sábado, 16 de janeiro de 2010

Leslie Caron: Thank Heaven - a memoir

Existiram melhores atrizes, mais perfeitas bailarinas, mais bonitas mulheres... Mas qual é a razão deste fascínio que Leslie Caron exerce? Uma personalidade muito única, muito charme…
Acabei de ler as memórias dos 78 anos de vida que Leslie lançou há pouquíssmo tempo: LESLIE CARON – Thank Heaven (título óbviamente dedicado ao seu seu sucesso como “Gigi” e como a canção que Maurice Chevalier cantava neste filme: Thank Heaven for little Girls – título que hoje em dia não seria políticamente correto… Imaginem só ver um Senhor de seus 70 e tantos anos, sentado num parque, olhando só para menininhas de 6 a 10 dez anos de idade e cantando “Thank Heaven for little Girls”. Pobre Maurice, hoje em dia seria preso por pedofilia… a “maldade” deste mundo no qual vivemos é também ver “maldade” onde ela não existe… ). Aqui Leslie como uma “little girl” em “Gigi”. Tinha 28 anos e já era mãe!

Caron conta com um charme todo seu (detalhe: existiram também biografias melhores escritas e mais divertidas) sobre sua infancia, sua ida (contrariada) para Hollywood, seus anos bailando com Roland Petit (e como o ajudou depois a conseguir empregos em Hollywood), seus casamentos, seus filhos, seus amores (até Warren Beatty), seus (bons) trabalhos como atriz, sua derrocada por não estar preparada para tornar-se uma mulher “madura”, seus anos “escuros” subjugada pelo alcoolismo, dos quais se recuperou com graça e dignidade e, mais uma vez, com muito do seu charme, sua “volta”, sua vida com a idade, com os netos, consigo. Recomendo este divertido livro!

Ela não só nos conta episódios divinos com Gene Kelly, Fred Astaire, Zsa Zsa Gabor (ela fala MUITO bem de Zsa Zsa), Esther Williams (ela fala MUITO mal de Esther - fato aliás que admiro pois Esther está ainda viva... "normalmente" só se fala mal, nas biografias, dos mortos), Judy Garland, Mel Ferrer, Ava Garner e por aí vai a lista Hollywoodiana como também nos fala com intimidade de sua intensa amizade com Jean Renoir e sua esposa brasileira, Dido Freire (Jean Renoir, filho de Auguste Renoir, escreveu uma peça para ela e a MGM deu-lhe nos anos 50 permissão para ir para os palcos parisienses), de François Truffaut, do seu trabalho com Otto Preminger, René Clair, Orson Welles, Dirk Bogarde, Ken Russell, Charles Aznavour, Delon, Nureyev e mais uma vez por aí vai a lista…

Este livro nos faz (Graças a Deus) lembrar de outros papéis que fez além dos musicais : Por « Lili » ela foi nominada ao Oscar, «The doctor’s Dilemma» como a Jenny Dubitat de Bernard Shaw (feito logo após "Gigi" e no qual, durante as filmagens, estava grávida, fato este só realmente notado brevemente numa cena, na qual a sua capa já nao era mais suficiente para esconder a barriga...),

“Fanny” como a filha de uma peixeira em Marseille, um dos papéis no qual está mais linda
e «Is Paris burning ?» de René Clair (e junto a Orson Welles) trabalhando para a Resistencia.
Todos grandes filmes – Caron Atriz com A maiúsculo, “The L-shaped Room” não só lhe trouxe uma segunda nominação ao Oscar como também um “Golden Globe” e um “BAFTA”.

O "visual" deste filme deve muito ter influenciado o "cineasta" brasileiro Paulo Sarraceni no seu já há muito esquecido "O Desafio" (com Vianinha), procurem fotos do filme e comparem com este poster abaixo... A cena na cama, o enfoque, até o cabelo dela. Copiados. As chamadas "influencias" européias no Cinema Novo (para nao falar de más cópias que foram feito descaradamente.) "Room" foi feito pouco antes do "Desafio" e é até hoje muito considerado como um dos primeiros filmes sobre a classe trabalhadora na Inglaterra. Sim, até entao achava-se que estas "classes baixas" nao viriam a interessar uma platéia de cinema.

Um fato interessante sobre "Room": foi o primeiro filme no qual uma atriz apareceu interpretando uma grávida e mostrando a silhueta de uma, fato até entao considerado "imoral" (para as telas do cinema... ). Como o mundo muda rápido, nao? Estamos falando de 1965... poucos anos depois Leila Diniz mostrava sua barriga usando um Bikini (o que, particularmente, acho até hoje nada estético...)
Recentemente ela ganhou um Emmy por seu desempenho numa série como uma senhora de idade que foi estuprada… Claro que que não esquecerei jamais os musicais como “An american in Paris”, “Daddy Long Legs”, “Gigi” e “The glass Slipper”, mas não podemos pensar só neles… Leslie “aposentou-se” como bailarina aos 28 anos de idade (1959) e deu todas suas sapatilhas para o American Ballet Theatre… Como atriz continua ainda ativa!

Uma biografia muito rica, cheia de episódios fascinantes que nos deixa às vezes com aquele gostinho de dizer “Por que ela não escreveu mais uns tres parágrafos sobre isto ? Por que ela não se extendeu mais sobre aquilo? ». Mas aí está a essencia, o “charme” desta vida tão intensa: para ela as nominações para o Oscar, os premios que ganhou como o Golden Globe e o BAFTA são exatamente tão importantes em termos biográficos como ter aprendido a (bem) cozinhar, sua amizade intensa com sua avó, a perda de sua (também alcoólatra) mãe… Ela não se coloca em nenhum momento numa posição “estrela estrelíssima”. Uma pessoa de uma extrema humildade, ciente de si mas humilde. Simples. Este é o real charme. Adoro um "low-profile". Gosto de Leslie.


Vamos ver outras de suas faces aqui???? Gostei tanto deste vídeo do youtube... que, por sinal, acaba com a voz de Chevalier cantando "Thank heaven for little girls"...

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No meu próximo aniversário estarei em Paris, quem sabe pegamos um carro e vamos almoçar no seu pequeno “Auberge La Lucarne aux Chouettes” ao sul de Paris???? Boa idéia…

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