sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Anthony Dowell - the last prince / o último príncipe


Jamais esquecerei a primeira vez que vi Anthony Dowell dancando... Lembro-me que foi num daqueles terríveis espetáculos de Ballet organizados por Dalal Achcar. Depois tive o prazer e a oportunidade de ve-lo muitas outras vezes. Que grato sou por estas experiencias: Com ele estava "on stage" Merle Park. Anthony - já na época um bailarino incrível, de grande fama internacional. - entre outros. Esta fama só nao foi maior porque Nureyev chegou nos anos 60 também ao Royal Ballet e oprimiu o desenvolvimento de muitas carreiras (como a de Christopher Gable - vide minha postagem "The boy friend" - que retirou-se completamente do mundo do ballet). Dowell sempre será uma estrela do ballet: com sua técnica imcomparável e muito, muito inglesa - ah, aqueles arabesques precisos aonde o braco frontal está um pouco baixo, realmente em direcao ao solo (para tudo existe um simbolismo) - nada de 90 graus, nem de 110 como os russos mas aqueles elegantes 80, 75 graus que dao toda uma dignidade... uma grande nobreza aos movimentos... o corpo, a cabeca olhando para baixo, para o braco... por cima do braco... estar acima de alguma coisa... que elegancia!!!!!!!!Jamais o esquecerei ( e como poderia? assisto o DVD pelo menos uma vez por mes...) em "Lago dos Cisnes" em 1977 com Natalia Makarova...
Eu o assisti ao vivo pela última vez em Londres em "La Bayadére" - mas aí ele já estava trabalhando como bailarino de caráter (além de "só" ser o diretor do Covent Garden... um homem culto e refinado - o que sempre se notou nos seus movimentos... ) .
O espetáculo no Rio foi em 1975 e até hoje nao o esquecerei. Estava no camarote de Walter Clark, entao no seu apogeu "Global", e depois fomos todos "backstage" cumprimentar os maravilhosos artistas do Royal Ballet. Que excitante! Um novo mundo se abriu para mim naquele dia, naquela hora, no momento em que apertei a mao de Anthony Dowell: Ele sorriu abertamente, conversou longa- e afetuosamente comigo, um menino de 14 anos, e me presenteou esta foto... Sim eu queria também fazer parte daquele mundo. Eu queria pegar o primeiro voo para Londres e entrar para o Royal Ballet. Sim! Um ano depois comecei a fazer aulas de danca... e guardo esta lembranca do último REAL principe do ballet ( o penúltimo foi Michel Dennard da Opera de Paris, que vi muitas vezes no Rio) com muito orgulho e carinho! Obrigado Anthony por toda a inspiracao e por todo este talento que nao canso de rever! God bless!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O Rei de Ramos (ruma a Madrid????)


Nao, nao.. O rei de Roma ruma a Madrid (pelo menos isto foi o que Bibi cantou em "Minha bela dama" no Teatro Carlos Gomes... do outro lado da praca Tiradentes, uns anos antes... ).

Aqui uma foto irresistível de quase trinta anos de idade(da antiga, extinta "Fatos & Fotos") do elenco do "Rei de ramos" (1979), na época da reabertura do Teatro Joao Caetano... Paulo Gracindo, Felipe Carone (Nossa, quantos já se "foram"), Leina Krespi, Carlos Kopa, Marília Barbosa (e ela???? alguém me falou de uma carreira de cantora em N.Y.! Onde está? Perdi há muito o contato com esta querida amiga!), Roberto Azevedo (já falecido), Márcio Augusto e vários outros como Solange Franca, Jorge Chaica, Carlos Accioly, Armando Garcia (Onde está Deoclídes Gouvea??) e também nós (que até hoje mantemos nossa amizade): Claudia Toller "grávida com lata d'água na cabeca" (maravilhosa, linda!) e eu (o lixeiro, o "gari" do "DLU" imortalizado na cancao "Chocante" do Duardo Dusek... Departamento de limpeza urbana... lembram?).

