sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Gelsey e Misha: Swanilda e Franz... Coppélia


A gente „viaja“ por tantos mundos e acaba esquecendo aquilo de bom que estava no “nosso quintal”: Nossa! Soei agora como Dorothy do “O Mágico de Oz” depois de ter viajado por “OZ” e ter-se dado conta que poderia ser feliz no seu próprio “backyard”.

Falando sério: Este conhecido “vídeo” tenho ainda em VHS. E agora encontreio-o no youtube.

SEI que Silvinha, Rodolfo, Eliana, Eric, Antonio, Fernando, Aurea, Rosangela, Claudia, César e tantos outros vão gostar de se relembrar de Gelsey e Misha em “Coppélia”.

Além de sua perfeita performance, fico emocionado com a exatidão da musicalidade de Gelsey. Chama-me porém muito a atencão a precisão do “Balance” de Gelsey na primeira "diagonal" (apesar dela ter confessado que nestas épocas estava com problemas terríveis de bulemia - ou era anorexia ? - e não tinha forca para bailar) Em alguns momentos parece que ela poderia “ficar ali” para sempre. O que, aliás, me lembra um episódio, que ouvi do bailarino (meu querido amigo) Antonio Negreiros sobre (minha querida amiga) Cristina Martinelli. Episódio esse que um dia contarei aqui – o que falta é encontrar a “tal pessoa” para fazer o comentário… Bem, aqui Gelsey e Misha… Divirtam-se!
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

La cousine Bette (Balzac): um clássico muito menosprezado...

Considerado o último grande trabalho de Balzac „A prima Bette“ (La Cousine Bette) não parece ter um lugar de honra e destaque quando se discute o trabalho de Balzac... Foi muito esquecido.

Descreve o caminho de vingança que uma costureira solteirona de meia-idade segue para „aniquilar“ todos que não deixaram-a realizar seus sonhos.
O amor que perdeu para a sua jovem prima, o „artista“, o escultor Wenceslas, que representa o genio artístico que sucumbe à uma certa falta de motivação e preguiça, é morto. Sua esposa, a prima mais jovem de Bette, Hortense, mata-o (Bette armou esta armadilha) e é presa. A „amante“ dele (por sinal, a „melhor“ amiga de Bette), Valérie é levada a um vale de lágrimas enquanto o patriarca da família Hulot (ou seja, o pai de Hortense) sofre um derrame ao pegar „in flagranti“ Valérie (que amava e que tinha sido sua amante) com Wenceslas, seu genro.
Uma trama complicada e de alta-voltagem…
Bette, ao final, assume o poder sobre a casa na qual um dia foi recusada (quando sua prima Adeline morreu ela pensou que Hector Hulot iria casar-se com ela… Não! Ele queria-a só como uma espécie de governanta), tornando-se a responsável „oficial“ não só de seu „primo por afinidade“ Hector, como também, do que resta da sua fortuna e do filho de Hortense e Wenceslas, seu „amor“. Ela triunfa.

O livro, que foi comparado a „Othello“ de Shakesperare e a „Guerra e Paz“ de Tolstoy ("Guerra e Paz " porque? Nao compreendo!), explora temas de uma imensa densidade: maldade e virtude, paixão, mentira e „doença“ ( a fixação práticamente patológica que Bette tinha por Venceslas), sexo e fidelidade e, acima de tudo, a influencia que o dinheiro exercia sobre a sociedade francesa. Reparem que eu não penso que o livro explore o tema „amor“. Nenhum dos personagens realmente "ama"...

Balzac, numa das mais longas „novelas“ (escrita num curtíssimo período de só dois meses) de sua inteira carreira (incrível pensar-se na quantidade de livros que Honoré de Balzac escreveu em sua curta vida. Ele morreu aos 51 anos de idade) descreve realistícamente a trama diabólica que Bette pouco a pouco desenvolve para conseguir o seu maior objetivo: a vingança! E tudo levado pela inveja – que sentimento perigoso e destruidor. Tenho realmente „medo“ da inveja.

