terça-feira, 4 de maio de 2010

"Carmen" e a reabertura do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Chegam-me às mãos impressões variadas, críticas e elogios, sobre a apresentação de “Carmen”, ballet de Roland Petit, escolhido para a «reabertura» do nosso querido Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

„Carmen“ de Petit, é um trabalho gasto, ultrapassado e muito envelhecido. Com ele sucedeu a mesma coisa que se passou ao “Cinema Novo” no Brasil: Trabalhos que são tão “filhos do seu tempo”, que nele ficam presos e enclausurados. Fora do contexto da sua própria época eles tornam-se até patéticos e de um imenso tédio (Um bom exemplo é o “canto” de “La Habanera” – cena esta que na época queria “chocar” desperdiçando – sem dança – a parte mais conhecida desta mais popular das óperas!).

Trabalho de um “modernismo academico”, cheio do que brevemente seria chamado de “clichée” do moderno ou seja, “elementos” usados para dar a “embalagem” do moderno a um trabalho que em si nada tinha de revolucionário e que, em sua essencia, não é nada moderno. Além disso não DEVEMOS esquecer que Carmen foi coreografado para uma temporada londrina em 1949. E acima de tudo também não PODEMOS esquecer que Petit coreografou “Carmen” para sua esposa, Zizi Jeanmaire (de quem aliás leio a biografia no momento)

e para ele mesmo – com todas suas dificuldades e gravíssimos limites técnicos.



Zizi, com seu corte curto de cabelo (que "alongou" um pouco seu curto pescoço) deu toda uma qualidade andrógina à sua Carmen (como tudo que funcionava no palco e na vida para os dois, as chamadas “fórmulas de sucesso”, Zizi grudou nesta idéia andrógina e jamais mudou de corte… ter o mesmo corte de cabelo por 61 anos não deve ser fácil. Que coisa mais chata, não ?). Como voces percebem, eu definitivamente não me incluo na lista de fãs do casal Jeanmaire/ Petit ( Nem mesmo em “Le jeune Homme et la Mort").


Fazendo meu resumo: considero a „Carmen“ de Petit um trabalho chatérrimo (como aliás, para mim, a maioria de seu trabalho… Dormi uma vez em plena Praça de São Marcos em Veneza assistindo seu “As Quatro Estações” apesar de talentos como Dominique Khalfouni e de uma bailarino que adorava, Jean-Charles Gil). Como já conhecia a obra, não teria comprado uma entrada para a “reabertura” do Theatro. Teria esperado por algo, ao meu ver, mais apropriado para mim.
Mas temos que levar em conta que este é um momento e tanto : « Carmen » com 61 anos de atraso…

Gostaria muito de convidar a todos que assistiram este espetáculo a contribuir aqui com suas variadas opiniões… Seria um enriquecimento para as “Tertúlias” e para mim, tão longe em Viena, é mais do que um prazer receber notícias assim, fresquinhas como pãezinhos saíndo do forno e dividí-las com voces!

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