Também na foto o resto do "ballet": Cecília Badasi, Renato Castelo, Cecília Salazar, Cláudio Baltar, Marilena Bibas, Monica Torres (no fundo, ainda bem gorda, no papel de "Godzilla") , Cláudia Martins, (uma querida pessoa), Eliane Maia ( what happened to her? Era tao talentosa...), Rita dos Santos, Abdalla (gostaria de saber o que aconteceu com ele...), Angelo de Mattos, Ricardo Bandeira, Mario Maia (que depois assumiu o papel principal do "suburbano"... um casting perfeito... ). Eu admito que fui olhar o programa para me lembrar de todos os nomes... Falta outro também: o que fazia o padre... o compenetrado Humberto Alonso...

O Rei de Ramos de Dias Gomes e Chico Buarque estreiou am 11 de marco de 1979. Direcao Musical Francis Hime, Figurinos de Kalma Murtinho, Cenários de Gianni Rato, "Coreografia" de Fernando Azevedo, Producao executiva Pichim Plá e Fernando Britto, Direcao Flávio Rangel... Tanta gente boa e famosa e "O rei" deu no que deu... e eu aqui (como se dizia) desencavando defuntos ... Tem muita gente que tirou este musical da praca Tiradentes de sua biografia... :-)
E para finalizar: Oba!!!!!

sábado, 16 de agosto de 2008

Cartoons.... minha/nossa infancia.... e Hanna-Barbera!

Depois de fazer postagens tao sérias como "Carta", "Rouxinol", "Follies" etc.etc. está na hora de dar uma "arejada", uma "refrescada" aqui... ontem, escutei depois de muito tempo, uma musiquinha que nao ouvia há muito tempo... "Vai, vai, vai comecar a brincadeira, tem charanga tocando a noite inteira... " (lembram? Marília Barbosa... lembram dela? Trabalhamos uma vez juntos. Ela ainda existe como cantora?) e fiquei pensando sobre tempos passados, sobre minha infancia e como éramos felizes, simples e descomplicados...

Memórias....

Quando eu era pequeno, minha mae leváva-me ao Metro Copacabana (aqueles tapetes fofos e altos, o foyer e o ar-condicionado... nao era uma maravilha aquele mundo???? Realmente um CINEMA... ) todo primeiro domingo do mes... para ver o festival Tom & Jerry... (outras semanas assistia-se o "Mágico de Oz, "Lili" etc... filmes de crianca... da Metro). Eu me lembro que todas as criancas ficavam inpacientes enquanto a primeira parte do "programa" era mostrada... o "Papa-léguas" (Road runner) que na época eu achava muito chato (e que hoje em dia adoro... coitado daquele coiote...) porque estávamos loucos para ver as maldades do ratinho... he he... que mauzinho era, nao? Mas em casa já tínhamos a oportunidade - nos anos 60 - de assistir outros astros de Hanna-Barbera... em preto-e-branco mas, quem se importava? Sempre fui um fa louco dos desenhos animados de Disney mas nao pode-se esquecer como Hanna-Barbera nos encantou durante a infacia, nao é?







como por exemplo os Flintstones... estrelas de primeira qualidade que estreiaram na TV em 1964... Fred, Wilma, Barney, Beth, Pedrita (Pebbles!) e Bam-bam--- como era o nome do animal de estimacao?????? Dino... isso mesmo!!!!!!




e os meus queridos Jetsons... ah como eu os adorava...

Mas Hanna-Barbera também teve outros grandes astros, que nao podem ser esquecidos... e como poderíamos esquecer do maravilhoso Zé Colméia (se nao estivesse num parque no Canadá nao poderia ser um carioca?) e sua namorada Cindy, seu amiguinho Catatau (que lindo!) e o guarda Bellows????? e o "Manda-chuva" (realmente um dos meus preferidos!) e sua turminha de amigos... só me lembro que o seu melhor amigo, o pequenino azul, era o "Batatinha" (outro lindo!), o guarda era o Marroney, lembram?



a veloz e corajosa tartaruga Touchée (todas minhas tartaruguinhas, bem - melhor dito, tracajás - chamaram-se assim)?


e de Pepe Legal e seu amigo Babalú?


...e do lindo e feliz Don Pixote (que eu tinha como brinquedinho de borracha... )????