Os críticos chamam muita atenção à falta de beleza de Bette, a quem Balzac se refere até com „…quelques verrues dans sa face longue et simiesque“ (…aquelas verrugas em sua face longa e símia). Outra passagem a descreve como „elle ressemblait aux singes habillés en femmes“ (ela tinha semelhanca com os macacos vestidos de mulheres) ou até com „une jalousie de tigre“ (um ciúme de tigre). Características que transformam-a, para o leitor, no que ela é. Uma mulher de terrível caráter, de 42 anos, e muito diabólica. Quando ela toma conhecimento do noivado de Wenceslas e Hortense, começa „a pegar fogo, como se a fumaça das chamas que a acendiam, saíssem das suas rugas assim como as que saem das fissuras causadas por uma erupção vulcanica“. Incrível as figuras, as metáforas empregadas por Balzac! Ele „usou e abusou“ do seu poder de escritor para transformar Bette realmente no monstro que é.

Num filme de nenhum sucesso, feito em 1998 e dirigido por Des McAnuff, o personagem de Valérie foi eliminado, dando lugar à „Jenny“, uma atriz. O motivo para mim é até hoje desconhecido (ou inexplicável… ou será pelo „pudor“? ). No filme, Jenny tinha dois amantes ao mesmo tempo antes de se abandonar nos braços do exilado polones Wenceslas. Valérie (livro), por sua vez, teve até 5 amantes ao mesmo tempo (e quando ficou grávida disse para cada um deles, inclusive um nobre brasileiro chamado Mendés (?!?), que eram todos os pais da criança!). Ou seria o motivo o fato da “amizade” entre Bette e Valéria nao ser vista por Balzac como tão platonica? A com Jenny é…

Mesmo assim, com seus erros, acho o filme muito bem construído. Não é fácil tarefa colocar em 1 hora e 45 minutos todo um mundo de material que Balzac nos presenteia no livro. Imaginem só que após 150 páginas ele nos diz: „Agora a introdução à estória está definitivamente acabada“ (!?!).

Jessica Lange, neste filme que recomendo – não tão horrenda como Bette deveria ser mas, mesmo assim, longe de estar atraente como foi em anos passados – transforma em carne, sangue e osso um dos personagens mais temidos e interiormenre feios da literatura francesa/mundial. Um dos personagens que considero, em termos literários, ser um dos melhor construídos por um autor.

E, não podemos esquece deste fato, o quem mais incomoda neste filme/ livro? O fato dela „vencer“ no final.

Conversamos muito em casa sobre o final do filme (reli até em voz alta o final do livro) e lembro-me muito claramente da opinião de minha mãe: „Pessoas assim não são felizes… „

Será verdade ?

Eu considero que a felicidade está muito relacionada ao fato de ter-se uma consciência limpa… Mas uma pessoa que trouxe desgraça, morte, injustiça, doença e loucura para outros, propositalmente, tem consciência?

Será?


P.S. Diz-se que Ruth Elizabeth Davis escolheu o "nom de guerre" Bette (Davis) por causa deste livro... Se isto é verdade, então a "Bette" de Balzac encheu-lhe de inspiração para interpretar outras "malvadas" (que eram, na maioria das vezes, "punidas" no final dos roteiros da Warner - falaremos delas em breve, OK?).

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

REMEMBERING: Frances Farmer (ou Frances, Hollywood, Lúcifer e o Inferno: de „Aura Lee“ a „Love me Tender“)



Uma das personalidades cinematográficas que mais me intriga até hoje é Frances Farmer (1913 – 1970).


Foi difícil escolher Frances como tema. Mais ainda fazer um relato sobre ela. Tanto já foi escrito, dito, interpretado sobre ela. E de certa forma é quase impossível encontrar material „neutro“ sobre sua vida. A maioria é influenciada por Hollywood e transforma-a numa espécie de Lúcifer cinematográfico, um anjo caído das grandes produções. Sua própria auto-biografia é de um „tom“ meio extra-terrestre. Lê-se nas entrelinhas que uma pessoa já não mais muito „normal“ (bem, o que é na realidade normal?) escreveu-a. E como poderia depois de todas as „surpresas“ que a vida lhe trouxe?
Muitos talvez ouviram seu nome, outros assistitam o filme que foi feito nos anos 80 sobre sua vida. Poucos ainda se lembram de sua imagem nas telas (minha mãe confessou lembrar-se bem do „nome“ Frances Farmer). Na realidade sua trajetória pelo cinema americano foi curta (1936-42) e foi, por motivos que leremos abaixo, práticamente „apagada“ da história. Não fosse pelo filme de 1936 (dirigido por Howard Hawks e William Wyler) que lançou-a ao estrelato (e no qual foi comparada pela crítica à uma „nova Garbo“), „Come and get it“, práticamente não teríamos um testemunho deste imenso talento.


