sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A matter of Time („Uma questão de tempo“, 1976)




„Uma questão de tempo“ (Vincente Minelli, 1976) é, para mim, um filme inacabado... Uma pena pois poderia ter sido muito brilhante... Eu o assisti na época no Cine Caruso (Copacabana, pôsto seis) e me lembro da crítica ter comentado irônicamente o seguinte fato, mais ou menos com as seguintes palavras: “O “velho” saiu de moda. O público nao correrá aos cinemas para assistir “Uma questão de tempo”. A América (do Norte) só se preocupa com o novo, o jovem. Filmes como este são desagradáveis para os expectadores que só se fixam na juventude”. Incrível como este processo, o culto pela juventude, hoje em dia, 32 anos depois, se “aprimorou”. Pensem nisso.

Baseado no livro “Film of Memory” de Maurice Druon (um pequeno trabalho, sensível, as vezes até cheio de uma poesia triste), êle conta a estória de “Nina” (Liza Minnelli), uma mocinha do interior da Itália que vai trabalhar em 1949 como camareira num hotel em Roma. Lá ela conhece uma hóspede fixa do hotel: Contessa Sanziani (Ingrid Bergman), que na sua juventude foi uma das mulheres mais belas, famosas e ricas da Europa, foi retratada por todos os impressionistas (!!!), abandonou o marido (Charles Boyer) para viver seu/seus amor/amores... Hoje ela está à beira da miséria num quarto sujo deste hotel de terceira classe. Confusa...
A Condessa, para quem o tempo nunca significou nada, perdeu totalmente a noção dêle. As vezes não sabe que seu grande amor “Doraccio” morreu, que sua antiga criada é hoje a grande figurinista de um Ballet russo, que é pobre, que envelheceu e que foi esquecida ("Nós deixamos as pessoas morrerem quando esquecemos dela" diz no filme).
Ela começa a contar suas memórias à Nina, que inicialmente fica fascinada por elas. Com o passar do tempo a fascinação cresce, transforma-se quase numa obsessão e Nina começa à “viver” as memórias da Contessa como suas próprias fantasias... da conquista de Maharajahs, às mesas de jogo de Monte Carlo...


Minha cena preferida, uma das poucas com um certo élan: um canal em Veneza. A Contessa (neste caso como é uma memória/fantasia, interpretada por Liza) despede-se de seus convidados de uma festa de fantasias. Ela diz adeus ao “Kaiser” (“Chame-me de Wilhelm, por favor!”) e ao entrar no seu Palazzo vai deixando a roupa cair até o ponto de estar práticamente só de combinação. Ela não deixa os cinco músicos negros pararem de tocar e canta “Do it again!” de Gershwin. Nao é a Contessa, nao é Nina... porém Liza.
As filmagens começaram num clima entusiástico, com grandes esperanças para um sucesso. Mas vamos ser sinceros, tudo indicava: Minnelli & Minnelli (êle, a lenda que é, com toda a sua técnica. Ela, apesar de ter tido alguns fracassos como por exemplo “Lucky Lady” com Burt Reynolds e Gene Hackman, ainda muita considerada por sua recente Sally Bowles de “Cabaret”), a grande Ingrid Bergman num de seus últimos filmes, Charles Boyer (êste em seu último filme. Êle e Ingrid, além de serem muito amigos, já haviam trabalhado duas vêzes juntos na juventude: no fabuloso “Luz de Gás” de George Cukor – veja minha postagem de 23.05.2008 – e no, quase traumatizante, “Arco do Triunfo”, baseado na novela de Erich Maria Remarque). No elenco secundário Fernando Rey, Tina Aumont e, na sua primeira aparição no cinema, Isabella Rossellini, como a freira que cuida da Contessa antes de sua morte (Quando ela pergunta: foi isso? Isso foi a vida?)

Grandes figurinos, duas novas canções de Kander & Ebb (a canção título do filme e “The me I haven’t met yet” que se passa “na cabeça” de Nina: êste nao é de nenhuma forma um musical) e filmagens “in loco” em Roma e Veneza. Todos estes ingredientes contribuíram para uma grande expectativa!

MAS a American International Pictures, muito consciente dos gastos, tirou o filme das mãos de Minnelli quando êste ficou “over budget”. O resultado não poderia ter sido mais patético – e trágico! O filme, além de ser todo o tempo interrompido por cenas à la “cartao postal” de Roma (horríveis... com turistas que definitivamente não são de 1949), foi revelado da forma mais barata possível (Mesmo assim existem aqui e acolá cenas de um grande poder visual, a marca registrada de Vincente). A música de fundo é uma catástrofe assim como a forma na qual o filme foi cortado. Uma vergonha! Martin Scorcese deu vários depoimentos criticando a forma como a AIP maltratou e humilhou uma lenda cinematográfica como Minnelli. Numa conferência para a imprenssa, Vincente rompeu oficialmente a sua relacao, ligacao com este filme, já que não mais o considerava “seu”.

Triste pensar que este foi sua “canção de cisne”, já que nunca mais voltaria a dirigir um filme.

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