...e de Lippy, the lion e Hardy har har??? aquela hiena deprimida que sempre dizia... "Oh céus, oh dia, oh vida...",


e dos queridos Bob-pai e Bob-filho (meu pai deve estar rindo lá do céu... nós sempre nos chamávamos assim... )?????
... e de Wally-gator, aquele jacaré maluco????

e, para acabar esta longa lista, de Johny Quest com seu pai, o "amigo" do seu pai (?! isto nunca foi explicado?!) e seu amiguinho hindú??? o cachorrinho nao chamava-se Bandit????

e toda a nossa "turminha" reunida com Mr. Hanna e Mr.Barbera.... Obrigado queridos todos!!!! Era tao bom assistir voces de manha, antes do "Uni-duni-te" (com a tia Fernanda às 11.00 hs na TV Globo) e antes do onibus vir-me apanhar para o jardim de infancia... estamos falando de 1965 by the way...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Letter from an unknown woman, Stefan Zweig


"Carta de uma mulher desconhecida" ("Brief einer Unbekannten"), "novella" escrita em 1922. Aqui mais uma vêz estamos confrontados com o maravilhoso estilo e tratamento psicológico que Stefan Zweig sempre deu aos seus personagens, suas narrações... porém com uma sutíl diferença: desta vêz o livro, por ser simplesmente do início ao fim uma carta, é escrito na primeira pessoa. As nuances da personalidade de Lisa (que é a escritora da carta e, por êste motivo, a óbvia narradora do livro) não são descritas. Elas são detectadas pelo leitor nas entrelinhas. O leitor de Zweig não pode deitar-se e relaxar enquanto lê este curto livro. Êle têm que "trabalhar", êle têm que manter-se atento, vigiando, mastigando, digerindo, interpretando tôdo e qualquer detalhe que lhe é "dado" sutílmente pelo autor. E Zweig nêste livro nao dá detalhes demais... Ele mantém informações guardadas, êle as economiza muito e só as vai deixando sair de sua caixinha de surprêsas à medida que o livro e o relato se desenvolvem: de uma simples manifestação de amor à uma tragédia; de um caso de amor que se transforma quase num caso patológico que envolve várias pessoas, não só os "protagonistas" Lisa e Stefan.
E tudo isto num "timing" preciso... mas o leitor só se dá conta disto depois de analisar muitas vêzes êste livro... Na primeira vêz em que o le, o leitor está sob a “síndrome de Zweig” (como eu a descrevo); não consegue parar de lê-lo.

