quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Branco no Cinema


O branco no cinema também teve seus clássicos, eternos momentos... Pensem, por exemplo, em "Dancing in the dark" com Fred Astaire e Cyd Charisse (que abusava do direito de ser elegante!) de "The Band Wagon" (A Roda da Fortuna, MGM 1954).

Na linda produção de Max Reinhard em Hollywood, “ A Midsummer’s Night Dream” de Shakespeare (Sonho de uma Noite de Verão, Warner 1935) uma série de criaturas celestiais aparecem de branco. Titânia, interpretada pela cativante Anita Louise, nos impressiona com uma magia cinematográfica da qual o uso de um guarda-roupa branco é também muito responsável!
Como que uma criatura assim tão mágica, etérea e tão cheia de luz pode apaixonar-se por um asno?


Ele, o branco, na minha opinião, não foi usado no cinema tão “pura- e etériamente” como o branco no Ballet mas ele também teve seu simbolismo: ele definitivamente definiu o perfil do “bem” em comparação ao “mal”, ele colocou “rafinesse” em certos personagens, assim como deu a entender que estes possuíam certas virtudes. Ele levantou das massas outros e deu classe a muitos. Ele “elevou” moças simples à outras atmosferas mais finas, como o imortal exemplo de Vincente Minelli: Madame Bovary. Ema que sempre sonhou com o explendor dos romances que lia, encontrou-se como uma princesa usando um vestido branco...
Sua cena bailando uma valsa com Louis Jourdan (Vincente Minelli com seus efeitos visuais), nos tira a respiração... O público fica estático, calado, só admirando a arte deste incrível diretor....


Este mesmo vestido acompanhará Ema a um sórdido hotel de terceira classe... mas a atmosfera é tão “baixa” que o vestido branco já não mais consegue criar sua magia.

Não é só o vestido, o branco que importa... Toda foto também tem que ter uma bela moldura... Pensem em um belo espelho de mão, com uma moldura de prata... It’s just a thought...

Penso também em Leslie Caron em Gigi, com uma elegancia digna de um quadro impressionista entrando no Maxim’s ao lado de Louis Jourdan (mais uma vez Jourdan aqui). Óbviamente a luz e direção de Vincente Minelli (mais uma vez Minelli e seus efeitos visuais aqui) só realçaram o guarda-roupa do magnífico e genial Cecil Beaton (sobre quem aliás quero um dia preparar uma série de postagens... que fotos ele fez!).

Mas o branco no cinema tem muitos lados: A freira interpretada por Deborah Kerr em “Heaven knows, Mr. Allyson” (1957) que manteve-se imaculadamente limpa durante todo o filme apesar de estar escondendo-se dos japoneses numa ilha no Pacífico (!!!???) é um exemplo. O Branco elevando o espírito.

De uma forma muito parecida o branco também deu à “Mrs Anna” de Kerr, a governante do lindo “The King and I” (1957) um ar ao mesmo tempo elevado, decente e honesto... e cheio de virtude!

Até Lucille Ball, anos antes de ter encontrado sua persona cômica, seu alter-ego ruivo chamado “Lucy”, também desfilou elegantemente (e loira!), como um manequim da época, em “Roberta” (um veículo de Fred Astaire e Ginger Rogers).

E por falar em Astaire & Rogers, aqui a primeira vez que Rogers usou “requinte” e não atuou ao lado de Fred como uma “Jazz-Babe” (acabando assim com o “slogan” que Katherine Hepburn tinha dado à dupla: “Fred gave Ginger class, Ginger gave Fred sex”). Aqui ela realmente usou sua própria classe e que cor usava? Branco naturalmente (Aliás um detalhe: o Branco era muito traiçoeiro nos filmes em prêto-e-branco do início dos anos 30, com uma iluminação ainda mais "básica" mais primitiva, que fazia-o refletir demais. Para conseguir-se o efeito de “branco” usava-se o azul claro. Este vestido, pelo qual Ginger lutou como uma leoa, já que todos na produção de “Top Hat” (O Piccolino, RKO 1935) estavam contra ele (e, irônicamente, é considerado, também pelo fato de ser feito com plumas de avestruz, como um dos mais “chiques” que ela usou) era na realidade azul claro !!!!!

