Não sei já há quantos anos venho adiando esta postagem… Reli (finalmente) „The skin of our Teeth“ (em portugues “A pele de nossos dentes” ) de Thornton Wilder, autor que pertence aos meus preferidos… como gostaria de rever esta produçâo (Leiam minha postagem sobre “Our Town”/”Nossa cidade”).
Wilder recebeu um Pulitzer Prize por este trabalho, uma excelente peça que estreiou em N.Y. em 1942, dirigida por Elia Kazan – grande director mas também um grande “Judas” na história do teatro Americano (Ele delatou muita gente na época do McCarthysmo e ficou com muitos “destinos” em sua consciencia).

No papel principal ninguém menos do que a endiabrada Tallulah Bankhead – que transformou numa miséria a vida de seus companheiros de cena, entre eles Frederic March e um jovensíssimo Montgomery Clift…

O título da peça se refere simplesmente a um pedaço da bíblia (Jó, 19:20):
“Os meus ossos se apegaram à minha pele e à minha carne, e escapei só com a pele dos meus dentes”
Os personangens principais são só 5: George e Maggie Antrobus (do grego, humano), seus dois filhos e Sabina (que aparece como a empregada deles no primeiro e terceiro ato e como uma rainha linda e sedutora no Segundo). Apesar da peça ser passada na cidade fictícia de “Excelsior” e nos tempos atuais (1940’s) ela está cheia de anacronismos que nos levam de volta à pré-história… pulando para a época atual. Jamais esquecerei como um dinossauro passa pela porta deles na hora do “rush”.

Thornton Wilder conseguiu deixar publico e crítica completamentes indefesos e confusos… Por exemplo: o assassinato de Abel é um dos temas centrais do espetáculo… (o nome do filho foi mudado por Wilder de “Cain” para “Adam” para não delatar o enredo tão óbviamente). Já Lilly Sabina é uma referencia ao mito de Lilith e ao estupro das Sabinas, e por aí vai a lista…
Voltando aos palcos em Londres na estacão de 1945/46, Vivien Leigh, sempre procurando novas obras, foi a primeira Sabina “inglesa”.
Esta “aventura” tornou-se o que até hoje é considerado como seu maior desempenho no palco: um papel na realidade de grande comicidade que ela bravorosamente desempenhou (logo ela... no palco Lady MacBeth, Juliet, Lavinia, Blanche, Marguerite Gautier... ) enquanto lutava contra uma forte turbeculose (que a mataria em 1967) – e seus contantes ataques maníacos-depressivos (hoje em dia “bipolaridadde”).
Depois de só 78 apresentações ela teve que retirar-se do show, quando foi internada numa clínica onde, exausta, ficou 9 meses tentando melhorar suas condições mentais e físicas… Pobre Viv.


Nos restam hoje em dia sómente alguns relatos magníficos sobre sua inteligente Sabina (entre eles o do maravilhoso John Gieguld e da talentosíssima Kim Hunter – que trabalharia com Viv na filme de “Um bonde chamado desejo”, em 1950, também dirigido por Kazan) e algumas fotos – pouquíssimas – na qual vemos Viv em “traje de Maillot” com uma faixa de “Miss Atlantic City” – supostamente seu uniforme doméstico… não esqueçamos: por mais glamourosa que seja; ela era a empregada dos Antrobus… Mas esta foto com a escova-de-dentes arrematando o seu penteado não é tudo para este papel?

A peça, que em si, cobre um período de 5000 anos confundiu o público e os críticos. Um enredo que vai da idade glacial à atualidade em Atlantic City
– em meras duas horas –
era realmente uma linguagem muito avançada e ousada para a audiencia de 70 anos atrás…
Viv levou-a numa tournée pela Oceania… Imagino o que o simples público australiano deve ter pensado!

Uma deliciosa estória foi contada por Tallulah: um amigo seu escutou uma conversa durante o intervalo e passou para ela, que uma jovem socialite nova-yorkina estava desesperada: “Eu não estou entendo uma palavra desta peça… não tenho noção do que está acontecendo ou do que é sobre, e voce?”. O companheiro da inteligente loirinha gaguejou um pouco e disse “Sim, eu acho que em termos gerais… é sobre a raça humana”, ao que ela respondeu:
“Oh”, acrescentando depois de uma curta pausa, “então é só isso?”
(P.S. Existem os dois primeiros atos de "Skin" na Internet... Viv trabalhou numa produçâo televisiva de 1959... interessante!)