Pergunto-me se algum dia seram redescobertos/relançados em DVD seus filmes com atores e partners famosos como Bing Crosby, Tyrone Power, John Hall, John Barrymore, Ray Milland, Fred MacMurray e Cary Grant (foto abaixo).
Mas Frances não é bem-vinda na memória de Hollywood: a história desesperada de Frances não é realmente uma que enfoque Hollywood pelo seu melhor e mais humano lado. Na opinião de muitos ela „traiu“ Hollywood ao, de certa forma, ter possibilitado uma visão mais „profunda“ sobre a fábrica de sonhos. Mas ela não foi a culpada, ela foi a vítima.
Frances havia sido descoberta pela Paramount em 1935. Foi muito bem sucedida nos seus primeiros anos no cinema mas sua incansável recusa em deixar-se fotografar em maillot (algumas indesejadas fotos existem) no que se chamaria „cheese cake“,
seu desejo de fazer teatro (Ela foi uma época para N.Y. onde trabalhou no sucesso „Golden Boy“ e tornou-se amante do autor, Clifford Odetts, que era na época casado com Luise Rainer)
e seus boicotes contra a Paramount logo a transformaram em „persona non grata“ no estúdio. Quando voltou, obrigada pelos advogados da Paramount, de N.Y., foi relegada à papeis secundários em produções „B“ como uma espécie de castigo.
Frances Elena Farmer, uma mulher inteligente e altamente crítica, incomodava Hollywood com seu jeito de ser e pensar. Acho que de certa forma até hoje incomoda já que não foi possível eliminar completamente todos os vestígios de sua existencia. Sua recusa a „cooperar“ (e a leve surra, ou tapa, que deu numa cabelereira durante a filmagem de „No escape“) transformaram-a num „outcast“ na Mecca do cinema. Ela foi presa por agressão física à cabelereira acima mencionada. Ela estava completamente bebada num quarto do "Knickerbocker Hotel", lugar decadente para o qual foi "mandada" quando o estúdio tomou-lhe a casa onde morava.

Sua fulminante e assustadoramente rápida caída em direção ao inferno havia começado


(Nota: Quando chegou à chefatura de polícia perguntaram-lhe seu nome, ela respondeu: „Voces arrombam meu quarto de hotel, me trazem para aqui à força no meio da noite e não sabem o meu nome?“. Em seguida perguntaram-lhe sua profissão. Ela ponderou por um curto instante e disse seca- e desafiadoramente: „Cocksucker“).
Que „coincidencia“ que repórters e cameras à esperavam na chefatura para retratar um grande escandalo.

Mas o tapa dado na cabelereira durante as filmagens da produção B „No Escape“ seria muito mais fatal do que um processo por uma pura agressão física.

Paramount, Hollywood (e, detalhe, sua mãe) usaram o „famoso“ tapa para „tirá-la de circulação“ durante algum tempo. Sendo porém a razão principal sua ideologia política. Frances era comunista e muito radical em suas idéias, o que nada agradava os chefes do estúdio.

Ela foi colocada num hospício. Primeiro em boas instituições mas com o passar do tempo e à medida que SEU dinheiro foi acabando (Hollywood não lhe oferecia papéis), sua mãe foi obrigada a colocá-la num manicomio do estado. Nestas instituições ela passou os próximos 11 anos de sua vida. É até cogitado que ela foi um dos primeiros pacientes a sofrer uma „Lobotomia“ (operação já há muitos anos proibida).

Sim, o inferno tinha definitivamente aberto suas portas para Lúcifer.

Frances não era de nenhuma forma „louca“; era uma „angry woman“ que tudo questionava, uma mulher angustiada que tinha encontrado a tequilla como substituta ao amor, como ombro para chorar suas mágoas. Uma vez ela pode ir para casa. Quando disse à sua mãe que jamais voltaria a Hollywood e que não mais queria ser atriz, foi mais uma vez internada. Foi considerada louca por recusar Hollywood.

O filme com Jessica Lange (abaixo) sobre sua vida („Frances“, 1982) é um ótimo trabalho. Principalmente por só contar com um „trunfo“ nas suas mãos: Um bom diretor com bons atores.


