terça-feira, 22 de junho de 2010

Dorian Gray (2009): a alma, o juízo e Botox...


"The artist is the creator of beautiful things. To reveal art and conceal the artist is art’s aim. The critic is he who can translate into another manner or a new material his impression of beautiful things." (“O artista é o criador de coisas belas. Revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte. O crítico é aquele que pode traduzir para uma outra forma ou para um novo material, a sua impressão das coisas belas”)
Oscar Wilde, Prefácio de “O retrato de Dorian Gray”

Assisti no sábado passado a nova versão de „Dorian Gray“ de Oliver Parker, o jovem (1960) e muito britanico diretor de "Othelo" (1995), "An ideal Husband" (1999) e "The importance of being Earnest" (2002) - os dois últimos com o genial Rupert Everett.

Achei este novo trabalho interessante, bem feito e quase fiel à obra de Wilde. Diferente de versões já vistas… como por exemplo a com Hurd Hatfield

ou a com Helmut Berger.
O jovem Ben Barnes não nos encanta a partir do primeiro momento.
A célebre “Beleza” de Dorian “falta” de certa forma. Mas Barnes é um bom ator e com o passar do tempo acreditamos no seu personagem – principalmente pela forma como sua libertinagem e vida sexual dissoluta nos é mostrada – o que não teria sido possível na versão da MGM de 1945… apesar desta ter “acabado” com a carreira de Hurd Hatfield pelas sugestões sobre a bissexualidade de Dorian… Lembram-se quem foi seu primeiro amor, Sybill Vane? Angela Lansbury. Sim, ela também foi jovem um dia…
Muitos “erros” foram, em comparação às versões anteriores, “concertados”, retificados. Por exemplo sua «noiva» não é filha do pintor do retrato e sim de Lord Henry Wotton, que colocou toda uma noção hedonística na cabeça de Dorian (da qual ele nunca se libertou). Por outro lado o pintor, que na realidade é apaixonado por Dorian e por sua “beleza”, recebe até um “agradecimento” deste em forma sexual.

O filme porém falha terrívelmente no final. Não vemos um desesperado Doriam querendo se "redimir", querendo acabar com o quadro e enfiando-lhe uma faca – a fonte de todo seu sofrimento que provávelmente se tornaria eterno. Vemos porém Lord Henry incendiando-o… o que não tem nada que ver com a obra de Oscar Wilde e tira muito do "caráter" do personagem “Dorian”.

Um detalhe chamou-me demais a atenção (Achei-o por sinal magnífico): Muitas vezes se vê o sótão (onde o retrato de Dorian ficou escondido) do ponto de vista da pintura. Sim, a luz é mais clara, “branca” e ao mesmo tempo difusa – diferenciando assim a forma com que o quadro “vê” em comparação à forma com a qual os personagens “vêm”. Temos a sensação que o quadro “vive” e presencia toda a tragédia.

Outro ponto fascinante para mim é a forma como o “Millieu” baixo e sórdido, no qual Dorian circulava e “vivia” todas suas perversidades, “cheira” mal e lembra demais o ambiente sujo e vezes nojento criado por Wilde no seu romance pornográfico “Teleny” (ainda hoje discute-se se a Wilde é realmente o autor). Por falar-se em pervesidade… aqui uma definição do próprio Wilde:
"perversidade é um mito inventado por gente boa para explicar o que os outros têm de curiosamente atractivo".

Me resta só dizer que acho “Dorian” e sua estória, hoje em dia, em tempos de um enlouquecido “culto” à juventude e inconsiderada “cobiça de viver” cada vez mais rápida- e intensivamente, mais do que relevantes.
Hoje Botox & Plásticas apagam os rastros da vida de qualquer face – e suas «vítimas» não perdem suas «almas» como Dorian, mas talvez o juízo…


Estudos começam a provar que Botox não só paraliza a “mímica” do rosto com também o cérebro…

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