quarta-feira, 3 de abril de 2013

Minhas "queridas": Margaret Rutherford


Todos nós temos um ou outro bailarino, ator, diretor, cantor, escritor, pintor, compositor preferido em nossas vidas… Eu particularmente me refiro aos meus preferidos como os meus/as minhas “queridos”/”queridas”… Coisa de carinho e respeito à memória de tantos que nos deram tanto prazer na vida…



Para muitos que me conhecem sempre é uma surpresa quando “assumo” minha admiração por Margaret Rutherford.
Deliciosa atriz comica que até hoje me encanta… Mas a maioria dos meus amigos só me acha capaz de querer bem e admirar pessoas nas quais a estética esteja escrita no rosto. Não é bem assim…



Dame Margaret Taylor Rutherford faleceu aos 80 anos em 1972 deixando uma maravilhosa carreira teatral e várias interpretações cinematográficas… Apesar de ter debutado no teatro (com o Old Vic) aos 33 anos (muito tarde) e depois no West-End aos 41, ela só foi sériamente reconhecida como atriz em 1939 como Miss Prism em “The importance of being Earnest” de Oscar Wilde e em 1941 como a hilária, deliciosa vidente Madame Arcadi em “Blithe Spirit” de No l Coward respectivamente aos 47 e 49 anos de idade…

Óbviamente, por motivos físicos, nunca cogitou-se que Margaret assumisse papéis romanticos ou de heroína na tela e no palco… Ela estabeleceu-se como a maravilhosa comica da qual nos recordamos com carinho e apego até hoje. Gosto porém do fato dela nunca ter entendido realmente seu “appeal” como o publico. Ela uma vez disse: “I never intended to play for laughs. I am always surprised that the audience thinks me funny at all!” (Eu nunca intencionei atuar para ganhar risos. Estou sempre surpresa quando o publico me considera engraçada”).



Sua carreira no palco foi muito distinta… como gostaria de te-la assistido em papéis como Mrs. Candour em “The school for Scandal” ou até como a sinistra Mrs.Danvers numa produção teatral de “Rebecca” em 1940, papel bem “against type” para ela…

Rutherford foi casada uma só vez, com o ator Stringer Davis. Casando-se em 1945, eles apareceram em várias produções juntos… para ele ela não era sómente um grande talento mas também uma grande beleza (!!!!!!). Como é bonito o amor… ele passava todo o tempo possível ao seu lado exercendo os papéis de marido, secretário e até de enfermeiro: Ele cuidou dela através de longos períodos de depressão, que foram durante o percurso de sua vida escondidos do público. Estes períodos envolveram longas estadias em hospitais para doenças mentais, tratamentos de choque elétrico… Nos anos 50 Rutherford e Davis adotaram o escritor Gordon Langley Hall, então com seus vinte e poucos anos. Depois de uma cirurgia para mudar de sexo, ele transformou-se em Dawn Langley Simmons e escreveu uma biografia de Rutherford em 1983.



Margaret ficou porém eternizada em nossas mentes como “Jane Marple” nos quatro filmes que fez para a divisão britanica da Metro Goldwyn Mayer. Curioso é o fato dela ter insistido em usar suas próprias roupas como Miss Marple e ter exigido que seu amigo e ajudante fosse interpretado por seu marido… Em 1963 Agatha Christie dedicou-lhe seu livro “The mirror crack’d” (“To Margaret Rutherford in admiration”) apesar de Christie abertamente não gostar da interpretação que Margaret deu à sua Miss Marple por ser um tanto comica e não fiel ao original.



Mas no filme “The V.I.Ps” é que Margaret Rutherford se colocou definitivamente na minha memória: como a Duchess of Brighton ela recebeu um Oscar de melhor atriz coadjuvante em 1963. Esquecida, à beira da falencia, meio abilolada, dependente de pilulas e calmantes, hilária, ela é a única real diversão num filme chato e esquecível de Terence Rattingan…



Jamais esquecerei-a gritando para a aeromoça, já dentro do avião: “ Condutora, condutora!!!”.

Rutherfrod faleceu em 1972, aos 80 anos, incapacitada de trabalhar por estar com Alzheimer. Foi homenageada por inúmeros colegas de profissão – e de toda uma vida – como John Gieguld, Robert Morley… A grande Lady Sybil Torndike (a original Jean D’Arc de Shaw), então com mais de 90 anos, falou do enorme talento de sua amiga e lembrou que Rutherford “jamais disse algo hórrido sobre alguém”. Caráter. Sim, uma «querida minha».

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