Ele é porém, apesar de ser MUITO forte, quase um „conto de fadas“ em comparação aos fatos de sua auto-biografia „Will there really be a morning?“ que conta sua luta para sobreviver aos maltratos, humilhações e sofrimentos num manicomio (isto sem contar os estrupos quase diários. Sim, ela era „vendida“ pelo "staff" para soldados por ser uma „Hollywood Star“ e para se afastar, pelo menos em espírito da sórdida situação, recitava em voz alta as poesias de Walt Withman enquanto era estrupada, muitas vezes por vários soldados em questão de uma hora).

Nos anos 50 ela saiu finalmente do manicomio: Frances viveu o resto de sua vida práticamente bebada, nunca tendo „resolvido“ seus 11 anos nos manicomios (Alguém se admira?). Ela fez durante anos um programa de TV em Indianapolis durante o dia (durante as noites ela bebia) e tentou até, sem sucesso, voltar ao cinema. Ela, que tinha crescido odiando Deus (vejam minha postagem de 03.06.2009 na qual traduzi um trabalho seu ainda durante sua época de estudante), acabou sua vida como uma fervorosa católica (!?).
Nossa!!!! Como me distanciei do caminho que estava „traçado“ para esta postagem. Comecei a „tertuliar“ comigo mesmo e uma coisa leva à outra…
O título desta postagem de certa forma „revela“ o que queria contar: „Aura Lee“ (ou às vezes „Lea“), uma canção original da Guerra Civil americana, foi interpretada por Frances em „Come and get it“ em 1936. Seu personagem, a mulher „com um passado“, Lotta Morgan canta-a num Saloon. Lotta, um dos personagens que Frances interpreta neste filme (ela também é a outra „Lotta“, a filha de Lotta Morgan) não é como as estereotipadas „mulheres da vida“ da época (Pensem em Mae West) mas sim uma mulher de voz grave, olhar intenso e de carne e osso. Detalhe: estamos falando de 1937!
A fotografia é um ponto fascinante desta produção. Só o efeito à la „venetian Blind“ que a sombra do parasol (ou sombrinha?) causa sobre seu rosto, já é em si magnífico. Técnica artesanal no cinema. Sim, deste material é que se criava estrelas.
A música virou realmente um sucesso só 20 anos depois, com outro texto e cantada por Elvis. Voces reconhecerão!

Aqui, Ladies and Gentlemen, uma bela e talentosa atriz: a esquecida Frances Farmer.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Domingo: uma tarde nevada, uma xícara de chá, um poema de Elizabeth Barret Browning e o primeiro Arabesque de Debussy.

Um momento…

Domingo passado sentei-me tranquilamente na cozinha para beber um chá…
para ler…
para ouvir música…

Meu jardim está coberto do tapete branco da neve e eu adoro sentar-me olhando para este mundo de calma e paz que é o meu „velho“ jardim.
Um mundo cheio de silencio prateado invernal – „lar“ de uma família de esquilos e outra de pica-paus – apesar de morarmos na cidade.
A luz da tarde já começava a ficar mais fraca, mais fina.

Acendi algumas velas para tornar ainda mais aconchegante o ar quentinho da cozinha .
Como num ritual fervi a água, apanhei um bule e servi-me um chá. O gosto das longínquas Índias invadiu-me e de certa forma „voltei“ ao meu querido Ceilão, ou melhor Sri Lanka, que já visitei tantas vezes.
Escolhi cautelosamente um CD. Debussy. Bem suavemente comecei a ouvir o primeiro Arabesque.

Abri um dos meus livros preferidos: The poetical Works of Elizabeth Barret Browning e então li

Love me Sweet, with all thou art,
Feeling, thinking, seeing;
Love me in the lightest part,
Love me in full being.


Que momento mais rico.
Voei como um pássaro para longe. Para muito longe. Com as palavras de um poema, com as notas e paz de uma linda composicao. Como se estas fossem o vento que me levava. Que fazia minhas asas bater.

