro-me com pessoas do mesmo ramo e “falamos Turismo & Marketing” por horas e horas – Pobre de quem estiver junto e não pertencer à esta área…
Mais intensos ainda são os encontros com ex-bailarinos ou artistas.
Simplesmente não se para de falar Ballet e Dança, engolindo-os entre Canapés e Drinks…
E isto só antes de correr para a estante mais próxima para pegar livros, velhos e empoeirados vídeos VHS, os mais novos DVDs (para assistí-los na hora, é claro!) e por aí vai a lista!
Como o “ex-bailarino Ricardo Leitner” aqui um conselho, com todo o grande respeito que nutro pelos maravilhosos profissionais que conheci em minha vida, do fundo do coração:
NUNCA vá à uma reunião de bailarinos se voce não for (ou tenha sido) um!
Pode vir a ser uma das experiencias mais chatas, maçantes e irritantes de sua vida…
Mas depois de uma reunião, ou encontro, cada um volta à sua rotina do dia-a-dia e para sua casa… Imagine porém se voce é casado com uma pessoa da mesma profissão.
Imagine se voce “falasse”, “comesse”, “bebesse”, “ninasse”, “pensasse”, “cozinhasse” Ballet 24 horas por dia. Que maravilha? Para mim, estou certo, não…
Aqui Fred Astaire e a linda Vera-Ellen numa divertida (porém bem desconhecida) cena de “Three little Words” (MGM 1950), outro filme não muito famoso que tem um “cast” divino: Fred, Ellen, Red Skelton, Arlene Dahl e até Debbie Reynolds em sua primeira aparição cinematográfica cantando "I wanna be loved by you.. Booboo-pi-doo"
O número: Mr. and Mrs. Hoofer at Home (Uhmmm... aquele "finesse" americano de colocar o nome do homem antes do da esposa). Um casal de bailarinos no dia-a-dia dançante. Uma delícia!
Não é exatamente “Ballet” no sentido do “clássico” (esta variação em “pointe” e “tutú”, deixo em aberto para a imaginação de voces) mas sim um “routine” mostrando dois dançarinos que são casados e que (até) tem um bebe!!!!
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P.S. Adoraria dedicar esta postagem a todos os casais de bailarinos que “vivem” Ballet juntos, muitas horas do dia – e que AMAM isso! Minha sincera admiração!
P.S. Vera Ellen foi o primeiro caso “oficial” de anorexia. Para mais sobre ela vejam minha postagem de 21/08/2009.
Eu tenho a sorte de pertencer, de certa forma, a dois grupos profissionais… e é simplesmente impressionante como o comportamento destes dois grupos, quando comparados, é bastante semelhante.
Como o profissional na área de Turismo & Marketing, “Herr Leitner”, encontro-me com pessoas do mesmo ramo e “falamos Turismo & Marketing” por horas e horas – Pobre de quem estiver junto e não pertencer à esta área…
Mais intensos ainda são os encontros com ex-bailarinos ou artistas.
Simplesmente não se para de falar Ballet e Dança, engolindo-os entre Canapés e Drinks…
E isto só antes de correr para a estante mais próxima para pegar livros, velhos e empoeirados vídeos VHS, os mais novos DVDs (para assistí-los na hora, é claro!) e por aí vai a lista!
Como o “ex-bailarino Ricardo Leitner” aqui um conselho, com todo o grande respeito que nutro pelos maravilhosos profissionais que conheci em minha vida, do fundo do coração:
NUNCA vá à uma reunião de bailarinos se voce não for (ou tenha sido) um!
Pode vir a ser uma das experiencias mais chatas, maçantes e irritantes de sua vida…
Mas depois de uma reunião, ou encontro, cada um volta à sua rotina do dia-a-dia e para sua casa… Imagine porém se voce é casado com uma pessoa da mesma profissão.
Imagine se voce “falasse”, “comesse”, “bebesse”, “ninasse”, “pensasse”, “cozinhasse” Ballet 24 horas por dia. Que maravilha? Para mim, estou certo, não…
Aqui Fred Astaire e a linda Vera-Ellen numa divertida (porém bem desconhecida) cena de “Three little Words” (MGM 1950), outro filme não muito famoso que tem um “cast” divino: Fred, Ellen, Red Skelton, Arlene Dahl e até Debbie Reynolds em sua primeira aparição cinematográfica cantando "I wanna be loved by you.. Booboo-pi-doo"
O número: Mr. and Mrs. Hoofer at Home (Uhmmm... aquele "finesse" americano de colocar o nome do homem antes do da esposa). Um casal de bailarinos no dia-a-dia dançante. Uma delícia!
Não é exatamente “Ballet” no sentido do “clássico” (esta variação em “pointe” e “tutú”, deixo em aberto para a imaginação de voces) mas sim um “routine” mostrando dois dançarinos que são casados e que (até) tem um bebe!!!!
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P.S. Adoraria dedicar esta postagem a todos os casais de bailarinos que “vivem” Ballet juntos, muitas horas do dia – e que AMAM isso! Minha sincera admiração!
P.S. Vera Ellen foi o primeiro caso “oficial” de anorexia. Para mais sobre ela vejam minha postagem de 21/08/2009.
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domingo, 14 de novembro de 2010
Se um Tutu pudesse falar...
Sim, se um Tutu pudesse realmente falar...
Imagine quantas estórias este poderia nos contar...
O lindíssimo Tutu/vestuário do Adagio da Rosa da produção de «A bela Adormecida» de 1946, desenhado por Oliver Messel - o top-designer entre os anos 30 e 50 em Londres - especialmente para Fonteyn! Que bonito trabalho...
Vamos ser sinceros: sem um bom figurino, nem Makarova... nem Plisetskaya...
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010
REMEMBERING: Jane Froman: I'll walk alone... Que voz!!!!
Tristezas, um casamento mal feito, um acidente de avião em frente de Lisboa (durante a guerra) que deixou-a práticamente paraplégica, mais de vinte operações, dores e muito sofrimento não conseguiram tirar de Jane Froman esta fantástica voz e a vontade de compartí-la com o mundo.
I’ll walk alone (antes só do que "mal-acompanhado".. He he... meu comentário... ), seu "carro-chefe": que sábia… que linda voz. O grande Mezzo Soprano (na realidade práticamente um contralto.... voz que parece desaparecer do mapa a cada dia) da canção popular americana!
Já repararam como nos últimos anos os Mezzos tem assumido o trabalho dos Contraltos na Ópera????
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I’ll walk alone (antes só do que "mal-acompanhado".. He he... meu comentário... ), seu "carro-chefe": que sábia… que linda voz. O grande Mezzo Soprano (na realidade práticamente um contralto.... voz que parece desaparecer do mapa a cada dia) da canção popular americana!
Já repararam como nos últimos anos os Mezzos tem assumido o trabalho dos Contraltos na Ópera????
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segunda-feira, 1 de novembro de 2010
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