segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Private Lives (Noël Coward)


Invariávelmente chega-se a um certo momento do inverno na qual o frio, o vento, a neve ficam tao intensos que nosso único desejo, além de querer que a primavera logo chegue, é o adicional calorzinho gostoso de uma lareira, o aconchego de uma manta de lã sobre nossas pernas e velas, velas e ainda mais velas por toda a casa.
Este „temido“ ponto do inverno chegou. De terça para quarta-feira (27.01.) foram registrados em Viena 18 graus negativos (numa cidadezinha do norte da Austria a temperatura chegou à -27 graus), saí de casa para o escritório na quarta à 08.30 da manhã com 14 abaixo de zero e meu carro demorou tanto para se aquecer que eu já estava práticamente no escritório quando a temperatura interna ficou boa. À Noite cheguei feliz em casa. Sim, no momento, voltar-se à privacidade da própria casa é o momento mais gostoso do dia. Voltar à vida privada e ficar à vontade com uma roupa quentinha, e casual, de flanela e meias de lã depois de um gostoso banho quente…
Nestes particulares dias alegro-me muito quando uma encomenda qualquer chega. Na quinta-feira, dia 28, como que para iluminar minha noite, abri a caixa do correio e encontrei o esperado pacote da „Amazon“ com „Private Lives“ (MGM, 1931).

A peça de Noël Coward (a primeira foto desta postagem è de uma “revival” de 1936 com o Mestre Coward e sua querida amiga Gertrude Lawrence) é uma das minhas „all-time-favourites“ desde que comprei este livro numa second-hand bookshop da Broadway chamada „Theatre Books“ em N.Y. em 1983 (Não esqueço da cara do dono da loja e do fato dele ter-me contado que Joan Fontaine tinha ido ao seu casamento!?! Não sei mais porque ela foi ao seu casamento e o porque dele me contar isto… ). Nunca assisti „Private Lives“ mas o trabalho em conjunto e a grande amizade entre Noël e Gertie (Gertrude Lawrence), para quem a peça foi concebida, começou a fascinar-me já em 1989 quando numa outra „second-hand bookshop“ (desta vez em Singapura) comprei uma biografia chamada „A bright particular Star“ – que como toda BOA biografia inglêsa exerce sobre nós o charme do „low profile“ britanico (bem em contraste com as biografias „flamboyant“ americanas, que dominam o mercado): Como que, se perguntando sobre o porque do talento imenso destas imensas personalidades, a biografia simplesmente respondesse: „Of course, my Deah… What else could you have expected?“

Eu tinha assistido duas cenas, relativamente curtas e bastante „condensadas“ de „Private Lives“ com Julie Andrews (como Gertrude Lawrence interpretando Amanda) e Daniel Massey (como Noël Coward interpretando Elyot) no (infelizmente) fracassado „Star!“ (20th Century Fox, 1968), uma biografia sobre Gertie. Amanda e Elyot são divertidíssimos personagens!

Outras „Amandas“ no palco foram Tallulah Bankhead, Tamy Grines, Joan Collins, Elizabeth Taylor (com Burton como Elyot), Elaine Stritch e minha querida Dame Maggie Smith. Lembro-me bem do dia em que, em Londres no início dos anos 80, não consegui entradas para esta produção (ou eu não tinha dinheiro?) e fiquei na porta esperando Maggie e Michael Caine entrarem no teatro. Que pena que não os vi no palco.



Não sei exatamente o que estava esperando desta versão da MGM de 1931 (feita só meses após a fulminante estréia da peça na Broadway, com Gertie e Noël, depois de terem terminado a temporada londrina), não sei o que esperava de Norma Shearer (que como esposa de Thalberg era na época, junto à Garbo, „rainha da MGM“) e do estático Robert Montgomery. Sabia que nem Reginald Denny nem Una Merkel me convenceriam como Victor e Sybil. Ele por estar „no lugar“ de Laurence Olivier (que fez este papel secundário no início de sua carreira – vide foto abaixo) e Douglas Fairbanks Jr., ambos bonitos rapazes. Ela por não ser uma „comediante“ (Sempre penso na fabulosa e sofisticada Rosalind „Roz“ Russell quando penso em comédia sofisticada) porém uma „cômica“.
A decepção com Shearer foi imensa (gosto muito de vários trabalhos dela e acho-a uma das mulheres mais bonitas do cinema mas ela é a atriz errada para Amanda. Falta-lhe um certo „glamour“. Qualidade que Gertie tinha de sobra), a com Montgomery mais ou menos esperada – ele estava ainda mais estático do que de costume. Em resumo: dois ingleses com sotaques americanos? (Grande falha da produção – quando Victor pergunta a Elyot „Are you English?“, me perguntei o porque dele ter feito tal indagação). Duas pessoas, que deveriam emanar „Savoir-faire“ e classe, resumidos a dois personagens que não mostram o menor vestígio de ser „upper crust“ e de ter experiencia „continental“? Dois atores trabalhando na mais sofisticada de todas as comédias com um ar monótono e estereotipado? Dois atores numa engraçadíssima comédia com ares de quem estão com dor de cabeça e achando a situação muito „aborrecida“?

Fiquei refazendo o filme, a peça na minha cabeça (onde estava de certa forma já há anos „pronta“) com Gertie e Noël e todo seu „wit“, charme, sofisticação e british manners and accents… Um desejo? Sim, adoraria dirigi-los…
„Private Lives“, uma declaração de amor, ainda é uma das grandes comédias sobre o amor que nos mostra que toda e qualquer „decisão“ pode ser reconsiderada e modificada – se deixar-mos nosso coração (e instinto) falar mais alto do que nossa racionalidade.
Como a própria música, tema central da "trama" (composta por Noël) nos explica:

♫ ♪ Someday i'll find you
Moonlight behind you
True to the dream i am dreaming
As i draw near you
You'll smile a little smile;
For a little while
We shall stand
Hand in hand
I'll leave you never
Love you for ever
All our past sorrow redeeming
Try to make it true
Say you love me too
Someday i'll find you again
♪ ♫

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