terça-feira, 3 de junho de 2014

Walter Spies: outro homem de talento e da paz destruído por outra absurda guerra...

Walter Spies, filho de alemães, nasceu em Moscou em 1925.

Ele cresceu em meios intelectuais e dedicado às Artes e já menino ele demontrava grande talento e apreciação à Natureza, música, dança e pintura. Falando diversas línguas o mundo era o óbvio “Salão” de Walter. Estudando em Dresden durante a Primeira Guerra Mundial conheceu artistas como Kokoschka, Chagall e Paul Klee.
Seus primeiros quadros foram apresentados em 1919 e foram muito bem recebidos.


Para “fugir” da barulhenta e suja Berlin ele se afastava assíduamente para a tranquila ilha de Sylt no Mar do Norte mas isto até decidir se afastar completamente da Europa: em 1923 ele embarcou para Java e acabou a primeira parte de sua “jornada” em Yogyakarta. Com um descomunal talento para línguas ele logo aprendeu Malay e Javanes. O sultão de Yogyakarta o convidou para conduzir sua orquestra… Ele mudou-se para o Keraton, o palácio do sultanato de Yogyakarta, e passou a transcrever música “gamelan” (tradicional), pela qual se havia apaixonado, para o papel.


Quando visitou Bali em 1925, ilha que “amou à primeira vista”, ele recebeu um convite do rei de Ubud para mudar-se para Bali permanentemente. Lá criou um centro intelectual dedicado à pintura de Bali (A sociedade Pita Maha). Spies iria muito influenciar os “tradicionais” pintores de Bali. Até hoje Ubud é conhecido como “O” centro cultural de Bali – Eu tive o prazer de estar lá há poucas semanas atrás…


Em 1926 cineastas alemães fizeram documentários sobre a Arte balinesa. O sucesso destes documentaries foi tão grande que muitos artistas foram atraídos para Bali. Personalidades como Cole Porter, Noël Coward, Vicky Baum, Margaret Mead e Charles Chaplin se hospedaram em Bali sendo ciceroneados por Walter Spies …

Mas as autoridades balinesas estavam já “controlando” a vida de Spies… não agradava nada à polícia de Denpasar a forma do estilo de vida “liberal” de todos estes artistas que "iam e vinham". Spies começou a se recolher, deixando (em suas próprias palavras) “de ser guia” para convidados (O grande magneto para todos estes artistas do Oeste não era realmente a arte balinesa porém a fascinante personalidade de Walter).


Mesmo assim ele foi preso em Dezembro de 1938 para só ser libertado em Setembro de 1939. Motivo: „comportamento indecente e imoral“ (por ele abertamente se reconhecer homossexual).


Quando durante a Segunda Guerra Mundial a Alemanha invadiu a Holanda, todos os alemães em Bali (que era um protetorado holandes) inclusive Walter Spies foram presos pelo governo das “Índias holandesas” e enviados para campos de prisioneiros em Sumatra.

Depois de algum tempo, já em 1942, foram removidos e levados ao navio “Van Ihmhoff” para serem levados ao Ceilão como prisioneiros (atualmente Sri Lanka) – no primeiro dia de viagem o navio foi bombardeado pelos japoneses.
Todos os tripulantes holandeses salvaram-se nos botes salva-vidas… Não deixaram porém de danificar os restantes botes para que os alemães nao pudessem se salvar (A maioria ainda estava presa, atrás de grades, na parte inferior do Navio).

Assim, desta forma brutal e cruel, Walter Spies deixou este mundo, um homem das artes, da sensibilidade, da paz… vítima do absurdo de outra absurda Guerra e da falta de sentido das perseguiçoes „em nome da moral“ por causa de ua escolha sexual. Seu trabalho é raro e muito valorizado. Se espelha nos seus quadros a vida rural, simples porém cheia dos mistérios de Bali – lugar onde a esotérica, os demonios e os Deuses que nos habitam fazem parte da vida cotidiana de todos…

Visitei o Bungalow de Walter em Ubud… e desde este dia ando estudando seu trabalho... Que personalidade fascinante!



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