sábado, 24 de janeiro de 2015
Salomé: Richard Strauss & Oscar Wilde...
“Salomé” de Richard Strauss...
Baseada na peça escrita (em frances) por Oscar Wilde é, infelizmente, famosa para o publico não conhecedor sómente pela cena da “Dança dos sete véus”… Uma pena e injustiça com o trabalho de Strauss que com “Salomé”, e “Elektra”, conseguiu uma nova dinamica para a Ópera moderna elevando-a à uma nova dimensão, apesar da forte agressividade e brutalidade com que ambos relatos, temas são tratados…
Quando penso na cena final de “Salomé”… na qual Salomé declara seu amor – e beija a cabeça recém decapitada de João Batista/Jochanaam… fogem-me palavras e penso no choque em que deve ter causado ao público germanico da Austria e Alemanha, países em que desde centenas de anos é considerado de “bom tom” não se falar ou de emoções ou sentimentos (aí minha simples explicação para o uso desenfreado de anti-depressivos por aqui… ).
Deve ter sido, ainda é, um choque para as platéias assistir, presenciar, viver tal dilúvio de desprazeres, envolvimentos, tara, loucura e desgostos…
Acho interessantíssimo Strauss ter feito nos anos 30 (“Salomé” foi concluída em 1905) uma versão em frances, mais próxima à inspiração original (peça de Oscar Wilde que, nas palavras do mesmo, continha vários “Motivs” recorrentes que a faziam próxima de uma peça de música) e que, apesar de muito desconhecida hoje em dia (tenho uma versão com o Soprano australiano Marjorie Lawrence) dá, ao meu ver, mais enfase pela maior dramaticidade do idioma fraces, à perigosa combinação de um tema bíblico, erotismo e amor passional/crime…
Uma “Trinca” que atraiu em sua essencia Wilde mas que chocou o público despreparado, conservador…
Nao é à toa que esta obra foi banida na Inglaterra até 1910 e que Gustav Mahler (na época diretor da Ópera de Viena) não conseguiu permissão para encená-la em Viena, fato só corrigido em 1918!
Por incrível que pareça, a Première na Austria foi em Graz, capital da Styria mas na realidade “província”, em 1906, regida pelo próprio autor ( e no público não só a presença de Schönberg, Puccini mas também de Mahler).
Em N.Y., depois da Première, ela foi cancelada por exigencia de patrocinadores que a consideram indecente… Muito me admira que hoje em dia, numa América tão cheia de pudores, “Salomé” possa ser livremente encenada…
Ontem tive infelizmente a infortúnia de assistir um péssimo espetáculo de «Salomé» na Ópera de Viena, que não comentarei, e hoje acordei com vontade de tirá-lo da minha lembrança.
Procurando e procurando, finalmente reencontrei a cena final numa versão do Covent Garden que gostaria de lhes apresentar…
Maravilhoso mise-en-scène com a expressiva, forte Nadja Michael, Soprano alemão de primeira categoria, natural de Leipzig e talvez a mais completa Salomé da atualidade.
Em toda as fotos desta “tertúlia”: Nadja Michael.
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