Lamont & Lockwood, os astros do Cinema Mudo de “Singin’ in the rain” (Gene Kelly e Jean Hagen – vejam minha postagem sobre esta interessantíssima atriz de 08.11.2008) são práticamente “elevados” da multidão ao entrar na Premiére de seu filme pelo fato de estarem usando branco. Eles são “Stars”. Intocáveis, de branco...

Um dos espetáculos mais absurdamente “kitsch” (e dos mais maravilhosos!) da história do cinema foi o número “A Pretty Girl is like a Melody” – práticamente todo em branco e com uma atriz chamada Virginia Bruce (que também como Anita Louise – vide acima – sumiu!) – do filme “The great Ziegfeld” (MGM 1936). Este recebeu o Oscar de melhor filme do ano ( A MGM ganhou quatro por musicais: Broadway Melody (1929), The great Ziegfeld, An American in Paris (1951) e Gigi (1958). Os dois últimos dirigidos pelo mestre Minelli e estrelados por minha querida Leslie Caron...)

Leslie com Gene Kelly em m “An American in Paris” (Sinfonia em Paris, MGM 1951), de branco, anos antes de tornar-se uma beleza...

E, mais uma vez nesta postagem, em Gigi. A partir deste momento Leslie foi transformando-se numa mulher muito atraente...


Não podemos esquecê-la de branco, como um triste e absurdo pierrot no Carnaval do Rio de Janeiro, num número chamado “Paris, Hong-Kong, Rio” de um filme “esquecível”, chamado “Daddy Long Legs” (Papai Pernilongo, Fox 1955).

Como escrevo sobre Leslie Caron, não? Ainda há muito sobre ela “nas gavetas da memória”... Longos caminhos desde “An American” e “Lili” até “The L-shaped room” e “The Doctor’s Dilemma” (Veja minha postagem de 06.06.2008). Uma linda mulher!

Bergman dominou o filme (e ganhou um Oscar) como Paula, usando em algumas cenas branco. “Gaslight” (MGM 1944) - Vide minha postagem de 23.05.2008. Um grande filme com toda a sensibilidade de George Cukor... melhor dito, uma Obra-prima!

Mas um dos usos mais “suntuosos” do branco aconteceu no filme “Marie Antoinette” (MGM 1938). Neste Baile Antoinette, “L’Autrichienne”, irá encontrar Madame DuBarry, que estará usando negro, diferenciando assim o “bem” do “mal” (isto tudo num diálogo que só aconteceu em Hollywood... Antoinette durante sua vida inteira só dirigiu 6 - sim seis! - palavras à DuBarry. E isto porque Louis XV a obrigou!). Norma Shearer – também uma rainha da Metro – esquecida hoje em dia... Outra linda mulher!

Ah... e ainda faltam tantos de branco... lindas mulheres, charmosos galãs usando seus ternos e “Panamás”, números musicais, cenas inteiras, decórs... Tantos como Leigh, Garbo, Dietrich (muito interessante de branco no deserto do Sahara, no primeiro filme em Technicolor da história: The Garden of Allah, de 1936), Astaire, Tyrone Power, Shirley Temple e... Bem, outra vez continuamos... quem sabe...

Para finalizar esta postagem porém uma foto que junta de certa forma o Cinema à Danca: Vanessa Redgrave como Isadora Duncan em “Isadora” (1968). Uma bela aparição em branco... Eterna. Linda como é até hoje aos 70 e tantos anos...

A pequenina, a primeira da fila ao lado esquerdo (de boquinha aberta) é Natascha Richardson, bela atriz e filha de Redgrave, que faleceu num acidente de Ski há poucas semanas no Canadá... Aqui ela como Deirdre, filha de Isadora, que morreu num desastre que fez o carro (junto com seu irmãozinho e o Chauffeur) cair no Sena...

O branco deveria transformar-se de novo na cor também do luto (Vejam a postagem anterior à esta). O luto, a perda, a tristeza... Sentimentos puros como o amor...

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