quarta-feira, 28 de julho de 2010

Amanhã (ou Elisabeth Schwarzkopf, Richard Strauss & Morgen)

Quantas vezes pensamos no amanhã… No amanhã que nos trará melhores momentos, no amanhã que nos dá esperanças, no amanhã no qual o sol despontará de novo no horizonte, no amanhã… Não de uma forma dramática ou escapista (à la “Tomorrow is another day” de Scarlett O’Hara) mas de uma forma esperançosa (talvez até algo sonhadora, tenho que admitir).



O amanhã me fascina e neste momento da minha vida parece que o amanhã torna-se a cada dia mais importante – no comforto que eu quero que ele me traga… E todo dia acordo e penso que existe um amanhã. Talvez porque o „Hoje“ não está sendo agradável, anseio pelo amanhã… E todo dia constato que existe um amanha… como se adiasse a cada dia a realização desta esperança…

Richard Strauss
, o único compositor que conheço que soube compor o que está escrito entre duas vírgulas, as pausas e os curtos “inputs” que existem entre elas, compos muito cedo em sua carreira uma “Lied” chamada “Morgen”. Um pequeno trabalho muito sensível, limpo. De uma suavidade e transparencia admiráveis.




Und morgen wird die Sonne wieder scheinen,
(E Amanhã o sol voltará a brilhar)
und auf dem Wege, den ich gehen werde,
(E no caminho, pelo qual irei,)
wird uns, die Glücklichen, sie wieder einen
(irá ele nos, os felizes, reunir)
inmitten dieser sonnenatmenden Erde...
(no meio desta terra que respira sol… )

Und zu dem Strand, dem weiten, wogenblauen,
(e para a praia, para o longínquo azul ondulado)
werden wir still und langsam niedersteigen,
(vamos baixar calmamente e devagar)
stumm werden wir uns in die Augen schauen,
(em silencio vamos nos olhar nos olhos)
und auf uns sinkt des Glückes stummes Schweigen
(e sobre nós cai o calar mudo da felicidade…)

Acompanhem o texto ouvindo a música e depois leiam o final abaixo...

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Elisabeth Schwarzkopf, uma das poucas cantoras que compreendeu que talvez „aquilo“ que se encontrava „entre as vírgulas” era de suma importancia na obra de Strauss também cantou “Morgen”. E como…
Schwarzkopf tinha uma profunda compreensão do trabalho dele – e este “caiu como uma luva” na sua voz. Com ela sinto o sol brilhando… principalmente como canta a palavra “scheinen” (brilhar) se referindo, logo na primeira linha, ao próprio Sol. Ela transforma-o em algo quase palpável: vibrante, vigoroso, imenso… Bem, até Amanha!

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