Uma sensacional série de fotos foi feita sobre o que aconteceu „depois“ dos contos-de-fadas terem acabado… Cinderella bebada e deprimida num bar de estrada, Branca-de-Neve irritada como uma frustrada dona-de-casa com o marido/ príncipe sentado em frente da TV assistindo futebol e bebendo cerveja, o Chapéuzinho Vermelho como uma matrona gorda, Rapunzel sem peruca tomando uma quimioterapia. Não vou colocar estas fotos aqui. Eu já mandei há muitos meses atrás estas fotos para amigos e elas estao em dúzias de Blogs.
Mas uma pergunta persiste: o que aconteceu realmente a estes personagens depois dos contos terem terminado? Os contos-de-fadas sempre acabaram com „…e viveram felizes para sempre“ („…and they lived happily ever after!“)
mas eu me pergunto, e se não há realmente o depois? Se ele não existe? Pensem: nunca alguém se preocupou em nos contar se Branca-de-Neve transformou-se numa neurótica em termos limpeza (algumas indicações ela já tinha deixado „transparecer“, limpando tão perfeitamenre a casa dos anoezinhos, muito „docinha“ mas comandando os animaizinhos… fingida! "safadinha"!),
se Rapunzel mandou cortar os cabelos bem curtinhos e virou uma „emancipada“ militante depois de ter ficado todos aqueles anos submissa na torre,
se Cinderella ficou obsecada, maníaca por fazer compras, gastando todo o dinheiro do cartão de crédito do príncipe (sua madastra nunca lhe deu uma roupinha nova… lembram?)
ou até se Aurora passou a sofrer de insonia, o que não seria improvável, depois de ter dormido cem anos, e ficou dependente de remédios para dormir… Não, nunca alguém nos contou o que aconteceu depois… Será que o depois existe?
Só G.B.Shaw nos relata, no epílogo de "Pygmalion" (um "conto-de-fadas moderno?) a triste vida que Eliza Doolitle levou depois de casar-se com Freddy Eynsford-Hill… de como ele gastava fútilmente o dinheiro que ela suava para ganhar na sua loja de flores, de como apesar de ela ter-se tornado uma „Dama“ sua caligrafia era terrível, seu inglês escrito muito deficiente e de como ela, por pura ignorancia, recorria ao Professor Higgins para que ele lhe ajudasse na contabilidade da loja. Ela não sabia como faze-la. Uma „Lady“ na aparencia mas sem o real Background de uma. Triste. Para quem tem a imagem de Eliza como Audrey uma outra „maldade“: Shaw conta como Eliza começou a envelhecer, perder a mocidade e a beleza antes do tempo… (John Tydeman escreveu: que a “made-over” Eliza não era nada além de "a doll who speaks beautifully, knows how to move and to wear fine clothes". Shaw, num período bem “pé-no-chão” e de muita observação social, adicionou ao seu livro este epílogo no qual está óbvio que Eliza ainda teria muito o que aprender para transformar-se realmente numa mulher fina… o “depois do final”).
Um “depois“ do final… este talvez não de um conto-de-fadas mas de uma estória que tem um lado „Cinderella“ que nos hipnotiza e sempre encanta e ENGANA. Uma fórmula aliás bem conhecida no cinema… pensem em „Funny Face“ com Fred Astaire e também Audrey, „Gigi“ com Leslie Caron ou até „Pretty Woman“ com Gere e Roberts. Todas acabam com o final feliz... and they lived happily ever after. Não é à toa que existe o livro „The Cinderella Complex“, que deve ter dado muitas dores de cabeça à muita gente... Nosso país (Brasil) é o "rei" em termos de incentivar estes "sonhos de Cinderella"... pensem só naqueles coitadinhos que íam para "A Buzina do Chacrinha" ou para o programa "Sílvio Santos". A migração constante do interior para a cidade... "lá eu ganho na loteria, viro cantor e fico famoso". Quantos coitadinhos, todo dia, chegam às chamadas "metrópoles" com estes sonhos dentro da mala... Mas por outro lado: ir tentar realizar seu sonho... quanta coragem... admirável...
Mas, de volta a „Pygmalion“: será que alguém já notou aqui que „My Fair Lady“ e „Frankenstein“ tem práticamente o mesmo conteúdo e (no cinema) o mesmo roteiro? Um „monstro“ é criado (na realidade por criar-se uma nova fala e novas maneiras para ela) e o „Cientista“ (Higgins era um ousado cientista, num ousado projeto) perde completamente o controle sobre ele… Cinderella, o monstro. Já tinham pensado nisto?
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