sábado, 3 de outubro de 2009

Eça de Queirós, "Os Maias" e as Maldivas...

Cheguei dia 30.09. em Viena, de volta de uma maravilhosas férias nas Maldivas. Meu paraíso pessoal de céu e mar azul. Relaxei, voltei ao normal durante estas duas semanas. Sim, duas semanas durante as quais li, li e li (12 livros em 14 dias… eu estava precisando mesmo deste tempo para mim, sentado na varanda de um over water-bungalow... ).
Apesar de ter lido em dois dias e meio as 760 páginas de “Os Maias” de Eça de Queirós, fiquei muito bem impressionado com sua visão, extremamente crítica, de Portugal no século XIX (Logo eu que sou “arqui-inimigo” do seu clássico “O Primo Basílio”). Seus anos na Inglaterra realmente o mudaram. Impressionante é o fato deste autor, em Portugal, ser tão considerado. Acho que um processo semelhante não seria possível no Brasil. Penso que o brasileiro não saberia aceitar tanta crítica como o povo português… Nós, brasileiros, em geral não aceitamos muito bem críticas sobre o país, apesar de saber-mos como o país e sua administração são… Considero esta forma de ser dos portugueses muito sábia, muito nobre, desprovida de qualquer vaidade e "nacionalismo". Repito: Sábia. Aqui alguns trechos que me impressionaram – talvez até por uma certa atualidade (se, de alguma forma, estivessem relacionados com a realidade atual brasileira) e por um certo “humor”, quando criticando o próprio povo e sua ignoråncia...
Página 384:
“ - Não vale a pena, Sr. Afonso de Maia. Neste país, no meio desta prodigiosa imbecilidade nacional, o homem de senso e de gosto deve limitar-se a plantar com cuidado os seus legumes. A única coisa a fazer em Portugal é plantar legumes, enquanto nao há uma revolução que faça subir à superfície alguns dos elementos originais, fortes, vivos, que isto ainda encerre lá no fundo. E se se vir então que não encerra nada, demitamo-nos logo voluntariamente da nossa posição de país para que não temos elementos, passemos a ser uma fértil e estúpida província espanhola, e plantemos mais legumes”

Página 390:
“ – País de grande prosperidade, a Holanda… Em nada inferior ao nosso… Já conheci mesmo um holandes que era excessivamente bem instruído… “

Página 396:

“ – O menino conhece-o? É um horror de estupidez… Nem francês sabe! De resto não é pior que os outros… Que a quantidade de monos, de sensaborões e de todos que nos representam lá fora, até nos faz chorar… Pois o menino nao acha ? Isto é um país desgraçado…

Página 402:
„ – Ó Ega, quem é aquele homem, aquele Sousa Neto, que quis saber se em Inglaterra havia também literatura?
Ega olhou-o com espanto:
- Pois não adivinhaste? Não deduziste logo? Não viste imediatamente quem neste país é capaz de fazer essa pergunta?
- Não sei… Há tanta gente capaz…
E o Ega radiante:
- Oficial superior de uma grande repartição de Estado!
- De qual?
- Ora de qual! De qual há-ser?… Da Instrução Pública!”

Página 566:
“ De resto, o que teria a dizer ao seu país, como fruto da sua experiência, reduzia-se pobremente a três conselhos, em três frases: aos políticos “menos liberalismo e mais carácter”; aos homens de letras “ menos eloquência e mais idéias”; aos cidadãos em geral “menos progresso e mais moral”.

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