Um momento. Só um momento.
E mesmo assim eterno.
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sábado, 16 de janeiro de 2010

Leslie Caron: Thank Heaven - a memoir

Existiram melhores atrizes, mais perfeitas bailarinas, mais bonitas mulheres... Mas qual é a razão deste fascínio que Leslie Caron exerce? Uma personalidade muito única, muito charme…
Acabei de ler as memórias dos 78 anos de vida que Leslie lançou há pouquíssmo tempo: LESLIE CARON – Thank Heaven (título óbviamente dedicado ao seu seu sucesso como “Gigi” e como a canção que Maurice Chevalier cantava neste filme: Thank Heaven for little Girls – título que hoje em dia não seria políticamente correto… Imaginem só ver um Senhor de seus 70 e tantos anos, sentado num parque, olhando só para menininhas de 6 a 10 dez anos de idade e cantando “Thank Heaven for little Girls”. Pobre Maurice, hoje em dia seria preso por pedofilia… a “maldade” deste mundo no qual vivemos é também ver “maldade” onde ela não existe… ). Aqui Leslie como uma “little girl” em “Gigi”. Tinha 28 anos e já era mãe!

Caron conta com um charme todo seu (detalhe: existiram também biografias melhores escritas e mais divertidas) sobre sua infancia, sua ida (contrariada) para Hollywood, seus anos bailando com Roland Petit (e como o ajudou depois a conseguir empregos em Hollywood), seus casamentos, seus filhos, seus amores (até Warren Beatty), seus (bons) trabalhos como atriz, sua derrocada por não estar preparada para tornar-se uma mulher “madura”, seus anos “escuros” subjugada pelo alcoolismo, dos quais se recuperou com graça e dignidade e, mais uma vez, com muito do seu charme, sua “volta”, sua vida com a idade, com os netos, consigo. Recomendo este divertido livro!

Ela não só nos conta episódios divinos com Gene Kelly, Fred Astaire, Zsa Zsa Gabor (ela fala MUITO bem de Zsa Zsa), Esther Williams (ela fala MUITO mal de Esther - fato aliás que admiro pois Esther está ainda viva... "normalmente" só se fala mal, nas biografias, dos mortos), Judy Garland, Mel Ferrer, Ava Garner e por aí vai a lista Hollywoodiana como também nos fala com intimidade de sua intensa amizade com Jean Renoir e sua esposa brasileira, Dido Freire (Jean Renoir, filho de Auguste Renoir, escreveu uma peça para ela e a MGM deu-lhe nos anos 50 permissão para ir para os palcos parisienses), de François Truffaut, do seu trabalho com Otto Preminger, René Clair, Orson Welles, Dirk Bogarde, Ken Russell, Charles Aznavour, Delon, Nureyev e mais uma vez por aí vai a lista…

Este livro nos faz (Graças a Deus) lembrar de outros papéis que fez além dos musicais : Por « Lili » ela foi nominada ao Oscar, «The doctor’s Dilemma» como a Jenny Dubitat de Bernard Shaw (feito logo após "Gigi" e no qual, durante as filmagens, estava grávida, fato este só realmente notado brevemente numa cena, na qual a sua capa já nao era mais suficiente para esconder a barriga...),

“Fanny” como a filha de uma peixeira em Marseille, um dos papéis no qual está mais linda
e «Is Paris burning ?» de René Clair (e junto a Orson Welles) trabalhando para a Resistencia.
Todos grandes filmes – Caron Atriz com A maiúsculo, “The L-shaped Room” não só lhe trouxe uma segunda nominação ao Oscar como também um “Golden Globe” e um “BAFTA”.

O "visual" deste filme deve muito ter influenciado o "cineasta" brasileiro Paulo Sarraceni no seu já há muito esquecido "O Desafio" (com Vianinha), procurem fotos do filme e comparem com este poster abaixo... A cena na cama, o enfoque, até o cabelo dela. Copiados. As chamadas "influencias" européias no Cinema Novo (para nao falar de más cópias que foram feito descaradamente.) "Room" foi feito pouco antes do "Desafio" e é até hoje muito considerado como um dos primeiros filmes sobre a classe trabalhadora na Inglaterra. Sim, até entao achava-se que estas "classes baixas" nao viriam a interessar uma platéia de cinema.