Zweig, gênio...
Eu muitas vezes penso na ousadia do “subtítulo” de sua biografia de Marie Antoinette: "Retrato de um caráter médio" (tradução livre minha do alemão). Mas aí está o "pointe": Zweig com todas suas interpretações psicológicas nos mostra que Antoinette nao era má (mas também não era boa), nao era linda (mas também não era feia), nao era inteligentíssima (mas também não era burra), nao era uma fantástica espôsa e mãe (mas também não era péssima)... um caráter médio... Pouco importa ao leitor se suas pesquisas históricas tenham sido perfeitas ou não (e nao fôram); as nuances da personalidade desta mulher são o que importa (apesar dele desmentir completamente a “lenda” do “O povo não tem pão para comer” e "Porque não comem bolo?", provando que esta frase foi falada uns 200 anos antes por uma princesa de origem espanhola... ).
Em “Carta” êle nos dá de presente tôda sua sensibilidade encima de uma bandeja... Eu penso no quanto existia de Lisa e de Stefan dentro do próprio Zweig... Zweig e tôda a sua extrema sensibilidade, que por um lado é maravilhosa para nós leitores mas que o levou ao brutal pacto de morte/suicídio com sua espôsa em 1942 em Petrópolis (aqui seus dois lados; o sensível e o brutal...). Tudo causado pela extrema depressão por causa de uma extrema falta de esperanças, por causa do sistema Nazi na sua pátria, pela destruição da Europa, seu "lar"... êles dois e o mundo não viam um final para a Segunda guerra mundial... Não existia "futuro", não existiam mais perspectivas para êle no “exílio”. Esta constatação acabou com êle.
"Carta" foi filmado em 1948 (Letter from an unknown woman). Uma pequena obra-prima que até em círculos de cineastas já foi práticamente esquecida. Eu me alegro de poder colocar aqui algo sôbre êste filme inesquecível (do roteiro ao guarda-roupa, dos cenários à luz, da fotografia à direção e dos desempenhos à pesquisa de época). Um filme de extrema elegância visual, e de uma fotografia em prêto-e-branco como poucas foram feitas... Max Olphüs conseguiu criar em Hollywood um filme extremamente europeu. Usou tudo o que pode da técnica americana mas acentuou fortemente um ar todo europeu que é quase único nêste filme. Ele não vendeu-se a Hollywood, só usou e abusou descarademente da sua técnica da época para criar êste filme. Joan Fontaine, então já quase no final da sua áurea década de 40 ("Rebecca", "Suspicious" pelo qual recebeu o Oscar antes de sua irmã, "Jane Eyre" entre outros) ou seja, no auge de sua carreira, dá aqui talvez sua melhor interpretação no cinema como a frustrada Lisa Berndle, antes de cair numa série de papéis que a tornaram a “carinha” mais antipática das telas de Hollywood nos anos 50. Louis Jourdan, no seu segundo filme em Hollywood (sua estréia foi no “Caso Paradine” de Hitchcock ao lado de Alida Vali) e no apogeu de sua beleza, cria um Stefan Brand que nos choca... infelizmente seu "futuro" (que vemos rápidamente quando êle recebe a "carta") não lhe deu o que êle sonhava ou esperava, por sua própria culpa. Ele transformou-se numa sombra do que foi, numa caricatura de si mesmo... e Jourdan fica derepente feio e velho diante dos nossos olhos. Não mais o jovem gênio que interpretava Mozart maravilhosamente na sua juventude e por quem Lisa se apaixonou eterna- e abandonamente... Sómente um homem frustrado, fútil, superficial e solitário.
Um detalhe interessante que adicionou muita forca à dramaturgia do filme foi o fato de Stefan não ser, como no livro, um escritor porém um pianista. Estava Zweig querendo nos contar algo semi-biográfico???? Qual é a coneccao entre Stefan Brand e Stefan Zweig?
As ruas de uma Viena no início do século XX são lindas, escuras cópias européias sem o clichée vienense de Hollywood. Olphüs não deixou-se levar pelo "glamour" de Hollywood, e nao quiz nem "embelezar" nem “americanizar” o decór. Sente-se no ar o cheiro de maçãs assadas no "Prater", cheira-se a poeira da têrça-feira (o dia para bater os tapêtes no pátio interior dos prédios burguêses), ouve-se suavemente temas musicais vienenses que não chegam nem a serem totalmente registrados ou a transformarem-se em clichées enquanto os dois jantam num "separée", o frio da noite reflete o frio dentro de uma Lisa que não é amada, no hospital do govêrno sente-se o cheiro de éter no ar... e a estação... a estação é o símbolo de tudo que muda (e às vezes parte para sempre) na vida de Lisa: a ida para Linz com a família, a despedida de Stefan, a despedida de seu filho...

Stefan nunca aprendeu a lembrar-se de Lisa, a menina pobre que morava no seu prédio e que já o amava profundamente. Ela só foi um objeto que usou. Quando ela volta de Linz já uma jovem e bonita dama êle tem seu primeiro caso de amor com ela sem lembrar-se que ela foi aquela menina descalça apaixonada por êle. Êle parte para a Itália, promete voltar em duas semanas mas não volta jamais para Lisa. Ela foi esquecida. Ela tem um filho seu, pobre, humilhada no hospital do govêrno mencionado acima e lhe dá seu nome de solteira: "Pai desconhecido".

14 anos depois, já muito bem casada, ele a encontra de nôvo na Ópera e sente-se atraído por ela... mas não se lembra da jovem moça com quem êle têve aquêle grande caso de amor. Esta parte do filme foi ligeiramente mudada... no filme ela vai a sua casa (já tinha despedido-se do seu filho na estação) e nota finalmente a superficialidade do caráter dele... ela, num momento em que êle não esta na sala, sai e não volta jamais. Simplesmente sai de sua vida. Já no livro ela passa a noite com êle, apaixonada e no dia seguinte Stefan, que tinha-a confundido com uma "Cocotte" quer pagá-la pela noite... Uma cena muito, muito cruel que Lisa (Zweig) descreve na carta... no livro.

