My fair Lady... quando se pensa nas duas atrizes que criaram "Eliza" na Broadway e em Hollywood, este título não parece ser mero acaso...
Quando, na Warner em 1963, o projeto “My Fair lady” começou, começou ao mesmo tempo uma das maiores disputas da história do cinema pelo papel de “Eliza”, quase comparável a disputa pelo papel de “Scarlett O’Hara”.
Muitos nomes foram cogitados (inclusive Doris Day, Elizabeth Taylor, Shirley Maclaine…). A criadora do papel na Broadway foi logo tirada desta disputa por ser (nas palavras do próprio Mr. Warner) práticamente desconhecida fora dos U.S.A. e da Inglaterra, por “só ter feito” teatro (“só” Broadway e “West-End”) e televisão, por ser muito baixa, nada fotogenica, por ter um queixo descomunal e um nariz muito longo: Julie Andrews.
Como todos sabemos, a linda Audrey Hepburn recebeu o papel, foi dublada na maioria de suas canções por Marni Nixon (a voz de Natalie Wood em “West Side Story” e a de Deborah Kerr em “The King and I”, entre outras) e recebeu a difícil tarefa de transformar-se em Eliza, papel no qual Andrews foi durante anos, em N.Y. e Londres, elogidíssima!
Trocando em miúdos: "prato feito" para a imprensa... para intrigas... para compará-las...
Julie assinou um contrato com Walt Disney para um outro projeto chamado “Mary Poppins”.
E um dos mais interessantes capítulos da história do cinema começava.
Quando Julie, depois de assinar seu contrato, saiu dos estúdios de Disney, seu carro passou pelas portas da Warner, ela exclamou: “…and have a good day, Mr. Warner!”
Apesar de hoje em dia esquecermos que teria sido impossível para Julie trabalhar nos dois filmes (pois foram filmados na mesma época), parece ainda existir no ar uma certa interpretação de “disputa” entre as duas atrizes. Entre estas duas damas.
Não.
Acho que tudo foi criado pela cruel imprensa.
Quando ambos filmes estreiaram não só Audrey comentou para a imprensa que tinha assitido “Poppins” numa tarde em New York ao lado de Mel Ferrer e ambos estavam mais do que encantados com a atuação de Julie («Julie was simply wonderful»), como a própria Julie teceu grandes elogios para Audrey em "Lady". Quando jornalistas lhe perguntaram sobre a « dublagem » da voz de Audrey ela, como uma dama, respondeu que é uma coisa muito difícil, uma árdua tarefa mas totalmente «OK» se voce sabe dar conta do recado, como era o caso de Audrey, a grande profissional que foi!
Na noite do Golden Globe as duas estavam nominadas como melhores atrizes.
A veterana Audrey e a novata no Cinema, Julie.
Julie recebeu a estátua e, agradecendo, não resistiu à tentação a dar seus agradecimentos para “a man who made a great film and made all this possible for me: Mr. Jack Warner” (o homem que fez tudo isto ser possível par mim: Mr. Jack Warner). Momento sensacional, cheio de humor, sarcasmo e MUITA classe… nata em Julie (imagino também Audrey, outra dama, falando exatamente as mesmas palavras).
O público simplesmente delirou…
Semanas mais tarde, na cerimonia do «Oscar», Julie (nervosa) estava nominada como melhor atriz (Audrey não foi nominada) e concorria com Anne Bancroft, Sophia Loren, Debbie Reynolds e Kim Stanley. Páreo duro. Principalmente se se pensa que seu desempenho foi num filme musical… Bancroft, por exemplo, concorria num papel dificílimo, de uma mulher em alto grau de depressão e panico em «The Pumpkin Eater».
E Kim Stanley… a grande Kim Stanley…
Rex Harrison recebeu o Oscar como melhor ator por seu “Professor Higgins” em “Lady” das mãos de Audrey Hepburn, que desta forma estve presente na cerimonia e mostrou muita classe, apesar de não ter sido nominada no “filme do ano”.
No seu breve discurso ele disse: “Deep Love to TWO fair Ladies, I think…” (“meu profundo amor à DUAS belas damas, acho.. ») e Audrey comentou : “Oh, yes!”.
Que dama…
Julie recebeu o Oscar de melhor atriz e disse, com aquele ar britânico tão seu (que, como alguém uma vez sábiamente disse, nos faz «entender o porque de termos vencido a guerra»):
“You americans are famous for your hospitality, but this is ridiculous”.
Aqui cenas memoráveis destas duas noites… sublinhando porém a classe destas duas «Ladies» que manteram, durante toda esta época na qual a imprensa tentou jogá-las numa terrível intriga de “rivalidade", sua serenidade e, acima de tudo, sua classe!
Ahhh… hoje em dia parece que classe saiu da moda…
P.S. Marni Nixon conseguiu finalmente um papel no Cinema, como uma das freiras em “The Sound of Music” (A Noviça rebelde, 1965). Quando os ensaios começaram, ela estava muito apreensiva sobre a reação de Julie com ela… Assim com o oesto do "cast". A final de contas ela havia dublado Audrey em "Lady"… Como Julie reagiria à isso?
Quando a porta abriu e Julie entrou na sala de ensaios, olhou para Marni, correu em sua direção, abraçou-a e disse:
“Marni Nixon, I am such a great fan of yours!” (“Sou uma grande fã sua!”).
Classe.
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