Um fato interessante sobre "Room": foi o primeiro filme no qual uma atriz apareceu interpretando uma grávida e mostrando a silhueta de uma, fato até entao considerado "imoral" (para as telas do cinema... ). Como o mundo muda rápido, nao? Estamos falando de 1965... poucos anos depois Leila Diniz mostrava sua barriga usando um Bikini (o que, particularmente, acho até hoje nada estético...)
Recentemente ela ganhou um Emmy por seu desempenho numa série como uma senhora de idade que foi estuprada… Claro que que não esquecerei jamais os musicais como “An american in Paris”, “Daddy Long Legs”, “Gigi” e “The glass Slipper”, mas não podemos pensar só neles… Leslie “aposentou-se” como bailarina aos 28 anos de idade (1959) e deu todas suas sapatilhas para o American Ballet Theatre… Como atriz continua ainda ativa!

Uma biografia muito rica, cheia de episódios fascinantes que nos deixa às vezes com aquele gostinho de dizer “Por que ela não escreveu mais uns tres parágrafos sobre isto ? Por que ela não se extendeu mais sobre aquilo? ». Mas aí está a essencia, o “charme” desta vida tão intensa: para ela as nominações para o Oscar, os premios que ganhou como o Golden Globe e o BAFTA são exatamente tão importantes em termos biográficos como ter aprendido a (bem) cozinhar, sua amizade intensa com sua avó, a perda de sua (também alcoólatra) mãe… Ela não se coloca em nenhum momento numa posição “estrela estrelíssima”. Uma pessoa de uma extrema humildade, ciente de si mas humilde. Simples. Este é o real charme. Adoro um "low-profile". Gosto de Leslie.


Vamos ver outras de suas faces aqui???? Gostei tanto deste vídeo do youtube... que, por sinal, acaba com a voz de Chevalier cantando "Thank heaven for little girls"...

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No meu próximo aniversário estarei em Paris, quem sabe pegamos um carro e vamos almoçar no seu pequeno “Auberge La Lucarne aux Chouettes” ao sul de Paris???? Boa idéia…

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Casa de Bonecas (A Doll's House): Pensamentos

Escrever sobre „Casa de Bonecas“ (A Doll’s House, Henrik Ibsen, 1879) já é em si o princípio de uma polemica.
A (chamada) primeira peça „feminista“ foi escrita muito antes do movimento feminista ter começado a existir e até hoje empolga longas, animadas tertúlias e agitadas discussões pelo fato do personagem principal abandonar no final sua casa, seu marido e seus filhos… „Aonde está o instinto de uma mulher assim? Abandonar os filhos…“ Ouvi não faz muito tempo. Um trabalho de dramaturgia, até hoje imortal, dado que a temática principal ainda é de grande atualidade. Sim.

Os traços psicológicos dos personagens foram compostos por Ibsen com uma sensibilidade e sutileza fora do comum – comparo estes traços às fascinantes interpretações psicológicas de um Stefan Zweig, um dos meus prediletos.
A metamorfose que acontece dentro de „Nora“ ao longo da peça e chega à sua conclusão ao final do último ato não é só um trabalho teatral muito interessante como também dá grandes oportunidades, quando bem compreendida e estruturada pela atriz que a interpreta, para uma magnífica performance. Como gostaria de ter visto Liv Ullmann como Nora… Sim, um papel muito querido para Liv e que ela repetiu muitas vezes nos palcos da Broadway e da Noruega. Dizem que ela esteve soberba como Nora...



Me emociono muito quando Nora dá-se conta de que seu marido não era o homem que ela imaginou ser durante anos e que toda sua existencia foi até então nada mais do que uma mentira. Sua fantasia sobre o amor é sómente uma fantasia. Seu marido tratou-a como um brinquedinho toda a vida. Ela, na realidade, sempre foi tratada como um brinquedinho, uma boneca; primeiro por seu pai e depois por Torvald, seu marido. Quando o casamento está demanchando-se, este insiste que ela deve continuar exercendo suas „obrigações“ como Mãe e Esposa. Nora porém já comeca a ver, a se dar conta que ela, sim tem obrigações mas com ela mesma. Nora percebe que Torvald e ela não são nada mais do que estranhos um para o outro. Quando ele pergunta se ainda existiria alguma chance para reconstruir-se esse casamento ela reponde analíticamente que necessitaria-se „o maior milagre de todos“ já que teriam que mudar tanto para transformar a vida conjunta num casamento. Ela é uma outra mulher do que no primeiro ato… anos-luz daquela que não queria dizer ao marido que tinha comprado doces…

A peça acaba com uma famosa batida de porta. O momento em que Nora abandona Torvald enquanto este, especulando consigo, não com ela, sobre uma possibilidade para realizar „o maior milagre de todos“, mostra ao público que jamais mudaria.