De qualquer forma já é tarde; o compartimento do trem no qual seu filho partiu de férias deveria ter estar fechado: cólera.
A criança pega a doenca e morre. Lisa também e morrendo, escreve a carta para Stefan e lhe conta toda sua estória. Ela, a mulher que o amou loucamente em três fases distintas da sua vida, a mulher de quem ele nunca se lembrou... a mulher desconhecida.
Quando êle acaba a carta, lê que a paciente morreu antes de terminar a carta...
Joan Fontaine (1917) assim com sua irma Olivia deHavilland (1916), a "Melanie" de GWT (ambas nascidas no Japão e as primeiras irmas na história do cinema que ganharam “Oscars”) e Louis Jourdan (1919) ainda vivem...
Oxalá êste filme venha a ser redescoberto. Uma jóia... um magnífico brilhante na carreira dos dois!!!! E na de Olphüs, junto ao seu brilhante “Lola Montez” com Martine Carol!

P.S. Gostaria ainda de deixar meus parabéns aqui à cidade de Petropólis pelo fato de terem aberto um Museu Stefan Zweig, coisa que até hoje aqui na Austria, seu país de nascimento, nunca foi feita... e acho que nem cogitada. Mesmo assim Stefan Zweig sempre será este maravilhoso escritor que encantará muitas e muitas gerações...

P.S.2 Esta postagem foi sugerida por Maurette. Por este motivo é também dedicada à ela! Obrigado!

sábado, 9 de agosto de 2008

Parisian Pierrot (1923), Noël Coward , "Star!", Julie e Ju...

Há muitos anos atrás, uma amiga minha (Ju, minha querida amiga que reencontrei depois de 30 anos... Ahhh, estas coisas mágicas do internet às quais eu sou tao grato!) deu-me êste recorte de presente… Ju sempre soube como inspirar... sempre soube reconhecer pequenos detalhes da alma das pessoas. Ela é uma pessoa de extrema sensibilidade; muito especial. A danca que eu deveria ter um dia criado (esta era sua intencao), nunca aconteceu... e eu até hoje nao sei se Ju percebeu que Julie Andrews está sentada numa cadeira, como eu num solo que na época (1977, Rio, Sapateatro) fazia e que nao era nada mais do que uma reflexao muito grande do que eu era...

Em 1977 este recorte já era bem velhinho… Hoje, 31 anos depois êle ainda existe mas sua frágil existência só é prolongada pelo meu extremo cuidado com êle... Engraçado... uma folhinha de papel, e tão importante para mim... Ju já recebeu o lado detrás dele, com sua dedicatória... mas isto é uma coisa privada e nao vou colocá-lo aqui. Durante anos este recorte ficou prêso ao meu affichée no meu quarto no Rio, depois eu o trouxe para Viena; uma longa estória... Mal sabia eu que iria um dia amar êste filme com (a minha sempre favorita) Julie Andrews: “Star!” (1968, Robert Wise). Um musical que representou o maior fracasso da carreira de Julie (hoje em dia cultuado, que bom!) e cheio de maravilhosos números musicais coreografados por Michael Kidd... de Gershwin a Cole Porter, de Noël Coward a Kurt Weill... Entre êles este número quase já esquecido, que foi o primeiro grande sucesso de Noël Coward (escrito para a revista inglêsa de André Charlot “London calling” de 1923 especialmente para Gertude Lawrence) e que Ju me presenteou, como um pequeno recorte de uma revista, como inspiracao numa época em que nao tínhamos nem vídeos nem DVDs: Parisian Pierrot.

Que arquétipo tão real... Todos nós conhecemos um Parisian Pierrot em alguma época.

Todos nós, em algum momento de nossas vidas, fomos um Parisian Pierrot, escondendo atrás da máscara de um sorriso nossos sentimentos verdadeiros, inclusive nossas tristezas e desilusões...

Parisian Pierrot,
Society's hero,
The Lord of a day,
The Rue de la Paix
Is under your sway,
The world may flatter
But what does that matter,
They'll never shatter
Your gloom profound.
Parisian Pierrot,
Your spirit's at zero,
Divinely forlorn,
With exquisite scorn
From sunset to dawn,
The limbo is calling,
Your star will be falling,
As soon as the clock goes round…

Noel Coward e seu talento, sua eloquencia, seu brilho… Um dos meus favoritos; ALWAYS...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Follies (1971) e a tenacidade de Stephen Sondheim...

