quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Hans e Fritz, Juca e Chico: Travessuras e muitas Lembranças boas...

Mais uma "Tertúlia" daquelas... das que começo comigo mesmo e nas quais é tão óbvio como uma coisa leva à outra, um incidente ao outro, uma memória à outra. Que coisa boa poder deixar-se "ir" assim. Não acontece sempre...

Os „Sobrinhos do Capitão“ apareceram pela primeira vez numa tirinha do “New York Journal” em Dezembro de 1897! Há quase 113 anos! E até hoje suas “travessuras” ainda são publicadas em alguns jornais norte-americanos!
A “location” das estorinhas é um pouco peculiar: Hans e Fritz são dois meninos levados, peraltas; duas verdadeiras pestes que vivem numa colonia alemã (???) numa ilha tropical (???!!!)
(meu pai chamava-se Fritz e seu melhor amigo de infancia era o Hans… E no final de sua vida tinha um grande amigo que também chamava-se Hans... Hans Göransson, de Penedo)
Em inglês as estorinhas de Rudolph Kirks são chamadas “The Captain and the Kids” (originalmente tinham um nome mais teutonico: “The Katzenjammer Kids”, o que significa literalmente “As Crianças do Gemido de Gato” e quer dizer "Crianças chatas"... existe coisa mais chata do que um gato miando, gemendo?).
Agora, porque chamam-se no Brasil “Sobrinhos do Capitão”?????

Muitas das travessas aventuras dos dois envolviam as deliciosas tortas que eram feitas pela Mama “Chucrutz” (como foi apelidada no Brasil) e roubadas pelos dois (e também pelo Capitão) enquanto esfriavam na janela!

Outras envolviam as “peças” que pregavam em todos, principalmente no Capitão. O “Capitão” era na realidade um hóspede da Pensão da Mama (Na realidade um náufrago que chegou à ilha… e só a partir de 1902) e não era „Tio“ das duas pestinhas. Uma explicação que li uma vez: “Sobrinhos” provávelmente para “moralizar a la brasileira” a não muito bem esclarecida relação entre “Mama” e o “Titio” Capitão.
Hans e Fritz são “descendentes” de duas outras pestinhas da literatura infantil alemã: Max und Moritz, de Wilhelm Busch, que no Brasil foram rebatizados como “Juca e Chico”.
Estes símbolos da infancia sadia, de toda a peraltice e "arte" que se pode fazer, tiveram suas aventuras (em forma de rima) traduzidas em 1915 por ninguém menos do que Olavo Bilac!
A tia dos dois chamava-se em alemão “Witwe Bolte” (em portugues a “Viúva Chaves”, uma boníssima cozinheira) e eles sempre roubavam a comida que ela preparava… ou seja, Rudolph Kirks, realmente pegou emprestadas algumas idéias de Wilhelm Busch para os seus “Katzenjammer Kids”. Vejam abaixo o “roubo das galinhas”.

(Como em épocas em que a comunicação era mais difícil e o mundo bem “maior” (1897) era mais fácil “plagiar”, não é?)

Pausa para uma lembrança:
Lembro-me de uma casinha pobre em Penedo, bem na entrada, que pertenceu à uma alemã, e tinha/ tem não só as carinhas dos dois pintadas sobre o portão como também chamava-se “Casa Juca e Chico”. Os atuais proprietários não devem nem saber quem foram os dois, o que significam, de onde vem, o que inspiraram... mas, pelo menos, deixaram a plaquinha lá. Eu me lembro de ter passado por lá com um amigo austríaco que ficou abismado ao encontrar no interior do Brasil "Max und Moritz". Também personagens queridos de sua infancia.

As estorinhas completas deles foram publicadas, pela última vez, pela Editora Melhoramentos de São Paulo (Juca e Chico. História de Dois Meninos em Sete Travessuras. tradução: Olavo Bilac) e podem ser lidas no Internet. Simpáticas!

As crianças aqui na Austria, lugar onde as crianças são crianças por um período bem mais longo do que no Brasil de hoje em dia, conhecem até hoje muito bem as “artes” e as aventuras de Max e Moritz.

Um dos meus preferidos restaurantes típicos (Gasthaus) em Viena, chama-se justamente “Witwe Bolte” – com uma cozinha apetitosa que faz justiça à reputação da “Viúva Chaves” e com uma decoração engraçada, simpática… só quadrinhos com aquarelas, capas de livros, tirinhas de estorinhas, coisas colecionadas durante décadas sobre “Max e Moritz”.
Gostoso pensar nos verões quentes de Penedo (no Estado do Rio, talvez o único lugar neste planeta onde me sinta realmente em casa) da minha infancia, nas longas caminhadas com meu pai, Fritz Leitner (sobre quem tenho muito que contar... um homem brilhante, com uma cultura fora do comum e que até hoje me inspira nas minhas pesquisas e "buscas"!)
mas também gosto de lembrar das horas depois do almoço (durante as quais estavamos proibidos de nadar) com aquela “moleza” que o calor causa, de cheiro de talco, das sombras generosas de árvores frondosas, d'um copo de limonada e da leitura de estorinhas como as dos “Sobrinhos” ou de “Juca e Chico”. De tempos que nos pareciam ser tranquilos.

Que gostosa, rica lembrança.

P.S. Ter reencontrado no mundo virtual minhas amigas de infancia (e de Penedo!) Marcinha e Mirinha – que estão aqui numa fotozinha que já levo comigo por toda uma vida -

e lembrar-me do maravilhoso baú que tinham com todas as estórias em quadrinhos do mundo (pelo menos parecia-me assim) foi a inspiração desta postagem. Como disse acima: numa boa “Tertúlia”, uma coisa leva a outra e me lembrei até da maravilhosa limonada que Tina (querida amiga, mãe delas) fazia, de um gatinho chamado “Pixuíto”, de aprender a andar de bicicleta, de um girassol (orgulho do pai delas, do querido Walmir), da varanda gostosa cheia de redes, da bomba d'água atrás da cozinha e - muito lindo - da calma, do doce olhar, da voz e do carinho de Dona Nícia (a avó delas e que de certa forma era minha também!). E de tantas outras coisas... Que gostoso este “cheiro aconchegante e familiar” que as boas lembranças trazem consigo… Sou muito grato por te-las. Assim, ainda tão fortes dentro de mim. Ricardo

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo trabalho este seu, meu amigo. A internet é meio perversa. Tanta gente entra em sites os mais diversos (e alguns de qualidade duvidosa), opinam, fazem comentários às vezes destrutivos e não vêem detalhes como estes colocados em seu rregistros. Demonstram muita sensibilidade. Aliás, quem gosta de gibis, tem essa característica. Muito boas suas palavras sobre a família, lembranças da infância, etc. Felicidades, alegrias, saúde!!!

Anônimo disse...


Ah, em tempo:
eu tenho um site sobre gibis na internet: http://70-anos-de-gibis.webnode.com
Consulte e vc verá muita informações sobre os gibis de nossa infância. Aliás, aproveitei uma foto sua e a coloquei no site, mas declarei a fonte - seu blog.
abrs., afonso