domingo, 9 de agosto de 2009

Widmung… Dedicatória… Clara Schumann mais uma vez aqui... e um pouco de Jessye Norman!

Num domingo cheio de paz e encantos... uns pensamentos sobre Robert & Clara Schumann...

Esta apaixonada e eterna „Lied“ de Schumann foi composta em 1840, ano de seu casamento com a grande pianista Clara Wieck, e abre seu ciclo „Myrthen“ Op.25. Esta imortal canção foi inspirada no poema homônimo de Friedrich Rückert. Ninguém está realmente 100% certo se Robert Schumann realmente compos esta „Dedicatória“ para sua noiva por não ter meios de presentear-lhe outra coisa… Bem, lenda ou não, este fato foi usado no roteiro de „Song of Love“ (1947) que, como já mencionado no domingo passado, tomou muitas liberdades com as biografias de todos envolvidos… Esta „Lied“ é a „Song“ do título… apesar de não ter sido „cantada“ no filme e dar (como título) um certo ar de musical ao filme (talvez pela palavra „Song“ não ter o peso de „Lied“, não acham?).

Tema central do filme, „Widmung“ é tocada tres vezes durante ele.

A primeira vez quando os noivos chegam ao seu pobre apartamento no alto de um prédio (sim… os pobres moravam no alto… tinham que levar não só suas compras mas também tapetes , que eram batidos no quintal uma vez por semana, alimentos, carvão e madeira para os andares mais altos). Aqui, na noite de núocias, ele dedica esta „Lied“ à Clara (e ela, sabidíssima, já toca com ele!).

A segunda vez, anos depois, é uma demonstração da Virtuosidade absoluta de Liszt que, como Clara diz ao seu marido, transformou "Widmung" numa dedicatória „com fogos de artifício“…

A terceira vez é minha predileta: Clara aceita o convite de Liszt para tocar e lhe descreve „Widmung“ mais uma vez, do SEU ponto de vista… Primeiro deixando bem claro que ela tem profunda admiração pela forma „bravurosa“, como se diria em italiano, e virtuosa com a qual Liszt transforma fatos tão corriqueiros, e até banais, nestas „apoteoses“ musicais… ou como ela diz: transformar o „lugar-comum“ em tao grandes experiencias. Mas às vezes estas formas parecem-se contradizer às coisas básicas e simples… e como ela bem formula para ele: as coisinhas sem importancia, Franz, as coisas pequenas, as coisas sem importancia… nada de tormentas em alto-mar, nada de barulhos de saias de seda, nenhum sentimento de culpa, nenhum brilho… só o amor! Simples, como ele é… sem « adoracao ». Dois coracoes que batem um para o outro… As coisas se importancia...“ (E nao é esta a essencia da música de Schumann?).

E ela mesmo diz a Liszt após terminar sua interpretacao: "Or do you know what I mean?"

Reparem como Liszt omite os acordes finais que sugerem „Ave-Maria“. Fato muito sutíl este, que transforma-o para o expectador num „bruto“ apesar de toda sua virtuosidade!

Personagens fascinantes da história da música: Robert, toda sua extrema sensibilidade que transformou-se numa agressiva bipolaridade que o levou à loucura e à morte aos 46 anos,

Clara, muito mais „prática“ com a vida, também sua sensibilidade que transformou-se em força, cuidando de vários filhos (8 ao total), também compondo (seus trabalhos são interessantes apesar de nunca terem sido „reconhecidos“), retomando a carreira de pianista para poder sobreviver e recusando (dizem) o amor de Johannes Brahms… Pelo fato dos dois, de comum acordo, terem queimado toda a sua correspondência, ficaram muitas perguntas em aberto… Houve realmente um amor entre eles? Da parte de Brahms sim… mas ela o correspondeu?

Aqui as tres cenas mencionadas acima:
Eu sei… são bem „açucaradas“. Mas não seria maravilhoso se a vida fosse assim?

Refiro-me também ao fato de Clara poder dar esta „bofetada com luvas de pelica“ em Liszt (Acho que todos nós já sonhamos alguma vez em nossas vidas com uma situação assim) sob o olhar assustado de Johannes Brahms (Detalhe: aqui interpretado pelo talentoso Robert Walker… que aliás muito prometia mas acabou-se por causa do alcóol em 1951… quando ele chegou a Hollywood era casado com a atriz Phylis Flora Isley , que depois ficou bem mais famosa do que ele, transformou-se em Jennifer Jones, casou-se com David O.Selznick – e está viva até hoje, com 90 anos! Mas esta já é uma outra estória, nao é verdade? Voltemos a „Song of Love“…).

Açucaradas ou não, como comentaram minha outra postagem sobre Clara: „Para a Beleza todas as licenças poéticas são permitidas!“.
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Eu gosto deste nome... Clara... minha avó chamava-se assim... a filhinha de minha querida prima Glenda também... Este nome tem um encanto único!

E aqui Jessye Norman cantando "Widmung" a "Song of love" do título do filme...

Widmung
Friedrich Rückert

Du meine Seele, du mein Herz,
Du meine Wonn', o du mein Schmerz,
Du meine Welt, in der ich lebe,
Mein Himmel du, darein ich schwebe,
O du mein Grab, in das hinab
Ich ewig meinen Kummer gab

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Du bist die Ruh, du bist der Frieden,
Du bist vom Himmel mir beschieden.
Daß du mich liebst, macht mich mir wert,
Dein Blick hat mich vor mir verklärt,
Du hebst mich liebend über mich,
Mein guter Geist, mein beßres Ich!

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