Há poucos dias resolvi ouvir de novo o CD da produção da Broadway de 1971 “Follies”.
Sim, o imcompreendido, maltratado e massacrado “Follies” que estava muito mais adiante de sua época do que se supôs na época. Até hoje este trabalho ainda causa grandes controvérsias... e está muito além do nosso tempo.

Toda a estória de “Follies” foi inspirada numa foto de uma senhora de idade, muito glamourosa e bem vestida, na frente de um cinema que estava sendo demolido. O cinema? Nao me lembro... A senhora? Gloria Swanson dando outra variação do tema “Norma Desmond”… Muito eficaz!

Eu não tive am 1971 a possibilidade de ver a original (sumptuosa) produção. Há aguns anos atrás também não consegui ir a N.Y. para ver uma nova produção (nao mais tão sumptuosa, deu algum lucro ao contrário de 1971) que não foi tão massacrada pela crítica como a original.
Conheço visualmente só um “Follies in Concert” (com Lee Remick, Carol Burnett, Barbara Cook e Liliane Montevecchio entre outros) que foi filmada no Met nos anos 80.
Ficaram só as fotos, as memórias de um “Follies” (que só trata de memórias) que não vi... Alexis Smith,Yvonne de Carlo (a trágica Carlota de “I’m still here”) e Gene Nelson (grande sapateador, bailarino e frequente partner de Doris Day nos anos 50) devem ter estado incríveis... Mas, como a foto de Gloria, todas minhas "memórias" de "Follies" se equiparam a fantasmas... assim como os próprios fantasmas de todos os personagens os assombram...
Conhecem a estória? Um ex-produtor da Broadway reúne várias de suas "vedetes" para uma reuniao. No mesmo teatro onde todos (jovens) tiveram nome, fama, sucesso... e o fantasmas do passado voltam. Este teatro, que foi transfomado num cinema, depois num cinema pornográfico vai ser demolido para dar lugar a um estacionamento... Vários dos personagens sao interpretados por dois atores (um para o presente, outro para o passado!).

Como estava dizendo, resolvi ouvir este CD de novo e depois de muito tempo sem ouví-lo, fiquei de novo não só maravilhado com a riqueza da música mas também pelos maravilhosos textos de Stephe Sondheim. Sondheim at his very best! Afiado, preciso, tenaz... encontrando a medúla de sentimentos como só ele consegue…

Aqui um lindo exemplo de sua tenacidade descrevendo dois lados de uma mulher:

Lucy is juicy
But terribly drab.
Jessie is dressy
But cold as a slab.
Lucy wants to be dressy.
Jessie wants to be juicy.
Lucy wants to be Jessie
And Jessie Lucy.

…atingindo a medúla, comentando a (rápida) Passagem dos anos:

Who's that woman.
That cheery, weary woman
Who's dressing for yet one more spree?
Each day I see her pass
In my looking-glass--
Lord, Lord, Lord, that woman is me!
E "Broadway Baby", eternizando a “luta” pelo estrelato na Broadway com muito humor:

Broadway Baby,
Making rounds all afternoon,
Eating at a greasy spoon
To have on my dough.
Oh...AtMy tiny flat
There's just my cat.
A bed and o chair
StillI'll stick it tillI'm on a bill
All over Times Square.
Someday, maybe,
If I stick it long enough,
I may get to strut my stuff
Working for a nice manLike a Ziegfeld or a Weismann
In a great bigBroadway show!

E uma pequena parte de "I'm still here" (O carro chefe de Carlotta/ De Carlo) que é inesquecível, simplesmente uma obra-prima:

First you're another
Sloe-eyed vamp,
Then someone's mother,
Then you're camp.
Then you career from career
To career.
I'm almost through my memoirs.
And I'm here...
Sinto falta de ouvir textos assim... Sinto falta de encontrar trabalhos musicais assim; extremamente bem estruturados, complexos, densos e cheios de emocoes e sentimentos... Sinto realmente muita falta de teatro musical assim...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Supporting Actors/Actresses I : Mary Boland

Penso já há muito tempo em fazer uma série de postagens em homenagem a vários “Supporting actors and actresses” – aqueles que já vimos centenas de vezes nas telas e nao sabemos mais os nomes ou exatamente aonde... Bem, aqui a primeira desta série...