„Casa de Bonecas“ escandalizou muito europeus no final do século XIX (Em Nova York o público em 1889 abandonou o teatro!) como um peça „imoral“, já que muitos acreditavam „sagrado“ o casamento (atitude esta que não mudou muito na Europa, acho, fora das capitais). Um exemplo: uma mulher era considerada, pela vizinhança, boa ou má esposa pela (pasmem!) brancura de suas roupas (Nos prédios burgueses do século XIX haviam áreas comuns para pendurar-se a roupa lavada para secar… a „análise“ sobre os casamentos dos outros – e fofoca – sempre começavam aí, num lugar onde de certa forma „intimidades“, como roupa de cama, roupas de baixo etc., ficavam expostas. Não penso que a „suposta moral e mentalidade“ tenham na realidade mudado muito…).

O escandalo na época foi de certa forma tal, que uma atriz na Alemanha recusou-se a interpretar Nora, não mudasse Ibsen o final da peça. Ele fez esta besteira (Nora, em vez de deixar o „lar“, caminha para seus filhos e vendo-os, desmaia enquanto a cortina baixa). Ibsen chamou este seu erro de uma „desgraça“.

„Casa“ foi colocada algumas vezes nas telas do cinema e da televisão. Ala Nazimova deu-lhe vida no cinema mudo.

Julie Harris interpretou-a na TV em 1959 ao lado de Christopher Plummer (o Capitão „Von Trapp“ de „A Novica rebelde - The Sound of Music, Fox 1965 – o bom ator canadense).
Mais recentemente ( em 1992) o personagem principal de „Sara“ interpretado por Niki Karimi, foi baseado em Nora.

Joan Crawford (que horror…) criou-a no rádio em 1938, Wendy Hiller em 47.
(By the Way, Tonia Carrero foi Nora no Brasil - junto a Rubens de Falco e Luís de Lima. Imagino-a muito bem!)

„Casa“ daria muito motivo para expeculações já que em 1973 foram feitas, paralelamente, DUAS versões desta obra (um caso com um único prescedente: em 1965 foram também feitas duas versões de „Harlow“, uma com Carroll Baker, na qual Ginger Rogers despediu-se do cinema, e outra com Carol Lynley):
A primeira dirigida por Patrick Garland com atores de teatro e de mais „peso“: a linda Claire Bloom e um jovem, Anthony Hopkins.


A segunda versão, dirigida pelo grande Joseph Losey, teve no elenco David Warner e uma jovem Jane Fonda, dois anos depois de ter ganho o „Oscar“ em „Klute“ e quatro depois de sua magnífica e desiludida „Gloria“ em „They shoot Horses, don’t they?“ („Mas não se mata cavalo?“) baseado no livro de Horace McCoy sobre uma maratona de dança.
„Casa de Bonecas“ (ou „Nora“) parece ter sido esquecido da filmografia de Jane… Gosto dela como Nora Helmer. Gosto de como a atriz transforma-se numa marionete dançando a „Tarantella“ para seu marido e convidados: uma cena já extremamente simbólica no palco e que Losey e Jane souberam usar ao máximo.
Gosto como ela, não sabendo mentir, conta a verdadeira data da morte de seu pai para o homem que está a chantageá-la e, por assim dizer, assina sua declaração de culpa (Ela forjou a assinatura do pai e assinou o documento com uma data posterior à morte).
Gosto dela decidida, abandonando o lar, o passado, os filhos. Revejam este filme pois ele, em vez de envelhecer com o tempo tornou-se mais „apurado“, mais consistente (Infelizmente só consegui o Trailer em alemão… mesmo assim… a Tarantella… ).

Penso nas „Noras“ da vida, as que até hoje existem e que não tem a coragem de fazer suas malinhas, abandonar tudo e bater a porta…
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Penso nas „Noras“ da vida que, escondendo-se atrás da faixada de "serem formadas" ou de "estarem ativas profissionalmente" ou até de „terem trabalhado fora“, jamais admitiriam sê-las, mesmo estando subjugadas (e deixando-se subjugar) pelos maridos…

Conheço algumas „Noras“…