Mary Boland é uma daquelas personalidades incríveis que, enquanto estão presentes na tela, dominam o filme e “roubam” cenas totalmente... Sua personalidade é como um magneto e não consegue-se tirar os olhos dela...
Mary, nascida em 1880 teve uma longa carreira até 10 anos antes de sua morte em 1965! Ela fêz muita Broadway e teve duas fases de cinema: a primeira não muito bem sucedida de 1915 a 1920 (silent of course!) e a segunda a partir de 1931 – fase que então transformou-a numa conhecidíssima atriz de caráter, sempre interpretando alguma matrona, muitas vezes fofoqueira mas definitivamente sempre simpática... Nesta segunda fase em Hollywood ela trabalhou em 49 filmes. Mesmo assim ela continuou trabalhando na Broadway e depois, nos anos 50, na televisao. Sua última aparição na Broadway foi em 1954, ao 74 anos, em “Lullaby”.

Na Broadway ela teve porém o seu maior sucesso ainda nos anos ‘20 junto com Edna May Oliver (1883-1942). Do you remember Edna? Aqui sua foto...
A comédia chamou-se “The Craddle Snatchers” (1925/26) e ela e Edna, abandonadas por seus maridos, pegam dois amantes bem jovens. O amante jovem de Boland foi interpretado por um jovem e bonito Humphrey Bogart, num de seus primeiros papéis. Boland tinha 45 anos durante esta temporada e May Oliver 42, ambas para a época bastante “maduras”. Relatos sobre esta peça falam do “hilariante talento destas duas matronas”!

Boland fez vários filmes, um inclusive bastante considerado chamado Ruggles of Red Gap que não vou comentar pois nunca assisti. Ele porém será eternamente lembrada por dois papéis na MGM: A Condessa DeLave em “As mulheres” (The women, 1939) do grande diretor de mulheres George Cukor e Mrs.Bennet (com um sotaque mais do que britanico), a casamenteira e ambiciosa (também divertidíssma e engraçadíssima) mãe de Greer Garson, Maureen O’Sullivan, Marsha Hunt, Ann Rutherford e Heather Angel no inesquecível e eterno “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen (Pride and Prejudice, 1940) no qual têve a oportunidade de trabalhar ao lado de sua partner de teatro, Edna May Oliver, esta também dando um show de interpretação como Lady Catherine DeBourgh – uma divertidíssima “guerra” na tela entre estes dois incríveis talentos!!! Um detalhe interessante sobre este filme é o fato de Louis B. Mayer ter passado a ação para uns trinta anos mais tarde por achar as roupas das mulheres mais atraentes do que no período original do livro (Regency).
Uma rara foto "colorida" de Pride and Prejudice. Boland em primeiro plano.

Minha cena predileta de Boland é porém em “As mulheres” quando no final a Condessa é humilhada em frente à sociedade por seu jovem marido (Cowboy e cantor) que confessa um caso de amor com Crystal/ Joan Crawford (Detalhe, a Condessa, adora usar tôdo o tempo “cacos” em francês à la “Ohhh, l’amour, l’amour... ” ou “l’amour, toujours l’amour” ). Primeiro o personagem de Paulette Goddard lhe diz “Oh Countess, chin up! ...both of them!”, ela engole a sêco, depois quando ela está chorando copiosamente encima de uma chaise-longue ela se refere à si mesma como “old beef” (ela não é nada delgada e está vestida para acentuar nao só o corpo como também a idade – tipo bracos gordos de fora etc.) e soluçando diz: “Think about the publicity”, faz uma pausa e conclui aos prantos: “LA PUBLICITÉ!!!!!!!!!!!".
Graças a Deus pelos DVDs... pelo menos são mais robustos que nossas antigas fitas vídeo: a minha nesta parte do filme já estava gasta!!!!!!

Obrigado Mary Boland por todas as risadas que você me deu de presente todos estes anos!!!!!!!!!!